Opinião
- 12 de janeiro de 2018
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Por que pastores se matam?
Por Gerson Borges
Solto a voz nas estradas
Já não quero parar
Meu caminho é de Pedra
Como posso Sonhar ?
Sonho feito de brisa
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto
Vou querer me matar
(Milton Nascimento/ Fernando Brant)
Tem muitas pessoas perguntando, debatendo e conversando a respeito do assunto. Certa manhã, lidando com a minha agenda pastoral e suas infindáveis e enormes demandas bio-psíquico-espirituais, a pergunta retornou. E não fugi dela, encarei. Afinal, por que pastores se matam?
Pastores se matam porque pensam que são Deus e podem resolver tudo. Quando acordam desse desvario, quando a fatura chega, não tem como bancar. Já brinquei de (ser) Deus. Brinco mais não. Sai fora. Não tem graça!
Pastores se matam porque são pessoas boas. Só pessoas boas ficam deprimidas. Pastores-lobos ficam cínicos. São discípulos de Hofni e Finéias. Usam as pessoas. Gente que é gente se deprime. Psicopatas, a empatia é zero, mas deprimem e destroem os outros.
Pastores se matam quando vestem máscaras de santidade. Não brigam com a mulher. Tem filhos perfeitos. Nunca pecam. Oram muitas horas por dia. Respondem no mesmo dia um número infindável de ligações e esvaziam sua caixa de entrada de e-mails antes das dezoito horas. Ah, jamais deixam acontecer o absurdo de uma mensagem de whatsapp ficar mais de uma hora sem resposta. Imagina!
Pastores se matam porque não conseguem dizer não. O que vão dizer deles? Estão ali para servir. São pagos para atender a todos, o tempo todo. “Ovelha é um bicho carente, não sabe se cuidar”, alguns argumentam. “Vai que se engracem para outro rebanho, outro redil?”, outros justificam, e a acrescentam: “Pastor tem de ter cheiro de ovelha”. E quem disse que o cheiro é bom? Onde já se viu feridas purulentas do pecado cheirar a alfazema?
Pastores se matam porque querem concorrer com o consumismo religioso. Pregam o Evangelho, enquanto os Outros, os Lobos, pregam autoajuda espiritualizada. Proclamam as Escrituras enquanto os Lobos vendem prosperidade. É uma luta desleal. Lutar ingenuamente essa luta é uma máquina de moer carne.
Pastores se matam porque não podem trocar de carro sem ouvir piadinhas egoístas. Se compram uma casa – em geral, financiada a perder de vista, “estão enriquecendo à custa das pobres ovelhas”. Uma vez ouvi: “Você chegou a São Paulo com uma mão na frente e outra atrás!”. O que responder? Um comentário de tamanha mesquinharia merece réplica? Chega a dar preguiça. Sério.
Pastores se matam porque não cuidam do corpo e não brincam. Devem dormir de paletó, não é possível. “Nosso descanso não é nesse mundo”, escutei de um deles. Querem ser maiores que o seu Senhor, contrariando a admoestação bíblica. Jesus dormiu e cochilou de cansado. Se bobear, pastores não dormem nem à noite…
Pastores se matam porque adoecem, como qualquer outro ser humano e que, se não tratar, entra em colapso. Stress é o “pecado que jaz à porta” do pastor. Pecados sexuais idem. Orgulho então... O pastor, como os profissionais da saúde, os policiais e outras carreiras de risco, deveriam ser cuidados e não apenas cuidar. Quem cuida de quem cuida, como costuma perguntar a amiga terapeuta, Roseli Kunhrich? Quem cuida do seu pastor?
Pastores se matam porque passam a ler a Bíblia só para fazer sermões, porque desconhecem o ócio santo e criativo, por que não ouvem música, não namoram, não dançam, depois de um “vinho com a mulher da sua mocidade” (Pv. 5.18 ). Nem leem João Crisóstomo, Richard Baxter, Eugene Peterson, Osmar Ludovico, Ricardo Barbosa, verdadeiros pastores de pastores!
Pastores se matam de raiva, de tristeza, de crise vocacional, de frustração, de pobreza, de baixa autoestima, de falta de sexo, de decepção, de abandono, de tanto trabalhar, de falta de férias decentes, de cobranças injustas, de tanto se cobrar por não saber tudo e se cobrar para ser bom em tudo – pregar como Agostinho, Spurgeon, Bily Graham ou Tim Keller, visitar como um psicólogo ou médico da família, administrar como um CEO, pensar como um filósofo, ensinar como um PhD, ser pai como um guru familiar. Já pensou? Um profissional assim (sem falar que não podem ser profissionais – até porque não podem cobrar como um) merece que salário?
Pastores se matam aos poucos e aos montes. Quietos no seu abandono, na sua tristeza de não ser que os outros acham que são – ou querem que sejam: santos impecáveis.
Sou pastor. Não vou me matar. Não posso morrer pelos pecados dos outros. Nem pelos meus! Jesus já fez isso. Aliás, o pastor mesmo é ele. O Bom Pastor. Eu? No máximo, como diria Fernando Pessoa, sou “um guardador de rebanhos”. Pecador. Isso só e olhe lá. Se você é um pastor de verdade, “companheiro dos outros no sofrimento” (Ap. 1.8), fique esperto! Não se mate por nada. Nem por tudo. Se matar pelo rebanho, ou por ambições neuróticas e messiânicas, não tem nada a ver com morrer por Jesus.
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O incômodo da solidão
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Como posso Sonhar ?
Sonho feito de brisa
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto
Vou querer me matar
(Milton Nascimento/ Fernando Brant)
Tem muitas pessoas perguntando, debatendo e conversando a respeito do assunto. Certa manhã, lidando com a minha agenda pastoral e suas infindáveis e enormes demandas bio-psíquico-espirituais, a pergunta retornou. E não fugi dela, encarei. Afinal, por que pastores se matam?
Pastores se matam porque pensam que são Deus e podem resolver tudo. Quando acordam desse desvario, quando a fatura chega, não tem como bancar. Já brinquei de (ser) Deus. Brinco mais não. Sai fora. Não tem graça!
Pastores se matam porque são pessoas boas. Só pessoas boas ficam deprimidas. Pastores-lobos ficam cínicos. São discípulos de Hofni e Finéias. Usam as pessoas. Gente que é gente se deprime. Psicopatas, a empatia é zero, mas deprimem e destroem os outros.
Pastores se matam quando vestem máscaras de santidade. Não brigam com a mulher. Tem filhos perfeitos. Nunca pecam. Oram muitas horas por dia. Respondem no mesmo dia um número infindável de ligações e esvaziam sua caixa de entrada de e-mails antes das dezoito horas. Ah, jamais deixam acontecer o absurdo de uma mensagem de whatsapp ficar mais de uma hora sem resposta. Imagina!
Pastores se matam porque não conseguem dizer não. O que vão dizer deles? Estão ali para servir. São pagos para atender a todos, o tempo todo. “Ovelha é um bicho carente, não sabe se cuidar”, alguns argumentam. “Vai que se engracem para outro rebanho, outro redil?”, outros justificam, e a acrescentam: “Pastor tem de ter cheiro de ovelha”. E quem disse que o cheiro é bom? Onde já se viu feridas purulentas do pecado cheirar a alfazema?
Pastores se matam porque querem concorrer com o consumismo religioso. Pregam o Evangelho, enquanto os Outros, os Lobos, pregam autoajuda espiritualizada. Proclamam as Escrituras enquanto os Lobos vendem prosperidade. É uma luta desleal. Lutar ingenuamente essa luta é uma máquina de moer carne.
Pastores se matam porque não podem trocar de carro sem ouvir piadinhas egoístas. Se compram uma casa – em geral, financiada a perder de vista, “estão enriquecendo à custa das pobres ovelhas”. Uma vez ouvi: “Você chegou a São Paulo com uma mão na frente e outra atrás!”. O que responder? Um comentário de tamanha mesquinharia merece réplica? Chega a dar preguiça. Sério.
Pastores se matam porque não cuidam do corpo e não brincam. Devem dormir de paletó, não é possível. “Nosso descanso não é nesse mundo”, escutei de um deles. Querem ser maiores que o seu Senhor, contrariando a admoestação bíblica. Jesus dormiu e cochilou de cansado. Se bobear, pastores não dormem nem à noite…
Pastores se matam porque adoecem, como qualquer outro ser humano e que, se não tratar, entra em colapso. Stress é o “pecado que jaz à porta” do pastor. Pecados sexuais idem. Orgulho então... O pastor, como os profissionais da saúde, os policiais e outras carreiras de risco, deveriam ser cuidados e não apenas cuidar. Quem cuida de quem cuida, como costuma perguntar a amiga terapeuta, Roseli Kunhrich? Quem cuida do seu pastor?
Pastores se matam porque passam a ler a Bíblia só para fazer sermões, porque desconhecem o ócio santo e criativo, por que não ouvem música, não namoram, não dançam, depois de um “vinho com a mulher da sua mocidade” (Pv. 5.18 ). Nem leem João Crisóstomo, Richard Baxter, Eugene Peterson, Osmar Ludovico, Ricardo Barbosa, verdadeiros pastores de pastores!
Pastores se matam de raiva, de tristeza, de crise vocacional, de frustração, de pobreza, de baixa autoestima, de falta de sexo, de decepção, de abandono, de tanto trabalhar, de falta de férias decentes, de cobranças injustas, de tanto se cobrar por não saber tudo e se cobrar para ser bom em tudo – pregar como Agostinho, Spurgeon, Bily Graham ou Tim Keller, visitar como um psicólogo ou médico da família, administrar como um CEO, pensar como um filósofo, ensinar como um PhD, ser pai como um guru familiar. Já pensou? Um profissional assim (sem falar que não podem ser profissionais – até porque não podem cobrar como um) merece que salário?
Pastores se matam aos poucos e aos montes. Quietos no seu abandono, na sua tristeza de não ser que os outros acham que são – ou querem que sejam: santos impecáveis.
Sou pastor. Não vou me matar. Não posso morrer pelos pecados dos outros. Nem pelos meus! Jesus já fez isso. Aliás, o pastor mesmo é ele. O Bom Pastor. Eu? No máximo, como diria Fernando Pessoa, sou “um guardador de rebanhos”. Pecador. Isso só e olhe lá. Se você é um pastor de verdade, “companheiro dos outros no sofrimento” (Ap. 1.8), fique esperto! Não se mate por nada. Nem por tudo. Se matar pelo rebanho, ou por ambições neuróticas e messiânicas, não tem nada a ver com morrer por Jesus.
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O incômodo da solidão
Gerson Borges, casado com Rosana Márcia e pai de Bernardo e Pablo, pastoreia a Comunidade de Jesus no ABCD Paulista. É autor de Ser Evangélico sem Deixar de Ser Brasileiro, cantor, compositor e escritor, licenciado em letras e graduando em psicologia.
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