Opinião
- 16 de abril de 2018
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Por que a missão é integral?
Por Tábata Mori
O evangelho todo, em todo o tempo, para todos os povos
O movimento da missão integral no Brasil está passando por uma crise, ou, pelo menos, por críticas importantes. A principal crítica, de quem quer edificar o movimento e não derrubar, deve ser ouvida: o problema da missão integral é que ela não conseguiu ser integral. Mas quando a missão deixa de ser integral? Que missão então pode ser plena? O que é integral afinal de contas?
O Senhor Jesus passou três anos andando e ensinando seus discípulos e suas últimas palavras estão registradas no texto de Mateus 28.18-20, “O grande comissionamento da igreja”.
O termo grego ta panta traduzido como “toda”, “todas”, “todos” tem a ver com a totalidade, o universo, a plenitude das coisas. Ou seja, sem faltar nada, o todo. Na sua mensagem final, Jesus quis dizer: Vão e façam discípulos e não esqueçam de nada.
Eu me baseio em uma exposição de Guilherme Carvalho, para fazer a divisão a seguir.
A plenitude da missão tem a ver com soberania (v. 18)
Esse versículo sempre me encanta. Eu, pessoalmente, acho consolador Deus começar nosso comissionamento dizendo que ele tem autoridade sobre todas as coisas.
De fato, a vontade soberana de Deus é a causa de todas as coisas: da criação, da redenção, do sofrimento, do destino do homem e, claro, da missão da igreja.
Efésios 2.9 e 10 diz: “Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos todas as coisas, tanto as do céu como as da terra”.
Convergir em Cristo é submeter a Cristo, é ter sentido em Cristo, somente em Cristo. Assim sendo, uma missão que olhe apenas, por exemplo, para o aspecto espiritual de alguém, não diz respeito à integralidade da missão de Deus. Foi muito comum se dizer em meios missionários que iríamos salvar almas, ser pescador de almas. Essa visão é uma visão, no mínimo, dualista das coisas.
A plenitude da missão se baseia em um Deus que tem poder e interfere sobre todas as coisas e tendo Deus poder sobre todas as coisas, ele quer que todas as coisas realizem sua soberana vontade.
A integralidade da missão tem a ver com abrangência (v. 19)
Se Deus é soberano sobre todas as coisas, o alcance da sua missão tem que ser igualmente abrangente. Eu já li muitas discussões sobre o que quer dizer Mateus 24.14: “E será pregado o evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim.” Algumas pessoas querem acreditar que isso diz respeito a todas as nações no conceito moderno de nação. Um desafio maior é pensar em termos de todos os povos: cada aglomerado de pessoas que compartilham aspectos culturais e a língua. Ou ainda: todas as famílias da terra, que eu acho mais coerente. O fato é: é muita gente!
Mas convido você a pensar em termos qualitativos e não quantitativos: é para homem e para mulher, para jovem, criança e idoso, é para o surdo, o mudo, o portador de qualquer tipo de deficiência. É para o pobre e o rico, é para a mãe que perdeu o filho e para o assassino desse filho, é para a pessoa que foi estuprada e para o seu estuprador.
A missão que exclui qualquer âmbito, seja quantitativo ou qualitativo, não é universal, não está imbuída da integralidade que é a plenitude da missão de Deus.
A plenitude da missão tem a ver com conteúdo (v. 20)
“Ensinar todas as coisas” é muita coisa. Mas isso, quer dizer, antes de tudo, com ensinar toda a Escritura, todo o Evangelho. Por exemplo, a Teologia da Prosperidade trouxe um aspecto que a gente talvez tenha perdido: somos mais que vencedores em nome de Jesus. Mas tirou Deus do trono, Deus obedece e não manda. Então não é todo o evangelho.
Nossas igrejas, reformadas, por vezes pregam muito a salvação e pouco a condenação. A gente considera que todo mundo que está aqui ouvindo a pregação não precisa ser evangelizado. Alguns liberais tiram Deus do seu trono soberano e das suas mãos o poder criador de todas as coisas. Não é todo evangelho.
Alguns pregam a condenação, o inferno, a morte eterna para os políticos corruptos, os piores criminosos, os homossexuais, mas não pregam a graça, a redenção, o poder do sacrifício de Jesus que pode restaurar e redimir qualquer homem. Não é todo o evangelho.
Na nossa congregação em Bragança, temos o costume de recitar o Credo Apostólico no culto e isso é muito bom, porque nós perdemos muito ao considerarmos isso um elemento católico: mas nós cremos em um Deus Criador, em seu Filho redentor, que vive e reina, em seu Espírito, em uma igreja que é única, na comunhão dos santos, que é a Igreja, na ressurreição do corpo, na vida eterna.
Nós TEMOS que nos lembrar e pregar aquilo que cremos e abrir mão do tudo para ser politicamente correto ou para manter a amizade é o mesmo que se envergonhar das palavras de Jesus (ver Lucas 9.26.).
A plenitude da missão tem a ver com presença de Deus (v. 20)
A presença de Deus ocupa o tempo, a historicidade, desde o presente e para sempre, todos os dias e cada dia até a consumação de toda vontade de Deus.
No livro Igreja Sinfônica, de Pedro Dulci, o Guilherme Carvalho traz uma perspectiva interessante, ele fala de continuidade. É simples, já que Deus está presente na missão e Deus está presente todo o tempo, até que não haja mais tempo e sim, eternidade – consumação do século. Então quem coordena essa missão é Deus.
De novo, a missão é de Deus, quem coordena a missão é Deus e a Igreja, nós, executamos no tempo e no espaço conforme nossas possibilidades, capacidades e até mesmo com ênfases diferentes. E isso me leva a pensar três coisas:
1. O trabalho que nós fazemos hoje foi iniciado pelos apóstolos e por dois mil anos ele tem sido feito, inclusive na Idade Média.
2. O trabalho continua. Houve um tempo em que a Igreja pensou que não tínhamos que fazer missão até que alguns avivamentos surgiram e começaram movimentos como os dos Morávios.
3. O trabalho não acaba. Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5.17). A presença de Jesus não é apenas para sentirmos Deus conosco, mas porque temos um trabalho a fazer.
Enquanto houver tempo, haverá missão, então e ensine seus filhos e netos a se envolverem nisso, porque a plenitude da missão exige que a missão seja feita em todo tempo até a consumação do século.
A missão, chame ela de integral, de abrangente, só é plena quando seguimos as orientações que Deus dá, não porque os tempos mudaram, porque a missão se adapta, porque temos algo novo para pôr em prática. Mas porque segundo a sua palavra, a missão é para o homem todo, todos os homens, o evangelho todo, em todo o tempo.
Que nós possamos caminhar nesse sentido e contar com o Espírito Santo para nos guiar até que venha o fim.
Leia mais
>> A Visão Missionária na Bíblia
>> Evangelização ou Colonização?
O evangelho todo, em todo o tempo, para todos os povos
O movimento da missão integral no Brasil está passando por uma crise, ou, pelo menos, por críticas importantes. A principal crítica, de quem quer edificar o movimento e não derrubar, deve ser ouvida: o problema da missão integral é que ela não conseguiu ser integral. Mas quando a missão deixa de ser integral? Que missão então pode ser plena? O que é integral afinal de contas?
O Senhor Jesus passou três anos andando e ensinando seus discípulos e suas últimas palavras estão registradas no texto de Mateus 28.18-20, “O grande comissionamento da igreja”.
O termo grego ta panta traduzido como “toda”, “todas”, “todos” tem a ver com a totalidade, o universo, a plenitude das coisas. Ou seja, sem faltar nada, o todo. Na sua mensagem final, Jesus quis dizer: Vão e façam discípulos e não esqueçam de nada.
Eu me baseio em uma exposição de Guilherme Carvalho, para fazer a divisão a seguir.
A plenitude da missão tem a ver com soberania (v. 18)
Esse versículo sempre me encanta. Eu, pessoalmente, acho consolador Deus começar nosso comissionamento dizendo que ele tem autoridade sobre todas as coisas.
De fato, a vontade soberana de Deus é a causa de todas as coisas: da criação, da redenção, do sofrimento, do destino do homem e, claro, da missão da igreja.
Efésios 2.9 e 10 diz: “Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos todas as coisas, tanto as do céu como as da terra”.
Convergir em Cristo é submeter a Cristo, é ter sentido em Cristo, somente em Cristo. Assim sendo, uma missão que olhe apenas, por exemplo, para o aspecto espiritual de alguém, não diz respeito à integralidade da missão de Deus. Foi muito comum se dizer em meios missionários que iríamos salvar almas, ser pescador de almas. Essa visão é uma visão, no mínimo, dualista das coisas.
A plenitude da missão se baseia em um Deus que tem poder e interfere sobre todas as coisas e tendo Deus poder sobre todas as coisas, ele quer que todas as coisas realizem sua soberana vontade.
A integralidade da missão tem a ver com abrangência (v. 19)
Se Deus é soberano sobre todas as coisas, o alcance da sua missão tem que ser igualmente abrangente. Eu já li muitas discussões sobre o que quer dizer Mateus 24.14: “E será pregado o evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim.” Algumas pessoas querem acreditar que isso diz respeito a todas as nações no conceito moderno de nação. Um desafio maior é pensar em termos de todos os povos: cada aglomerado de pessoas que compartilham aspectos culturais e a língua. Ou ainda: todas as famílias da terra, que eu acho mais coerente. O fato é: é muita gente!
Mas convido você a pensar em termos qualitativos e não quantitativos: é para homem e para mulher, para jovem, criança e idoso, é para o surdo, o mudo, o portador de qualquer tipo de deficiência. É para o pobre e o rico, é para a mãe que perdeu o filho e para o assassino desse filho, é para a pessoa que foi estuprada e para o seu estuprador.
A missão que exclui qualquer âmbito, seja quantitativo ou qualitativo, não é universal, não está imbuída da integralidade que é a plenitude da missão de Deus.
A plenitude da missão tem a ver com conteúdo (v. 20)
“Ensinar todas as coisas” é muita coisa. Mas isso, quer dizer, antes de tudo, com ensinar toda a Escritura, todo o Evangelho. Por exemplo, a Teologia da Prosperidade trouxe um aspecto que a gente talvez tenha perdido: somos mais que vencedores em nome de Jesus. Mas tirou Deus do trono, Deus obedece e não manda. Então não é todo o evangelho.
Nossas igrejas, reformadas, por vezes pregam muito a salvação e pouco a condenação. A gente considera que todo mundo que está aqui ouvindo a pregação não precisa ser evangelizado. Alguns liberais tiram Deus do seu trono soberano e das suas mãos o poder criador de todas as coisas. Não é todo evangelho.
Alguns pregam a condenação, o inferno, a morte eterna para os políticos corruptos, os piores criminosos, os homossexuais, mas não pregam a graça, a redenção, o poder do sacrifício de Jesus que pode restaurar e redimir qualquer homem. Não é todo o evangelho.
Na nossa congregação em Bragança, temos o costume de recitar o Credo Apostólico no culto e isso é muito bom, porque nós perdemos muito ao considerarmos isso um elemento católico: mas nós cremos em um Deus Criador, em seu Filho redentor, que vive e reina, em seu Espírito, em uma igreja que é única, na comunhão dos santos, que é a Igreja, na ressurreição do corpo, na vida eterna.
Nós TEMOS que nos lembrar e pregar aquilo que cremos e abrir mão do tudo para ser politicamente correto ou para manter a amizade é o mesmo que se envergonhar das palavras de Jesus (ver Lucas 9.26.).
A plenitude da missão tem a ver com presença de Deus (v. 20)
A presença de Deus ocupa o tempo, a historicidade, desde o presente e para sempre, todos os dias e cada dia até a consumação de toda vontade de Deus.
No livro Igreja Sinfônica, de Pedro Dulci, o Guilherme Carvalho traz uma perspectiva interessante, ele fala de continuidade. É simples, já que Deus está presente na missão e Deus está presente todo o tempo, até que não haja mais tempo e sim, eternidade – consumação do século. Então quem coordena essa missão é Deus.
De novo, a missão é de Deus, quem coordena a missão é Deus e a Igreja, nós, executamos no tempo e no espaço conforme nossas possibilidades, capacidades e até mesmo com ênfases diferentes. E isso me leva a pensar três coisas:
1. O trabalho que nós fazemos hoje foi iniciado pelos apóstolos e por dois mil anos ele tem sido feito, inclusive na Idade Média.
2. O trabalho continua. Houve um tempo em que a Igreja pensou que não tínhamos que fazer missão até que alguns avivamentos surgiram e começaram movimentos como os dos Morávios.
3. O trabalho não acaba. Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5.17). A presença de Jesus não é apenas para sentirmos Deus conosco, mas porque temos um trabalho a fazer.
Enquanto houver tempo, haverá missão, então e ensine seus filhos e netos a se envolverem nisso, porque a plenitude da missão exige que a missão seja feita em todo tempo até a consumação do século.
A missão, chame ela de integral, de abrangente, só é plena quando seguimos as orientações que Deus dá, não porque os tempos mudaram, porque a missão se adapta, porque temos algo novo para pôr em prática. Mas porque segundo a sua palavra, a missão é para o homem todo, todos os homens, o evangelho todo, em todo o tempo.
Que nós possamos caminhar nesse sentido e contar com o Espírito Santo para nos guiar até que venha o fim.
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Tábata Mori é jornalista, mestre em Missiologia (CEM) e missionária transcultural da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB/APMT
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