Opinião
- 16 de dezembro de 2015
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Playlist de Natal
Enquanto escrevo esse artigo, ouço Frank Sinatra cantando “Hark! The herald angels sing” (Cantam anjos harmonias/ Ao nascer o Salvador ), um dos meus hinos natalinos mais queridos na voz de um dos meus cantores mais amados.
É da cultura e da tradição anglo-saxã que os grandes músicos e intérpretes gravem um álbum de “Carols”, canções tradicionais de Natal. Elvis, Barbra Streisand, Nat King Cole, Bing Crosby... todos deram sua contribuição. Esse último, dizem, deu o pontapé na tradição, com seu álbum histórico “White Christmas”. Sinatra não poderia fugir à regra. É um disco lindo, memorável.
Em seguida, meu “playlist” toca Ivan Lins, “Noite Feliz”. Piano e voz impecáveis. Com aquele jeito único de rearmonizar que só o mestre da Tijuca tem. Ivan, que estudou no Colégio Batista Bennet, no mesmo bairro do Rio. Por um instante fecho os olhos e imagino Ivan dirigindo o louvor num culto de Natal.
A terceira canção que me enleva a alma e me faz pensar na noite mais bela - não apenas do ano, mas da história da humanidade, quando Deus se torna gente, mistério dos mistérios, milagres dos milagres, é “Have youself a merry christmas”, no jeito singularíssimo de interpretar que James Taylor tem, meio negro, meio caipira e inteiramente genial. Coisa mais linda do mundo! O tempero jazzístico me faz dar um “repeat” antes da canção terminar. Gosto demais da conta.
Outra gravação absolutamente impecável de um hino eterno de Natal é “O holy night” (Natal, Natal / Nasceu Jesus lá em Belém) na voz cheia, quente e viva de Michael McDonald. Me arrepio ao ouvi-la, por causa do arranjo, da interpretação, da devoção, da mensagem.
A quinta é “Silent Night” (Noite de paz) no jeito Michael Bublé de cantar - o coração na boca. O violão nylon, sutil e de extremo bom gosto, conduz o grande “crooner” canadense, o “novo Sinatra”, dizem, até a modulação que recebe um coral de meninos, e cordas no ponto. Maravilhoso.
De onde vem essa tradição? O texto de Lucas informa o que talvez seja a possibilidade mais coerente: um coro de anjos inaugura o louvor natalino.
“Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados. Mas o anjo lhes disse: ‘Não tenham medo. Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura’. De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor’”. (Lucas 2.8-14)
A vida sem música seria um erro, costumava dizer Nietzsche, apaixonado por Bach. O Natal sem os hinos natalinos perde muito a graça, o tom e o encanto. Bach, homem de Deus, cristão e luterano devoto, deu-nos do seu gênio e vida de oração uma das maravilhas da música, o seu Oratório de Natal (“Weihnachtsoratorium”, em alemão), uma compilação preparada “para ser apresentada na igreja durante a época do Natal. Foi escrito para o Natal de 1734, incorporando a música de composições anteriores do próprio compositor, inclusive três cantatas seculares, escritas entre 1733 e 1734, e uma cantata extraviada nos dias de hoje, BWV 248a. A data é confirmada no manuscrito de Bach”, informa-nos a Wikipédia. A versão que ouço - tentando pateticamente não perder o foco na redação, tocado pela beleza dos contrapontos vocais vindos do céu - é da Orquestra Sinfônica de Viena. Só isso.
Posso lhe sugerir algo especial na celebração desse Natal? Música. Música viva. Música de verdade. Música que inspire a adoração do Deus-menino, o Emanuel. Os hinos. Há discos fabulosos, tanto no formato mais tradicional quando jazzístico, como Ella Fitzgerald (“Ella Wishes You a Swinging Christmas”), Oscar Peterson (“An Oscar Peterson Christmas”) e gravações mais contemporâneas, como “Christmas Songs”, de Diana Krall (Carle Gomes, do “El País” compilou obras primas no YouTube. Dê uma olhada).
Além da hinologia tradicional, ouça os eruditos. Comece com Bach. O “Concerto Grosso em Sol Menor”, de Corelli, é mais que obrigatório. O “GooglePlay” toca a gravação magistral da Filarmônica de Berlim enquanto digito; minha alma está embevecida. Em seguida, outros compositores do barroco italiano que não deixaram de lado o Natal: Antônio Vivaldi (Concerto em G Maior, “Per Natale”) e Giuseppe Torelli (Concerto em Sol Menor, “Per Santíssimo Natale”). Ambos foram gravados lindamente pelo conjunto de música antiga Il Giardino Armonico, especializado em música barroca. Gosto demais. Se não conhece, pesquise. Ouça.
Adore a Deus diante do presépio, da manjedoura absurdamente humilde onde “O verbo virou gente e habitou entre nós”, como compuseram na cantata “Vento Livre”, Guilherme Kerr, Jorge Camargo e Jorge Rehder, talentosos amigos, compositores de coração e mão cheia.
Enfim, Natal é celebração. Celebração, na tradição judaico-cristã, não se faz sem “salmos, hinos e cânticos espirituais”. Mesmo se a sua comunidade não preparou uma cantata de Natal, com coral e orquestra, aproveite o YouTube, os serviços de streaming, onde tudo facilmente se encontra. Um tesouro da tecnologia.
Hoje cedo relia o poema “Orfandade”, de Adélia Prado. Nessa pequena obra-prima, nossa maior poetiza viva pede a Deus de volta o clima do Natal e sua véspera. Assim as suas palavras, sua oração:
“Meu Deus,
me dê cinco anos.
Me dê um pé de fedegoso com formiga preta,
me dê um Natal e sua véspera,
o ressonar das pessoas no quartinho.
Me dê a negrinha Fia pra eu brincar,
me dê uma noite pra eu dormir com minha mãe.
Me dê minha mãe, alegria sã e medo remediável,
me dá a mão, me cura de ser grande.
Ó meu Deus, meu pai,
meu pai”
Meu Natal desde sempre - e sua véspera - é marcado por música de louvor a Cristo. Bate o sino desde já no meu coração. E no seu?
Soli Deo Glória. Feliz Natal, amigos!
***
Gostou das dicas do Gerson? Então ouça abaixo algumas das canções que ele sugeriu:
Leia também
Ressuscitar o Natal
Uma Criança os Guiará
Cristo, nosso reconciliador
Foto: Robciu Anaski / Freeimages.com
É da cultura e da tradição anglo-saxã que os grandes músicos e intérpretes gravem um álbum de “Carols”, canções tradicionais de Natal. Elvis, Barbra Streisand, Nat King Cole, Bing Crosby... todos deram sua contribuição. Esse último, dizem, deu o pontapé na tradição, com seu álbum histórico “White Christmas”. Sinatra não poderia fugir à regra. É um disco lindo, memorável.
Em seguida, meu “playlist” toca Ivan Lins, “Noite Feliz”. Piano e voz impecáveis. Com aquele jeito único de rearmonizar que só o mestre da Tijuca tem. Ivan, que estudou no Colégio Batista Bennet, no mesmo bairro do Rio. Por um instante fecho os olhos e imagino Ivan dirigindo o louvor num culto de Natal.
A terceira canção que me enleva a alma e me faz pensar na noite mais bela - não apenas do ano, mas da história da humanidade, quando Deus se torna gente, mistério dos mistérios, milagres dos milagres, é “Have youself a merry christmas”, no jeito singularíssimo de interpretar que James Taylor tem, meio negro, meio caipira e inteiramente genial. Coisa mais linda do mundo! O tempero jazzístico me faz dar um “repeat” antes da canção terminar. Gosto demais da conta.
Outra gravação absolutamente impecável de um hino eterno de Natal é “O holy night” (Natal, Natal / Nasceu Jesus lá em Belém) na voz cheia, quente e viva de Michael McDonald. Me arrepio ao ouvi-la, por causa do arranjo, da interpretação, da devoção, da mensagem.
A quinta é “Silent Night” (Noite de paz) no jeito Michael Bublé de cantar - o coração na boca. O violão nylon, sutil e de extremo bom gosto, conduz o grande “crooner” canadense, o “novo Sinatra”, dizem, até a modulação que recebe um coral de meninos, e cordas no ponto. Maravilhoso.
De onde vem essa tradição? O texto de Lucas informa o que talvez seja a possibilidade mais coerente: um coro de anjos inaugura o louvor natalino.
“Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados. Mas o anjo lhes disse: ‘Não tenham medo. Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura’. De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor’”. (Lucas 2.8-14)
A vida sem música seria um erro, costumava dizer Nietzsche, apaixonado por Bach. O Natal sem os hinos natalinos perde muito a graça, o tom e o encanto. Bach, homem de Deus, cristão e luterano devoto, deu-nos do seu gênio e vida de oração uma das maravilhas da música, o seu Oratório de Natal (“Weihnachtsoratorium”, em alemão), uma compilação preparada “para ser apresentada na igreja durante a época do Natal. Foi escrito para o Natal de 1734, incorporando a música de composições anteriores do próprio compositor, inclusive três cantatas seculares, escritas entre 1733 e 1734, e uma cantata extraviada nos dias de hoje, BWV 248a. A data é confirmada no manuscrito de Bach”, informa-nos a Wikipédia. A versão que ouço - tentando pateticamente não perder o foco na redação, tocado pela beleza dos contrapontos vocais vindos do céu - é da Orquestra Sinfônica de Viena. Só isso.
Posso lhe sugerir algo especial na celebração desse Natal? Música. Música viva. Música de verdade. Música que inspire a adoração do Deus-menino, o Emanuel. Os hinos. Há discos fabulosos, tanto no formato mais tradicional quando jazzístico, como Ella Fitzgerald (“Ella Wishes You a Swinging Christmas”), Oscar Peterson (“An Oscar Peterson Christmas”) e gravações mais contemporâneas, como “Christmas Songs”, de Diana Krall (Carle Gomes, do “El País” compilou obras primas no YouTube. Dê uma olhada).
Além da hinologia tradicional, ouça os eruditos. Comece com Bach. O “Concerto Grosso em Sol Menor”, de Corelli, é mais que obrigatório. O “GooglePlay” toca a gravação magistral da Filarmônica de Berlim enquanto digito; minha alma está embevecida. Em seguida, outros compositores do barroco italiano que não deixaram de lado o Natal: Antônio Vivaldi (Concerto em G Maior, “Per Natale”) e Giuseppe Torelli (Concerto em Sol Menor, “Per Santíssimo Natale”). Ambos foram gravados lindamente pelo conjunto de música antiga Il Giardino Armonico, especializado em música barroca. Gosto demais. Se não conhece, pesquise. Ouça.
Adore a Deus diante do presépio, da manjedoura absurdamente humilde onde “O verbo virou gente e habitou entre nós”, como compuseram na cantata “Vento Livre”, Guilherme Kerr, Jorge Camargo e Jorge Rehder, talentosos amigos, compositores de coração e mão cheia.
Enfim, Natal é celebração. Celebração, na tradição judaico-cristã, não se faz sem “salmos, hinos e cânticos espirituais”. Mesmo se a sua comunidade não preparou uma cantata de Natal, com coral e orquestra, aproveite o YouTube, os serviços de streaming, onde tudo facilmente se encontra. Um tesouro da tecnologia.
Hoje cedo relia o poema “Orfandade”, de Adélia Prado. Nessa pequena obra-prima, nossa maior poetiza viva pede a Deus de volta o clima do Natal e sua véspera. Assim as suas palavras, sua oração:
“Meu Deus,
me dê cinco anos.
Me dê um pé de fedegoso com formiga preta,
me dê um Natal e sua véspera,
o ressonar das pessoas no quartinho.
Me dê a negrinha Fia pra eu brincar,
me dê uma noite pra eu dormir com minha mãe.
Me dê minha mãe, alegria sã e medo remediável,
me dá a mão, me cura de ser grande.
Ó meu Deus, meu pai,
meu pai”
Meu Natal desde sempre - e sua véspera - é marcado por música de louvor a Cristo. Bate o sino desde já no meu coração. E no seu?
Soli Deo Glória. Feliz Natal, amigos!
***
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Leia também
Ressuscitar o Natal
Uma Criança os Guiará
Cristo, nosso reconciliador
Foto: Robciu Anaski / Freeimages.com
Gerson Borges, casado com Rosana Márcia e pai de Bernardo e Pablo, pastoreia a Comunidade de Jesus no ABCD Paulista. É autor de Ser Evangélico sem Deixar de Ser Brasileiro, cantor, compositor e escritor, licenciado em letras e graduando em psicologia.
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Ricardo Barbosa