Opinião
- 03 de junho de 2022
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Pentecostes, não há nada mais necessário
Por Luiz Fernando dos Santos
“E os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo” (At 13.52)
O Pentecostes era já uma festa conhecida no Antigo Testamento. Uma festa agropastoril em que se comemorava a colheita, a abundância da colheita como um dom da providência divina. Era, na verdade, uma ordenança para que o povo reconhecesse a bondade de Deus e se confiasse a ela de maneira incondicional. Mais tarde, identificou-se essa solene celebração com a entrega da Lei no Sinai a Moisés. Essa festa, além de celebrar a efetiva entrega do decálogo, celebrava a identidade de Israel como o distinto povo da Aliança com Iaweh. Nas duas circunstâncias, era uma das três grandes festas obrigatórias para o povo (Páscoa Pentecostes e Cabanas), um evento muito aguardado.
Aprouve a Deus, usar essa festa para ‘concluir’, aplicar o drama da redenção nos crentes e a formação da igreja, novo povo da Aliança. Agora, no ‘Pentecostes cristão’, o caráter étnico e nacional da festa ganhará contornos multirracial e universal, todos serão incluídos no pacto sem as prévias exigências da religião judaica.
Podemos afirmar, com toda reverência, que o Pentecostes é o maior acontecimento público de todos os tempos, na igreja. Um evento de magnitude tal, que os seus efeitos são sentidos ainda hoje e acompanharão a vida da igreja de Cristo até a sua volta. A volta de Jesus Cristo, será então, o maior e mais visível acontecimento público da Igreja, maior que o próprio Pentecostes, porque ‘todo olho o verá’ (Ap 1.7).
A grande maioria dos teólogos atribuem um caráter único e irrepetível no Pentecostes cristão, não obstante ainda que possamos encontrar ´momentos verdadeiramente pentecostais’ em Atos dos Apóstolos: o ‘Pentecostes dos samaritanos’ (At 8.14-16) e o ‘Pentecostes dos Gentios’ (At 10.44-48), por exemplo. Seja como for, é certo que o Pentecostes e a perpetuidade de seus efeitos são requeridas hoje como nunca em nossas comunidades de fé, em meio a essa babel que tem se tornado a igreja de Cristo.
Não há um dia sequer sem que nos deparemos com as coisas mais bizarras na igreja, sorteio de arma de fogo para financiar o ministério infantil, oração da transmissão da saúde com uma mulher fértil deitando-se sobre a outra (declarada infértil), em pleno culto em uma bizarra simulação (encenação ou simples impressão) de um ato sexual. Sem falar nas páginas policiais com manchetes garrafais noticiando pastores estupradores em série. Estuprando vulneráveis em troca de cestas básicas! O que dizer dos golpes financeiros, a manipulação política, a corrupção descarada na seara pública? São tantos os escândalos que nos esquecemos até mesmo dos falsos mestres e suas heresias perniciosas no campo da doutrina.
Não poderia deixar de mencionar os ‘desigrejados’, um contingente que cresce a cada dia e parece ter crescido e muito na pandemia, como na verdade era de se esperar. Há também os cultos coach, antropcêntricos, com liturgias de cafeteria e conversa de `pub’. A igreja se encontra em grande perigo em nossos dias, mesmo igrejas e denominações tidas e havidas por ortodoxas ou estão frias ou têm se deixado levar e capitular pela cultura pop abrigando em seu meio, sem escrúpulos, estilos de vida e costumes completamente alheios ao Evangelho.
Por que precisamos então de celebrar bem o Pentecostes e suplicar derramamentos e visitas do Espírito Santo?
Em primeiro lugar, para voltar com diligência e santas afeições para as Escrituras. É exatamente para onde o Espírito quer nos levar. No ‘Primeiro Pentecostes’, o Espírito levou Pedro a pregar as Escrituras, a discorrer sobre elas e a aplicá-las. É esse o ministério do Espírito Santo, levar-nos à Bíblia para que os nossos corações sejam afligidos, para que nos vejamos em desamparo sem Cristo e nos levar a um desejo incontido por Jesus e a mudança ‘desesperada’ de vida.
Em segundo, precisamos do Espírito Santo porque é ele, como fogo, que purifica a nossa vida das escórias do pecado e produz santidade em nossa alma. É o Espírito que nos une a Cristo nos faz anelar, desejar e agradar da pessoa de Jesus como nosso Salvador.
Em terceiro, sem o Espírito Santo a fraternidade, o amor casto e puro e a comunhão não são possíveis na igreja. Onde não há o Espírito Santo não há compaixão pelos pecadores, não se exerce misericórdia sobre os santos que tropeçam, não há a busca da restauração destes. Tudo se resume a moralismos, legalismos e acusações ilegítimas.
Quarto, precisamos do Espírito Santo para sermos distintos espiritual e moralmente do mundo. Mas, também precisamos dele para discernir o que é aproveitável na criação e na cultura para o nosso desfrute e para glória de Deus.
Quinto, é o Espírito quem irá nos convencer e nos conduzir para os lugares de maior alienação e sofrimento humano, para ali testemunhar o amor de Cristo e proclamar em seu nome o perdão dos pecados. Sem o Espírito, não há missão. Sem o Espírito não há igreja, não a igreja de Cristo.
Supliquemos com os crentes de todas as épocas: “Veni Creator Spiritus, Mentes tuorum visita, Imple superna gratia, Quae tu creasti, pectora. Qui diceris Paraclitus Donum Dei altissimi, Fons vivus, ignis, caritas Et spiritalis unctio...” (Vinde Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor de Deus, excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar...). Vinde Espírito Santo. Feliz Pentecostes!
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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