Opinião
- 29 de maio de 2020
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Pentecostes cristão: uma nova linguagem que todos podem falar
Por Christian Gillis
Pentecostes, na tradição judaica, é a Festa da Colheita dos primeiros frutos, realizada 50 dias após a Páscoa. No Pentecostes também se comemorava a entrega da lei no Monte Sinai, que teria ocorrido 50 dias após a saída do Egito.
Para os seguidores de Jesus o Pentecostes ganhou um significado totalmente novo, pois, alguns dias após a ascensão de Jesus, eles tiveram uma experiência extraordinária, envolvendo uma série de fenômenos magníficos e singulares. Jesus havia explicado que receberiam uma dádiva maravilhosa, prometida por Deus muitas vezes por meio dos profetas e de João Batista. O conjunto de fenômenos que vivenciaram naquele Pentecostes sinalizou o cumprimento do anúncio de Jesus.
Entre os que presenciaram os acontecimentos narrados por Lucas (Atos 2) houve reações diversas. Os que experimentaram a presença do Espírito passaram a declarar as grandezas de Deus. Outros, que assistiram ao fenômeno, indagavam pelos seus significados, enquanto alguns outros zombavam do ocorrido.
Os sinais excepcionais mencionados (som de vento, chamas de fogo, outras línguas) são indicativos da presença de Deus, alguns já presentes em descrições da proximidade divina no passado. Tratou-se de um evento singular, com caráter de sinal, com implicações simbólicas e abrangência universal. O Espírito foi concedido em medida, forma e atuação nunca dados por Deus anteriormente.
Tratou-se do cumprimento da promessa de Deus acerca da concessão do Espírito ao seu povo, efetuada por Jesus após sua entronização à destra de Deus (At 2.33). Segundo Jesus, o Espírito concederia poder espiritual para testemunhar a respeito de Cristo e sua obra por todo o mundo, a cada nação. Ou seja, o Espírito concederia a energia e o dinamismo necessários para comunicar o Evangelho a todos os povos de modo que estes pudessem compreendê-lo. O mesmo Espírito que havia capacitado Jesus para realizar o seu ministério atuaria sobre os discípulos capacitando-os como coletivo para realizar a missão designada.
Ao derramar sobre seus seguidores o Espírito Santo, Jesus confirma efetivamente a nova e eterna aliança com Deus. Na Nova Aliança estabelecida por meio de Jesus, por um lado, os pecados são perdoados, e por outro, o Espírito Santo capacita a viver uma nova vida, segundo a vontade de Deus. O Pentecostes reafirma a fidelidade e compromisso de Deus com a redenção do seu povo e o poder para que seu povo viva uma vida redimida.
Ninguém recebeu o Espírito por mérito próprio ou o obteve por métodos ou rituais religiosos. Tratou-se de uma experiência da graça, recebida gratuitamente por todos que creram na palavra de Jesus. Veio do céu, ou seja, foi um ato livre e soberano, no tempo definido por Deus, recebido mediante a fé, isso porque Deus o havia prometido. Foi dado aos chamados apóstolos e a outros discípulos, foi dado a homens e mulheres, ou seja, foi dado a todo o povo de Deus e se estende a todos os que aderem a Jesus, em todas as épocas. À medida que o testemunho cristão se espalha e atravessa novas fronteiras étnicas, conforme o itinerário indicado por Jesus (Jerusalém-Judeia-Samaria-confins) o cumprimento da promessa se estende tanto a judeus como a gentios.
O Espírito veio sobre um grupo de seguidores de Jesus reunido numa casa comum de Jerusalém, não no templo ou num local considerado sagrado. O Espírito não foi concedido como dádiva particular e individualizada. Pelo contrário, os atos poderosos de Deus sempre têm em vista a transformação das pessoas em agentes do seu reino, de modo que os transformados pela presença do Espírito do Senhor se tornam cooperadores na missão de Deus.
É imperativo observar que a presença do Espírito articula uma nova capacidade de expressão para todos os cristãos. É claro que nem todos os seguidores de Jesus falarão novos idiomas, terrenos ou celestiais, mas todos receberão o poder para expressar uma nova linguagem, a linguagem do Evangelho, a língua dos cidadãos do reino de Deus. A nova linguagem decorre das novas percepções de Deus. Todos que recebem o Espírito são inundados por Deus mesmo e transbordam em adoração pública. Ao invés de uma experiência interior, intimista e subjetiva, o Espírito move os discípulos para a rua. A fala, o discurso, é sobre a grandeza e a fidelidade divina. Uma nova linguagem é dada para a adoração e o testemunho, para a igreja ser porta-voz de Deus a todas as pessoas, de qualquer cultura.
Naquele Pentecostes de Atos 2 havia representantes de muitos povos e etnias presentes em Jerusalém: Ásia, África, Europa, gente de dentro e de fora do Império Romano, do Irã, Iraque, do ocidente e oriente, das zonas urbanas e rurais, civilizados e bárbaros. Ou seja, aquele fenômeno de uma nova linguagem de adoração foi dado para sinalizar que Jesus é Senhor e Salvador para todos os povos.
Por fim, o Espírito foi dado para que a comunidade dos discípulos se tornasse uma comunidade acolhedora, que integrasse gente de todas as culturas, etnias e classes. Se o Pentecostes foi o parto, o nascimento da igreja, ele mostrou que a cara da igreja de Jesus é inter-racial, multiétnica, plural e aberta para todos. O Espírito Santo integra gente de todas as partes do mundo tornando possível uma comunicação entre ela na linguagem da fé.
• Christian Gillis é pastor na Igreja Batista da Redenção, em Belo Horizonte, MG.
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