Opinião
- 19 de setembro de 2012
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Pensamentos cativos
A Palavra de Deus está cheia de histórias e versículos de extrema importância e não seria nada mal memorizá-los. No Seminário Presbiteriano no Recife (PE) tivemos, durante algum tempo, o costume de memorizar “versículos obadias”. Não eram do profeta Obadias, mas doze versículos importantes para um “obad-ias”, um “servo-do-Senhor”. Cada novo semestre, todos os estudantes tinham o dever de memorizar e recitá-los diante do seu representante de classe, sem o qual não deviam participar de testes.
Na minha própria vida tenho três “versículos obadias” pelos quais Deus, em sua infinita graça, me guiou como se fossem rédeas. Havia uma referência chave para minha vida pessoal, outra para meu ministério, e um versículo básico para minha vida acadêmica, a saber 2 Coríntios 10.5, onde Paulo escreve: “...anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”.
O foco de atenção desse versículo é o nosso pensamento. Ao longo da história vários filósofos apregoaram orgulhosamente que o pensamento é perfeito e assim o último juiz. Mormente no século 18 essa onda se levantou, colocando o pensar, o “ratio”, no trono, levando por isso o nome de racionalismo. Esse século era o tempo das perucas, e homens como Zinzendorf e John Wesley se conformaram com dignidade a esse costume exterior da época, mas não com a tendência racionalista dos anos de sopros anti-bíblicos. Esse século de “iluminismo” terminaria num redemoinho de sangue na Revolução Francesa, implantando até o penumbroso “culto da razão”. De fato, o homem é incuravelmente religioso. Se rejeitar a Deus e sua Palavra, ele acabará construindo seus próprios deuses, à sua própria imagem.
O apóstolo Paulo conhecia bem as correntes filosóficas da sua época e neste versículo nos advertiu pelos possíveis desvios do nosso pensar. Deus mesmo nos revela sua pessoa e sua vontade mas, por causa da nossa natureza caída, inclusive do nosso pensar, pintamos quadros distorcidos do Senhor. Também hoje usam até sofismas, argumentos falsos procurando levar outros a desacreditar na existência de Deus.
Por isso, Paulo nos adverte que devemos submeter conscientemente o nosso raciocínio a Cristo. Não pense que eu não percebo a sucção do racionalismo do presente século. Claro que sim, e de muitos outros “–ismos” que existem por aí. Mas que o nosso presuposto mais íntimo seja sempre: eu quero ficar perto do Senhor Jesus e da Sua Palavra, obediente como prisioneiro voluntário, fielmente prestando atenção ao toque do Espírito Santo. Pois sei que, de outra forma, serei prisioneiro de correntes que levam longe do Senhor.
Cada século tem seus desafios e desvios, pois os nomes mudam, mas as tendências são as mesmas. Sejamos fiéis e, quando nos acossam, eu digo novamente: “Desculpe, amigo, mas eu prefiro ficar com o Senhor Jesus”.
Francisco Leonardo Schalkwijk mora na Holanda com sua esposa Margarida, com quem serviu como missionário no Brasil por quase 40 anos. É doutor em história e pastor emérito da Igreja Evangélica Reformada. É autor de Confissão de Um Peregrino, "Igreja e Estado no Brasil Holandês, 1630 - 1654" e da gramática grega Coine.
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