Opinião
- 04 de outubro de 2011
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Pat Robertson: desrespeito ao evangelho
Em 15 de setembro, em seu programa de televisão em uma emissora cristã, Pat Robertson disse que um homem estaria moralmente justificado ao se divorciar da esposa portadora do mal de Alzheimer para se casar com outra mulher. A esposa “atacada” pela demência, diz Robertson, não mais “está lá”. Essa declaração é mais do que uma vergonha. É mais que uma crueldade. Isso demonstra rejeição ao evangelho de Jesus Cristo.
Poucos cristãos ainda levam Pat Robertson a sério. A maioria balança a cabeça em sinal de reprovação quando ele faz algum de seus comentários bizarros (por exemplo: defender os abortos incentivados pela política do filho único na China; identificar o juízo de Deus em situações específicas como os ataques de 11 de setembro, o furacão Katrina, ou o terremoto no Haiti). A questão inicialmente apresentada, porém, torna-se séria porque aponta para uma questão muito maior que Robertson.
O casamento, segundo as Escrituras, é um símbolo de algo muito mais profundo, antigo e misterioso. Paulo anuncia a união do casamento como um sinal do mistério de Cristo e sua Igreja (Ef 5). Assim, o marido deve amar sua esposa “como Cristo amou a igreja” (Ef 5.25). Esse amor não é definido como a manifestação hormonal do romance, mas um sacrifício do eu em favor de outra pessoa. O marido reflete Jesus quando ama sua esposa e se entrega por ela.
Quando Jesus foi preso, sua noiva, a Igreja, esqueceu-se de quem ela era e o negou. Cristo, porém, não se divorciou dela. Ele não a deixou.
A noiva de Cristo o abandonou, voltando para sua antiga vida. Quando Jesus voltou para ela após a ressurreição, a igreja estava fazendo o mesmo que fazia quando Ele a encontrou pela primeira vez: em seus barcos, com suas redes. Jesus não a abandonou. Ele ficou com ela por meio de suas palavras, pela lembrança do Calvário, estava ali por sua noiva e continuará ao lado dela.
Um homem ou uma mulher com Alzheimer não pode fazer nada por seu cônjuge. Não há romance, não há sexo, não há parceria. Esse é o ponto: O casamento é um símbolo da união Cristo/Igreja, um homem que ama sua esposa como a si mesmo. Ele não pode simplesmente quebrar o compromisso porque ela já não mais é “útil”.
A cruel declaração de Pat Robertson sobre o casamento não é uma exceção: ele e seus colegas têm nos dado, nos últimos anos, um evangelho da prosperidade com mais fundamentos num poste sagrado do que na Cruz de Cristo. Eles nos deram um cristianismo politizado que usa mais a igreja para mobilizar eleitores do que para testemunhar profeticamente o evangelho frente às estruturas de poder.
Jesus não morreu por uma coalizão cristã — Ele morreu por uma igreja. Ela, porém, através dos anos, não se destacou por seu tamanho ou influência. A igreja é fraca, impotente e salpicada de sangue. Jesus, porém, é fiel em qualquer circunstância.
Se nossas igrejas devem prevalecer, devemos repudiar essa “mamomcracia cananeia” que muitas vezes fala através de nós. Mas, além disso, devemos treinar uma nova geração para enxergar o evangelho através da fidelidade, uma fidelidade cristocêntrica.
É fácil ensinar os casais a “reacender a chama” em seus casamentos, a colocar o êxtase de volta em suas vidas sexuais. Você pode ao mesmo tempo adorar o ego e querer tudo isso. Mas isso não é amor. O amor é a fidelidade em carregar a sua cruz. O amor é se afogar no próprio sangue e gritar: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.
Infelizmente, muitos de nossos vizinhos dizem que ouvem o evangelho em desenhos animados, que veem a Jesus nos programas evangelísticos de televisão e nos estádios durante comícios. No entanto, não é ali que Jesus está.
Jesus nos diz que ele está presente é nos mais fracos, nos vulneráveis, nos inúteis. Ele está no menor de todos (Mt 25.31-46). Em algum lugar, agora mesmo, um homem está limpando a baba de uma mulher de 85 anos de idade que resiste aos cuidados, porque não o reconhece. Não há câmeras em torno deles. Não há políticos querendo falar com eles. Mas ali está o evangelho. Ali está Jesus.
__________
Russel D. Moore é deão da escola de teologia e vice-presidente sênior da Academia de Administração do Seminário Teológico Batista do Sudeste.
Publicado originalmente em Christianity Today, copyright © 2011. Usado com permissão, Christianity Today International.
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