Opinião
- 30 de julho de 2012
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Padarias e confeiteiros
Quando escrevo estou tentando dar nome àquilo que sinto. Colocar ordem naquilo que vejo. Quando escrevo transito dentro das minhas próprias memórias. O sensacional poeta Carlos Nejar disse da seguinte forma: “Escrever não é a diferença apenas entre espelhar e segurar um espelho. Escrever é entrar dentro do espelho”.
Aquilo que vejo quase sempre não tem a clareza que a razão deseja, mas é embaçado, daquele jeito meio distorcido. Apesar disso, insisto em escrever. Vou escolhendo palavras, procuro ouvir o que elas dizem e assim, depois de escolher, embrulho a realidade nesta coisa misteriosa chamada palavra.
Quando segurei a fôrma onde foi construída a identidade cultural do nosso povo percebi que faltava um molde muito importante. Corri atrás de palavras e categorias para comunicar essa falha. Nossos intelectuais, que são parecidos com os confeiteiros, fabricaram um bolo rico e delicioso e o chamaram de Brasil.
- “Usamos todos os ingredientes da nossa terra e depois de anos de experimentos está aí: o Brasil, um bolo colorido”. Essa é a descrição impressa em todos os cardápios (livros/filmes/músicas) que trabalhavam a nossa identidade. Bem, estou aqui “dentro do espelho” e faço questão de discordar: faltam ingredientes nesse bolo, falta molde nessa fôrma. Ouçam, por favor.
A nossa brasilidade - até bem pouco tempo ignorada pelos confeiteiros - está sendo chamada de a grande descoberta da culinária cult. Vejam os trabalhos acadêmicos da USP, PUC e Universidades Federais espalhadas pelo Brasil a fora; muitos, mas muitos trabalhos de mestrado e doutorado procuram entender o fenômeno evangélico e como isso altera a identidade nacional. Certos confeiteiros pioneiros – que foram identificados como pobres, incultos e oportunistas pela turma das antigas e que hoje são chamados de emergentes - começaram a usar os ingredientes evangélicos na década de 80 e criaram o movimento gospel, uma reunião de pequenas padarias que hoje se tornou uma grande rede que fornece alimento para quase 25% da população brasileira. Aí, meu leitor, a turma das outras padarias acordaram para o problema na fôrma e estão aos poucos incluindo outros coloridos nos seus bolos.
Gilberto Freyre, Caio Prado Jr., Darcy Ribeiro, Chacon e tantos outros que fabricaram a tradição brasileira, o que eu chamo metaforicamente de bolo colorido, são unânimes em dizer que não existe uma brasilidade apenas, mas várias. Não existe Brasil, mas “brasis”. Chegou a hora de muitos provarem esse ingrediente novo! Uma prova de degustação para todos nós. Chegou a hora de ficar mais à vontade com essa outra brasilidade construída por aqueles que levam a mensagem do Evangelho a sério – eles estão aí no meio dessa vitrine que o movimento evangélico construiu. Esses que caminham entre muros e cercas, entre preconceitos e desacertos, entre o Templo e o Mercado, tecendo a história sobre o mesmo chão de crentes e descrentes.
Para alguns, esse novo ingrediente pode deixar o bolo mais amargo; para outros, mais doce. Uma coisa é certa: será um bolo mais inteiro.
Leia mais
Aprendendo a desaprender
Cristo e a criatividade
Fé cristã e cultura contemporânea
Aquilo que vejo quase sempre não tem a clareza que a razão deseja, mas é embaçado, daquele jeito meio distorcido. Apesar disso, insisto em escrever. Vou escolhendo palavras, procuro ouvir o que elas dizem e assim, depois de escolher, embrulho a realidade nesta coisa misteriosa chamada palavra.
Quando segurei a fôrma onde foi construída a identidade cultural do nosso povo percebi que faltava um molde muito importante. Corri atrás de palavras e categorias para comunicar essa falha. Nossos intelectuais, que são parecidos com os confeiteiros, fabricaram um bolo rico e delicioso e o chamaram de Brasil.
- “Usamos todos os ingredientes da nossa terra e depois de anos de experimentos está aí: o Brasil, um bolo colorido”. Essa é a descrição impressa em todos os cardápios (livros/filmes/músicas) que trabalhavam a nossa identidade. Bem, estou aqui “dentro do espelho” e faço questão de discordar: faltam ingredientes nesse bolo, falta molde nessa fôrma. Ouçam, por favor.
A nossa brasilidade - até bem pouco tempo ignorada pelos confeiteiros - está sendo chamada de a grande descoberta da culinária cult. Vejam os trabalhos acadêmicos da USP, PUC e Universidades Federais espalhadas pelo Brasil a fora; muitos, mas muitos trabalhos de mestrado e doutorado procuram entender o fenômeno evangélico e como isso altera a identidade nacional. Certos confeiteiros pioneiros – que foram identificados como pobres, incultos e oportunistas pela turma das antigas e que hoje são chamados de emergentes - começaram a usar os ingredientes evangélicos na década de 80 e criaram o movimento gospel, uma reunião de pequenas padarias que hoje se tornou uma grande rede que fornece alimento para quase 25% da população brasileira. Aí, meu leitor, a turma das outras padarias acordaram para o problema na fôrma e estão aos poucos incluindo outros coloridos nos seus bolos.
Gilberto Freyre, Caio Prado Jr., Darcy Ribeiro, Chacon e tantos outros que fabricaram a tradição brasileira, o que eu chamo metaforicamente de bolo colorido, são unânimes em dizer que não existe uma brasilidade apenas, mas várias. Não existe Brasil, mas “brasis”. Chegou a hora de muitos provarem esse ingrediente novo! Uma prova de degustação para todos nós. Chegou a hora de ficar mais à vontade com essa outra brasilidade construída por aqueles que levam a mensagem do Evangelho a sério – eles estão aí no meio dessa vitrine que o movimento evangélico construiu. Esses que caminham entre muros e cercas, entre preconceitos e desacertos, entre o Templo e o Mercado, tecendo a história sobre o mesmo chão de crentes e descrentes.
Para alguns, esse novo ingrediente pode deixar o bolo mais amargo; para outros, mais doce. Uma coisa é certa: será um bolo mais inteiro.
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Marcos Almeida é compositor, músico, professor e membro da banda brasileira de rock Palavrantiga. Colunista do portal, Marcos Almeida mantém seu blog pessoal "nossa brasilidade", um livro em construção.
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