Opinião
- 30 de junho de 2010
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Ouvidos tapados, olhos fechados
Karl Heinz Kienitz
Em 1884, vinte anos antes de receber o Prêmio Nobel de Física, Lord Rayleigh dizia ao plenário da 54a Reunião da Associação Britânica para o Avanço da Ciência: “Muitas pessoas excelentes temem a ciência como tendendo ao materialismo. Não é surpreendente que tal apreensão exista, pois, infelizmente, há escritores, falando em nome da ciência, que se fixaram a fomentá-la. É verdade que entre os homens de ciência, como em outros ramos, pontos de vista pouco refletidos podem ser encontrados a respeito das coisas mais profundas da natureza; mas que as crenças professadas por Newton, Faraday e Maxwell toda uma vida seriam incompatíveis com o hábito científico da mente é, sem dúvida, uma proposição que eu não preciso me delongar em refutar".
De Rayleigh até hoje cientistas de renome têm reiterado a compatibilidade de fé cristã e ciência. Para Max Planck, “religião e ciência natural combatem unidos numa batalha incessante contra o ceticismo e o dogmatismo, contra a descrença e a superstição. E a palavra de ordem nesta luta sempre foi e para todo sempre será: em direção a Deus!”. Em outra oportunidade Planck foi ainda mais incisivo: “A prova mais imediata da compatibilidade entre religião e ciência natural, mesmo sob análise detalhada e crítica, é o fato histórico de que justamente os maiores cientistas de todos os tempos, homens como Kepler, Newton, Leibniz, estavam imbuídos de profunda religiosidade”. Muitos outros nobéis, como Mott, Townes, Penzias, Schawlow e Phillips expressaram-se de forma semelhante.
No entanto, mais de um século após a palestra de Lord Rayleigh, persiste a situação por ele mencionada. Como evidência tupiniquim, confira-se uma recente entrevista feita com Marina Silva, candidata à presidência da república (“Época”, edição 627, 24/05/2010). Uma das perguntas foi: “Como a senhora lida com a contradição entre ciência e religião?”. A hipótese está enunciada de forma inequívoca. Independe do que a entrevistada teria a dizer, ou pior, independe do que os cientistas citados acima têm dito sobre o assunto há séculos. Em sua pergunta, a jornalista elevou a (imaginária) contradição entre ciência e religião à condição de verdade absoluta, fato incontestável.
Rodney Stark, professor de sociologia da Baylor University, apresenta uma possível explicação para atitudes como a da entrevistadora de Marina Silva. Um conflito entre fé e ciência tem sido “o principal dispositivo polêmico usado no ataque ateu contra a fé... afirmações falsas sobre religião e ciência têm sido usadas como armas na batalha para 'libertar' a mente humana dos 'grilhões da fé'. A verdade é que não há inerente conflito entre religião e ciência. De fato a realidade fundamental é que a teologia cristã foi essencial para a acensão da ciência”.
A explicação alternativa à de Stark é a de que o formador de opinião engajado na difusão do imaginário conflito desconhece Kepler, Newton, Leibniz, Rayleigh, Planck, Mott, Townes, Penzias, Schawlow, Phillips e suas manifestações sobre a compatibilidade de fé e ciência. Infelizmente tal desconhecimento só é possível se esse formador de opinião não fizer corretamente seu trabalho de pesquisa ou “se fingir de morto” diante do vasto material disponível sobre o assunto, o que novamente implicaria motivações pouco louváveis. Enquanto isto, mentiras sobre fé cristã e ciência continuam a ser impingidas ao público.
Seja como for, os Newtons, Rayleighs e Plancks têm sido amplamente ignorados – muitas vezes deliberadamente – quando o assunto é fé e ciência. Isto me faz lembrar de uma frase de Jesus, na qual ele se refere ao assunto ignorância deliberada: “Eles taparam os ouvidos e fecharam os olhos. Se eles não tivessem feito isso, os seus olhos poderiam ver, e os seus ouvidos poderiam ouvir; a sua mente poderia entender, e eles voltariam para mim, e eu os curaria!” (Mt 13.15). Assim, para reverter o quadro é necessário destapar os ouvidos e abrir os olhos. Simples, não?
• Karl Heinz Kienitz recebeu o doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica em São José dos Campos. Karl mantém uma página na internet sobre fé e ciência no endereço www.freewebs.com/kienitz.
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Em 1884, vinte anos antes de receber o Prêmio Nobel de Física, Lord Rayleigh dizia ao plenário da 54a Reunião da Associação Britânica para o Avanço da Ciência: “Muitas pessoas excelentes temem a ciência como tendendo ao materialismo. Não é surpreendente que tal apreensão exista, pois, infelizmente, há escritores, falando em nome da ciência, que se fixaram a fomentá-la. É verdade que entre os homens de ciência, como em outros ramos, pontos de vista pouco refletidos podem ser encontrados a respeito das coisas mais profundas da natureza; mas que as crenças professadas por Newton, Faraday e Maxwell toda uma vida seriam incompatíveis com o hábito científico da mente é, sem dúvida, uma proposição que eu não preciso me delongar em refutar".
De Rayleigh até hoje cientistas de renome têm reiterado a compatibilidade de fé cristã e ciência. Para Max Planck, “religião e ciência natural combatem unidos numa batalha incessante contra o ceticismo e o dogmatismo, contra a descrença e a superstição. E a palavra de ordem nesta luta sempre foi e para todo sempre será: em direção a Deus!”. Em outra oportunidade Planck foi ainda mais incisivo: “A prova mais imediata da compatibilidade entre religião e ciência natural, mesmo sob análise detalhada e crítica, é o fato histórico de que justamente os maiores cientistas de todos os tempos, homens como Kepler, Newton, Leibniz, estavam imbuídos de profunda religiosidade”. Muitos outros nobéis, como Mott, Townes, Penzias, Schawlow e Phillips expressaram-se de forma semelhante.
No entanto, mais de um século após a palestra de Lord Rayleigh, persiste a situação por ele mencionada. Como evidência tupiniquim, confira-se uma recente entrevista feita com Marina Silva, candidata à presidência da república (“Época”, edição 627, 24/05/2010). Uma das perguntas foi: “Como a senhora lida com a contradição entre ciência e religião?”. A hipótese está enunciada de forma inequívoca. Independe do que a entrevistada teria a dizer, ou pior, independe do que os cientistas citados acima têm dito sobre o assunto há séculos. Em sua pergunta, a jornalista elevou a (imaginária) contradição entre ciência e religião à condição de verdade absoluta, fato incontestável.
Rodney Stark, professor de sociologia da Baylor University, apresenta uma possível explicação para atitudes como a da entrevistadora de Marina Silva. Um conflito entre fé e ciência tem sido “o principal dispositivo polêmico usado no ataque ateu contra a fé... afirmações falsas sobre religião e ciência têm sido usadas como armas na batalha para 'libertar' a mente humana dos 'grilhões da fé'. A verdade é que não há inerente conflito entre religião e ciência. De fato a realidade fundamental é que a teologia cristã foi essencial para a acensão da ciência”.
A explicação alternativa à de Stark é a de que o formador de opinião engajado na difusão do imaginário conflito desconhece Kepler, Newton, Leibniz, Rayleigh, Planck, Mott, Townes, Penzias, Schawlow, Phillips e suas manifestações sobre a compatibilidade de fé e ciência. Infelizmente tal desconhecimento só é possível se esse formador de opinião não fizer corretamente seu trabalho de pesquisa ou “se fingir de morto” diante do vasto material disponível sobre o assunto, o que novamente implicaria motivações pouco louváveis. Enquanto isto, mentiras sobre fé cristã e ciência continuam a ser impingidas ao público.
Seja como for, os Newtons, Rayleighs e Plancks têm sido amplamente ignorados – muitas vezes deliberadamente – quando o assunto é fé e ciência. Isto me faz lembrar de uma frase de Jesus, na qual ele se refere ao assunto ignorância deliberada: “Eles taparam os ouvidos e fecharam os olhos. Se eles não tivessem feito isso, os seus olhos poderiam ver, e os seus ouvidos poderiam ouvir; a sua mente poderia entender, e eles voltariam para mim, e eu os curaria!” (Mt 13.15). Assim, para reverter o quadro é necessário destapar os ouvidos e abrir os olhos. Simples, não?
• Karl Heinz Kienitz recebeu o doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica em São José dos Campos. Karl mantém uma página na internet sobre fé e ciência no endereço www.freewebs.com/kienitz.
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Tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor de engenharia em São José dos Campos (SP). É editor do blog Fé e Ciência.
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Site: http://www.freewebs.com/kienitz/
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