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- 13 de julho de 2020
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Os vícios, as virtudes e as bases bíblicas para a vida intelectual
ENTREVISTA | MARCELO CABRAL
O autor de Eclesiastes, muito provavelmente, não teria problemas com o lançamento do curso Fundamentos da Vida Intelectual, promovido pela Academia ABC² (Associação Brasileira de Cristãos na Ciência).
Claro, não é possível esquecer o que ele disse logo no início de um dos livros mais intrigantes ou azedos da Bíblia: “Quanto maior a sabedoria, maior a aflição; quanto maior o conhecimento, maior a tristeza” (Ec 1.18). É esse nó da vida cristã, da racionalidade, as relações entre fé, ciência e cultura, começando com Jesus Cristo e a vida da mente, que a ABC² quer começar a desatar.
Ultimato conversou com o economista e filósofo Marcelo Cabral, um dos coordenadores do curso, sobre a Academia ABC² e os desafios de uma vida intelectual saudável.
Quais os objetivos da Academia ABC² e como ela se diferencia das linhas que já trabalhadas pela ABC² desde a sua fundação?
A Academia ABC² é de fato um fruto da ABC², duas entidades parceiras no objetivo mais amplo de contribuir com a cultura brasileira através de um diálogo rico e frutífero entre teologia, filosofia e as ciências, e, particularmente, com a igreja brasileira, auxiliando na constituição de uma comunidade intelectual cristã.
Enquanto a ABC² associa e congrega pessoas interessadas nessa temática, plantando grupos locais, realizando seminários e congressos, a Academia será a instituição responsável pelo desenvolvimento de cursos e outras atividades acadêmicas. Tem um papel formativo intelectual.
Que frutos a igreja brasileira poderá colher, a médio e longo prazos, a partir dos programas oferecidos pela Academia?
Todas iniciativas da Academia têm como um dos seus objetivos edificar a igreja brasileira. Relacionar de modo coerente, profundo, ortodoxo e relevante fé cristã, ciências e filosofia não é nada trivial – ler um livro ou outro, ou participar de um encontro ou outro pode ser informativo, mas não propriamente formativo. Assim, com o desenvolvimento de variados cursos, desde cursos incitantes até cursos de pós-graduação, esperamos formar uma nova geração de pessoas altamente capacitadas para um testemunho intelectual cristão, para edificação de igreja e frutificação cultural. Todos os nossos cursos têm como marca não apenas conteúdo de alta qualidade, mas também processos pedagógicos formativos, que aliam tutoria e hospitalidade (mesmo que online), integrando os alunos em comunidades de aprendizado.
Quais os principais desafios para os cristãos compreenderem que literatura, arte, bem como a compreensão das relações entre ciência e fé, cosmovisão e secularismo podem ajudar no desenvolvimento pessoal, como discípulo de Cristo?
Desde seus primórdios a igreja cristã teve de aprender como habitar em um mundo ambíguo, que ao mesmo tempo revela traços da beleza, bondade e verdade do Criador, mas também repleto de marcas da queda e injustiça humanas.
No mundo contemporâneo essa tensão criativa continua, e diversos desenvolvimentos culturais – como as ciências contemporâneas, por exemplo – são ao mesmo tempo produtores de bens magníficos para vida humana, e também centros que podem irradiar formas malignas de controle, abuso, e de negação da transcendência. Discípulos de Jesus precisam, dentre várias virtudes, aprender a discernir. Discernir é o caminho estreito entre a negação do mundo e a apropriação acrítica do mundo. Discernir é o que discípulos precisam aprender.
O contexto evangélico brasileiro parece sugerir uma inclinação ao anti-intelectualismo. De que forma cursos como esse podem promover transformações positivas diante de tal contexto?
Há muita beleza na igreja evangélica brasileira, e vemos diversos ramos instigando a vida intelectual. Entretanto, há de fato em certos setores uma negação da importância da filosofia, ciência e cultura, ou uma crítica exagerada e fundamentalista em direção ao conhecimento acadêmico. Ao mesmo tempo, precisamos resistir um “batismo” ou apropriação indevida dos modos de saber e dos paradigmas reinantes no mundo intelectual. Os cursos da Academia levam tudo isso em conta, e tem como um de seus objetivos formar em seus estudantes as virtudes intelectuais, tais como humildade intelectual, coragem e perseverança intelectuais, que os capacitarão para saber navegar suas vidas e projetos nesse mundo, impactando-o com um bom testemunho cristão.
Por que começar a Academia ABC² falando de fundamentos da vida intelectual? O que seria uma “vida intelectual saudável”?
Essa pergunta precisa de um curso inteiro para ser respondida! rs... Nós entendemos que uma das dimensões essenciais da vida humana é a intelectual. Intelectual aqui não diz respeito a uma vida enclausurada em uma torre de marfim, mas sim de que todos os seres humanos são chamados a conhecer o mundo, mergulhar na realidade, e aprender a, propriamente, amá-la. Esse curso vai introduzir os alunos nessas questões, procurando desenvolver o que chamamos de “caráter intelectual”, que são as diversas características que nos tornam bons conhecedores, pessoas aptas a produzir, distribuir e aplicar o bom conhecimento.
Há uma racionalidade distintamente cristã ou a fé cristã deve se beneficiar da racionalidade humana geral?
Racionalidade é um termo de múltiplas dimensões. Em um sentido mais básico, racionalidade é o conjunto de processos cognitivos que nos permite conhecer as coisas, e, nesse ponto, é comum a todos. Mas, em outro sentido, racionalidade é compreendida como o conjunto de parâmetros que regulam o que consideramos racional, e esses parâmetros podem variar, dependendo da perspectiva da qual partimos.
Como o filósofo Alasdair MacIntyre insiste, racionalidade nesse sentido é sempre construída dentro de uma determinada tradição. Nesse curso nós partimos da grande tradição cristã, mas sempre em diálogo com outras tradições, com as quais ela às vezes concorda, às vezes discorda.
A ementa diz que um dos assuntos abordados será a procrastinação. Este é um vício intelectual? Possivelmente, é algo que os alunos do curso que durará quatro meses terão que enfrentar. Há remédio para procrastinação?
Procrastinação é um dos vícios intelectuais mais presentes nas novas gerações. E quando a denominamos como um “vício” queremos dizer que ela não é uma simples escolha, do tipo “hoje quero procrastinar”, mas é uma característica entrincheirada no ser de muitos, difícil de ser combatida. Como todo vício, não existe um remédio fácil para combatê-la; mas, com certeza, há sim caminhos saudáveis para provocar uma transformação em nosso caráter intelectual, mitigando os vícios e desenvolvendo as virtudes. Trataremos disso especialmente nos módulos 2 e 3 do curso. Além disso, contaremos com uma tutoria especial, exatamente para auxiliar cada aluno a “combater o bom combate” da vida intelectual.
Em algum momento o curso vai abordar como um cristão intelectual pode lidar com a soberba do conhecimento, tão comum na vida acadêmica? É possível levar a sério “a vida intelectual” e ainda ser uma pessoa simples, que escuta a opinião do outro, mesmo aquele sem formação ou qualquer treinamento formal?
Sem dúvida. É nossa profunda crença de que ser um intelectual cristão não é, em primeiro lugar, ter um cérebro rápido, nem uma porção gigante de informações decoradas, mas é aprender a mimetizar a mente de Cristo. Entre as virtudes intelectuais, talvez uma das mais importantes é exatamente a humildade intelectual, que será discutida em nossas aulas.
Para mais informações, acesse Academia ABC².
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O autor de Eclesiastes, muito provavelmente, não teria problemas com o lançamento do curso Fundamentos da Vida Intelectual, promovido pela Academia ABC² (Associação Brasileira de Cristãos na Ciência).
Claro, não é possível esquecer o que ele disse logo no início de um dos livros mais intrigantes ou azedos da Bíblia: “Quanto maior a sabedoria, maior a aflição; quanto maior o conhecimento, maior a tristeza” (Ec 1.18). É esse nó da vida cristã, da racionalidade, as relações entre fé, ciência e cultura, começando com Jesus Cristo e a vida da mente, que a ABC² quer começar a desatar.
Ultimato conversou com o economista e filósofo Marcelo Cabral, um dos coordenadores do curso, sobre a Academia ABC² e os desafios de uma vida intelectual saudável.
Quais os objetivos da Academia ABC² e como ela se diferencia das linhas que já trabalhadas pela ABC² desde a sua fundação?
A Academia ABC² é de fato um fruto da ABC², duas entidades parceiras no objetivo mais amplo de contribuir com a cultura brasileira através de um diálogo rico e frutífero entre teologia, filosofia e as ciências, e, particularmente, com a igreja brasileira, auxiliando na constituição de uma comunidade intelectual cristã.
Enquanto a ABC² associa e congrega pessoas interessadas nessa temática, plantando grupos locais, realizando seminários e congressos, a Academia será a instituição responsável pelo desenvolvimento de cursos e outras atividades acadêmicas. Tem um papel formativo intelectual.
Que frutos a igreja brasileira poderá colher, a médio e longo prazos, a partir dos programas oferecidos pela Academia?
Todas iniciativas da Academia têm como um dos seus objetivos edificar a igreja brasileira. Relacionar de modo coerente, profundo, ortodoxo e relevante fé cristã, ciências e filosofia não é nada trivial – ler um livro ou outro, ou participar de um encontro ou outro pode ser informativo, mas não propriamente formativo. Assim, com o desenvolvimento de variados cursos, desde cursos incitantes até cursos de pós-graduação, esperamos formar uma nova geração de pessoas altamente capacitadas para um testemunho intelectual cristão, para edificação de igreja e frutificação cultural. Todos os nossos cursos têm como marca não apenas conteúdo de alta qualidade, mas também processos pedagógicos formativos, que aliam tutoria e hospitalidade (mesmo que online), integrando os alunos em comunidades de aprendizado.
Quais os principais desafios para os cristãos compreenderem que literatura, arte, bem como a compreensão das relações entre ciência e fé, cosmovisão e secularismo podem ajudar no desenvolvimento pessoal, como discípulo de Cristo?
Desde seus primórdios a igreja cristã teve de aprender como habitar em um mundo ambíguo, que ao mesmo tempo revela traços da beleza, bondade e verdade do Criador, mas também repleto de marcas da queda e injustiça humanas.
Discernir é o caminho estreito entre a negação e a apropriação acrítica do mundo.
Discernir é o que discípulos de Jesus precisam aprender.
Discernir é o que discípulos de Jesus precisam aprender.
No mundo contemporâneo essa tensão criativa continua, e diversos desenvolvimentos culturais – como as ciências contemporâneas, por exemplo – são ao mesmo tempo produtores de bens magníficos para vida humana, e também centros que podem irradiar formas malignas de controle, abuso, e de negação da transcendência. Discípulos de Jesus precisam, dentre várias virtudes, aprender a discernir. Discernir é o caminho estreito entre a negação do mundo e a apropriação acrítica do mundo. Discernir é o que discípulos precisam aprender.
O contexto evangélico brasileiro parece sugerir uma inclinação ao anti-intelectualismo. De que forma cursos como esse podem promover transformações positivas diante de tal contexto?
Há muita beleza na igreja evangélica brasileira, e vemos diversos ramos instigando a vida intelectual. Entretanto, há de fato em certos setores uma negação da importância da filosofia, ciência e cultura, ou uma crítica exagerada e fundamentalista em direção ao conhecimento acadêmico. Ao mesmo tempo, precisamos resistir um “batismo” ou apropriação indevida dos modos de saber e dos paradigmas reinantes no mundo intelectual. Os cursos da Academia levam tudo isso em conta, e tem como um de seus objetivos formar em seus estudantes as virtudes intelectuais, tais como humildade intelectual, coragem e perseverança intelectuais, que os capacitarão para saber navegar suas vidas e projetos nesse mundo, impactando-o com um bom testemunho cristão.
Por que começar a Academia ABC² falando de fundamentos da vida intelectual? O que seria uma “vida intelectual saudável”?
Essa pergunta precisa de um curso inteiro para ser respondida! rs... Nós entendemos que uma das dimensões essenciais da vida humana é a intelectual. Intelectual aqui não diz respeito a uma vida enclausurada em uma torre de marfim, mas sim de que todos os seres humanos são chamados a conhecer o mundo, mergulhar na realidade, e aprender a, propriamente, amá-la. Esse curso vai introduzir os alunos nessas questões, procurando desenvolver o que chamamos de “caráter intelectual”, que são as diversas características que nos tornam bons conhecedores, pessoas aptas a produzir, distribuir e aplicar o bom conhecimento.
Há uma racionalidade distintamente cristã ou a fé cristã deve se beneficiar da racionalidade humana geral?
Racionalidade é um termo de múltiplas dimensões. Em um sentido mais básico, racionalidade é o conjunto de processos cognitivos que nos permite conhecer as coisas, e, nesse ponto, é comum a todos. Mas, em outro sentido, racionalidade é compreendida como o conjunto de parâmetros que regulam o que consideramos racional, e esses parâmetros podem variar, dependendo da perspectiva da qual partimos.
Procrastinação é um dos vícios intelectuais mais presentes nas novas gerações.
E, ser um intelectual cristão não é, em primeiro lugar, ter uma porção gigante de informações e, talvez, uma das virtudes mais importantes é exatamente a humildade intelectual.
E, ser um intelectual cristão não é, em primeiro lugar, ter uma porção gigante de informações e, talvez, uma das virtudes mais importantes é exatamente a humildade intelectual.
Como o filósofo Alasdair MacIntyre insiste, racionalidade nesse sentido é sempre construída dentro de uma determinada tradição. Nesse curso nós partimos da grande tradição cristã, mas sempre em diálogo com outras tradições, com as quais ela às vezes concorda, às vezes discorda.
A ementa diz que um dos assuntos abordados será a procrastinação. Este é um vício intelectual? Possivelmente, é algo que os alunos do curso que durará quatro meses terão que enfrentar. Há remédio para procrastinação?
Procrastinação é um dos vícios intelectuais mais presentes nas novas gerações. E quando a denominamos como um “vício” queremos dizer que ela não é uma simples escolha, do tipo “hoje quero procrastinar”, mas é uma característica entrincheirada no ser de muitos, difícil de ser combatida. Como todo vício, não existe um remédio fácil para combatê-la; mas, com certeza, há sim caminhos saudáveis para provocar uma transformação em nosso caráter intelectual, mitigando os vícios e desenvolvendo as virtudes. Trataremos disso especialmente nos módulos 2 e 3 do curso. Além disso, contaremos com uma tutoria especial, exatamente para auxiliar cada aluno a “combater o bom combate” da vida intelectual.
Em algum momento o curso vai abordar como um cristão intelectual pode lidar com a soberba do conhecimento, tão comum na vida acadêmica? É possível levar a sério “a vida intelectual” e ainda ser uma pessoa simples, que escuta a opinião do outro, mesmo aquele sem formação ou qualquer treinamento formal?
Sem dúvida. É nossa profunda crença de que ser um intelectual cristão não é, em primeiro lugar, ter um cérebro rápido, nem uma porção gigante de informações decoradas, mas é aprender a mimetizar a mente de Cristo. Entre as virtudes intelectuais, talvez uma das mais importantes é exatamente a humildade intelectual, que será discutida em nossas aulas.
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