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Opinião

Os riscos da internet para crianças

Por José Geraldo Magalhães
 
Mais da metade (56%) das crianças entre 8 e 12 anos está exposta a ameaças digitais, como vício em videogames, ciberbullying e comportamento sexual on-line, em um cenário considerado como “pandemia de risco cibernético”. Os dados são do relatório de impacto DQ 2018, realizado pelo Instituto DQ em parceira com o Fórum Econômico Mundial. Foi avaliado o comportamento de 34 mil crianças em idade escolar de 29 países sobre segurança infantil on-line e cidadania digital. O Brasil não foi incluído no estudo. 
 
A pesquisa apontou que 47% das crianças foram vítimas de ciberbullying em 2017, 10% conversaram com estranhos/as nas redes e marcaram encontros presenciais e 17% tiveram algum comportamento sexual on-line. Segundo o relatório, estima-se que 260 milhões de crianças em todo o mundo estão envolvidas com ciber-riscos, e o número deverá aumentar para 390 milhões até 2020. 
 
Mesmo que o Brasil não tenha sido incluído na pesquisa, isso nos aponta um alerta crucial, pois o país é o maior usuário de redes sociais da América Latina. Segundo a Forbes Brasil, mais de 260 milhões de pessoas na América Latina, 42% do total da população, acessam as redes sociais cotidianamente. De acordo com uma pesquisa da agência eMarketer, 86,5% dos/as internautas utilizam smartphones para se conectar às redes. O Brasil é o país com mais usuários/as do continente, com um total de 93,2 milhões. O México está em segundo lugar, são 56 milhões, seguido da Argentina, com 21,7 milhões. O estudo mostra ainda que, até 2020, metade da população latino-americana fará uso das redes sociais.
 
Mesmo com o risco na rede ser generalizado, o estudo DQ 2018 mostra que as ameaças são 33% maiores em países emergentes. “Isso se deve, em grande parte, à rápida adoção de tecnologia móvel e ao uso de plataforma digital sem preparação adequada das crianças”, diz o relatório. De acordo com a pesquisa, a internet tem uma influência mais rápida nesses países, que devem representar 90% de todos/as os/as novos/as internautas mirins até 2020. Outro fato importante levantado na pesquisa mostra que, em média, as crianças gastam 32 horas por semana sozinhas na frente de telas digitais, seja em celulares, tablets ou computadores, em busca de entretenimento. Um tempo relativamente maior ao período que passam na escola.
 
O relatório apontou também que mais da metade das crianças pesquisadas acessa a internet de seus dispositivos móveis – a maioria (60%) recebe o primeiro celular ao atingir os dez anos e 85% delas têm alguma rede social, mesmo que a idade permitida para utilizar as plataformas seja a partir de 13 anos. 
 
Entre as atividades preferidas das crianças está assistir a vídeos (72%). Ouvir músicas e buscas por temas diversos seguem com percentuais iguais (51%). Jogar videogame (49%) e conversar em chats (38%) também estão entre as preferências. Não é surpresa que o site mais popular nesta faixa etária seja o YouTube, a rede mais usada por 54% dos/as entrevistados/as. Depois aparecem WhatsApp (45%), Facebook (28%), Instagram (27%) e Snapchat (23%). Facebook e Twitter se mostraram significativamente populares entre crianças de países emergentes.
 
 
O resultado da pesquisa aponta que o tempo demasiado de tela pode deixar as crianças agressivas e solitárias, prejudicar o sono, além de impactar a saúde física e mental. “Desconectar as crianças do mundo digital devido ao medo de ciber-riscos não é uma opção”, diz o relatório. Ter acesso ao universo virtual “é um dos direitos básicos das crianças no século XXI”. O estudo conclui dizendo que “não há dúvida de que a tecnologia pode gerar grandes benefícios para as crianças em diversas áreas, que vão desde educação e potencial futuro de trabalho a entretenimento”. A alternativa seria disciplinar as crianças por meio da educação para uma cidadania digital que valorize e ensine as crianças a usar as tecnologias, compreender como funciona a comunicação on-line e desenvolver raciocínio crítico sobre conteúdos e contatos na rede.
 
A Coordenadora do Departamento Nacional de Trabalho com Crianças, Elaine Rosendal, acredita que a proibição de acesso à internet não é o caminho mais adequado para uma educação digital saudável.
 
“A criança na internet sozinha, sem supervisão de um/a responsável é muito perigoso, mas proibir o uso não é educar, temos que permitir com regras. A internet é uma das formas de como estudar e pesquisar”, destacou Elaine.
 
Desafios on-line

Os pais ou responsáveis que acompanham de perto a vida dos/as menores de idade devem saber dos riscos encontrados na internet. Recentemente, circulou na internet o desafio da Baleia Azul. O objetivo do jogo consiste em 50 desafios distribuídos diariamente por um/a “curador/a” em grupos fechados de redes sociais. Todos os dias, às 4h20, uma mensagem com a nova missão é publicada. O grau de seriedade é variável. No início, os desafios são bem mais leves e simples, como assistir a um filme de terror sozinho ou desenhar uma baleia numa folha. Aos poucos, a coisa vai ficando mais séria e perigosa: os/as participantes devem tatuar uma baleia no braço com uma faca. O 50º desafio da Baleia Azul termina com um incentivo ao suicídio. Pelo menos dois casos já foram investigados no Brasil como suspeita de as crianças terem se envolvido no jogo.
 
Mais recente ainda é o caso da Boneca Momo. O desafio é feito pelo WhatsApp onde um/a criminoso/a se passa pela Boneca Momo e faz exigências à pessoa com quem está conversando, incitando crianças e adolescentes a se mutilarem e até mesmo a cometerem suicídio e outros atos de violência. Além disso, o/a desconhecido/a também envia conteúdos de ódio e violência explícita.
 
A imagem da boneca que circula na internet é uma escultura popularmente conhecida como “Mulher Pássaro”, que foi exposta no Museu Vanilla Gallery, em Tóquio, no Japão, em 2016.
 
De acordo com a imprensa, uma família de duas adolescentes de Caruaru, em Pernambuco, descobriu mensagens e vídeos nos celulares delas que pertenciam ao Desafio da Boneca Momo depois de as meninas desmaiarem em sala de aula por ingerirem grande quantidade de um medicamento, e a mãe das adolescentes disse que a filha estava com diversos cortes no pulso e no ombro. Outro caso que chamou a atenção foi o de um garoto de 9 anos encontrado morto no quintal de sua casa, em Recife. A mãe do menino lembrou que ele teve contato com um desafio que circulava na internet. Ela publicou nas redes sociais. “Meus amigos, perdi hoje para a internet o grande amor da minha vida – meu filho, que foi tentar prender a respiração e não aguentou. Ele ia completar dez anos”, desabafou a mãe.
 
Cuidados

A equipe do Departamento Nacional de Trabalho com Crianças (DNTC) está preocupada com o assunto (ver pág. 15). Mesmo representando uma ótima ferramenta de aprendizagem, divertimento, interação e lazer, a internet também pode ser perigosa para crianças e jovens. Mas como a família e a própria Igreja podem trabalhar essas questões de conscientização?
 
O melhor caminho continua sendo o diálogo entre filhos/as e pais e/ou responsáveis, professores/as de Escola Dominical e as pregações nos cultos, que também servem de alerta para o cuidado e atenção com as crianças. Abaixo, há algumas dicas do site Escola da Inteligência: educação socioambiental que transcrevemos na íntegra e outras que pesquisamos em vários conteúdos e agregamos ao texto. Elas podem ajudar na prevenção de como realizar um monitoramento saudável dos acessos, evitando que estes tragam riscos para a vida das crianças. 
  1. Conversar com o/a seu/a filho/a e orientá-lo/la sobre a privacidade, ou seja, o diálogo continua sendo o mais importante. Às vezes, não é possível acompanhar tão próximo o que os/as filhos/as fazem no computador ou dispositivos móveis. Por isso a importância de manter uma relação de diálogo e confiança, a fim de que haja abertura para conversar sobre qualquer tipo de comportamento e pessoas a serem evitadas nas redes sociais. Procure acompanhar o tipo de conteúdo que ele/a acessa. 
  2. Procure utilizar algumas práticas que facilitem sua monitoração. Algumas delas podem colaborar para que os pais consigam acompanhar mais de perto os acessos dos/as filhos/as à internet. São elas: instalar o computador em um ambiente de fácil acesso aos demais membros da família. Dessa forma, evita-se o isolamento de porta fechada no quarto; conhecer as senhas de acesso, do celular ou do computador; verificar com o máximo de regularidade possível o histórico do computador; perguntar, em conversa, quais são os sites que ele/a mais gosta de acessar; tente descobrir se algum desses sites que ele/a já acessou não o/a agradou. Descubra por que não.
  3. Impor limites quanto ao uso dos celulares, tablets e iPad ou similares com acesso à internet. Apesar de as crianças e os/as jovens não gostarem, é de suma importância estabelecer horários para uso da internet. Essas medidas colaboram para que eles/as não exagerem na navegação, bem como contribui para que tenham mais tempo para outras atividades. 
  4. Ao encontrar algo suspeito em históricos ou buscas, orientar o/a seu/a filho/a e falar claramente sobre os perigos a que ele/a está exposto ajudará a evitar problemas no futuro. Ao conhecer histórias reais que tenham acontecido, você pode usá-las como exemplo de orientação. Deixe claro para seu/a filho/a que, na internet, ele precisa também tomar cuidados com desconhecidos/as e com o que publica e acessa. As precauções devem ser bem grandes, tais quais ocorrem na vida real.
  5. Instalar filtros de conteúdo. Alguns filtros ajudam a proteger os/as filhos/as na internet, controlando seus acessos. 

• José Geraldo Magalhães é pastor metodista e editor-chefe do Jornal Expositor Cristão. 

Nota: Matéria publicada originalmente no Jornal Expositor Cristão, outubro-2018. Reproduzido com autorização.
 
 

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