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- 26 de junho de 2009
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Os mortos do mar
Não é pequeno o número de pessoas que foram sepultadas no mar em consequência da queda de alguma aeronave. Em 1987, um mergulhador francês viu as cordas de um pára-quedas emaranhadas nos restos mortais de um piloto americano na cabine de uma fortaleza voadora, a 40 metros de profundidade no Mediterrâneo. O Liberator havia sido abatido pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.
No início de 1996 (fevereiro), um Boeing 756, que ia da República Dominicana para Frankfurt, caiu no oceano Atlântico, matando 189 pessoas. No meio do ano (julho), um Boeing 747, que ia de Nova York para Paris, caiu também no Atlântico, fazendo 230 vítimas. No final do mesmo ano (novembro), um Boeing 767, que ia de Adis Abeba para Nairóbi, caiu no mar de Comores, causando a morte de 125 pessoas. Apenas estes três acidentes aéreos colocaram no fundo do mar 544 tripulantes e passageiros.
Mais recentemente, um avião da Egypt Air, que havia levantado vôo em Nova York com destino ao Cairo, e outro da Kenya Airways, que voava de Abidjan para Lagos, caíram no mar, deixando 386 mortos (o primeiro em outubro de 1999 e o segundo em janeiro de 2000).
Um dos acidentes aéreos que mais comoveram os brasileiros aconteceu no dia 12 de outubro de 1992, com a queda do helicóptero que levava de Angra dos Reis para São Paulo o grande paladino das “Diretas Já!”, Ulysses Guimarães, sua esposa Mora, com quem era casado havia 39 anos, o senador Severo Gomes e sua mulher. O corpo de Ulysses, de 76 anos, completados uma semana antes do acidente, nunca foi encontrado.
No dia 25 de fevereiro de 1960, um DC-3 da extinta Real Aerovias, procedente de Campos, RJ, chocou-se com o DC-6 da Marinha dos Estados Unidos, procedente de Buenos Aires, quando ambos se preparavam para descer no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O choque se deu no ar e os aviões caíram sobre a baía da Guanabara. No avião americano havia vinte músicos que deveriam tocar à noite na residência do embaixador estadunidense, durante o jantar e a recepção que o presidente Dwight David Eisenhower, em visita ao Brasil, ofereceria ao presidente Juscelino Kubitschek. Dos setenta passageiros e tripulantes de ambos os aviões, só três se salvaram. Entre os mortos brasileiros estava Gauthier Pontes Figueiredo, então prefeito de Bom Jesus do Itabapoana, RJ, e presbítero da Igreja Presbiteriana da mesma cidade.
Curiosamente, na manhã daquela quinta-feira, Gauthier, de 50 anos, reunira a esposa e os seis filhos para o tradicional culto doméstico. O hino que a família cantou lembrava a disposição de Deus em lançar “todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Mq 7.19):
O peso da minh’alma
Jesus lançou ao mar
No fundo, fundo mar
Pra nunca mais voltar.
Agora, estou alegre
No céu eu vou morar
O peso da minh’alma
Jesus lançou no mar.
Entre os mortos do mar estão as vítimas de acidentes de trabalho. Na construção da Ponte Rio–Niterói, inaugurada em março de 1974, alguns dos seus 10.500 operários morreram afogados na baía de Guanabara. O mesmo tem acontecido com a extração de petróleo na bacia de Campos. Em 1984, por exemplo, o acidente havido na Plataforma Central de Enchova deixou 42 mortos. O acidente da P-36, em 2001, fez mais onze vítimas. Muitos mergulhadores sofrem algum tipo de acidente debaixo d’água e não voltam à tona.
Catástrofes hidrológicas em cidades litorâneas, como ressacas, tufões e maremotos, têm arrastado muitas pessoas para o mar, que nunca voltam. O casal de missionários americanos Zachary e Laura Taylor, um dos fundadores da igreja batista brasileira, e uma filha morreram no mesmo dia, em 1919, vítimas de um maremoto que atingiu a cidade de Corpus Christi, no litoral do Texas. Algumas ilhas pequenas e seus habitantes têm desaparecido do mapa devido à elevação no nível dos mares. Por causa desse fenômeno, os habitantes das nove ilhas de Tuvalu, no oceano Pacífico, entre o Havaí e a Austrália, correm o risco de ter de abandonar o seu país.
Na verdade, o número de banhistas que morrem nos rios, nos lagos e nas praias do mar é maior do que o número daqueles que morrem em acidentes marítimos. São milhares e milhares por ano em todo o mundo. Apenas no Brasil, são dezoito mortes por dia, ou mais de 6.500 por ano, doze vezes mais do que os mortos dos três grandes acidentes aéreos de 1996.
O mar guarda muito mais mortos do que se pode imaginar.
No início de 1996 (fevereiro), um Boeing 756, que ia da República Dominicana para Frankfurt, caiu no oceano Atlântico, matando 189 pessoas. No meio do ano (julho), um Boeing 747, que ia de Nova York para Paris, caiu também no Atlântico, fazendo 230 vítimas. No final do mesmo ano (novembro), um Boeing 767, que ia de Adis Abeba para Nairóbi, caiu no mar de Comores, causando a morte de 125 pessoas. Apenas estes três acidentes aéreos colocaram no fundo do mar 544 tripulantes e passageiros.
Mais recentemente, um avião da Egypt Air, que havia levantado vôo em Nova York com destino ao Cairo, e outro da Kenya Airways, que voava de Abidjan para Lagos, caíram no mar, deixando 386 mortos (o primeiro em outubro de 1999 e o segundo em janeiro de 2000).
Um dos acidentes aéreos que mais comoveram os brasileiros aconteceu no dia 12 de outubro de 1992, com a queda do helicóptero que levava de Angra dos Reis para São Paulo o grande paladino das “Diretas Já!”, Ulysses Guimarães, sua esposa Mora, com quem era casado havia 39 anos, o senador Severo Gomes e sua mulher. O corpo de Ulysses, de 76 anos, completados uma semana antes do acidente, nunca foi encontrado.
No dia 25 de fevereiro de 1960, um DC-3 da extinta Real Aerovias, procedente de Campos, RJ, chocou-se com o DC-6 da Marinha dos Estados Unidos, procedente de Buenos Aires, quando ambos se preparavam para descer no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O choque se deu no ar e os aviões caíram sobre a baía da Guanabara. No avião americano havia vinte músicos que deveriam tocar à noite na residência do embaixador estadunidense, durante o jantar e a recepção que o presidente Dwight David Eisenhower, em visita ao Brasil, ofereceria ao presidente Juscelino Kubitschek. Dos setenta passageiros e tripulantes de ambos os aviões, só três se salvaram. Entre os mortos brasileiros estava Gauthier Pontes Figueiredo, então prefeito de Bom Jesus do Itabapoana, RJ, e presbítero da Igreja Presbiteriana da mesma cidade.
Curiosamente, na manhã daquela quinta-feira, Gauthier, de 50 anos, reunira a esposa e os seis filhos para o tradicional culto doméstico. O hino que a família cantou lembrava a disposição de Deus em lançar “todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Mq 7.19):
O peso da minh’alma
Jesus lançou ao mar
No fundo, fundo mar
Pra nunca mais voltar.
Agora, estou alegre
No céu eu vou morar
O peso da minh’alma
Jesus lançou no mar.
Entre os mortos do mar estão as vítimas de acidentes de trabalho. Na construção da Ponte Rio–Niterói, inaugurada em março de 1974, alguns dos seus 10.500 operários morreram afogados na baía de Guanabara. O mesmo tem acontecido com a extração de petróleo na bacia de Campos. Em 1984, por exemplo, o acidente havido na Plataforma Central de Enchova deixou 42 mortos. O acidente da P-36, em 2001, fez mais onze vítimas. Muitos mergulhadores sofrem algum tipo de acidente debaixo d’água e não voltam à tona.
Catástrofes hidrológicas em cidades litorâneas, como ressacas, tufões e maremotos, têm arrastado muitas pessoas para o mar, que nunca voltam. O casal de missionários americanos Zachary e Laura Taylor, um dos fundadores da igreja batista brasileira, e uma filha morreram no mesmo dia, em 1919, vítimas de um maremoto que atingiu a cidade de Corpus Christi, no litoral do Texas. Algumas ilhas pequenas e seus habitantes têm desaparecido do mapa devido à elevação no nível dos mares. Por causa desse fenômeno, os habitantes das nove ilhas de Tuvalu, no oceano Pacífico, entre o Havaí e a Austrália, correm o risco de ter de abandonar o seu país.
Na verdade, o número de banhistas que morrem nos rios, nos lagos e nas praias do mar é maior do que o número daqueles que morrem em acidentes marítimos. São milhares e milhares por ano em todo o mundo. Apenas no Brasil, são dezoito mortes por dia, ou mais de 6.500 por ano, doze vezes mais do que os mortos dos três grandes acidentes aéreos de 1996.
O mar guarda muito mais mortos do que se pode imaginar.
Elben Magalhães Lenz César foi o fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato até a sua morte, em outubro de 2016. Fundador do Centro Evangélico de Missões e pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Viçosa (IPV), é autor de, entre outros, Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?, Refeições Diárias com Jesus, Mochila nas Costas e Diário na Mão, Para (Melhor) Enfrentar o Sofrimento, Conversas com Lutero, Refeições Diárias com os Profetas Menores, A Pessoa Mais Importante do Mundo, História da Evangelização do Brasil e Práticas Devocionais. Foi casado por sessenta anos com Djanira Momesso César, com quem teve cinco filhas, dez netos e quatro bisnetos.
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