Prateleira
- 20 de agosto de 2012
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Os livros, as feiras e um fracasso de estimação
Frequento a Bienal do Livro de São Paulo e do Rio bem antes dos rumores sobre o livro digital. Os longos corredores, o carpete cobrindo o chão que parece estar a ponto de desabar e o barulho da turba continuam os mesmos. Em 1998, lançamos Cartas entre Freud e Pfister na feira de São Paulo. Um retumbante fracasso.
Não faltaram estande, sala para lançamento, pompa e alguma circunstância. Em resumo, não cobrimos os custos do aluguel da sala, do velho e bom retroprojetor e das passagens de ônibus entre o interior mineiro e a Pauliceia. Os tempos mudaram. E, talvez exatamente por isso, repetiu-se nos últimos dias a discussão sobre o lugar -- literalmente ou não -- e a relevância da Bienal paulistana. Editores, autores, a Câmara Brasileira do Livro, entre outros, não cansam de apontar o sucesso e o fiasco da maior feira de livros do país, que terminou ontem. Poupo o leitor dos detalhes sobre a suposta crise do ‘modelo’ das grandes feiras ou dos problemas com estacionamento, banheiros e com o preço do ingresso.
Vamos aos livros. Bem, estar perto deles -- muitos e diferentes livros -- é algo fascinante, raro. E, por isso mesmo, vale a pena a visita. É como um dia no shopping ou, para os delicados, no museu, ou ainda no zoológico, com tudo que há de ruim ou de bom nessa comparação improvável. O programa pode não funcionar na prática. Às vezes, uma apresentação, um tema relevante no meio editorial, com gente de peso, reúne uma ou duas dúzias de gatos pingados. Outras, o espaço é pequeno para as centenas ou milhares de leitores alucinados com a celebridade da vez.
As feiras, mesmo as evangélicas, enfrentam problemas. Para os leitores e editores. Numa cidade histórica e turística, das minhas preferidas para as férias, onde há não muito tempo instalamos estande e toda a parafernália de praxe por quase uma semana, os números eram esquizofrênicos. De dia, era possível ouvir uma ou outra mosca desavisada vagando pelo pavilhão de estandes. À noite, na praça ao lado, uma multidão que se contava aos milhares ia à loucura com uma celebridade gospel. Ossos e livros do ofício.
Enfim, volto à Bienal de São Paulo. Mesmo carregando o crachá de “Profissional do Livro”, que não paga ingresso, lanço minha destra de companhia aos leitores. Pasmem, a Bienal não é dos melhores lugares para se comprar livros. Refiro-me às editoras. Porque, comprando no estande do distribuidor, o livro será entregue na casa do leitor e sairá por um preço até 50% menor do que na editora ao lado, que acabou de lançar o mesmo livro. Claro, isso não explica a nossa experiência em 1998. Uma espécie de consolo viria alguns meses depois: tanto a Folha de São Paulo como o Jornal do Brasil deram resenhas caudalosas sobre o nosso fracasso retumbante.
Leia mais:
Os zumbis e a sua majestade, o livro
Não faltaram estande, sala para lançamento, pompa e alguma circunstância. Em resumo, não cobrimos os custos do aluguel da sala, do velho e bom retroprojetor e das passagens de ônibus entre o interior mineiro e a Pauliceia. Os tempos mudaram. E, talvez exatamente por isso, repetiu-se nos últimos dias a discussão sobre o lugar -- literalmente ou não -- e a relevância da Bienal paulistana. Editores, autores, a Câmara Brasileira do Livro, entre outros, não cansam de apontar o sucesso e o fiasco da maior feira de livros do país, que terminou ontem. Poupo o leitor dos detalhes sobre a suposta crise do ‘modelo’ das grandes feiras ou dos problemas com estacionamento, banheiros e com o preço do ingresso.
Vamos aos livros. Bem, estar perto deles -- muitos e diferentes livros -- é algo fascinante, raro. E, por isso mesmo, vale a pena a visita. É como um dia no shopping ou, para os delicados, no museu, ou ainda no zoológico, com tudo que há de ruim ou de bom nessa comparação improvável. O programa pode não funcionar na prática. Às vezes, uma apresentação, um tema relevante no meio editorial, com gente de peso, reúne uma ou duas dúzias de gatos pingados. Outras, o espaço é pequeno para as centenas ou milhares de leitores alucinados com a celebridade da vez.
As feiras, mesmo as evangélicas, enfrentam problemas. Para os leitores e editores. Numa cidade histórica e turística, das minhas preferidas para as férias, onde há não muito tempo instalamos estande e toda a parafernália de praxe por quase uma semana, os números eram esquizofrênicos. De dia, era possível ouvir uma ou outra mosca desavisada vagando pelo pavilhão de estandes. À noite, na praça ao lado, uma multidão que se contava aos milhares ia à loucura com uma celebridade gospel. Ossos e livros do ofício.
Enfim, volto à Bienal de São Paulo. Mesmo carregando o crachá de “Profissional do Livro”, que não paga ingresso, lanço minha destra de companhia aos leitores. Pasmem, a Bienal não é dos melhores lugares para se comprar livros. Refiro-me às editoras. Porque, comprando no estande do distribuidor, o livro será entregue na casa do leitor e sairá por um preço até 50% menor do que na editora ao lado, que acabou de lançar o mesmo livro. Claro, isso não explica a nossa experiência em 1998. Uma espécie de consolo viria alguns meses depois: tanto a Folha de São Paulo como o Jornal do Brasil deram resenhas caudalosas sobre o nosso fracasso retumbante.
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