Opinião
- 01 de abril de 2020
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O trabalho voluntário em tempo de coronavírus
Por Paulo Tsai
Este guia tem como objetivo orientar o trabalho voluntário, para que este possa continuar assistindo aos mais vulneráveis e ao mesmo tempo não ser colaborador na propagação do coronavírus. A causa não pode estar acima das normas de saúde recomendadas pela Secretaria da Saúde local, Ministério da Saúde e também em atualizações de outras fontes confiáveis como o CDC.
Perfil do voluntário
Recomendamos que somente voluntários com menos de 50 anos e saudáveis atuem (excluir hipertensos, diabéticos, imunodeprimidos, cardiopatas, obesos, pessoas com problemas respiratórios e gestantes).
Considerar como fatores de exclusão, a distância e meio de locomoção e se há pessoas do grupo de risco (idosos com mais de 60 anos) habitando na mesma casa.
Homens e mulheres: evitar uso de adereços (anéis, pulseiras, brincos, colares etc)
Homens: cuidado com a barba. De preferência, o mínimo.
Mulheres: cuidado com maquiagem pesada. De preferência, o mínimo.
Saúde do voluntário
Como atualmente os testes de confirmação da infecção estão sendo direcionados apenas para os casos graves suspeitos, devemos considerar que toda pessoa gripada, pode estar infectada. O que fazer?
Grupo1 - pessoas com gripe leve/resfriado (coriza, dor de garganta, sem febre ou dor no corpo). Devem ficar em casa e retornar 72 horas após remissão (desaparecimento) dos sintomas. No retorno devem trabalhar de máscara cirúrgica por 7 dias.
Grupo 2 - pessoas com gripe “forte” (coriza, tosse, febre). Devem ficar em casa e retornar 7 dias após remissão dos sintomas. No retorno devem trabalhar de máscara cirúrgica por 7 dias.
Grupo 3 - pessoas com falta de ar e/ou febre persistente (> 38graus), ir ao hospital.
Grupo 4 - pessoas que tiveram contato (proximidade menor que 1 metro ou acima de 15 minutos de permanência) ou convivem com caso confirmado, devem ficar de quarentena por 14 dias. Devem ainda estar atentos ao desenvolvimento de sintomas gripais. Neste grupo, as normas de quarentena podem variar conforme sua atividade social (ex. profissionais da saúde quando entram em contato com casos confirmados podem trabalhar dentro de normas de biossegurança cabíveis à situação).
Uso de máscara, paramentação
O uso de máscara tem sido objeto de grande discussão. Como 80% da transmissão é feita por pessoas infectadas sem sintomas e o público atendido é heterogêneo, mas vulnerável (ex: moradores de rua e favelas, desnutridos, etc.), recomendamos uso de máscara cirúrgica (mais com objetivo de evitar transmissão do que “se proteger”). As máscaras devem cobrir boca e nariz. Não deixar a máscara pendurada no pescoço, queixo ou testa pois isso pode contaminá-la. Infelizmente, devido à escassez de máscaras no mercado, considere reutilizar as máscaras. Entretanto, o uso de máscaras é individual. A máscara deve ser dobrada com a face interna para dentro e guardada em saco plástico arejado de modo que fique seca. Não tocar na face interna (em contato com o rosto) da máscara. Se houver dúvidas quanto às situações de reuso, descarte-a. Recomendamos o uso de manga comprida, pois possibilita concentrar a lavagem frequente apenas nas mãos e não em todo antebraço.
Se o público atendido for numeroso ou de comportamento imprevisível (ex: trabalho com drogados), considerar proteger a região dos olhos (mucosa) com óculos.
Se não for possível lavar as mãos frequentemente ou uso de álcool gel, considerar o uso de luvas (ex: distribuição de marmitas).
No preparo e manipulação de alimentos, as pessoas envolvidas devem usar toucas (cabelo amarrado), máscaras e luvas.
Dê preferência à distribuição de pratos, talheres e copos descartáveis.
No contato com o público alvo, deve-se evitar abraços, orar de mãos dadas ou qualquer contato físico, além de manter uma distância mínima. Essas medidas garantem a segurança do colaborador e do público alvo.
Planejamento de ações
Mais do que nunca, as ações exigem um planejamento, que inclui a escassez de recursos materiais e humanos, o tempo da epidemia (3 a 6 meses?) a possibilidade de quarentena de parte da equipe e ações que inibam aglomerações ou outras situações que favoreçam a propagação do vírus.
Considere:
1. Quantidade de colaboradores
Quantidade de colaboradores versus espaço disponível (preferência de ambientes abertos) versus chance de aglomeração.
Calcule o número de colaboradores, de modo a promover o mínimo de circulação total de pessoas. Avalie o melhor momento da realização da ação.
Todos os beneficiários e colaboradores devem manter distância mínima de 1,5 metros (braços abertos) entre si. Será que com a quantidade de colaboradores que tenho hoje, 3 filas para pegar comida, cesta básica, kits de higiene ou outros itens para doação é melhor que uma (qual a configuração que permite a distância segura e atendimento mais ágil - cada ONG deve analisar a melhor estratégia de trabalho dentro do espaço, número de colaboradores e número de pessoas a serem assistidas)?
Considere um rígido controle de entrada de pessoas em ambientes fechados – permitir a entrada de um número de pessoas no recinto suficiente para manter uma distância segura entre todos. Faça marcações visuais - faixas coloridas no chão demarcando o lugar individual na fila. Abra todas as janelas e portas dos ambientes fechados.
Aumente a frequência de limpeza e higienização do ambiente com água sanitária ou detergente. Ofereça pias com água e sabão líquido para todos os participantes do evento.
Realize a ação, sempre que possível em local aberto e ventilado. Estude todas as opções possíveis, levando em conta os fatores citados. Se não for possível seguir às recomendações, considere cancelar a ação.
2- Coordenação de ações
Mais do que nunca precisamos trabalhar juntos. Se existem trabalhos semelhantes em sua área geográfica, compartilhe ideias e recursos. Não é momento de partidarismos ou “quem faz melhor”. Ações conjuntas e coordenadas geram resultados infinitamente melhores.
3- Tenha cuidado constante
Cuide de toda a sua equipe através de orientação, apoio psicológico ou aconselhamento. Sempre repasse essas orientações para os colaboradores antes de iniciar qualquer trabalho. Instrua os colaboradores a retirar os sapatos antes de entrar em suas residências, tomar um banho imediatamente e trocar de roupa antes de cumprimentar a amada família.
Um forte abraço a todos!
• Paulo Tsai é médico, amante do trabalho voluntário e presidente da Casa do Aconchego. E-mail: paulotsai@yahoo.com
A Casa do Aconchego tem o privilégio de fazer parte da Rede IBAB Solidária. Gratidão à Associação Médica Ágape pela revisão do texto, em especial, aos colegas e irmãos Dr. Davi Chen Wu e Dr. André T. C. Chen.
> Atualizado em 30/03/2020.
Este guia tem como objetivo orientar o trabalho voluntário, para que este possa continuar assistindo aos mais vulneráveis e ao mesmo tempo não ser colaborador na propagação do coronavírus. A causa não pode estar acima das normas de saúde recomendadas pela Secretaria da Saúde local, Ministério da Saúde e também em atualizações de outras fontes confiáveis como o CDC.
Perfil do voluntário
Recomendamos que somente voluntários com menos de 50 anos e saudáveis atuem (excluir hipertensos, diabéticos, imunodeprimidos, cardiopatas, obesos, pessoas com problemas respiratórios e gestantes).
Considerar como fatores de exclusão, a distância e meio de locomoção e se há pessoas do grupo de risco (idosos com mais de 60 anos) habitando na mesma casa.
Homens e mulheres: evitar uso de adereços (anéis, pulseiras, brincos, colares etc)
Homens: cuidado com a barba. De preferência, o mínimo.
Mulheres: cuidado com maquiagem pesada. De preferência, o mínimo.
Saúde do voluntário
Como atualmente os testes de confirmação da infecção estão sendo direcionados apenas para os casos graves suspeitos, devemos considerar que toda pessoa gripada, pode estar infectada. O que fazer?
Grupo1 - pessoas com gripe leve/resfriado (coriza, dor de garganta, sem febre ou dor no corpo). Devem ficar em casa e retornar 72 horas após remissão (desaparecimento) dos sintomas. No retorno devem trabalhar de máscara cirúrgica por 7 dias.
Grupo 2 - pessoas com gripe “forte” (coriza, tosse, febre). Devem ficar em casa e retornar 7 dias após remissão dos sintomas. No retorno devem trabalhar de máscara cirúrgica por 7 dias.
Grupo 3 - pessoas com falta de ar e/ou febre persistente (> 38graus), ir ao hospital.
Grupo 4 - pessoas que tiveram contato (proximidade menor que 1 metro ou acima de 15 minutos de permanência) ou convivem com caso confirmado, devem ficar de quarentena por 14 dias. Devem ainda estar atentos ao desenvolvimento de sintomas gripais. Neste grupo, as normas de quarentena podem variar conforme sua atividade social (ex. profissionais da saúde quando entram em contato com casos confirmados podem trabalhar dentro de normas de biossegurança cabíveis à situação).
Uso de máscara, paramentação
O uso de máscara tem sido objeto de grande discussão. Como 80% da transmissão é feita por pessoas infectadas sem sintomas e o público atendido é heterogêneo, mas vulnerável (ex: moradores de rua e favelas, desnutridos, etc.), recomendamos uso de máscara cirúrgica (mais com objetivo de evitar transmissão do que “se proteger”). As máscaras devem cobrir boca e nariz. Não deixar a máscara pendurada no pescoço, queixo ou testa pois isso pode contaminá-la. Infelizmente, devido à escassez de máscaras no mercado, considere reutilizar as máscaras. Entretanto, o uso de máscaras é individual. A máscara deve ser dobrada com a face interna para dentro e guardada em saco plástico arejado de modo que fique seca. Não tocar na face interna (em contato com o rosto) da máscara. Se houver dúvidas quanto às situações de reuso, descarte-a. Recomendamos o uso de manga comprida, pois possibilita concentrar a lavagem frequente apenas nas mãos e não em todo antebraço.
Se o público atendido for numeroso ou de comportamento imprevisível (ex: trabalho com drogados), considerar proteger a região dos olhos (mucosa) com óculos.
Se não for possível lavar as mãos frequentemente ou uso de álcool gel, considerar o uso de luvas (ex: distribuição de marmitas).
No preparo e manipulação de alimentos, as pessoas envolvidas devem usar toucas (cabelo amarrado), máscaras e luvas.
Dê preferência à distribuição de pratos, talheres e copos descartáveis.
No contato com o público alvo, deve-se evitar abraços, orar de mãos dadas ou qualquer contato físico, além de manter uma distância mínima. Essas medidas garantem a segurança do colaborador e do público alvo.
Planejamento de ações
Mais do que nunca, as ações exigem um planejamento, que inclui a escassez de recursos materiais e humanos, o tempo da epidemia (3 a 6 meses?) a possibilidade de quarentena de parte da equipe e ações que inibam aglomerações ou outras situações que favoreçam a propagação do vírus.
Considere:
1. Quantidade de colaboradores
Quantidade de colaboradores versus espaço disponível (preferência de ambientes abertos) versus chance de aglomeração.
Calcule o número de colaboradores, de modo a promover o mínimo de circulação total de pessoas. Avalie o melhor momento da realização da ação.
Todos os beneficiários e colaboradores devem manter distância mínima de 1,5 metros (braços abertos) entre si. Será que com a quantidade de colaboradores que tenho hoje, 3 filas para pegar comida, cesta básica, kits de higiene ou outros itens para doação é melhor que uma (qual a configuração que permite a distância segura e atendimento mais ágil - cada ONG deve analisar a melhor estratégia de trabalho dentro do espaço, número de colaboradores e número de pessoas a serem assistidas)?
Considere um rígido controle de entrada de pessoas em ambientes fechados – permitir a entrada de um número de pessoas no recinto suficiente para manter uma distância segura entre todos. Faça marcações visuais - faixas coloridas no chão demarcando o lugar individual na fila. Abra todas as janelas e portas dos ambientes fechados.
Aumente a frequência de limpeza e higienização do ambiente com água sanitária ou detergente. Ofereça pias com água e sabão líquido para todos os participantes do evento.
Realize a ação, sempre que possível em local aberto e ventilado. Estude todas as opções possíveis, levando em conta os fatores citados. Se não for possível seguir às recomendações, considere cancelar a ação.
2- Coordenação de ações
Mais do que nunca precisamos trabalhar juntos. Se existem trabalhos semelhantes em sua área geográfica, compartilhe ideias e recursos. Não é momento de partidarismos ou “quem faz melhor”. Ações conjuntas e coordenadas geram resultados infinitamente melhores.
3- Tenha cuidado constante
Cuide de toda a sua equipe através de orientação, apoio psicológico ou aconselhamento. Sempre repasse essas orientações para os colaboradores antes de iniciar qualquer trabalho. Instrua os colaboradores a retirar os sapatos antes de entrar em suas residências, tomar um banho imediatamente e trocar de roupa antes de cumprimentar a amada família.
Um forte abraço a todos!
• Paulo Tsai é médico, amante do trabalho voluntário e presidente da Casa do Aconchego. E-mail: paulotsai@yahoo.com
A Casa do Aconchego tem o privilégio de fazer parte da Rede IBAB Solidária. Gratidão à Associação Médica Ágape pela revisão do texto, em especial, aos colegas e irmãos Dr. Davi Chen Wu e Dr. André T. C. Chen.
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