Opinião
- 23 de abril de 2018
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O que significa a justificação pela graça?
Por Elza Tamez
Muitas vezes, a doutrina da justificação pela fé é considerada como algo muito abstrato, desligado da vida cotidiana. E, de fato, as discussões sobre doutrina tendem a ser filosóficas. Lutero, no entanto, encontrou nela um grande significado para a sua vida e seu tempo. Nós, os leitores de hoje, se relacionarmos a justificação pela fé com o contexto de Paulo e com o nosso contexto, descobriremos que é uma grande notícia.
Comecemos por esta pergunta simples: O que significa a justificação pela graça por meio da fé, de acordo com Paulo? Para responder a esta pergunta, devemos lembrar duas coisas. Em primeiro lugar, as disputas teológicas a respeito da salvação. Dentro de uma corrente do judaísmo, embora acreditassem que Jesus Cristo era o Messias, pensavam que as pessoas se salvavam pela circuncisão e pela obediência à Lei de Moisés. Eles achavam que os gentios eram pecadores e que, por não seguirem a Torá, sua fé em Jesus Cristo era insuficiente. Isso levou Paulo a repensar sua tradição judaica sobre a lei, a justiça de Deus, a eleição e outras questões importantes. Ele escreveu a carta aos Gálatas e aos Romanos explicando bem este ponto. Paulo, que cresceu em Tarso e pregava aos gentios, pensava que a salvação podia incluir outros povos, pois era pela graça e não por obedecer a lei. A justiça de Deus era diferente da justiça da Lei. Portanto, os gentios não precisavam ser circuncidados para alcançarem a salvação. Ao contrário do que acreditavam os judeus, que só gentios eram pecadores, Paulo insiste em sua carta aos Romanos em que todos os povos e todas as pessoas são pecadores e precisam da graça de Deus para serem transformados e se tornarem novas criaturas – filhos e filhas de Deus.
>>> Sola Gratia, Solo Christus, Sola Fide e Sola Scriptura <<<
Em segundo lugar, a situação de injustiça do Império Romano era tal que todas as coisas caminhavam para trás, pela "impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça" (Romanos 1:18). As pessoas praticavam a injustiça, roubavam, matavam, eram corruptas. Para Paulo, "não havia uma pessoa justa, nem uma sequer", todos estavam submetidos a um poder sistêmico pecaminoso. Por essas práticas perversas, o homem estava se destruindo a si próprio e à criação de Deus, mas Deus não queria isso. Então, ao invés de puni-lo e condená-lo à morte, aplica-lhe a justiça divina, que é a da graça. É uma justiça totalmente diferente à da Lei romana e mosaica. Ou seja: Deus não leva em conta os pecados e transforma o ser humano, através de sua graça poderosa, em alguém que pratica a justiça misericórdia, como Deus faz com ele ao justificá-lo. E seu filho, Jesus de Nazaré, é o rosto humano de Deus. Jesus nos ensina como os crentes devem se tornar mais humanos e cuidadosos com seus semelhantes e com a criação que geme, esperando para ser resgatada (Ro 8:22). Paulo diz que, no Evangelho, a justiça de Deus é revelada, e o Evangelho é Jesus Cristo.
A pessoa que é justificada pela fé mostra uma fé genuína, que é demonstrada por obras concretas (Tiago 2: 14-16). Ela não é corrupta, não mata, não rouba, controla sua língua, não bate em mulheres e nem em crianças, não é racista e é solidária com os necessitados. Se este comportamento está ausente na pessoa justificada, Tiago diria que sua fé não serve e não a salva (Tiago 2:14). O mundo corrupto de hoje pode ser transformado se nós, os justificados e as justificadas, mostrarmos essa fé genuína e eficaz.
• Elza Tamez é teóloga, nascida no México, e reside atualmente na Colômbia, onde atua no corpo docente da Universidade Bíblica Latino-americana, em San José. Tem doutorado em Teologia e já recebeu vários prêmios por suas contribuições à Hermenêutica Bíblica Contextual.
Imagem ilustrativa: CCO/Unsplash.com
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Muitas vezes, a doutrina da justificação pela fé é considerada como algo muito abstrato, desligado da vida cotidiana. E, de fato, as discussões sobre doutrina tendem a ser filosóficas. Lutero, no entanto, encontrou nela um grande significado para a sua vida e seu tempo. Nós, os leitores de hoje, se relacionarmos a justificação pela fé com o contexto de Paulo e com o nosso contexto, descobriremos que é uma grande notícia.
Comecemos por esta pergunta simples: O que significa a justificação pela graça por meio da fé, de acordo com Paulo? Para responder a esta pergunta, devemos lembrar duas coisas. Em primeiro lugar, as disputas teológicas a respeito da salvação. Dentro de uma corrente do judaísmo, embora acreditassem que Jesus Cristo era o Messias, pensavam que as pessoas se salvavam pela circuncisão e pela obediência à Lei de Moisés. Eles achavam que os gentios eram pecadores e que, por não seguirem a Torá, sua fé em Jesus Cristo era insuficiente. Isso levou Paulo a repensar sua tradição judaica sobre a lei, a justiça de Deus, a eleição e outras questões importantes. Ele escreveu a carta aos Gálatas e aos Romanos explicando bem este ponto. Paulo, que cresceu em Tarso e pregava aos gentios, pensava que a salvação podia incluir outros povos, pois era pela graça e não por obedecer a lei. A justiça de Deus era diferente da justiça da Lei. Portanto, os gentios não precisavam ser circuncidados para alcançarem a salvação. Ao contrário do que acreditavam os judeus, que só gentios eram pecadores, Paulo insiste em sua carta aos Romanos em que todos os povos e todas as pessoas são pecadores e precisam da graça de Deus para serem transformados e se tornarem novas criaturas – filhos e filhas de Deus.
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Em segundo lugar, a situação de injustiça do Império Romano era tal que todas as coisas caminhavam para trás, pela "impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça" (Romanos 1:18). As pessoas praticavam a injustiça, roubavam, matavam, eram corruptas. Para Paulo, "não havia uma pessoa justa, nem uma sequer", todos estavam submetidos a um poder sistêmico pecaminoso. Por essas práticas perversas, o homem estava se destruindo a si próprio e à criação de Deus, mas Deus não queria isso. Então, ao invés de puni-lo e condená-lo à morte, aplica-lhe a justiça divina, que é a da graça. É uma justiça totalmente diferente à da Lei romana e mosaica. Ou seja: Deus não leva em conta os pecados e transforma o ser humano, através de sua graça poderosa, em alguém que pratica a justiça misericórdia, como Deus faz com ele ao justificá-lo. E seu filho, Jesus de Nazaré, é o rosto humano de Deus. Jesus nos ensina como os crentes devem se tornar mais humanos e cuidadosos com seus semelhantes e com a criação que geme, esperando para ser resgatada (Ro 8:22). Paulo diz que, no Evangelho, a justiça de Deus é revelada, e o Evangelho é Jesus Cristo.
A pessoa que é justificada pela fé mostra uma fé genuína, que é demonstrada por obras concretas (Tiago 2: 14-16). Ela não é corrupta, não mata, não rouba, controla sua língua, não bate em mulheres e nem em crianças, não é racista e é solidária com os necessitados. Se este comportamento está ausente na pessoa justificada, Tiago diria que sua fé não serve e não a salva (Tiago 2:14). O mundo corrupto de hoje pode ser transformado se nós, os justificados e as justificadas, mostrarmos essa fé genuína e eficaz.
• Elza Tamez é teóloga, nascida no México, e reside atualmente na Colômbia, onde atua no corpo docente da Universidade Bíblica Latino-americana, em San José. Tem doutorado em Teologia e já recebeu vários prêmios por suas contribuições à Hermenêutica Bíblica Contextual.
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