Opinião
- 17 de julho de 2018
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O que o budismo e a meditação tem a ver com o resgate dos meninos na Tailândia
ENTREVISTA
Há quase 20 anos na Tailândia, Adriano Araújo acompanhou de perto o resgate dos 12 meninos tailandeses e o seu treinador nas últimas semanas. Aliás, assim como o técnico dos “Javalis Selvagens”, Adriano também trabalha com futebol entre os tailandeses e é doutorando em Estudos Religiosos, Budismo e Sudeste Asiático na Universidade Mahidol, em Bangkok.
O sucesso do resgate comoveu o mundo e foi apontado como “milagre”, “sorte” e até como resultado da prática de meditação, conduzida pelo treinador durante os 18 dias nas profundezas do complexo de cavernas Tham Luang.
Aproveitando o lançamento de Budismo – Uma Abordagem Cristã sobre o Pensamento Budista, um clássico entre os evangélicos europeus, e a entrevista Jesus ou Buda: que diferença faz, publicada em junho, Ultimato também conversou com Adriano Araújo sobre os últimos acontecimentos.
Ultimato – Para o The New York Times, a "sorte" foi decisiva na operação. Nas palavras do general do Exército tailandês, Chalongchai Chaiyakham, “O elemento mais importante do resgate foi a sorte”. Para muitos mergulhadores e moradores da região, tudo foi resultado da “proteção divina”. Para o Seal tailandês Kaew – cujo nome completo não foi divulgado –, que passou a missão inteira com um amuleto de Buda: “A caverna é sagrada, ela recebeu proteção até o final.” Enfim, foi um milagre? Um milagre para os budistas e para os cristãos?
Adriano Araújo – A “sorte”, a “proteção divina” ou o “sagrado” são perspectivas individuais e não representam o ensino budista. No ensino budista não existe Deus, a “sorte", o “sagrado", e nem um ser divino que possa ajudar o ser humano. Logo, a definição e compreensão de milagre na perspectiva budista e bíblica são muito diferentes. Entendemos que o milagre é uma ação divina, operada independente da capacidade, controle e ou atuação humana. No budismo não existe o conceito de milagre, mas acontecimentos podem ser compreendidos como sendo sobrenaturais ou ações predestinadas pelo karma, consequentes da vida presente e de vidas prévias.
Desde as práticas animistas e a importação do bramanismo indiano no período da indianização do primeiro século e, consequentemente a chegada do ensino budista no terceiro século, o budismo tailandês é tradicionalmente sincrético e modernamente híbrido. Isso promove a necessidade de respeitar e seguir várias formas religiosas, contudo a compreensão é de que tudo é budista. O budista tailandês coleciona amuletos, reverencia imagens de seres animados e inanimados, constrói templos para proteger relíquias sagradas e tem um extremo respeito pelo líder religioso.
Apesar de eu não achar que foi um milagre – e sim misericórdia e graça de Deus –, muitos cristãos podem sim interpretar o resgate dos 12 garotos e do assistente técnico como um milagre de Deus. Contudo, para o budista foi apenas como os jornais tailandeses comentam: “algo inacreditável” .
O fato de o treinador, Ekapol Chantawong, ser ex-monge budista e ter ensinado técnicas de meditação para ajudar no controle da situação correram o mundo. Como você acompanhou e enxerga essa informação?
Adriano Araújo – Buda foi um monge e praticou a meditação (samadhi) indiana da sua época. “Concentração da mente” seria um termo mais apropriado. Assim, pela tradição budista todos os homens devem participar das cerimônias budistas e se tornar um noviço durante pelo menos um período da sua vida: nos primeiros meses de idade, na adolescência, quando algum membro da família morre etc. Durante esse período – que pode variar de alguns dias a vários anos – o noviço adquire muitos méritos para si mesmo e para as pessoas mais próximas, principalmente para a sua mãe – que, segundo algumas interpretações da Tripitaka (Escrituras budista), na próxima vida, com méritos suficientes, pode reencarnar como homem e assim iniciar o processo rumo à iluminação budista (inexistência).
" No budismo não existe o conceito de milagre. O budista tailandês coleciona amuletos e reverencia imagens de seres animados, inanimados e constrói templos para proteger relíquias sagradas "
Estatísticas contabilizam mais de 43 mil templos budistas na Tailândia. Antigamente os templos eram responsáveis pelo ensino acadêmico e religioso. Depois da reforma budista, houve algumas mudanças e a separação entre o ensino acadêmico e religioso. Muitos templos budistas têm fundações como, por exemplo, orfanatos, abrigo para animais abandonados e cuidado florestal. Por ser órfão, o auxiliar técnico Ek morou num templo desde os 8 anos de idade. Um noviço deve aprender todos os aspectos do budismo, e aqueles que desejam entrar para a vida monástica só podem ser aceitos aos 20 anos de idade. Aprender e praticar a meditação na Tailândia é algo completamente normal para qualquer criança, adolescente e muito mais para um noviço budista.
O budismo e a prática da meditação budista tem atraído muitos brasileiros. Aliás, muitos espaços no Brasil como hospitais, escolas e empresas têm adotado a meditação como uma resposta para diferentes desafios da vida diária. A meditação é, de fato, uma prática comum na vida diária do tailandês?
Adriano Araújo – O tailandês tradicional pratica a meditação com frequência. Mesmo não sendo a meditação ensinada por Buda com os 40 níveis ou estados de concentração, o tailandês tenta de alguma forma meditar para acalmar a mente. Todas as casas têm um cômodo separado para guardar as relíquias budistas e objetos sagrados, onde o tailandês tradicional pratica a sua meditação. Na pré-escola, antes dos treinos de futebol, antes de dormir, dentro do carro e, por que não dentro da caverna? Qualquer momento em que seja preciso tranquilidade, renovar a mente, fazer com que o que aflige desapareça da mente, pode ser uma oportunidade para sentar e se concentrar.
Segundo o ensino budista, a meditação tem como objetivo dizer à consciência que ela não precisa estar nervosa, sentir dor e pode deixar a tristeza para trás, que você mesmo pode acalmá-la e que apesar dos problemas, você pode viver sem se preocupar. Na Tailândia, várias pessoas aparentam-se calmas, não gritam, não choram, não reclamam e raramente discutem sobre uma opinião. Dificilmente se ouve a buzina de alguém estressado no trânsito e as pessoas têm uma expressão de serenidade no rosto. É por isso que uma das expressões mais ouvidas na Tailândia é may pen rai (“não se preocupe; não tem problema; deixa isso pra lá”).
Mas, para quem mora nesse país e conhece as expressões do tailandês, sabe que para cada sorriso sereno há uma preocupação, um medo e uma dor na alma. Apesar de ser atraente, a meditação é também um grande manipulador da mente. Prefiro acreditar no que meus amigos monges acadêmicos budistas comentam por experiência pessoal, de que a meditação e prática budista “deve aniquilar o ser”, e não gerar vida para a pessoa, pois a vida e o ser trazem os problemas. A meditação deve levar o praticante a acreditar que o problema já foi superado mesmo sem uma vitória, e é contraria à projeção da vida. Essa prática budista é o oposto do que Jesus ensinou sobre a vida verdadeira.
O adolescente Adul Samon, de 14 anos, virou símbolo do grupo. Apátrida, nascido em Mianmar e educado por professores cristãos na Tailândia, segundo a Folha de S. Paulo, ele foi o único capaz de se comunicar (em inglês) com os mergulhadores britânicos. O que isso representa para os cristãos na Tailândia?
Adriano Araújo – Sim, ele é o único que conseguiu se comunicar em inglês, mas isso não tem feito dele o símbolo do grupo ou o mais especial dentre todos. Para os cristãos tailandeses, Adul é uma criança normal das tribos do Norte e que gosta de jogar de futebol. Seus pais são membros de uma igreja cristã, e o garoto é privilegiado por receber assistência financeira do Programa Cristão da Compassion. Ele deve ter tido professores cristãos, mas por viver dentro de uma sociedade budista, a grande maioria dos seus professores são budistas.
Durante aqueles 17 dias de procura e resgate, seus pais receberam apoio da comunidade cristã. Alguns irmãos das igrejas do Norte se juntaram para orar e fazer culto a Deus na região da caverna. Soubemos que muitos cristãos ao redor do mundo ficaram tocados com esse acontecimento e oraram a Deus por resgate. Do mesmo modo ouvimos que muitas pessoas de outras religiões, e segundo as suas crenças, o fizeram.
Nós, cristãos, entendemos e agradecemos a Deus por providenciar pessoas de diferentes nacionalidades e com alta capacidade técnica para resgatar com vida o Adul e todos os outros garotos. Deus teve misericórdia dele, bem como dos outros doze integrantes, e na sua graça respondeu as orações do seu povo.
Contudo, ainda existem milhares de pessoas em situação semelhante a que Adul e os outros integrantes da equipe de futebol vivem: carentes, sem identidade ou nacionalidade, e sem Jesus. Essas pessoas não ficaram presas na caverna, mas também precisam de orações. Será que os cristãos ao redor do mundo continuarão orando por essas pessoas das quais a mídia nunca irá dar destaque aqui na Tailândia?
O que aconteceu na Tailândia nas últimas semanas tem provocado uma série de reações. Fala-se em um museu sobre resgate, na produção de um filme ou série para TV, além da busca por informações sobre o budismo e a cultura tailandesa, entre outras coisas. O que os cristãos da Tailândia e de outras partes do mundo podem aprender com esses acontecimentos?
Adriano Araújo – Certamente muitas coisas acontecerão depois desse evento. Muitas pessoas aproveitarão disso para fazer palanque politico, religioso e para entretenimento. “Foi um monge budista que apareceu no local e a chuva parou”; já é mais um filme que está sendo escrito; mais um altar sagrado será levantado para a comercialização religiosa; um clube famoso quer receber os jovens atletas; muitas câmeras e entrevistas agendadas; uma universidade deu bolsas de estudo ate o nível de doutorado para os garotos. Pena que eles não melhoraram a tempo de ver o último jogo da Copa da Rússia.
Os cristãos da Tailândia podem refletir sobre a unidade do corpo de Cristo, sabendo que muitas pessoas ao redor do mundo, mesmo que apenas por um tempo, se uniram para orar pela igreja tailandesa e para que os budistas tenham a oportunidade de compreender as Boas novas. É muito difícil para um cristão, convertido do budismo, compreender, crescer e manter-se fiel a Jesus na Tailândia, pois existe pressão cultural, social, religiosa e política. Assim como foi após o Tsunami, muitas pessoas ao redor do mundo se unirão para orar pela Tailândia.
Para quem mora nesse país e conhece as expressões do tailandês, sabe que para cada sorriso sereno há uma preocupação, um medo e uma dor na alma. A meditação e prática budista “deve aniquilar o ser”, e não gerar vida para a pessoa, pois a vida e o ser trazem os problemas...
" Ainda que a Tailândia seja um dos únicos países do Sudeste Asiático com liberdade religiosa, o país continua sendo um grande desafio para o serviço missionário como a nação mais budista do mundo "
Há muitas pessoas e organizações interessadas em ajudar a Tailândia: a ONU, a UNICEF, a FIFA, varias nações, artistas e empresas estão por aqui cooperando entre as tribos, refugiados, carentes, elefantes, limpando as praias, mas poucos querem morar e permanecer na Tailândia para explicar sobre as Boas novas. São muitas as limitações e desafios da língua e da cultura. A igreja tailandesa precisa de ajuda para falar e viver Jesus entre os budistas. O povo budista precisa de paz e só Jesus pode lhe dar isso.
Somos uma igreja de 360 mil cristãos num país de 66 milhões de habitantes. 60% de todos os cristãos estão no norte do país. A Tailândia é um país multicultural, com muitas atrações turísticas: templos budistas redondos em praias, prostituição e prazeres. Há grande necessidade de pessoas para ajudar, a partir da igreja tailandesa, a iniciar novas igrejas em várias outras regiões. A partir deste episódio com os garotos tailandeses e seu técnico, as pessoas ao redor do mundo podem aprender sobre como orar pela Tailândia e responder às suas necessidades espirituais.
Acompanhando de longe, é possível enxergar pessoas, grupos e organizações diferentes de mãos dadas, em cooperação, colocando barreiras linguísticas e culturais de lado. É algo comum por estas bandas? Em sua opinião, a igreja brasileira, os evangélicos no Brasil, em situação semelhante, agiriam do mesmo modo?
Adriano Araújo – Não dá para generalizar, mas muitas pessoas estão acostumadas a se ajudarem na Tailândia. Não há muita dependência de que o Governo irá resolver esse ou aquele problema, então todos precisam cooperar. É um que traz a agua, outro que providencia o peixe para o almoço, outro que passa a noite cuidando da bomba de água, enquanto outros entram numa caverna escura.
Durante períodos de crises todos “arregaçam as mangas” e voluntariamente se unem para ajudar. Há aqueles que cooperam por interesse, mas a maioria o faz não para promover o seu partido ou a sua religião. Na Tailândia todos se consideram parte de uma grande família. Chamamos uns aos outros de irmão, tio, tia, vovó, e o rei é respeitado como o pai que cuida e serve a nação. O cristão precisa aprender a ser mais do que simplesmente bom, ele precisa amar, porque todas as pessoas fazem o bem comum. O budista é ensinado a não praticar o mal, seja esperando um cachorro sair do meio de uma autoestrada, ou expulsando uma cobra venenosa que apareceu no terreno de uma casa. Quanto mais então não deveria ser feito para salvar treze pessoas presas numa caverna! Por isso, soldados, engenheiros e médicos de todas as partes da Tailândia, o rei, os monges budistas, e a igreja cristã (mesmo sendo uma minoria) voluntariamente se uniram para ajudar nessa operação.
As barreiras linguísticas e culturais são muito simples, e eu prefiro achar que o povo brasileiro as superaria. Ou será que haveria problema em aceitar a ajuda de um americano, um inglês, um argentino, ou um médico haitiano? Eu prefiro não acreditar que a igreja brasileira ficaria inerte diante de uma situação semelhante, ou ficaria? Será que para ajudar num caso semelhante alguma denominação se uniria com outras denominações sem o interesse de promover seu próprio grupo? Um evangélico daria as mãos para um católico, um secular, um membro de um seita ou um espírita?
Tenho a impressão de que a igreja brasileira tem uma expectativa de que o governo deve resolver alguns dos problemas. Se o Brasil é de Jesus – como sempre ouço alguns lideres evangélicos proclamarem – por que os filhos de Jesus não agem como irmãos unidos e servindo em amor? Enquanto o budista tailandês coopera com a expectativa de que em algum momento, se necessitado, ele também receberá ajuda (o budismo ensina que “praticar o bem, atrai o bem para si mesmo”), acredito que os evangélicos no Brasil não teriam uma postura de ajudar olhando para o que poderiam receber de Deus, mas ajudariam, sim, com a graça de Deus.
Muitos se mobilizaram para o resgate dos meninos – em termos práticos e também a partir da sua fé. A partir desse esforço conjunto, é possível perceber alguma oportunidade ou pontes para a comunicação do Evangelho daqui para frente?
Adriano Araújo – Ainda é muito precoce ter esse tipo expectativa. Para dificultar o desafio da comunicação do Evangelho na Tailândia, o budismo, como um dos pilares da nação, passa por um momento de modernização. Nos últimos 30 anos, como resposta ao budismo tradicional e institucional, surgiram vários movimentos budistas. Assim, vários acadêmicos e monges sugerem a necessidade de uma reforma budista. Outros preferem que a reforma seja religiosa, dentro de todas as religiões presentes na Tailândia.
Ainda que a Tailândia seja um dos únicos países do Sudeste Asiático com liberdade religiosa, o país continua sendo um grande desafio para o serviço missionário como a nação mais budista do mundo (93% da população). A história mostra que o budismo levou mais de doze séculos para se estabelecer na Tailândia. Passados 150 anos desde a chegada dos primeiros missionários protestantes, somos apenas 0,6% da nação – sendo que a igreja dobrou numericamente nos últimos quarenta anos. Mas as estatísticas apenas mostram a quantidade e não revelam a qualidade nem a influência que a igreja exerce na sociedade.
A igreja tailandesa é formada por muitas pessoas da primeira geração de cristãos e, mesmo sendo numericamente pequena, está ganhando espaço e sendo mais ouvida. Sem dúvida, pontes para a comunicação das Boas novas entre os budistas surgem nos períodos de crise, nos quais os cristãos conseguem demonstrar amor através da assistência. As pessoas ficam abertas para receber oração e ajuda da igreja. Daí nasce um relacionamento entre o budista necessitado e o cristão. Consequentemente, a exposição ao cristianismo faz com que o budista se interesse pelo Deus dos cristãos. Algumas pesquisas mostram que um tailandês budista consegue compreender a fé cristã e está pronto para responder se quer ou não seguir a Jesus, depois de uma caminhada de sete anos de exposição ao cristianismo. O resgate dos meninos será mais um assunto, em que os cristãos terão a oportunidade de afirmar o cuidado de Deus e explicar, segundo a perspectiva cristã, como Deus teve misericórdia do Adul e dos outros doze.
As reações do povo tailandês ao resgate dos meninos mostram a fé e a religiosidade daquele povo. Como os cristãos devem reagir à cosmovisão dos tailandeses?
Adriano Araújo – Os cristãos devem reagir com muito respeito e admiração. Devem aprender a amar e servir ainda mais o povo budista. Devem também ter uma atitude positiva com os budistas, nunca reagindo negativamente às suas práticas religiosas, mesmo que elas sejam totalmente contrárias ao ensino bíblico. Os budistas imaginam que há diferenças entre as religiões, mas a grande maioria deles nunca teve contato com um seguidor de Jesus. Além disso, os budistas não querem trair a sua nação e os seus antepassados. Eles entendem que nasceram budistas, assim o seu karma é ser budista e, por isso, eles devem continuar sendo budistas até a morte. O budismo ensina que o seguidor do ensino budista não deve discutir sobre o que outra pessoa crê ou provar quem tem a verdade, mas dar liberdade para as pessoas praticarem tudo o que possa ajudar na sua caminhada de fé. O budista não está interessado em saber o ensino de Jesus, mas dentro de uma amizade de amor com um cristão, ele naturalmente vê as Boas novas.
O cristão precisa conhecer o budista melhor, não para discutir sobre os ensinamentos de Buda. Este, que por sinal viveu no mesmo tempo em que Daniel estava na Babilônia, não tinha o desejo de ser um líder religioso. Ele só queria vencer o sofrimento da alma. Quando ele chegou ao mais alto grau de conhecimento, segundo as suas descobertas, disse que as pessoas não deveriam olhar para ele como um guia, mas que cada um deveria ter a sua própria jornada em busca da aniquilação do ser assim como ele conseguiu. A caminhada do budista tailandês é solitária, portanto ele precisa de amigos e de amor.
Em todo o mundo – e também aqui na Editora Ultimato – os cristãos se reuniram para orar pela intervenção de Deus e o sucesso da operação. Agora é hora de celebrar a Graça de Deus. Em que a gratidão da maioria budista da Tailândia se difere da gratidão cristã?
Adriano Araújo – O conceito de graça não existe no ensino budista, por isso não tem como celebrar exatamente isto. Existe, sim, um sentimento de alegria e bem-estar, entendendo que o que aconteceu faz parte do karma de cada individuo. Contudo, o tailandês expressa a sua gratidão em forma de pagamento, e isso pode ser feito de diferentes maneiras. A extensão da retribuição deve ser de acordo com o tamanho da ajuda: tudo o que se recebe deve ser pago, e o que se paga será recebido em algum momento na vida – e se caso isso não acontecer é porque estava destinado pelo karma.
Esse pagamento de gratidão pode se dar: visitando lugares sagrados, fazendo oferendas, dando alimento aos monges, soltando peixes no rio, plantando árvores no parque ou, como os pais das crianças e o auxiliar técnico Ek decidiram fazer, tornando-se monges noviços, praticando a meditação por um período de dez dias num templo budista no norte da Tailândia. Essa prática será uma expressão de gratidão pelo mergulhador que faleceu e pela ajuda dos espíritos da caverna que protegeram suas vidas e guiaram pessoas para resgatá-los. E nós, cristãos, devemos celebrar com a perspectiva cristã de que Deus cuidou de todos eles e ouviu as preces de todo o povo que se juntou em oração. Louvado seja Deus em terras brasileiras e no mundo budista do Reino da Tailândia!
• Adriano Araujo é brasileiro, casado com Fabiana e tem dois filhos (Davi e Lucas). É doutorando em Estudos Religiosos, Budismo e Sudeste Asiático na Universidade Mahidol, em Bangkok. Adriano e Fabiana são missionários da SEPAL (Servindo aos Pastores e Líderes) e OMF (Overseas Missionary Fellowship) no Reino da Tailandia desde 2001 em vários ministérios (plantação de igrejas, discipulado, mentoria de missionários/obreiro e seminaristas tailandeses e com ministério de futebol. Atualmente lideram uma equipe missionaria multicultural iniciando uma igreja na Província de Samut Prakan.
>> Confira também Budismo – Uma Abordagem Cristã sobre o Pensamento Budista
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