Opinião
- 28 de novembro de 2014
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O que C. S. Lewis pensava sobre a morte?
Amanhã, 29 de novembro, C. S. Lewis*, se vivo, completaria 116 anos. No último dia 22, relembramos 51 anos da sua morte. Lewis teve uma série de complicações de saúde, após a morte de sua amada esposa Joy, como obstrução da próstata, insuficiência renal, e problemas cardíacos, que foram a causa imediata de sua morte.
Essa é uma ocasião propícia para nos lembrarmos do que ele pensava a respeito da morte. Há uma série de conjecturas a esse respeito. Baseado em “O Grande Abismo”, há quem defenda que Lewis cresse no purgatório e eu respeito. Mas a meu ver, muitas dessas suposições, como que ele acreditasse também em fadas e duendes e extraterrestres (devido à sua trilogia espacial), apontam para uma incompreensão de sua verdadeira arte, que era a da ficção, ou do que ele chamava de “romance”. O grupo de amigos a que ele pertencia, os “Inklings” (que incluía J.R.R. Tolkien, entre outros) praticava essa arte e sua “teologia”, entendida como “teologia do romance” (mas também pode ser chamada de “mitopoiesis” ou “teopoeisis”). O que essa arte narrativa tem em comum com a mitologia (“mythos” = narrativa) é o apelo à imaginação.
Assim, Lewis, que também era um especialista em Idade Média, acreditava no purgatório como ele acreditava em todas as crenças provenientes do imaginário medieval: ele as respeitava como sendo narrativas que fizeram história. O modelo medieval de pensamento foi por ele explorado de todos os ângulos em seus escritos acadêmicos (que tive o privilégio de traduzir a começar por “Alegoria do Amor”, lançado pela Editora É-Realizações). Mas como o próprio Lewis afirma em “A Imagem Descartada” (próximo livro a ser lançado), essa visão de mundo, por mais interessante que seja intrinsecamente, é falsa em vários pontos, como na crença de que a Terra fosse o centro do sistema solar.
Respeitar um imaginário e valer-se dele não significa que se acredita nele literalmente. É claro que o que Lewis cria mesmo ou deixava de crer, só saberemos com certeza quando nos unirmos a ele no Céu, que era para ele o real destino da humanidade.
A famosa frase de que essa vida é uma “Terra das Sombras”, foi pronunciada no leito de morte de Joy, como se pode ver no filme com o mesmo nome. Essa ideia lembra o Salmo 102.11, que diz, referindo-se à vida terrenal: “A minha vida é como as sombras do anoitecer; vou secando como o capim”.
Foi na morte de Joy que Lewis se confrontou de maneira mais séria e real com a temática. Em “A Anatomia de uma Dor”, Lewis dá vazão a todo o sofrimento envolvido na perda da esposa. Nela, ele compara Deus a um dentista e a um carrasco. Considero esse o “livro de Lamentações” de Lewis. A prova de que ele não perdeu a fé, mas superou a dor e sofrimento, está em “Cartas a Malcolm”, obra publicada postumamente e escrita depois de “A Anatomia...” que acredito ser o livro que mais fala sobre a espiritualidade cristã.
Antes de tudo, porém, a morte significava para Lewis o afloramento de vida, da vida verdadeira, da verdadeira realidade, que vai muito além da realidade espaço-temporal. Em carta, escrita em 28 de junho de 1963 para Mary Willis Shelburne - perto de sua própria morte, portanto - Lewis usa novamente de toda a sua arte narrativa e imaginativa, falando da morte em termos metafóricos e proféticos:
* Nota: Clive Staple Lewis nasceu em Belfast, Irlanda, em 29 de novembro de 1898 em morreu em 22 de novembro de 1963, aos 65 anos.
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O céu aberto de C. S. Lewis
Deus em questão
Essa é uma ocasião propícia para nos lembrarmos do que ele pensava a respeito da morte. Há uma série de conjecturas a esse respeito. Baseado em “O Grande Abismo”, há quem defenda que Lewis cresse no purgatório e eu respeito. Mas a meu ver, muitas dessas suposições, como que ele acreditasse também em fadas e duendes e extraterrestres (devido à sua trilogia espacial), apontam para uma incompreensão de sua verdadeira arte, que era a da ficção, ou do que ele chamava de “romance”. O grupo de amigos a que ele pertencia, os “Inklings” (que incluía J.R.R. Tolkien, entre outros) praticava essa arte e sua “teologia”, entendida como “teologia do romance” (mas também pode ser chamada de “mitopoiesis” ou “teopoeisis”). O que essa arte narrativa tem em comum com a mitologia (“mythos” = narrativa) é o apelo à imaginação.
Assim, Lewis, que também era um especialista em Idade Média, acreditava no purgatório como ele acreditava em todas as crenças provenientes do imaginário medieval: ele as respeitava como sendo narrativas que fizeram história. O modelo medieval de pensamento foi por ele explorado de todos os ângulos em seus escritos acadêmicos (que tive o privilégio de traduzir a começar por “Alegoria do Amor”, lançado pela Editora É-Realizações). Mas como o próprio Lewis afirma em “A Imagem Descartada” (próximo livro a ser lançado), essa visão de mundo, por mais interessante que seja intrinsecamente, é falsa em vários pontos, como na crença de que a Terra fosse o centro do sistema solar.
Respeitar um imaginário e valer-se dele não significa que se acredita nele literalmente. É claro que o que Lewis cria mesmo ou deixava de crer, só saberemos com certeza quando nos unirmos a ele no Céu, que era para ele o real destino da humanidade.
A famosa frase de que essa vida é uma “Terra das Sombras”, foi pronunciada no leito de morte de Joy, como se pode ver no filme com o mesmo nome. Essa ideia lembra o Salmo 102.11, que diz, referindo-se à vida terrenal: “A minha vida é como as sombras do anoitecer; vou secando como o capim”.
Foi na morte de Joy que Lewis se confrontou de maneira mais séria e real com a temática. Em “A Anatomia de uma Dor”, Lewis dá vazão a todo o sofrimento envolvido na perda da esposa. Nela, ele compara Deus a um dentista e a um carrasco. Considero esse o “livro de Lamentações” de Lewis. A prova de que ele não perdeu a fé, mas superou a dor e sofrimento, está em “Cartas a Malcolm”, obra publicada postumamente e escrita depois de “A Anatomia...” que acredito ser o livro que mais fala sobre a espiritualidade cristã.
Antes de tudo, porém, a morte significava para Lewis o afloramento de vida, da vida verdadeira, da verdadeira realidade, que vai muito além da realidade espaço-temporal. Em carta, escrita em 28 de junho de 1963 para Mary Willis Shelburne - perto de sua própria morte, portanto - Lewis usa novamente de toda a sua arte narrativa e imaginativa, falando da morte em termos metafóricos e proféticos:
Imagine-se como sementinha pacientemente hibernando enterrada na terra; à espera do afloramento no tempo que o jardineiro achar melhor, para o mundo real, para o verdadeiro despertamento. Suponho que toda a nossa vida presente, quando olharmos para trás, a partir daí, não parecerá mais, do que um devaneio sonolento. Este é o mundo dos sonhos. Mas o galo está para cantar. E está mais próximo agora, do que quando eu comecei a escrever esta carta. (tradução da autora)
* Nota: Clive Staple Lewis nasceu em Belfast, Irlanda, em 29 de novembro de 1898 em morreu em 22 de novembro de 1963, aos 65 anos.
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Um ano com C. S. Lewis
O céu aberto de C. S. Lewis
Deus em questão
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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