Opinião
- 28 de janeiro de 2011
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O maior predador da terra
Alguma coisa, que foi descoberta por Galileo (1564), através de lentes telescópicas precárias, compartilhada por Nicolau Kopérnico (1473), sob ameaças das fogueiras da Inquisição, vai favorecendo a concepção de amplitude do Universo. Ainda perturba, mesmo dispondo-se de um telescópio espacial como o Hubble. E já perguntamos sobre modernidade (pós-modernidade é um mito!), ecologia e sustentabilidade. Giordano Bruno (1548) – sacrificado como herético – e Kepler (1571) também faziam suas observações. Pensadores "perigosos" à fé escolástica, fonte do fundamentalismo moderno, descobriam que é preciso pensar sobre o Universo de outra maneira, quando a Terra era imaginada como o centro de um universo ridiculamente ínfimo, limitado, como a astrofísica recente demonstra.
São quase 2.500 anos de questões levantadas sobre a infinitude do Universo, desde pensadores como Sócrates – sacrificado nos primeiros momentos do fundamentalismo histórico – e se descobriria que o universo já não mais correspondia ao pluriverso. O conceito de infinito na comunidade científica perturbaria o mundo religioso fechado, dogmático. Realçava uma grandeza maior para a Criação.
Porém, há medo no planeta. Desequilíbrios industriais, aumento da temperatura, bactérias poderosas aparecendo sem controle, doenças incuráveis, epidemias cíclicas. O planeta descobre-se como um imenso depósito de lixo, dejetos e resíduos tóxicos, águas contaminadas. Milhões de pessoas são exterminadas por causa do desequilíbrio ambiental. Por que temer um meteoro como o que caiu há 65 milhões de anos exterminando os dinossauros? Que certeza temos sobre uma eventual dizimação da espécie humana, quando na era atual se ignora o direito à vida da Criação?
Os riscos do momento, inegavelmente, pertencem à ganância dos projetos humanos. O homem é o maior predador existente no planeta. Precisamos absolver os demais. Voltaire (1694) diria: “Se é verdade que o homem é a imagem de Deus, é também verdade que Deus é a imagem do homem”. Quem vê no Criador um ditador implacável, que odeia o mundo criado, absoluto sobre a natureza, vê-se a si mesmo negando o amor uterino (“rahamin”) de Deus pela Criação, ignorando sua compaixão e solidariedade para com o Planeta violentado.
Medidas por meio da luz, analisando as emissões provenientes das distantes galáxias desde o ponto de observação do planeta Terra, a origem deste Universo vem de 13,7 bilhões de anos luz a nos separar do início de tudo, no “kosmos”. Cálculos físico-quânticos aplicados, tem sido comprovados com impressionante exatidão nas sondagens e viagens interplanetárias desde 1969, quando astronautas pisaram no solo da lua. Inúmeros fatos posteriores confirmam o acerto sobre o que se pensa do Universo também imaginado por Einstein e Planck (teoria da relatividade e física quântica). Estamos de frente para os céus infinitos. Contudo, não temos provas empíricas e completas do universo plural. Mas, do que tem acontecido no planeta, sobram as provas. Do homem, desde o salto da animalidade para a humanidade, pouco se pode esperar. É o maior dos predadores.
O Ocidente prossegue na globalização da miséria enquanto sustenta a acumulação de bens para privilegiados no uso das riquezas existentes (dos 6,3 bilhões de pessoas, apenas 1,6). Oferece bem-estar localizado para ricos; tecnologias eletrônicas avançadas, saúde e medicina de alto preço, educação para postos de trabalho privilegiados; lazer de alto custo e alcance. Porém, há 4,7 bilhões de deserdados ameaçados pela barbárie tecnocrática, 2 bilhões morrem de fome e brevemente perecerão de sede, se a contaminação ou esgotamento de mananciais formados através de milhões de anos prosseguirem no ritmo atual.
O Éden do capital permitiu prevalecer à sedução da serpente. Ignora-se a amizade de Deus, e sua insistência em salvar a Criação e salvar-nos. O resgate da grande utopia está no anúncio de Jesus: “liberdade para os cativos”; “vida plena e abundante” (Lc 4,16; Jo 10,10). Discípulos de João Batista perguntaram: És o Salvador? E ouviram: Vão, e lhe digam o que viram: os cegos vêem, os coxos andam, os mortos ressuscitam. Hoje, é muito mais difícil compreender a profunda experiência de mudança radical, no Evangelho de Jesus – um verdadeiro sobressalto nas ordens do Universo. A imagem do mundo em sua totalidade já não autoriza a opinião da centralidade do homem e da religião.
Se a visão antropocêntrica ainda está em eclipse, o amor de Deus é que assombra. Dante Alighieri estava certo: “O amor é que move o sol e as estrelas” (Queiruga). Os poetas dos salmos sabiam que a majestade do céu, a vida da terra, faz crescer a erva dos campos, alimenta os pássaro do céu e os animais da selva, e anima o trabalho dos homens: “envias o teu sopro e eles são criados, e assim renovas a face da terra” (Sl 104.30). Há esperança para a Criação.
São quase 2.500 anos de questões levantadas sobre a infinitude do Universo, desde pensadores como Sócrates – sacrificado nos primeiros momentos do fundamentalismo histórico – e se descobriria que o universo já não mais correspondia ao pluriverso. O conceito de infinito na comunidade científica perturbaria o mundo religioso fechado, dogmático. Realçava uma grandeza maior para a Criação.
Porém, há medo no planeta. Desequilíbrios industriais, aumento da temperatura, bactérias poderosas aparecendo sem controle, doenças incuráveis, epidemias cíclicas. O planeta descobre-se como um imenso depósito de lixo, dejetos e resíduos tóxicos, águas contaminadas. Milhões de pessoas são exterminadas por causa do desequilíbrio ambiental. Por que temer um meteoro como o que caiu há 65 milhões de anos exterminando os dinossauros? Que certeza temos sobre uma eventual dizimação da espécie humana, quando na era atual se ignora o direito à vida da Criação?
Os riscos do momento, inegavelmente, pertencem à ganância dos projetos humanos. O homem é o maior predador existente no planeta. Precisamos absolver os demais. Voltaire (1694) diria: “Se é verdade que o homem é a imagem de Deus, é também verdade que Deus é a imagem do homem”. Quem vê no Criador um ditador implacável, que odeia o mundo criado, absoluto sobre a natureza, vê-se a si mesmo negando o amor uterino (“rahamin”) de Deus pela Criação, ignorando sua compaixão e solidariedade para com o Planeta violentado.
Medidas por meio da luz, analisando as emissões provenientes das distantes galáxias desde o ponto de observação do planeta Terra, a origem deste Universo vem de 13,7 bilhões de anos luz a nos separar do início de tudo, no “kosmos”. Cálculos físico-quânticos aplicados, tem sido comprovados com impressionante exatidão nas sondagens e viagens interplanetárias desde 1969, quando astronautas pisaram no solo da lua. Inúmeros fatos posteriores confirmam o acerto sobre o que se pensa do Universo também imaginado por Einstein e Planck (teoria da relatividade e física quântica). Estamos de frente para os céus infinitos. Contudo, não temos provas empíricas e completas do universo plural. Mas, do que tem acontecido no planeta, sobram as provas. Do homem, desde o salto da animalidade para a humanidade, pouco se pode esperar. É o maior dos predadores.
O Ocidente prossegue na globalização da miséria enquanto sustenta a acumulação de bens para privilegiados no uso das riquezas existentes (dos 6,3 bilhões de pessoas, apenas 1,6). Oferece bem-estar localizado para ricos; tecnologias eletrônicas avançadas, saúde e medicina de alto preço, educação para postos de trabalho privilegiados; lazer de alto custo e alcance. Porém, há 4,7 bilhões de deserdados ameaçados pela barbárie tecnocrática, 2 bilhões morrem de fome e brevemente perecerão de sede, se a contaminação ou esgotamento de mananciais formados através de milhões de anos prosseguirem no ritmo atual.
O Éden do capital permitiu prevalecer à sedução da serpente. Ignora-se a amizade de Deus, e sua insistência em salvar a Criação e salvar-nos. O resgate da grande utopia está no anúncio de Jesus: “liberdade para os cativos”; “vida plena e abundante” (Lc 4,16; Jo 10,10). Discípulos de João Batista perguntaram: És o Salvador? E ouviram: Vão, e lhe digam o que viram: os cegos vêem, os coxos andam, os mortos ressuscitam. Hoje, é muito mais difícil compreender a profunda experiência de mudança radical, no Evangelho de Jesus – um verdadeiro sobressalto nas ordens do Universo. A imagem do mundo em sua totalidade já não autoriza a opinião da centralidade do homem e da religião.
Se a visão antropocêntrica ainda está em eclipse, o amor de Deus é que assombra. Dante Alighieri estava certo: “O amor é que move o sol e as estrelas” (Queiruga). Os poetas dos salmos sabiam que a majestade do céu, a vida da terra, faz crescer a erva dos campos, alimenta os pássaro do céu e os animais da selva, e anima o trabalho dos homens: “envias o teu sopro e eles são criados, e assim renovas a face da terra” (Sl 104.30). Há esperança para a Criação.
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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