Opinião
- 23 de dezembro de 2009
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O Livro dos livros e nós
Robinson Cavalcanti
Durante a infância e parte da adolescência eu ouvia as leituras na missa dominical, cuja liturgia era em latim, que sempre começavam com a expressão: “Naquele tempo”. E eu, naquela época, não entendia muito o que se lia. Chega minha prima, nas férias, engatinhando na alfabetização, com um Evangelho de Mateus que recebera de uma vizinha. Após o almoço, eu, mais velho, lia um capítulo por dia. Chega minha tia de um colégio de freiras. Verifica a edição da Sociedade Bíblica, versão João Ferreira de Almeida. Inquisitorial, pergunta sobre a autorização de alguma autoridade da Igreja de Roma: “Tem Imprimatur? Tem Reimprimatur? Tem Nihil Obstat? Não tem? Vai para o fogo". E, naqueles tempos pré-Concílio Vaticano II, rasga o livrinho e em um “ato de fé” o queima no fogão de carvão lá de casa, no interior de Alagoas. Não posso me esquecer das labaredas azuis.
Estou com 14 anos. Um marceneiro adventista, o Josué Clementino, me pede para recitar os Dez Mandamentos. Eu o fiz, segundo o que tinha estudado no Catecismo do Padre Álvaro Negromonto. Ele abre a Bíblia de edição católica Padre Figueiredo. Me manda ler o capítulo vinte do livro de Êxodo. Surpreso, vejo que não confere. Tinha saído um mandamento, e o outro desdobrado em dois para fechar em dez. “Como pode uma instituição alterar o texto dado por Deus nas Tábuas da Lei?” Josué me desafia a estudar a Bíblia, e por dois anos faço um curso bíblico por correspondência, escondido da minha mãe.
Vou completar 17 anos. Igreja Presbiteriana Central de Garanhuns, PE. Aula de escola bíblica dominical. Meu professor era o advogado Urbano Vitalino, meu avô. Tema: “As viagens de Paulo no livro dos Atos dos Apóstolos”. “Viajo” junto, empolgado.
E assim, aos poucos, a Bíblia foi chegando em minha vida. Do meu primeiro salário, dei o dízimo e comprei uma Bíblia. Meu primeiro sermão foi pregado no Dia da Bíblia, em 1963 (19 anos).
Hoje me alegro com o fato de que o Brasil é campeão em venda de Bíblias. Muito vendida, menos lida, pouco obedecida.
Estou em uma igreja (a Anglicana) que afirma a autoridade da Bíblia como Palavra de Deus!
Siga-nos no Twitter!
Durante a infância e parte da adolescência eu ouvia as leituras na missa dominical, cuja liturgia era em latim, que sempre começavam com a expressão: “Naquele tempo”. E eu, naquela época, não entendia muito o que se lia. Chega minha prima, nas férias, engatinhando na alfabetização, com um Evangelho de Mateus que recebera de uma vizinha. Após o almoço, eu, mais velho, lia um capítulo por dia. Chega minha tia de um colégio de freiras. Verifica a edição da Sociedade Bíblica, versão João Ferreira de Almeida. Inquisitorial, pergunta sobre a autorização de alguma autoridade da Igreja de Roma: “Tem Imprimatur? Tem Reimprimatur? Tem Nihil Obstat? Não tem? Vai para o fogo". E, naqueles tempos pré-Concílio Vaticano II, rasga o livrinho e em um “ato de fé” o queima no fogão de carvão lá de casa, no interior de Alagoas. Não posso me esquecer das labaredas azuis.
Estou com 14 anos. Um marceneiro adventista, o Josué Clementino, me pede para recitar os Dez Mandamentos. Eu o fiz, segundo o que tinha estudado no Catecismo do Padre Álvaro Negromonto. Ele abre a Bíblia de edição católica Padre Figueiredo. Me manda ler o capítulo vinte do livro de Êxodo. Surpreso, vejo que não confere. Tinha saído um mandamento, e o outro desdobrado em dois para fechar em dez. “Como pode uma instituição alterar o texto dado por Deus nas Tábuas da Lei?” Josué me desafia a estudar a Bíblia, e por dois anos faço um curso bíblico por correspondência, escondido da minha mãe.
Vou completar 17 anos. Igreja Presbiteriana Central de Garanhuns, PE. Aula de escola bíblica dominical. Meu professor era o advogado Urbano Vitalino, meu avô. Tema: “As viagens de Paulo no livro dos Atos dos Apóstolos”. “Viajo” junto, empolgado.
E assim, aos poucos, a Bíblia foi chegando em minha vida. Do meu primeiro salário, dei o dízimo e comprei uma Bíblia. Meu primeiro sermão foi pregado no Dia da Bíblia, em 1963 (19 anos).
Hoje me alegro com o fato de que o Brasil é campeão em venda de Bíblias. Muito vendida, menos lida, pouco obedecida.
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Foi bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política — teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo — desafios a uma fé engajada. Faleceu no dia 26 de fevereiro de 2012 em Olinda (PE).
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