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- 04 de agosto de 2021
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O grito de Eva – a violência doméstica em lares cristãos (resenha)
Resenha
Por Karen Bomilcar
Editora Thomas Nelson
O fenômeno da violência doméstica (física, verbal, emocional, espiritual, etc) é, infelizmente, uma realidade ampla e presente em lares cristãos e não cristãos. E é de suma importância que lideranças comunitárias e membros do Corpo de Cristo reconheçam e abordem esta temática de maneira sábia. O silêncio neste sentido apenas perpetua e agrava a situação.
Em seu novo livro, O Grito de Eva: a violência doméstica em lares cristãos, a jornalista Marília de Camargo César propõe reflexão e caminhos de acolhimento. Tratar da temática da violência doméstica no contexto da fé cristã representa um tabu, pois há que se revisitar muitas vezes a origem de pensamentos e crenças que geram comportamentos agressivos e confrontar práticas e formas de propagar estas interpretações.
Partindo da experiência da autora como jornalista, ela pratica uma escuta de histórias e relatos de mulheres que integram comunidades cristãs e têm enfrentado grande sofrimento através de comportamentos violentos daqueles com quem se relacionam. Marília traz estes relatos capítulo a capítulo, de forma a praticar não apenas a descrição de um fenômeno, mas a humanização de cada uma daquelas a quem ouviu. O livro também apresenta diálogo com lideranças cristãs, teólogos e psicólogos que têm acompanhado estas pessoas ao longo dos anos. Revisita aspectos e interpretações de textos bíblicos que ao longo da história têm sido usados para reforçar comportamentos agressivos e relacionamentos abusivos.
Esta obra provoca uma reflexão tanto para aquelas pessoas que sofrem com a violência, para os que praticam comportamentos violentos, quanto para os demais membros das comunidades como uma proposta de reflexão e ação no que diz respeito à forma como os papéis do feminino e masculino têm sido compreendidos ao longo dos anos, a maneira com a qual concebemos a sacralidade de toda vida humana e o ensino que realizamos acerca das parcerias afetivas dentro das alianças de casamento, por exemplo.
A violência contra a mulher praticada por parceiro íntimo não poupa a igreja
O livro também auxilia as lideranças e cristãos que estão engajados na prática do aconselhamento e da escuta. De fato, as comunidades cristãs são muitas vezes o primeiro espaço no qual estas mulheres buscam acolhimento, auxílio e orientação, reiterando uma vez mais o papel promotor de saúde de agrupamentos nos quais a intimidade e a comunhão são característicos. Quando estes agrupamentos têm por característica a profissão de fé, é necessário ter uma compreensão de antropologia teológica adequada, na qual reiteramos o valor e a dignidade que Deus dá a todo ser humano em sua Criação e a premissa de amar ao próximo como a nós mesmos.
É fato que as questões relacionais e comportamentais não podem ser tratadas de formas simplistas. Há muito em nossa esfera pessoal e social que produz a violência nossa de cada dia. Marília propõe em seu livro uma escuta reflexiva e que possamos nos aproximar desta temática da violência doméstica não como um fenômeno alheio a nós ou mais um aspecto social distante descrito nas mídias, mas que possamos enxergar as pessoas e histórias por trás de cada uma destas realidades e qual o nosso papel como discípulos de Jesus Cristo.
Ao longo da história, a comunidade de fé tem sido representada como espaço de pertencimento e acolhimento, vinculação que sob direção do Espírito Santo promove caminhos de vida para que possamos viver o mandamento de amor ao próximo. Quando a comunidade se torna ameaça ou reforça os perigos que ameaçam a dignidade humana temos um grave problema. É preciso confrontar nossas fragilidades como cristãos e rever condutas, para que, como discípulos, possamos obedecer de forma coerente e amorosa o que Jesus propôs a nós como caminho. Este livro toca em temas difíceis e pouco explorados em nossas igrejas, mas tem potencial de gerar vida, apontando para o Deus que deseja a todos os seus filhos e filhas vida plena em Seu amor.
• Karen Bomilcar trabalha como psicóloga clínica hospitalar em São Paulo, SP. É mestre em teologia e estudos interdisciplinares – Regent College/UBC (Canadá).
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