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Opinião

O fenômeno das bets

Reportagem publicada originalmente na edição 412 de Ultimato.

Um sonho: ter mais dinheiro para viver tranquilo, sem preocupações. Simples assim.
Talvez essa seja uma das “boas” explicações dadas por pessoas envolvidas com jogos de apostas online. Mas o meio não justifica o fim – ganhar dinheiro de forma rápida e sem demasiado esforço. Porque, na dinâmica dos jogos de apostas, sempre há prevalência dos mais fortes sobre os mais fracos, e alguém sai perdendo – não só dinheiro. Não é nada simples.
 
E o problema não é sonhar, mas a maneira como o sonho é cultivado. Hoje em dia, todos sonham – ou apostam – e, de forma mais ou menos consciente, colocam em risco muitas coisas que deveriam ser protegidas: bens pessoais, o bem comum, a interação fraterna, a liberdade, a doação generosa e, muitas vezes, a própria vida ou a de outros. 
As colaborações a seguir não dirão se é certo ou errado jogar. Nem falarão do que a Bíblia diz sobre apostar (você pode ler sobre isso no portal Ultimatoonline). Mas lembrarão como a igreja pode e deve ajudar a proteger as vítimas dos jogos por meio da educação, da prevenção e do apoio emocional, e denunciarão: “No Brasil, mais de 12 milhões de crianças e adolescentes, dentro de suas casas, escolas, igrejas, acessam jogos indevidos e prejudiciais a eles”.


A atração das apostas: os impactos sociais e o papel da Igreja

Nos primeiros sete meses de 2024, as casas de apostas tiveram uma média de 3,5 milhões de usuários por mês, só no Brasil

Por Maria Marta Dias H. Lisboa e Ageu H. Lisboa

No Brasil, nos últimos dez anos, estamos observando crescente número de apostadores em plataformas de apostas online, as Bets. Elas ocupam espaços nas mídias e estádios, e são impulsionadas por influenciadores sorridentes que dizem “Ganhe”, “Fé na sorte”, e por aí vai. O fenômeno envolve milhões de pessoas no sonho de um possível ganho financeiro que possibilitaria, em tese, o fim de penúrias financeiras e a realização de sonhos de consumo.

Além das Bets, outros tipos de jogos e apostas são possíveis nas casas lotéricas e em pontos do popular jogo do bicho, enquanto abastados fazem turismo no exterior para jogar em cassinos. Como entender e lidar com essa avalanche publicitária? Que males podem surgir e o que a Igreja tem a dizer?
 
Jogos que lidam com a sorte ou o azar são parte de inúmeras culturas há milênios e coexistem com jogos que exigem a racionalidade, como o xadrez, a dama e as disputas esportivas. Todos esses e outros jogos podem ser praticados numa dimensão puramente lúdica, um divertido passatempo com amigos, sem risco de perdas de bens e de dinheiro. A dimensão oposta envolve apostas de valores, na dependência de algo irracional, de natureza errática.

O crescimento das apostas e seus desafios – danos psíquicos, adoecimento e derrocada financeira

São inúmeras as tragédias associadas a jogos de azar expostas na literatura, em filmes e na vida real. Há que se prevenir, então, de abusos. Como desperta fantasias e leva pessoas a sonhar com uma realidade imaginária que trará felicidade, o jogo de azar pode prender o jogador numa dinâmica neurótica. Este costuma enganar a si próprio, dizendo: “Desta vez, quem sabe?”, ou “Só mais um pouco”. E ameniza a consciência, racionalizando: “Se ganhar, farei muito bem aos pobres e até entregarei o dízimo na igreja”. Assim segue por um padrão persistente, insistente, de jogar, mesmo quando isso traz consequências negativas, o que caracteriza a dependência do jogo patológico segundo o Código Internacional de Doenças (C.I.D. 11 6C50.0).
 
O Instituto Locomotiva1 aponta que 25 milhões de pessoas passaram a apostar nos primeiros sete meses de 2024, fazendo com que as casas de apostas tivessem uma média de 3,5 milhões de usuários por mês, só no Brasil.1 Esse quadro sinaliza um risco crescente de dependência, com o jogo tomando uma proporção de vício, que afeta diretamente a qualidade de vida das pessoas e de suas famílias.
 
Um desafio a enfrentar é a cultura de entretenimento de massa, que vive de modismos e reproduz memes embalados em luzes, cores, sons e cerveja. Valem o bordão e a ostentação de influenciadores digitais que promovem anúncios de Bets, direcionando campanhas publicitárias inclusive a públicos vulneráveis, como crianças e adolescentes. O apelo das apostas para este público, com a publicidade nas redes sociais adaptada para capturar a atenção e induzir ao vício, suscitou a reação de educadores, psicólogos e médicos, e intenso debate jurídico e legislativo.
 
Além disso, o Anexo X do Código de Autorregulamentação do CONAR estabelece rigorosas diretrizes para a publicidade responsável de apostas esportivas. Entre as principais regras que os anunciantes devem cumprir, destacam-se os avisos de desestímulo e advertência, como:
> Restrição etária. Todos os anúncios devem conter uma frase que informe a restrição etária para a prática (por exemplo, “18+”);
> Ações informativas e preventivas. Devem ser implementadas ações informativas para conscientizar os apostadores e prevenir o transtorno do jogo patológico;
> Proteção ao público infantojuvenil. Além de respeitar o princípio de proteção ao público jovem, o elenco dos anúncios deve ter, e aparentar ter, mais de 21 anos.
 

 
O papel da Igreja na proteção social
 
A Igreja, uma das instituições sociais mais influentes e presentes em todo o Brasil, tem um papel fundamental no apoio às famílias e na conscientização sobre os riscos do jogo. É bom lembrar que, historicamente, as igrejas protestantes sempre se opuseram aos jogos de azar devido a uma ética que incentiva o trabalho, a disciplina econômica, a frugalidade e a dependência de Deus. A Igreja pode pautar sua atuação em três frentes principais: educação, prevenção e apoio espiritual.

1. Educação e conscientização. A Igreja pode atuar como agente educativo, promovendo palestras, oficinas e campanhas de conscientização nas comunidades sobre os perigos das apostas. Isso envolve não apenas informar sobre o impacto negativo do vício em jogos, como também ensinar valores cristãos, responsabilidade financeira e autocontrole. Esse trabalho pode alcançar um público amplo, especialmente em áreas socialmente carentes, onde o acesso à educação financeira é mais limitado.
 
2. Prevenção e ações comunitárias. A Igreja pode colaborar com as autoridades para desenvolver programas de prevenção ao vício em apostas. Isso inclui a promoção de alternativas de lazer saudáveis e de oportunidades de trabalho e renda para jovens em situação de vulnerabilidade social, especialmente nas regiões onde as apostas estão se tornando mais populares. A prevenção deve também se estender à atuação junto às famílias, com apoio psicossocial para aqueles que já demonstram sinais de dependência.
 
3. Apoio emocional e espiritual. A Igreja possui uma ampla rede de apoio, seja por meio de grupos de ajuda, aconselhamento ou mesmo suporte espiritual. Nos momentos mais críticos de um vício, a Igreja pode oferecer o acolhimento necessário para que os indivíduos busquem tratamento adequado e se reabilitem. Além disso, pode se envolver em ações que ajudem a reintegrar aqueles que saíram do ciclo vicioso, oferecendo suporte emocional e espiritual durante todo o processo de recuperação.

Diante do crescimento das apostas no Brasil, impulsionado por plataformas digitais e influenciadores, as autoridades brasileiras terão desafios significativos para fazer cumprir toda a regulamentação, a fim de combater o vício no jogo e fazer valer o direito de proteção de públicos vulneráveis, como crianças e adolescentes.
 
A Igreja, com seu papel educativo e social, pode ser uma força crucial na prevenção e no apoio às vítimas desse vício. É fundamental que a Igreja, com o Estado e as demais entidades da sociedade civil, colabore na criação de um ambiente mais seguro, responsável e saudável para todos os brasileiros, especialmente os mais jovens, que são o futuro do país.

Nota
1. Explosão das bets: crescimento, impacto, regulamentação. Meio e mensagem. Disponível em bit.ly/412-bets
 
  • Maria Marta Dias Heringer Lisboa é advogada em São Paulo, SP. 
  • Ageu Heringer Lisboa é psicólogo em Campinas, SP, e autor de Sexo: Espiritualidade, Instinto e Cultura (Editora Ultimato).

 
REVISTA ULTIMATO – COMO VIVEM OS QUE TÊM ESPERANÇA
Com a matéria “Como vivem os que têm esperança”, Ultimato quer colocar Cristo no centro e enfatizar que a vida dos que têm esperança atrai outros para a Esperança. Quer lembrar que a comunidade dos que têm esperança deve ser uma ponte para aqueles que “passam por necessidades, cuja esperança para o futuro não é sustentada pela experiência de bênção no passado, que não conheceram cura, ou fé, ou prosperidade e que não têm esperança”.

É disso que trata a matéria de capa da edição 412 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
»
Mamom versus Deus – Ninguém pode servir a dois senhores
» Trabalho, Descanso e Dinheiro – Uma abordagem bíblica, Timóteo Carriker
» Capitalismo e Progresso – Um diagnóstico da sociedade ocidental, Bob Goudzwaard

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