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- 15 de maio de 2023
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O drama dos migrantes venezuelanos e a igreja do Deus que sofre
Por Lissânder Dias
Quando falamos sobre o movimento migratório de entrada de refugiados no Brasil, inevitavelmente, devemos incluir a realidade dos migrantes venezuelanos. Eles representam quase 80% das solicitações de refúgio em nosso país, segundo o relatório “Refúgio em Números – 2022”, do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra). Foram 22.856 solicitações de reconhecimento da condição de refugiado, que corresponderam a 78,5% dos pedidos recebidos pelo Brasil naquele ano (29.107). Em Pacaraima (RR) - fronteira do Brasil com a Venezuela – somente em fevereiro desse ano já chegaram 17 mil venezuelanos, informou a Plataforma R4V.
Como esses refugiados chegam e como a igreja de Cristo tem feito o acolhimento deles? Qual a situação dos que ficam na Venezuela? Essas e outras perguntas foram feitas na live “A realidade dos refugiados venezuelanos nas fronteiras e a presença da Igreja”, realizada pelo Diálogos de Esperança nessa terça-feira, dia 09 de maio, às 19h. Participaram da live os âncoras Claudia Moreira e Valdir Steuernagel e os convidados Zoraida Milano, pastora venezuelana que mora em Caracas, e Welinton Pereira, pastor brasileiro.
Mais que números, histórias
Em plena pandemia, a venezuelana Maria saiu de São Paulo em busca de seus filhos que estavam na Venezuela. O risco era grande, mas ela não desistiu, pois tinha certeza que ouvira a voz de Deus para ir. O Senhor não somente falou como também confirmou sua vontade por meio de ações de apoio de cristãos espalhados pelo país. Em cada cidade pela qual Maria passava na Venezuela, tinha uma igreja dando o suporte a ela para que chegasse na próxima cidade. Graças ao esforço de pastores e cristãos da Red Esperanza Sin Fronteiras, Maria conseguiu reencontrar seus filhos e voltar ao Brasil.
Essa é apenas uma das muitas histórias de venezuelanos separados de suas famílias por conta da crise em seu país. Casos assim ilustram o papel fundamental das igrejas cristãs no apoio de imigrantes. Mais que números, são histórias reais de gente que precisa e conta com a ajuda de comunidades comprometidas com os valores do reino de Deus.
Despedidas
A Pra. Zoraida lembra que foi presenciando as despedidas no aeroporto de Caracas que ela sentiu a obrigação de fazer algo para ajudar as famílias de seu país. “Ver tantas vezes famílias chorando ao despedirem-se de seus familiares no aeroporto foi profundamente tocante e nos impulsionou a fazer alguma coisa para ajudar. Por meio do Conselho Evangélico da Venezuela, começamos a dar ajuda humanitária, capacitação para geração de renda, formação de grupos de apoio mútuo”, relata. O trabalho foi crescendo e então os pastores e pastoras criaram uma rede chamada Red Esperanza Sin Fronteiras.
“Trabalhamos para que as famílias não precisem sair do nosso país, porque sabemos os riscos e os prejuízos financeiros aos quais são submetidas. Muitos vendem tudo o que têm para saírem da Venezuela. Os que não vão, ficam sozinhos, separados de seus parentes, sofrendo depressão, fome e falta de assistência social.
“Trabalhamos para que as famílias não precisem sair do nosso país, porque sabemos os riscos e os prejuízos financeiros aos quais são submetidas. Muitos vendem tudo o que têm para saírem da Venezuela. Os que não vão, ficam sozinhos, separados de seus parentes, sofrendo depressão, fome e falta de assistência social.
Welinton Pereira esteve em abril na Venezuela e lá conheceu muitas histórias de pessoas que sofrem com a ausência de seus parentes e a incerteza do que irá acontecer com eles, pois a discriminação com imigrantes é grande. Ele lembra, no entanto, do importante papel das igrejas no processo de suporte financeiro e pastoreio nesses momentos de fragilidade. “A maioria das igrejas perdeu muitos membros porque muita gente foi embora. Dificilmente alguém que mora na Venezuela atualmente não tenha alguém que vive fora do país. É muito triste ver famílias divididas por causa da busca pela sobrevivência – que nem é garantida no lugar que chegam. Por outro lado, há a esperança oferecida pela igreja por meio da fé em Jesus junto a essas pessoas. Quando estive na Venezuela, eu vi uma igreja muito vibrante, ativa e comprometida com essa situação”.
Nas fronteiras
Durante live, foi possível assistir ao depoimento, em vídeo, da Pra. Elinor Lopes, de Santa Elena de Uairén (fronteira de Venezuela com Brasil). “Estamos muito preocupados com a ida de venezuelanos ao Brasil. São muitos que, diariamente, atravessam a fronteira. Nossa igreja local tem tentado ajudar; são muitos jovens, mulheres grávidas e pais de família que chegam em nossa cidade sem nada. Apoiamos com roupa, calçados, medicamentos e suprimentos”, conta Elinor.
“Uma das coisas que mais me alegra atualmente nas igrejas brasileiras é o trabalho com os migrantes venezuelanos, começando nas fronteiras, mas também nas cidades do nosso país. Tem muita gente fazendo muita coisa boa em favor deles. Por exemplo, temos uma reunião de oração às sextas-feiras em favor da causa do refugiado venezuelano, com a participação frequente de cristãos de vários lugares. Um deles é a Aline, de Campinas, que amamenta seu bebê, enquanto ora pelos venezuelanos. Dia desses ela me enviou, toda alegre, algumas fotografias de venezuelanos que foram em sua igreja local”, conta Welinton.
O Deus que sofre e a reciprocidade humana
Valdir lembrou que há três grupos emblemáticos de vulneráveis na Bíblia: os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. Diante da realidade deles, Deus nos chama para acolhê-los em suas necessidades, não para gerar dependência, mas sim reciprocidade humana. “Estamos falando de mútuo cuidado, porque é isso na caminhada de fé: somos todos iguais, mas diferentes. Ou seja, temos histórias e experiências diferentes, mas somos todos iguais diante de Deus, e uns diante dos outros”.
Para Welinton, “Deus é o Deus compassivo, que sofre com aqueles que sofrem; é o Deus que está sempre presente nas situações mais difíceis do nosso mundo. Se alguém me perguntasse ‘Onde estava Deus durante o holocausto?’, eu responderia: ‘Deus estava lá com aquelas pessoas que sofreram’. Isso porque Jesus sofreu na cruz; e ao sofrer na cruz, ele sentiu toda dor do ser humano: do abandono, da discriminação, da violência. Ele sentiu a dor de morrer jovem! Mais do que sofrer com os que sofrem, Deus deseja ardentemente que nós, seus filhos, nos unamos a ele na companhia dos que sofrem. Eu não consigo acreditar em uma teologia que não busca identificar no mundo as pessoas que mais sofrem e ver Deus nelas; e a partir disso tentar se identificar e levar algum tipo de alento a elas”.
Iniciativas em rede
Claudia Moreira informou sobre uma das iniciativas em rede que potencializa a presença da igreja no cuidado com os refugiados e migrantes na região da América Latina e Caribe: é o Movimento “Como Nascido Entre Nós”, que teve início como uma campanha em novembro de 2019 e possui o objetivo “incentivar a igreja cristã latino-americana a responder à atual crise migratória, inspirada no modelo de Jesus, a fim de se tornar uma comunidade de acolhimento e defesa dos direitos das pessoas migrantes”.
A live na íntegra
Assista, na íntegra, à live “A realidade dos refugiados venezuelanos nas fronteiras e a presença da Igreja” aqui.
Recursos para saber mais sobre o assunto
- Documento “Análise de Necessidades dos Refugiados e Migrantes” da R4V (Plataforma de Coordenação Interagencial para Refugiados e Migrantes da Venezuela).
Playlist do Diálogos de Esperança
Assista a todas as lives já realizadas aqui.
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