Opinião
- 07 de fevereiro de 2018
- Visualizações: 3792
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
O shalom de Deus e o cuidado com o estrangeiro
Por René Padilla
Essas são as palavras que Jesus Cristo, sentado no seu trono glorioso, dirá àqueles que estiverem à sua direita “quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele” (Mt 25.31). São palavras que expressam a recompensa que receberão aqueles que acatarem a vontade de Deus expressa no que podemos chamar de “trilogia dos vulneráveis”, formada pelas viúvas, pelos órfãos e pelos estrangeiros. Essa trilogia é repetida muitas vezes no Antigo Testamento, especialmente no livro de Deuteronômio (por exemplo, Dt 10.18-19; 24.14-21; 26.12; 27.19). Em cada caso faz parte de uma exortação a Israel como povo escolhido por Deus, um povo que foi iniciado com os arameus errantes que viveram a opressão em terra estranha, mas que foi chamado para ser “luz das nações”, ou seja, uma nação exemplar na prática da justiça, do amor à benignidade e da humildade diante de Deus (Mq 6.8).
Escrevo este artigo em Raleigh, uma pequena cidade no estado da Carolina do Norte, Estados Unidos. Ainda que a porcentagem de estrangeiros, especialmente hispanos, não seja tão alta aqui como em outros estados americanos, é suficiente para ilustrar os problemas que afetam os imigrantes, incluindo os de origem latino-americana, em todo o país. Durante a presidência de Barak Obama, houve um aumento significativo nas deportações, especialmente de hispanos que não tinham residência legal nos Estados Unidos, chamados “indocumentados”. No entanto, esse governo ditou um decreto denominado Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA), que permitiu que as pessoas que foram trazidas ao país ainda crianças obtenham residência ao menos temporária e não sejam deportadas. Tal medida corre o risco de ser anulada sob o governo Donald Trump, o que afetaria milhares de jovens, muitos deles profissionais, que, tendo ingressado nos Estados Unidos ainda crianças, muitas vezes não conhecem a cultura nem o idioma dos seus países de origem. Perguntamo-nos como é possível que os Estados Unidos, com uma população majoritariamente de imigrantes, neguem a tantas pessoas a oportunidade de desfrutar dos mesmos privilégios que eles tiveram ao se estabelecer aqui.
>>> Refugiados -- medo, oportunidade, compaixão, ação? <<<
Vale ressaltar que muitos imigrantes no mundo atual são refugiados: emigram fugindo de situações caracterizadas pela violência, pelo racismo, pela guerra ou pela perseguição religiosa, ideológica ou política. Segundo a Convenção de Refugiados de 1951, o refugiado é a pessoa que, “temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país”.
No entanto, em número maior que os refugiados, estão, sem dúvida, os que emigram em busca de um trabalho que não só cubra as suas necessidades básicas, mas também lhes abra portas para a experiência do American Dream, ou seja, da realização do sonho de um futuro melhor que o que teriam em seus próprios países.
Certamente, o que Deus deseja para todo ser humano vai além de sonhos forjados frequentemente no calor da sociedade de consumo, a que Ernesto Sabato acertadamente denominou “o paraíso mecânico”. O que Deus anseia para nós, que fomos feitos à sua imagem e semelhança, é shalom, plenitude de vida na relação com o Criador, com o próximo e com a criação. E a realização desse propósito é possível na medida em que aprendemos a dar de comer ao que tem fome, a dar de beber ao que tem sede, a vestir o que precisa de roupa, a assistir o que está enfermo, a visitar o que está na prisão e a hospedar o estrangeiro (Mt 25.35-36).
Traduzido por Wagner Guimarães.
Nota: Texto publicado originalmente na sessão Missão Integral, da revista Ultimato, edição nº 369.
• C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de Missão Integral – O Reino de Deus e a Igreja. Acompanhe seu blog pessoal: kairos.org.ar/blog.
Leia mais
Missões e crise de refugiados: as oportunidades de encontro com Jesus num mundo de expulsões
Uma recepção diferente para os refugiados
Refugiados encontram lutas e acolhimento
Os primeiros refugiados na Bíblia
Essas são as palavras que Jesus Cristo, sentado no seu trono glorioso, dirá àqueles que estiverem à sua direita “quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele” (Mt 25.31). São palavras que expressam a recompensa que receberão aqueles que acatarem a vontade de Deus expressa no que podemos chamar de “trilogia dos vulneráveis”, formada pelas viúvas, pelos órfãos e pelos estrangeiros. Essa trilogia é repetida muitas vezes no Antigo Testamento, especialmente no livro de Deuteronômio (por exemplo, Dt 10.18-19; 24.14-21; 26.12; 27.19). Em cada caso faz parte de uma exortação a Israel como povo escolhido por Deus, um povo que foi iniciado com os arameus errantes que viveram a opressão em terra estranha, mas que foi chamado para ser “luz das nações”, ou seja, uma nação exemplar na prática da justiça, do amor à benignidade e da humildade diante de Deus (Mq 6.8).
Escrevo este artigo em Raleigh, uma pequena cidade no estado da Carolina do Norte, Estados Unidos. Ainda que a porcentagem de estrangeiros, especialmente hispanos, não seja tão alta aqui como em outros estados americanos, é suficiente para ilustrar os problemas que afetam os imigrantes, incluindo os de origem latino-americana, em todo o país. Durante a presidência de Barak Obama, houve um aumento significativo nas deportações, especialmente de hispanos que não tinham residência legal nos Estados Unidos, chamados “indocumentados”. No entanto, esse governo ditou um decreto denominado Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA), que permitiu que as pessoas que foram trazidas ao país ainda crianças obtenham residência ao menos temporária e não sejam deportadas. Tal medida corre o risco de ser anulada sob o governo Donald Trump, o que afetaria milhares de jovens, muitos deles profissionais, que, tendo ingressado nos Estados Unidos ainda crianças, muitas vezes não conhecem a cultura nem o idioma dos seus países de origem. Perguntamo-nos como é possível que os Estados Unidos, com uma população majoritariamente de imigrantes, neguem a tantas pessoas a oportunidade de desfrutar dos mesmos privilégios que eles tiveram ao se estabelecer aqui.
>>> Refugiados -- medo, oportunidade, compaixão, ação? <<<
Vale ressaltar que muitos imigrantes no mundo atual são refugiados: emigram fugindo de situações caracterizadas pela violência, pelo racismo, pela guerra ou pela perseguição religiosa, ideológica ou política. Segundo a Convenção de Refugiados de 1951, o refugiado é a pessoa que, “temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país”.
No entanto, em número maior que os refugiados, estão, sem dúvida, os que emigram em busca de um trabalho que não só cubra as suas necessidades básicas, mas também lhes abra portas para a experiência do American Dream, ou seja, da realização do sonho de um futuro melhor que o que teriam em seus próprios países.
Certamente, o que Deus deseja para todo ser humano vai além de sonhos forjados frequentemente no calor da sociedade de consumo, a que Ernesto Sabato acertadamente denominou “o paraíso mecânico”. O que Deus anseia para nós, que fomos feitos à sua imagem e semelhança, é shalom, plenitude de vida na relação com o Criador, com o próximo e com a criação. E a realização desse propósito é possível na medida em que aprendemos a dar de comer ao que tem fome, a dar de beber ao que tem sede, a vestir o que precisa de roupa, a assistir o que está enfermo, a visitar o que está na prisão e a hospedar o estrangeiro (Mt 25.35-36).
Traduzido por Wagner Guimarães.
Nota: Texto publicado originalmente na sessão Missão Integral, da revista Ultimato, edição nº 369.
• C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de Missão Integral – O Reino de Deus e a Igreja. Acompanhe seu blog pessoal: kairos.org.ar/blog.
Leia mais
Missões e crise de refugiados: as oportunidades de encontro com Jesus num mundo de expulsões
Uma recepção diferente para os refugiados
Refugiados encontram lutas e acolhimento
Os primeiros refugiados na Bíblia
É fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral? e colunista da revista Ultimato.
- Textos publicados: 16 [ver]
- 07 de fevereiro de 2018
- Visualizações: 3792
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
- + vendidos
- + vistos