Opinião
- 03 de fevereiro de 2014
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O cristão e o tempo
“Bendirei o Senhor o tempo todo! Os meus lábios sempre o louvarão” (Salmo 34.1).
O tempo é algo precioso. O tempo é caro, dizem até que “tempo é dinheiro”. Logo, desperdiçar o tempo não é uma coisa saudável, nem para as finanças, nem para a vida social e muito menos para a vida espiritual. O cristão é chamado a perceber e a viver a dimensão do tempo numa realidade cujo sentido deve ser mais pleno de significado, mais do que o simples suceder das horas e dos dias. O que deve marcar o ritmo do tempo para o cristão é o seu encontro pessoal com Deus, Senhor do tempo e da eternidade.
Já na mitologia grega o relacionamento com o tempo era problemático. Os gregos entendiam o tempo como uma divindade desapiedada e voraz. Um verdadeiro devorador de vidas, implacável e insaciável que não perdoava nunca. Todos eram tragados pelo deus Cronos que não fazia distinção entre outras divindades, homens ricos ou escravos, filósofos ou ignorantes. A tudo consumia no ritmo sucessivo dos dias, meses e anos. Todavia, quando olhamos para a cultura e a sociedade contemporâneas não é difícil perceber que o deus Cronos continua sendo idolatrado, e o que é o pior, continua devorando vidas.
A frenética correria dos nossos dias nos impede de perceber e mesmo de viver a vida com inteireza. Nunca temos a sensação de estarmos plenamente presentes em lugar algum. Há sempre um compromisso, um encontro, uma atividade, uma ansiedade em “stand by”, há sempre uma preocupação para daqui a pouco. Sem falar nas muitas metas que nos impomos ou que pesam sobre os nossos ombros. Coisas que devemos alcançar para, inclusive, justificar a nossa existência.
Outros estão escravizados pelo deus Cronos, acorrentados a ele por meio da depressão. Em muitos casos, a depressão é uma forma de aprisionamento ao passado, às coisas que já se foram, não existem mais, mas que ainda assombram o nosso viver. Muitas depressões são o resultado da falta de superação, integração e mesmo reconciliação com a história já vivida. O hoje nunca supera o ontem em importância. E o futuro ainda não é.
A ansiedade é outra enfermidade comum em nossos dias, é uma forma de sequestro. Somos feitos reféns do futuro, com medo do que ainda será. Não conseguimos viver bem o hoje com medo que ele antecipe o futuro que gera muitas inseguranças e incertezas dentro de nós. Na ansiedade o passado não pesa, o hoje é muito frágil e o futuro é sempre assustador.
Para nós cristãos, a encarnação do Verbo, a vinda do eterno no tempo com o nascimento de Jesus, que veio até nós justamente na “plenitude dos tempos” (Gl 4.4), e sua ressurreição dos mortos trouxe-nos a solução para como lidar com tempo, dominá-lo, servirmo-nos dele e utilizá-lo para o nosso bem estar. O cristão deve viver o seu dia, as horas que o compõem, em três dimensões:
1. Dimensão memorial: recordando, agradecidos, os grandes feitos de Deus. Valorizar em justa medida as providências, os livramentos, as correções e disciplinas do Senhor e ainda, assumindo com amor a nossa própria verdade de sermos limitados, débeis, imperfeitos, pecadores. Isto nos livra da tirania do perfeccionismo, da autogratificação e também da autopunição.
2. Dimensão “kairológica”. Isto é, fazer do presente, do "agora", do "já" de nossas vidas, um momento repleto de graça. Agora é hora, o tempo favorável da graça e da bênção. Por isso, devemos viver o presente como aquilo que ele é, presente, dádiva, dom. E só o valorizamos, quando em oração, pedindo bênção, direção, discernimento e força a Deus, passamos a viver o nosso dia, organizado todo na perspectiva da redenção em Cristo. Passamos então a gozá-lo por inteiro, inteiramente concentrados e focados em viver bem cada passo do dia, saboreando cada ocasião temperada com a presença do Espírito do Senhor e sua Palavra. O "agora" de nossas vidas é sempre libertador. Livra-nos dos grilhões do passado na mesma medida em que nos salva do sequestro do futuro.
3. Dimensão “escatológica”. Significa que vivemos a certeza de que, haja o que houver no meu amanhã, desde agora, “sou mais que vencedor em Cristo.” A vitória já foi alcançada na cruz e na ressurreição. A morte já não tem a última palavra sobre a existência. Por isso podemos e devemos orar pedindo a Deus este senso, esta forte impressão espiritual de que o futuro já chega até nós sob a marca da cruz gloriosa e dos bens nela conquistados por Cristo.
E como viver e integrar estas dimensões de maneira concreta em nossa experiência diária? Pela santificação do tempo, pela organização de nossa agenda diária por meio da oração, da meditação, da contemplação. Para que o tempo tenha sentido salvífico e santificante, precisamos aprender na escola da oração que o “ser” precede o “fazer”.
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O tempo é algo precioso. O tempo é caro, dizem até que “tempo é dinheiro”. Logo, desperdiçar o tempo não é uma coisa saudável, nem para as finanças, nem para a vida social e muito menos para a vida espiritual. O cristão é chamado a perceber e a viver a dimensão do tempo numa realidade cujo sentido deve ser mais pleno de significado, mais do que o simples suceder das horas e dos dias. O que deve marcar o ritmo do tempo para o cristão é o seu encontro pessoal com Deus, Senhor do tempo e da eternidade.
Já na mitologia grega o relacionamento com o tempo era problemático. Os gregos entendiam o tempo como uma divindade desapiedada e voraz. Um verdadeiro devorador de vidas, implacável e insaciável que não perdoava nunca. Todos eram tragados pelo deus Cronos que não fazia distinção entre outras divindades, homens ricos ou escravos, filósofos ou ignorantes. A tudo consumia no ritmo sucessivo dos dias, meses e anos. Todavia, quando olhamos para a cultura e a sociedade contemporâneas não é difícil perceber que o deus Cronos continua sendo idolatrado, e o que é o pior, continua devorando vidas.
A frenética correria dos nossos dias nos impede de perceber e mesmo de viver a vida com inteireza. Nunca temos a sensação de estarmos plenamente presentes em lugar algum. Há sempre um compromisso, um encontro, uma atividade, uma ansiedade em “stand by”, há sempre uma preocupação para daqui a pouco. Sem falar nas muitas metas que nos impomos ou que pesam sobre os nossos ombros. Coisas que devemos alcançar para, inclusive, justificar a nossa existência.
Outros estão escravizados pelo deus Cronos, acorrentados a ele por meio da depressão. Em muitos casos, a depressão é uma forma de aprisionamento ao passado, às coisas que já se foram, não existem mais, mas que ainda assombram o nosso viver. Muitas depressões são o resultado da falta de superação, integração e mesmo reconciliação com a história já vivida. O hoje nunca supera o ontem em importância. E o futuro ainda não é.
A ansiedade é outra enfermidade comum em nossos dias, é uma forma de sequestro. Somos feitos reféns do futuro, com medo do que ainda será. Não conseguimos viver bem o hoje com medo que ele antecipe o futuro que gera muitas inseguranças e incertezas dentro de nós. Na ansiedade o passado não pesa, o hoje é muito frágil e o futuro é sempre assustador.
Para nós cristãos, a encarnação do Verbo, a vinda do eterno no tempo com o nascimento de Jesus, que veio até nós justamente na “plenitude dos tempos” (Gl 4.4), e sua ressurreição dos mortos trouxe-nos a solução para como lidar com tempo, dominá-lo, servirmo-nos dele e utilizá-lo para o nosso bem estar. O cristão deve viver o seu dia, as horas que o compõem, em três dimensões:
1. Dimensão memorial: recordando, agradecidos, os grandes feitos de Deus. Valorizar em justa medida as providências, os livramentos, as correções e disciplinas do Senhor e ainda, assumindo com amor a nossa própria verdade de sermos limitados, débeis, imperfeitos, pecadores. Isto nos livra da tirania do perfeccionismo, da autogratificação e também da autopunição.
2. Dimensão “kairológica”. Isto é, fazer do presente, do "agora", do "já" de nossas vidas, um momento repleto de graça. Agora é hora, o tempo favorável da graça e da bênção. Por isso, devemos viver o presente como aquilo que ele é, presente, dádiva, dom. E só o valorizamos, quando em oração, pedindo bênção, direção, discernimento e força a Deus, passamos a viver o nosso dia, organizado todo na perspectiva da redenção em Cristo. Passamos então a gozá-lo por inteiro, inteiramente concentrados e focados em viver bem cada passo do dia, saboreando cada ocasião temperada com a presença do Espírito do Senhor e sua Palavra. O "agora" de nossas vidas é sempre libertador. Livra-nos dos grilhões do passado na mesma medida em que nos salva do sequestro do futuro.
3. Dimensão “escatológica”. Significa que vivemos a certeza de que, haja o que houver no meu amanhã, desde agora, “sou mais que vencedor em Cristo.” A vitória já foi alcançada na cruz e na ressurreição. A morte já não tem a última palavra sobre a existência. Por isso podemos e devemos orar pedindo a Deus este senso, esta forte impressão espiritual de que o futuro já chega até nós sob a marca da cruz gloriosa e dos bens nela conquistados por Cristo.
E como viver e integrar estas dimensões de maneira concreta em nossa experiência diária? Pela santificação do tempo, pela organização de nossa agenda diária por meio da oração, da meditação, da contemplação. Para que o tempo tenha sentido salvífico e santificante, precisamos aprender na escola da oração que o “ser” precede o “fazer”.
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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Ricardo Barbosa