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- 10 de julho de 2019
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O criacionismo depois de Darwin: um debate entre ciência e fé
Por Jean Francesco | Resenha
Após as descobertas de Charles Darwin em A Origem das Espécies (1859), e principalmente devido aos recentes avanços no campo da genética, cristãos tem se envolvido em debates acalorados tentando reconciliar os fundamentos inegociáveis da fé com as novas descobertas da biologia evolutiva – um debate que tem levantado questões significativas, sem necessariamente chegar a conclusões definitivas.
O livro Finding Ourselves after Darwin (Baker Academic, 2018) oferece uma contribuição intrigante para este debate. Este volume é inovador ao propor uma interface entre a antropologia teológica e as novas descobertas da teoria evolutiva. Os editores sugerem que reunir teólogos de diferentes tradições para discutir temas que parecem irreconciliáveis com a teoria evolutiva é a melhor maneira de responder aos desafios colocados ao cristianismo pelo pós-darwinismo. Ao adotar essa abordagem, o livro considera quais seriam as consequências teológicas de abraçar o criacionismo evolucionário para as doutrinas do pecado original, a imagem de Deus e o problema do mal. Apesar de suas divergências – comuns em qualquer ampla coleção de ensaios – os autores compartilham uma tese comum de que a ortodoxia cristã tem a envergadura necessária para dialogar com a teoria evolutiva sem perder sua estrutura mais fundamental.
Coleções de ensaios às vezes carecem de organização ou não seguem uma linha elaborada de raciocínio, mas não neste trabalho. Pelo contrário, cada uma das três seções é apresentada por um dos editores associados e expandida por um acadêmico destacado que prepara o cenário para as principais questões em jogo. Estudiosos de diferentes tradições cristãs, que às vezes discordam ou se complementam, enriquecem a conversa. O mesmo editor que apresentou a seção fornece uma conclusão para ela. Os leitores navegarão neste livro sentindo-se confiantes de que estão viajando por terrenos previamente mapeados e chegarão ao final bem conscientes dos novos desenvolvimentos na área.
Entre as teorias apresentadas para explicar a doutrina da imago Dei no contexto da ciência evolucionária (funcional, estrutural, relacional e dinâmica), o leitor pode esperar bastante diversidade, forças e fraquezas. Por exemplo, creio ser promissor as novas descobertas da ciência evolucionária a respeito do desenvolvimento da personalidade humana através de heranças epigenéticas, comportamentais e simbólicas — indo além da visão clássica centrada no gene do neo-darwinismo que dominou o pensamento biológico nos últimos cinquenta anos. Preocupa-me, no entanto, a rapidez com a qual J. W. van Huyssteen se apropria das ideias naturalistas/materialistas, sugerindo que o conceito de imago Dei emergiria da própria natureza. Afinal, se a imagem de Deus emerge da capacidade imaginativa do cérebro humano, por que continuar chamando-a de imago Dei? Consequentemente, este compromisso materialista leva Huyssteen a negar a superioridade dos humanos sobre os animais, contrariando a própria abordagem de Jesus (Mt 6:26 e 10:31).
Sobre o mesmo assunto, mas sob outro ponto de vista, Mark Harris e Michael Burdett assumem que “a imago Dei é uma afirmação sobre a graça de Deus para a criação e não sobre a auto habilidade humana”. Burdett também explica bem por que as quatro teorias da imago Dei deveriam ser combinadas. Na minha análise, quando isolada de outras visões, a ideia de que a imagem de Deus representaria o caráter relacional e amoroso dos seres humanos parece enganosa. Pode levar a conclusões extravagantes, como a de que os seres humanos não são as únicas criaturas feitas à imagem de Deus, dado que elefantes, golfinhos e cães também exibem capacidades relacionais baseadas no amor. Na mesma linha, a visão desenvolvimentista da imago Dei altera radicalmente a narrativa cristã de criação, queda e redenção. De acordo com Ted Peters, nunca houve um tempo em que os humanos carregassem a imagem de Deus de maneira diferente do que é hoje, dado que o pecado, o sofrimento e o mal sempre fizeram parte da história biológica da Terra. Em vez de estar localizada no passado, a imagem de Deus é algo que Deus está formando desde a queda até a sua conclusão na nova criação. Em minha análise, essa visão é falha, pois peca em articular a bondade da criação – e do Criador – transformando nossa pecaminosidade em algo natural, tornando logicamente desnecessário todo o drama da redenção e da consumação.
Felizmente, vários artigos nesta coleção equilibram tais abordagens revisionistas à fé cristã, respeitando os limites entre fé e ciência e reconhecendo o drama inegociável da tradição cristã. Gijsbert van den Brink (capítulo 8) nos dá um bom exemplo de como recontextualizar os principais elementos envolvidos na doutrina da queda, à luz da ciência evolucionária, sem perder sua essência teológica. Assim, ele evita e combate o erro Bultmanniano que aliena a teologia da história e a reduz a uma pilha de conceitos abstratos alicerçados no vácuo. Enraizado na tradição reformada, o artigo de C. John Collins (capítulo 10) contribui para o debate defendendo três ideias centrais: 1. A raça humana como uma família de origem unificada; 2. Humanos emergindo da natureza por um processo que vai além do mecanismo impessoal; e 3. Resgatando a ideia de pecado como um intruso na boa criação de Deus, entrando na experiência humana em algum ponto específico da história. O artigo de Andrew McCoy (capítulo 11) é um artigo bem-vindo ao debate na medida em que ele resgata o pensamento de Irineu (pai da igreja) sobre o pecado original, em face de más interpretações recentes. Esses três exemplos, entre outros, são excelentes corretivos para um "diálogo" que por vezes se assemelha mais a um monólogo darwiniano que toma conta de alguns debates teológicos atuais – e até algumas partes desse livro.
No geral, Finding Ourselves after Darwin nos adverte que qualquer relação entre fé cristã e ciência precisa ser desenvolvida com cautela e paciência. Deve-se tomar cuidado para não abraçar as teorias científicas como se fossem verdades absolutas, em vista da natureza volátil da ciência. As lições da história também nos ajudam a avaliar, com paciência, nossos próprios conceitos teológicos injustificados, que estão em desacordo com as declarações do livro da revelação geral, tais como a crença antiquada de que a Terra como o centro do universo era evidência de que os humanos estavam no topo da criação divina. Os leitores interessados no debate entre a fé cristã e a ciência evolutiva de nível acadêmico se beneficiarão muito com a leitura deste livro. Entre as respostas variadas que os cristãos podem oferecer no contexto da ciência evolutiva, esta coleção de ensaios é, sem dúvida, um testemunho que abre caminho para um debate maduro dentro do cristianismo ortodoxo.
• Jean Francesco Gomes é pastor presbiteriano, autor do livro “O Significado do Namoro” e doutorando em Teologia pelo Calvin Theological Seminary.
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