Opinião
- 02 de agosto de 2022
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O amor em 1 Coríntios 12
Há mais sobre o amor em Coríntios do que o que aparece no capítulo 13
Por Mário Rost
Nossa leitura da Bíblia costumar se apoiar em capítulos, versículos e títulos de perícopes. Raramente tomamos um texto sem as implicações destes rótulos e o lemos como um texto corrido. Nem lembramos que durante muitos séculos não havia divisão de versículos e capítulos no texto bíblico.
É inegável que a organização por capítulos e versículos facilita muito encontrar uma passagem desejada, mas também é igualmente inegável que, em alguns casos, esta organização rotula e divide, separando versículos que deveriam permanecer em conexão. Além disso, muitos leitores da Bíblia pensam que a mudança de capítulo significa mudança de assunto; isso não acontece na maioria dos casos. Cabe lembrar que os títulos das perícopes não fazem parte do texto original; são decisões editoriais que pretendem facilitar a compreensão das Escrituras.
Embora Paulo, em 1Coríntios 12 a 14, trate respectivamente dos dons espirituais em geral, do amor como dom supremo e do dom da profecia em relação ao dom de línguas, é importante compreender este texto como uma unidade que representa um único ensinamento: Deus concede dons aos crentes para o aperfeiçoamento da igreja, para um fim proveitoso.
O amor, apresentado em vivências/características/manifestações de paciência, na bondade, na ausência de ciúmes, de vaidade, grosseria e egoísmo, deseja inspirar os coríntios no uso dos múltiplos dons concedidos pelo mesmo Espírito. Nas situações da vida da igreja em que falta o amor aparecerão atritos até por causa dos dons distribuídos, como descrito de maneira clara e direta: “Se o pé disser: ‘Porque não sou mão, não sou do corpo’, nem por isso deixa de ser do corpo” (1Co 12.15, NAA ). O mesmo se aplica ao ouvido em relação ao olho, ao olfato ou qualquer outra função de um órgão ou parte de um corpo. A conclusão do argumento: “Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo” (1Co 12.19-20). Mesmo se tratando do óbvio, é importante lembrar que o corpo de Cristo é a sua santa igreja, à qual pertencem todos os que creem em Jesus. O corpo de Cristo não é formado apenas por uma denominação, grupo ou tradição.
O pano de fundo para a convivência proveitosa e edificante dos membros do corpo é o amor não irritado, o amor que não guarda mágoas, que não se alegra com o erro do próximo, que não desiste. Em 1Coríntios 12, portanto, encontramos o amor agindo no corpo de Cristo.
Por qual razão alguém desqualificaria um outro membro do corpo? Por considerar-se superior, mais importante que os demais. Na mosca! A falta de amor nas relações entre os membros se deve ao orgulho, egoísmo, à vaidade, disputa de poder e importância. Não posso diminuir a relevância dos irmãos e irmãs considerando-me a parte principal, pois esta posição é de Cristo. Lemos em Mateus 18,20,23 como o próprio Jesus teve de lidar com a discussão que se levantou entre os seus discípulos sobre qual deles seria o mais importante. “Quem quiser tornar-se grande entre vocês”, explicou Jesus, “que se coloque a serviço dos outros; e quem quiser ser o primeiro entre vocês, que seja servo de vocês” (Mt 20.26-27). “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45).
Dons, os mais diversos, são distribuídos pelo Espírito aos crentes visando “um fim proveitoso” para o corpo todo: a edificação de toda a igreja. Como exercer os dons espirituais sem amor? As belas poesias e mensagens de celebração do amor em cerimônias/cultos de união de casais, bodas comemorativas, baseadas em 1Coríntios 12, falam, antes de mais nada, do amor no corpo de Cristo, a igreja, “para que não haja divisão no corpo, mas para que os membros cooperem, com igual cuidado, em favor uns dos outros. De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, todos os outros se alegram com ele” (1Co 12.15-26).
Sim, o mesmo amor está presente na construção de 1Coríntios 12—14 O sobremodo enaltecido amor que inspira os enamorados é real na vida do corpo de Cristo. É o amor...
- Mário Rost, 63, nascido em Ijuí, RS, graduado em Teologia pelo Seminário Concórdia de Porto Alegre, RS, e Letras pela Universidade de São Paulo (USP), é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Atua como Gerente de Desenvolvimento Institucional na Sociedade Bíblica do Brasil, sendo responsável por iniciativas que visam o Engajamento com a Bíblia.
Nota
1. Neste artigo, as citações dos textos bíblicos são da Nova Almeida Atualizada (NAA).
Saiba mais:
» A Igreja, de John Stott
» Um Ano Com Jesus, de Eugene Peterson
» Surpreendido Pelas Escritutras, de N. T. Wright
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