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- 12 de maio de 2020
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O amigo discreto de Freud
Por Célia de Gouvêa Franco
Durante quase 30 anos, entre 1909 e 1938, Sigmund Freud manteve estreita amizade com um personagem – hoje pouco conhecido mesmo entre psicólogos e psiquiatras – que destoava do perfil do círculo de amigos e seguidores do "pai da psicanálise".
O suíço Oskar Pfister era diferente de Freud em muitos aspectos, a começar pela religião. Enquanto Freud se definia como "um herege incurável", Pfister não apenas era religioso, mas também teólogo e pastor da Igreja Reformada Suíça, além de professor e psicanalista – por influência de Freud.
Apesar das diferenças na questão religiosa, os dois se corresponderam durante quase três décadas e se tornaram amigos, visitando um a casa do outro e trocando presentes e confidências sobre a família, os amigos e mesmo os pacientes. Um exemplo da intimidade que se estabeleceu entre os dois: numa carta, Freud escreveu que conhecia, sim, L., um tradutor sobre o qual Pfister queria informações, e depois o descrevia como "um sujeito bastante limitado e rude, na verdade um completo burro".
As cartas tratam de tudo, das várias correntes de idéias sobre psicanálise e ética até os fatos rotineiros, como as férias em família e a doença – eczema – do cachorro da filha de Freud.
Talvez por causa do seu temperamento cordato, Pfister acabou sendo um dos poucos seguidores de Freud a não ter atrito sério com ele ou que não romperam a amizade -como ocorreu, por exemplo, com Carl Jung.
Ele se tornou, gradualmente, amigo de toda a família Freud.
"No ambiente doméstico dos Freud, alheio a toda vida religiosa, Pfister, com seus trajes religiosos e aparência e atitude de um pastor, era uma aparição de um mundo estranho. No seu modo de ser não havia nada da atitude científica quase apaixonada e impaciente com a qual outros pioneiros da análise encaravam o tempo passado à mesa com a família como uma mal-vinda interrupção das suas discussões teóricas e clínicas", recorda-se a filha de Freud, Anna, num depoimento de 1962.
Pfister se aproximou de Freud por intermédio de Jung, que foi seu supervisor quando Pfister começou a estudar seriamente os princípios da psicanálise.
Pfister começou a escrever para Freud e a partir daí passaram a trocar cartas regularmente. Sobreviveram 134 manuscritos de Freud – cartas, bilhetes, cartões-postais.
A maior parte dessa correspondência e algumas cartas de Pfister foram publicadas em vários países na década de 60, mas só agora aparecem em português.
A obra foi lançada na Bienal do Livro como Cartas entre Freud e Pfister (1909-1939) – Um Diálogo entre a Psicanálise e a Fé Cristã", traduzido pela psicanalista Karin Hellen Kepler Wondracek, numa edição conjunta do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos e da Editora Ultimato.
Algumas das cartas tratam da possibilidade de conciliar religião e psicanálise. Em 1927, Freud publica seu livro O Futuro de uma Ilusão, em que trata "da minha posição totalmente contrária à religião – em todas as formas e diluições".
Na carta em que anuncia o livro, Freud confessa que adiou o máximo que pôde o seu lançamento exatamente por causa do amigo – temia que a situação fosse constrangedora para Pfister.
Da Suíça, Pfister responde que "sua rejeição da religião não me traz nada de novo. Um adversário de grande capacidade intelectual é mais útil à religião que mil adeptos inúteis". E, no ano seguinte, escreve um livro – A Ilusão de um Futuro – para rebater as ideias de Freud.
• Folha de São Paulo, Caderno Mais!
>> Conheça a obra Cartas entre Freud e Pfister, da Editora Ultimato.
Durante quase 30 anos, entre 1909 e 1938, Sigmund Freud manteve estreita amizade com um personagem – hoje pouco conhecido mesmo entre psicólogos e psiquiatras – que destoava do perfil do círculo de amigos e seguidores do "pai da psicanálise".
O suíço Oskar Pfister era diferente de Freud em muitos aspectos, a começar pela religião. Enquanto Freud se definia como "um herege incurável", Pfister não apenas era religioso, mas também teólogo e pastor da Igreja Reformada Suíça, além de professor e psicanalista – por influência de Freud.
Apesar das diferenças na questão religiosa, os dois se corresponderam durante quase três décadas e se tornaram amigos, visitando um a casa do outro e trocando presentes e confidências sobre a família, os amigos e mesmo os pacientes. Um exemplo da intimidade que se estabeleceu entre os dois: numa carta, Freud escreveu que conhecia, sim, L., um tradutor sobre o qual Pfister queria informações, e depois o descrevia como "um sujeito bastante limitado e rude, na verdade um completo burro".
As cartas tratam de tudo, das várias correntes de idéias sobre psicanálise e ética até os fatos rotineiros, como as férias em família e a doença – eczema – do cachorro da filha de Freud.
Talvez por causa do seu temperamento cordato, Pfister acabou sendo um dos poucos seguidores de Freud a não ter atrito sério com ele ou que não romperam a amizade -como ocorreu, por exemplo, com Carl Jung.
Ele se tornou, gradualmente, amigo de toda a família Freud.
"No ambiente doméstico dos Freud, alheio a toda vida religiosa, Pfister, com seus trajes religiosos e aparência e atitude de um pastor, era uma aparição de um mundo estranho. No seu modo de ser não havia nada da atitude científica quase apaixonada e impaciente com a qual outros pioneiros da análise encaravam o tempo passado à mesa com a família como uma mal-vinda interrupção das suas discussões teóricas e clínicas", recorda-se a filha de Freud, Anna, num depoimento de 1962.
Pfister se aproximou de Freud por intermédio de Jung, que foi seu supervisor quando Pfister começou a estudar seriamente os princípios da psicanálise.
Pfister começou a escrever para Freud e a partir daí passaram a trocar cartas regularmente. Sobreviveram 134 manuscritos de Freud – cartas, bilhetes, cartões-postais.
A maior parte dessa correspondência e algumas cartas de Pfister foram publicadas em vários países na década de 60, mas só agora aparecem em português.
A obra foi lançada na Bienal do Livro como Cartas entre Freud e Pfister (1909-1939) – Um Diálogo entre a Psicanálise e a Fé Cristã", traduzido pela psicanalista Karin Hellen Kepler Wondracek, numa edição conjunta do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos e da Editora Ultimato.
Algumas das cartas tratam da possibilidade de conciliar religião e psicanálise. Em 1927, Freud publica seu livro O Futuro de uma Ilusão, em que trata "da minha posição totalmente contrária à religião – em todas as formas e diluições".
Na carta em que anuncia o livro, Freud confessa que adiou o máximo que pôde o seu lançamento exatamente por causa do amigo – temia que a situação fosse constrangedora para Pfister.
Da Suíça, Pfister responde que "sua rejeição da religião não me traz nada de novo. Um adversário de grande capacidade intelectual é mais útil à religião que mil adeptos inúteis". E, no ano seguinte, escreve um livro – A Ilusão de um Futuro – para rebater as ideias de Freud.
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