Opinião
- 24 de abril de 2015
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Nossa identidade, nossa vocação
Por Ricardo Barbosa
Alguns anos atrás, num seminário em Brasília, fui convidado para dar um curso sobre vocação e espiritualidade. Comecei a aula perguntando aos alunos – todos eles estudando para serem pastores – quantos ali tinham certeza da sua vocação. Todos levantaram a mão, e uns dois ou três compartilharam seu chamado. Então perguntei a eles:
– Vocês já viram um faxineiro de banheiro de rodoviária dizendo que Jesus o chamou para ser faxineiro de rodoviária?
Tentei melhorar a pergunta:
– Vocês já viram um caixa de banco dizendo que Jesus o chamou para ser bancário?
O objetivo ali era refletirmos sobre quão elitista é o conceito que temos de vocação. Ele refere-se a menos de 1% do povo de Deus, que se dedica ao pastorado, a missões ou algo assim. O restante é um bando de gente “desvocacionada” e sem chamado algum. Não é isso que Paulo tem em mente.
Em geral, temos uma compreensão muito equivocada do que significa o chamado, ou a vocação. Para nós, hoje, dentro da nossa cultura, a vocação depende do que nós fazemos, de preferência alguma coisa que nos dê prazer. Então, quando alguém encontra sua vocação, seu chamado, isso significa que encontrou alguma coisa com que se identifica e que lhe dá algum tipo de satisfação. Acredito que Paulo nunca pensou nisso. Quando ele fala em chamado ou em vocação, com duas exceções em que descreve o seu apostolado, Paulo está tratando da nova identidade que temos em Cristo, e não daquilo que fazemos.
Quando lemos em 1 Coríntios 7: “Foi alguém chamado sendo solteiro? Permaneça solteiro. Se é casado, não se separe, mantenha-se casado. Foi alguém chamado sendo incircunciso? Não se faça circuncidar”, e assim por diante. Por três vezes Paulo diz: “Cada um permaneça na vocação a que foi chamado” (v. 17, 20, 24).
O que o apóstolo entende por vocação é aquilo que nós somos chamados a fazer em Cristo Jesus: sermos filhos e filhas de Deus, povo de Deus, discípulos de Jesus, servos uns dos outros. Esse é o nosso chamado! E nós servimos a Deus a partir desse chamado onde quer que estejamos. Hoje, eu sirvo a Deus como pastor, mas poderia fazê-lo com a mesma dignidade sendo faxineiro. Não me torno uma pessoa mais vocacionada do que alguém que exerce uma atividade lá embaixo na nossa pirâmide social. Este é um conceito pagão, não bíblico! O conceito paulino de vocação tem a ver com aquilo que nós somos em Cristo e com a nossa resposta ao mundo em que vivemos, a partir dessa identidade. Todos nós somos chamados para essa mesma realidade e, quando entendemos o nosso chamado, procuramos encontrar a melhor maneira de servir a Deus no mundo. Não importa se nós gostamos ou se não gostamos. É necessário? Precisa ser feito? Então iremos fazer! Não se trata de prazer, de satisfação, trata-se de ser povo de Deus atuando no mundo em serviço, promovendo o bem, a paz, a salvação, a reconciliação, levando homens e mulheres ao arrependimento, abençoando todas as famílias da Terra.
Logo, o chamado é um convite, uma eleição, uma convocação. Para quê? Para sermos povo de Deus. E quando respondemos a uma vocação passamos a viver como pessoas convidadas, convocadas, eleitas. De preferência, devemos viver de modo digno de quem nos chamou, para sermos aquilo pelo qual ele se deu por nós.
A vocação nos dá uma identidade, nos oferece um destino. Deus nos chama e nossa resposta – quando damos o “sim” – nos coloca dentro de uma nova realidade, o mundo do povo de Deus, onde Jesus Cristo é o Senhor. Nós começamos a viver de um modo adequado a essa nova realidade. O chamado, portanto, não apenas nos dá uma identidade, mas define o que iremos fazer.
Às vezes jovens e adolescentes da igreja me procuram para conversar sobre qual curso vão fazer, em busca de ajuda para escolher sua profissão. Eu digo:
– Olhe para o seu país e veja onde existem as maiores necessidades. Olhe aquilo e faça! E, se lá na frente você precisar mudar, mude.
– Mas qual é a vontade de Deus? – eles sempre retrucam.
– A vontade de Deus é que você sirva a ele e abençoe as famílias da Terra! A vontade de Deus não é que você seja engenheiro, ou advogado, ou professor, ou isto, ou aquilo. Não! A vontade de Deus é que você tome a decisão correta a partir daquilo que você foi chamado para ser. Você acredita que ser um advogado, ou uma dona de casa, ou uma secretária é a forma de você servir a Deus? Ou você tem de escolher uma dessas ocupações por outras contingências e encontra uma maneira de servir a Deus a partir daquela realidade, vivendo como povo de Deus ali naquele lugar, como secretária, como telefonista, como doutor, como professor, ou o que for? Seja povo de Deus onde você estiver e isso vai ajudá-lo a definir como você vai andar, viver, se comportar.
O chamado molda nosso comportamento, define nossa ética, explica quem nós somos nos nossos relacionamentos. Nossa vocação nos dá condições de viver uma vida coerente, integral e íntegra quando vivemos a partir da consciência de quem somos.
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Alguns anos atrás, num seminário em Brasília, fui convidado para dar um curso sobre vocação e espiritualidade. Comecei a aula perguntando aos alunos – todos eles estudando para serem pastores – quantos ali tinham certeza da sua vocação. Todos levantaram a mão, e uns dois ou três compartilharam seu chamado. Então perguntei a eles:
– Vocês já viram um faxineiro de banheiro de rodoviária dizendo que Jesus o chamou para ser faxineiro de rodoviária?
Tentei melhorar a pergunta:
– Vocês já viram um caixa de banco dizendo que Jesus o chamou para ser bancário?
O objetivo ali era refletirmos sobre quão elitista é o conceito que temos de vocação. Ele refere-se a menos de 1% do povo de Deus, que se dedica ao pastorado, a missões ou algo assim. O restante é um bando de gente “desvocacionada” e sem chamado algum. Não é isso que Paulo tem em mente.
Em geral, temos uma compreensão muito equivocada do que significa o chamado, ou a vocação. Para nós, hoje, dentro da nossa cultura, a vocação depende do que nós fazemos, de preferência alguma coisa que nos dê prazer. Então, quando alguém encontra sua vocação, seu chamado, isso significa que encontrou alguma coisa com que se identifica e que lhe dá algum tipo de satisfação. Acredito que Paulo nunca pensou nisso. Quando ele fala em chamado ou em vocação, com duas exceções em que descreve o seu apostolado, Paulo está tratando da nova identidade que temos em Cristo, e não daquilo que fazemos.
Quando lemos em 1 Coríntios 7: “Foi alguém chamado sendo solteiro? Permaneça solteiro. Se é casado, não se separe, mantenha-se casado. Foi alguém chamado sendo incircunciso? Não se faça circuncidar”, e assim por diante. Por três vezes Paulo diz: “Cada um permaneça na vocação a que foi chamado” (v. 17, 20, 24).
O que o apóstolo entende por vocação é aquilo que nós somos chamados a fazer em Cristo Jesus: sermos filhos e filhas de Deus, povo de Deus, discípulos de Jesus, servos uns dos outros. Esse é o nosso chamado! E nós servimos a Deus a partir desse chamado onde quer que estejamos. Hoje, eu sirvo a Deus como pastor, mas poderia fazê-lo com a mesma dignidade sendo faxineiro. Não me torno uma pessoa mais vocacionada do que alguém que exerce uma atividade lá embaixo na nossa pirâmide social. Este é um conceito pagão, não bíblico! O conceito paulino de vocação tem a ver com aquilo que nós somos em Cristo e com a nossa resposta ao mundo em que vivemos, a partir dessa identidade. Todos nós somos chamados para essa mesma realidade e, quando entendemos o nosso chamado, procuramos encontrar a melhor maneira de servir a Deus no mundo. Não importa se nós gostamos ou se não gostamos. É necessário? Precisa ser feito? Então iremos fazer! Não se trata de prazer, de satisfação, trata-se de ser povo de Deus atuando no mundo em serviço, promovendo o bem, a paz, a salvação, a reconciliação, levando homens e mulheres ao arrependimento, abençoando todas as famílias da Terra.
Logo, o chamado é um convite, uma eleição, uma convocação. Para quê? Para sermos povo de Deus. E quando respondemos a uma vocação passamos a viver como pessoas convidadas, convocadas, eleitas. De preferência, devemos viver de modo digno de quem nos chamou, para sermos aquilo pelo qual ele se deu por nós.
A vocação nos dá uma identidade, nos oferece um destino. Deus nos chama e nossa resposta – quando damos o “sim” – nos coloca dentro de uma nova realidade, o mundo do povo de Deus, onde Jesus Cristo é o Senhor. Nós começamos a viver de um modo adequado a essa nova realidade. O chamado, portanto, não apenas nos dá uma identidade, mas define o que iremos fazer.
Às vezes jovens e adolescentes da igreja me procuram para conversar sobre qual curso vão fazer, em busca de ajuda para escolher sua profissão. Eu digo:
– Olhe para o seu país e veja onde existem as maiores necessidades. Olhe aquilo e faça! E, se lá na frente você precisar mudar, mude.
– Mas qual é a vontade de Deus? – eles sempre retrucam.
– A vontade de Deus é que você sirva a ele e abençoe as famílias da Terra! A vontade de Deus não é que você seja engenheiro, ou advogado, ou professor, ou isto, ou aquilo. Não! A vontade de Deus é que você tome a decisão correta a partir daquilo que você foi chamado para ser. Você acredita que ser um advogado, ou uma dona de casa, ou uma secretária é a forma de você servir a Deus? Ou você tem de escolher uma dessas ocupações por outras contingências e encontra uma maneira de servir a Deus a partir daquela realidade, vivendo como povo de Deus ali naquele lugar, como secretária, como telefonista, como doutor, como professor, ou o que for? Seja povo de Deus onde você estiver e isso vai ajudá-lo a definir como você vai andar, viver, se comportar.
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O chamado de José (e o nosso)
Pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília (DF). É colunista da revista Ultimato e autor de A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja, Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas e O Caminho do Coração.
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