Opinião
- 19 de dezembro de 2014
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Na toca de O Hobbit: o retorno
Esse artigo é mais recomendado para aqueles que viram o último filme da série O Hobbit (A Batalha dos Cinco Exércitos), ou para ser relido depois de visto o filme, para que seja bem compreendido.
Sou suspeita para falar, mas ele é, a meu ver, o melhor de todos os demais filmes da série. Não sei se é minha memória ou se o melhor doce é aquele que a gente está provando naquele momento. Só sei que fiquei bastante surpresa com o filme, pois ele tem uma mensagem contrária à filosofia “de-hollywood”, do “self-made man”, da riqueza e bem-estar a todo custo e a filosofia das novelas, em que vence o mais esperto, e não o mais honrado.
Há uma questão de corrupção pelo amor à riqueza, a ganância é estampada com todas as letras, nua e crua, em cenas de horror. A guerra, a violência se faz em nome dele. Muitos vão dizer: esse filme é mal, pois incita a violência e tem muita magia. Veja lá: os heróis não são os que atacam, mas os que se defendem, que lutam contra o mal. E essa batalha é honrada em todas as instâncias e planos. A Bíblia mesma diz: "porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes." (Efésios 6.12)
Se me perguntassem do que trata o filme, eu diria: de ganância, corrupção, mas também das virtudes necessárias para lidar com estes defeitos: lealdade, coragem (ou seria amor?), fé e esperança, que são as virtudes teologais de São Tomás de Aquino, aproveitadas por Lewis em “Cristianismo Puro e Simples”. Eu também diria que é um filme para quem acha problemático assisti-lo. Afinal, o “problema” é não assisti-lo.
Há também que se considerar o herói da história. Veja, o ser mais desprezível de todos, o menos heroico, um “hobbit”, baixinho e de pés grandes e peludos, é quem resolve o problema (já nas “quartas de final de campeonato”). Se bem que, no final de tudo, são as águias, símbolo divino recorrente em Tolkien, que salvam a situação. Mas o hobbit foi peça fundamental na obra de redenção de Terra-Média.
Na verdade, há uma hierarquia de situações, como na “Divina Comédia” de Dante, em que os males infernais vão se intensificando na medida em que a história vai avançando, mas aí então vem a libertação, em doses homeopáticas: para cada mal a sua cura e para cada situação a sua solução (muitas vezes inverossímeis demais, confesso, a ponto de arrancar risos da plateia). Então, mais uma vez, como em “O Senhor dos Anéis” (sobre o qual escrevi o livro “O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética”, aqui pela Editora Ultimato) o grande ponto positivo do filme é sua moral, seu código e ética, e, no caso, código de guerra.
O primeiro autor que eu li a respeito dos benefícios que a guerra pode trazer foi C.S. Lewis. Em “Learning in wartime” (“Aprendendo em tempos de guerra”, capítulo de “The Weight of Glory” – “O Peso da Glória”), ele fala, por exemplo, que a perspectiva da morte eminente faz com que as pessoas reavaliem a sua tábua de valores. De repente, surge a solidariedade; de repente, o trabalho em equipe, mas surge também, o mau-caráter, que até em tempos de guerra quer tirar proveito. Então, estão expostos os dois lados da guerra: do horror e do artifício divino (ou seria milagre?) de transformar o mal em bem. E o bem sobrepuja o mal, mesmo estando em minoria, mesmo quando se tem todos os motivos para perder a esperança.
De forma parecida com o livro “O Senhor dos Anéis” ainda, há muitas cenas depois da derrota do inimigo. Cenas de purga, de reparação do mal causado à Terra Média. E no final de tudo, há um retorno, um regresso ao lar perdido, à toca querida, quase expropriada. Não vou falar muito do final para não tirar a graça, mas preste atenção nas últimas cenas. Elas contêm muito da moral geral do filme e um link para as primeiras cenas de “O Senhor dos Anéis”. Não perca.
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Sou suspeita para falar, mas ele é, a meu ver, o melhor de todos os demais filmes da série. Não sei se é minha memória ou se o melhor doce é aquele que a gente está provando naquele momento. Só sei que fiquei bastante surpresa com o filme, pois ele tem uma mensagem contrária à filosofia “de-hollywood”, do “self-made man”, da riqueza e bem-estar a todo custo e a filosofia das novelas, em que vence o mais esperto, e não o mais honrado.
Há uma questão de corrupção pelo amor à riqueza, a ganância é estampada com todas as letras, nua e crua, em cenas de horror. A guerra, a violência se faz em nome dele. Muitos vão dizer: esse filme é mal, pois incita a violência e tem muita magia. Veja lá: os heróis não são os que atacam, mas os que se defendem, que lutam contra o mal. E essa batalha é honrada em todas as instâncias e planos. A Bíblia mesma diz: "porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes." (Efésios 6.12)
Se me perguntassem do que trata o filme, eu diria: de ganância, corrupção, mas também das virtudes necessárias para lidar com estes defeitos: lealdade, coragem (ou seria amor?), fé e esperança, que são as virtudes teologais de São Tomás de Aquino, aproveitadas por Lewis em “Cristianismo Puro e Simples”. Eu também diria que é um filme para quem acha problemático assisti-lo. Afinal, o “problema” é não assisti-lo.
Há também que se considerar o herói da história. Veja, o ser mais desprezível de todos, o menos heroico, um “hobbit”, baixinho e de pés grandes e peludos, é quem resolve o problema (já nas “quartas de final de campeonato”). Se bem que, no final de tudo, são as águias, símbolo divino recorrente em Tolkien, que salvam a situação. Mas o hobbit foi peça fundamental na obra de redenção de Terra-Média.
Na verdade, há uma hierarquia de situações, como na “Divina Comédia” de Dante, em que os males infernais vão se intensificando na medida em que a história vai avançando, mas aí então vem a libertação, em doses homeopáticas: para cada mal a sua cura e para cada situação a sua solução (muitas vezes inverossímeis demais, confesso, a ponto de arrancar risos da plateia). Então, mais uma vez, como em “O Senhor dos Anéis” (sobre o qual escrevi o livro “O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética”, aqui pela Editora Ultimato) o grande ponto positivo do filme é sua moral, seu código e ética, e, no caso, código de guerra.
O primeiro autor que eu li a respeito dos benefícios que a guerra pode trazer foi C.S. Lewis. Em “Learning in wartime” (“Aprendendo em tempos de guerra”, capítulo de “The Weight of Glory” – “O Peso da Glória”), ele fala, por exemplo, que a perspectiva da morte eminente faz com que as pessoas reavaliem a sua tábua de valores. De repente, surge a solidariedade; de repente, o trabalho em equipe, mas surge também, o mau-caráter, que até em tempos de guerra quer tirar proveito. Então, estão expostos os dois lados da guerra: do horror e do artifício divino (ou seria milagre?) de transformar o mal em bem. E o bem sobrepuja o mal, mesmo estando em minoria, mesmo quando se tem todos os motivos para perder a esperança.
De forma parecida com o livro “O Senhor dos Anéis” ainda, há muitas cenas depois da derrota do inimigo. Cenas de purga, de reparação do mal causado à Terra Média. E no final de tudo, há um retorno, um regresso ao lar perdido, à toca querida, quase expropriada. Não vou falar muito do final para não tirar a graça, mas preste atenção nas últimas cenas. Elas contêm muito da moral geral do filme e um link para as primeiras cenas de “O Senhor dos Anéis”. Não perca.
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É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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