Opinião
- 08 de janeiro de 2021
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Na sociedade do ativismo e da performance, você tem fé para descansar?
Por Phelipe Reis
Segunda-feira, seis horas da manhã. O despertador do celular avisa que é hora de levantar para mais um dia de atividades. Mas a sensação é de quem já acordou cansado de uma semana que ainda nem viveu e a vontade é desligar o despertador para dormir como se não houvesse amanhã ou, pelo menos, por mais uns dez minutinhos.
Certamente, todos nós em algum momento já experimentamos algum tipo de cansaço, estresse, fadiga ou aquela sensação de fazer mil coisas ao mesmo tempo e não conseguir dar conta das responsabilidades. Parecido com o que está descrito em Neemias 4.10: “Os carregadores já estão cansados, e ainda há muito entulho para carregar. A construção desta muralha quando vamos terminar?”
Superestimulação, excitação permanente ao prazer individual, superabundância de informação e, sobretudo, uma cobrança cada vez maior por desempenho e por performance são alguns dos sintomas mais claros de uma sociedade secularizada que perdeu a noção cristã do descanso. Adam Mabry, autor de A Arte do Descanso, afirma que “a era dos smartphones, com suas infinitas notificações, distrações e fluxo constante de notícias, está nos deixando muito mais deprimidos e ansiosos. E agora transformamos a ocupação no novo símbolo de status. ‘Estou tão ocupado’ é a nova maneira de mostrar o quão importante você é.”
Como a fé cristã responde ao império do cansaço?
Klênia Fassoni, em Cansaço é coisa séria, nos lembra que “podemos contar com as promessas de cuidado e de renovação de forças e com os expedientes que o Senhor criou para vivermos uma vida plena. Podemos começar resgatando e ampliando o significado do mandamento do repouso sabático.”
Embora o sábado ou o domingo sejam considerados como um dia para descansar, nem sempre o descanso é respeitado. Por outro lado, é importante lembrar que o repouso sabático, conforme estabelecido por Deus, é fundamental e tem um conceito profundo e significativo, como explica o teólogo Timóteo Carriker, na obra Trabalho, Descanso e Dinheiro. Ele destaca que o próprio Deus descansou depois de haver criado o mundo e comenta que: “No Decálogo, a proibição de trabalhar no sábado tem o mesmo peso que a proibição de matar ou de roubar. Enquanto Israel estava no deserto e, depois, no exílio, Deus lhe prometeu descanso na terra (Dt 3.20; Jr 46.27). A nação toda seguia o ritmo de uma vida de trabalho e descanso. Cada sétimo dia, cada sétimo ano e cada sétimo de sete anos era um sábado [descanso] para as pessoas, os animais e até para a própria terra.”
Carriker afirma que o ciclo de trabalho e descanso estava intimamente ligado a uma dependência fiel à Deus, já que para descansar no sétimo ano, o povo de Israel precisava confiar em Deus que a terra produziria o suficiente para passar o ano sabático (Lv 25.18-24). No quinquagésimo ano, a sua fé era provada mais ainda, porque Israel precisava passar dois anos sem trabalhar com as mãos, dependendo de doações de Deus (Lv 25.8-12).
A partir do conceito do repouso sabático é possível entender que o descanso é mais que recuperação do serviço ou preparo para ele, propõe Carriker. “O descanso e o trabalho podem envolver atividades semelhantes, porém realizadas com perspectivas, atitudes e motivações diferentes. Por exemplo, a leitura faz parte tanto do meu trabalho como do meu descanso. E o meu descanso inclui tanto uma longa caminhada, como o trabalho duro na horta e o esforço físico de um dia inteiro surfando na praia.”, pontua o teólogo.
“Outros jeitos de descansar”
Existem diferentes formas de descansar? Uma matéria publicada na revista Gama, aponta que há sete tipos diferentes de descanso: físico, mental, espiritual, emocional, sensorial, social e criativo. Nesta perspectiva, o sono representa apenas uma pequena parcela do descanso e, portanto, jogar sobre o sono toda a responsabilidade pelo descanso diário significaria deixar de lado outras formas essenciais de relaxar. “Hábitos como limpar a mente de vez em quando, manter contato e conversar com amigos ou até ter um ambiente no qual é possível ser totalmente honesto quanto às suas emoções são também cruciais para reduzir o estresse e o cansaço no dia a dia”, descreve o artigo.
Uma pesquisadora citada por Gama, explica que um erro muito comum das pessoas é achar que o descanso só acontece quando ficamos sem fazer nada, mas a verdade é que descansar tem a ver com restaurar as energias em áreas que ficaram esgotadas. Sendo assim, não significa dormir por longas horas depois de um dia de trabalho, mas sim de incorporar técnicas de descanso à rotina, de maneira que a pessoa não pense que precisa pedir demissão ou sair de férias toda semana para finalmente poder relaxar.
Afinal, como descansar de verdade e o que a fé tem a ver com o descanso?
Voltando ao autor Adam Mabry, do livro “A arte do descanso”, encontramos um subtítulo no mínimo interessante: “Fé para fazer uma pausa em um mundo que nunca pausa”. Em entrevista à Christianity Today, quando perguntado se é preciso fé para descansar, o autor responde: “O ritmo atual do mundo é louco. Nunca houve uma geração tão distraída em série por ocupações. Afastar-nos de nosso ansioso vício por tecnologia exigirá um grande esforço. Colocar nossa autopercepção como algo realmente importante exigirá que acreditemos que vale a pena esperar por Aquele por quem paramos. Ao aprender a arte do descanso, agimos com fé de que podemos fazer mais com nossas vidas se descansarmos regularmente com Deus do que faríamos se estivéssemos trabalhando incansavelmente. O descanso regular tem sido uma parte importante do nosso testemunho. Vamos abraçar o descanso sabático, lembrando a nós mesmos e ao mundo quem é nosso Deus.”
Existe uma célebre frase do teólogo e filósofo Agostinho de Hipona, que responde muito bem à nossa sociedade do cansaço: “Tu nos fizeste para ti, ó Senhor, e nosso coração está inquieto até que encontre seu descanso em ti.” Quando pensamos em pastores e líderes diante dos desafios de liderar em tempos de crise, como este da pandemia, Ed Stetzer comenta a frase de Agostinho: “Até que ‘encontremos nosso descanso em ti’, como Agostinho escreveu séculos atrás, não podemos liderar bem nesta crise. O descanso não é um desejo, é uma necessidade.”
Para Stetzer, a única coisa de que não podemos fugir hoje em dia é o tempo com Deus. “Reserve o tempo que for necessário para permitir que Deus acalme seu coração e lhe dê o descanso necessário para continuar a ministrar bem. Você não vai se arrepender. Na verdade, o oposto. Você precisa disso. Todos nós precisamos.”, afirma o escritor.
Dicas práticas para pastores e líderes terem um bom e proveitoso tempo de descanso, vale a pena conferir o artigo “Descanse, pastor! Você precisa mais do que pensa”.
Textos consultados e citados no artigo
- Take a Rest, Pastor! You Need It More Than You Think > Texto publicado originalmente no site da Sepal. Reproduzido com permissão.
>> Conheça o livro Trabalho, Descanso e Dinheiro, de Timóteo Carriker
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É natural do Amazonas, casado com Luíze e pai da Elis e do Joaquim. Graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e mestre em Missiologia no Centro Evangélico de Missões (CEM). É missionário e colaborador do Portal Ultimato.
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