Opinião
- 05 de abril de 2019
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Mulheres podem ser ordenadas ao ministério pastoral?
Por Augustus Nicodemus
Muitas denominações evangélicas não ordenam mulheres como pastoras. Afinal, existe base bíblica em favor ou contra a ordenação feminina? Para tratar deste assunto, é importante esclarecer que o que está em jogo nessa questão não é a capacidade das mulheres nem sua igualdade como pessoas diante de Deus. A Bíblia diz que a mulher foi criada, junto com o homem à imagem e semelhança de Deus. Ambos têm o mesmo valor diante do Senhor, sendo espiritualmente capazes, na mesma proporção. A Bíblia nunca contempla a mulher como alguém inferior ao homem. É preciso que isso fique claro.
Também precisa ficar claro que a Igreja sempre deve ser guiada pelo que a Bíblia diz ao tratar de questões dessa natureza. Assuntos como esse são sempre modificados pela cultura em que vivemos. Um dia a cultura já foi contra, hoje é a favor, depois pode mudar novamente o que valorizava anteriormente. Por essa razão, a Igreja não pode se basear em algo fluido como a cultura, mas precisa ter um referencial sólido, duradouro e permanente, e é por isso que a Bíblia é nossa regra de fé e prática.
A Bíblia apresenta, sem a menor dúvida, a mulher como detentora de um papel destacado, especial. No Antigo Testamento, encontramos mulheres como Hulda e Débora, que eram juízas e profetisas. No Novo Testamento, vemos mulheres que seguiram Jesus, que o auxiliavam com seus bens e que abriam sua casa para abrigar igrejas.
Paulo menciona mais de dez mulheres nas saudações que faz à igreja de Roma (Rm 16). Paulo reconhece a instrumentalidade de diversas mulheres, bem como seu trabalho e destaca uma em especial: Febe, que já tinha ajudado muita gente, inclusive ele próprio. Encontramos na Bíblia, ainda, mulheres como Priscila, que, junto com seu marido, Áquila, orientou Apolo em um momento de encruzilhada doutrinária.
Portanto, o que está em questão não é se a mulher tem um papel especial ou preponderante na vida da igreja, mas por que não encontramos nem no Antigo Testamento nem no Novo Testamento menção a mulheres em posição de governo espiritual nas comunidades.
No Antigo Testamento, essa posição seria o papel de sacerdotisa, uma vez que os sacerdotes em Israel eram consagrados e ungidos a fim de ser líderes espirituais da nação. No novo testamento, vemos apóstolos, presbíteros, diáconos e pastores. A pergunta é: por que, apesar de ter vencido todos os preconceitos, conversado com uma mulher samaritana (Jo 4.6-29), aparecido primeiro às mulheres no dia da ressurreição (Mc 16.9) e resgatado o papel delas na sociedade em que viviam, Jesus não levantou nenhuma “apóstola”, “bispa” (ou “episcopisa”), “presbítera” e “pastora” no Novo Testamento?
Mais ainda, por que o apóstolo Paulo disse que não é permitido que a mulher exerça um papel de autoridade, ensinando (1Tm 2.12)? Por que ele insiste em dizer que a mulher deve se portar como alguém que está debaixo de autoridade? Temos isso em 1Coríntios 11, 1Coríntios 14 e Efésios 5, quando Paulo define o papel do homem e da mulher no casamento. Temos isso em 1Timóteo 2. Várias passagens nos falam com clareza que, da perspectiva bíblica, o ministério feminino deve ser realizado, mas é vedado o exercício da autoridade espiritual de forma consagrada e ungida por parte das mulheres.
A argumentação utilizada em nossos dias para justificar a ordenação feminina é do tipo: “Paulo estava se dirigindo a pessoas de sua época”, “Paulo refletia a cultura da sociedade em que estava inserido” e coisas assim. Mas o argumento de Paulo não é cultural, e sim doutrinário. Quando disse que a mulher deveria estar debaixo de autoridade, em 1Coríntios 11, ele diz: “o cabeça de todo homem é Cristo, o cabeça da mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é Deus” (1Co 11.3), isto é, trata-se de um argumento baseado na Trindade. Começa na Trindade e termina na relação do homem e da mulher no que diz respeito ao contexto da igreja. Trata-se, portanto, de um argumento doutrinário-teológico, não de um argumento cultural.
Ainda no mesmo capítulo, Paulo diz que a mulher não pode ocupar essa função de autoridade porque Deus primeiro fez o homem e, depois, a mulher; porque a mulher foi feita por causa do homem e não o homem por causa da mulher e porque a mulher foi tirada do homem e não o homem da mulher. Portanto, Paulo vê na sequência da criação do homem e da mulher uma pré-ordenação divina no que diz respeito aos papéis diferentes que o homem e a mulher deveriam exercer, tanto no casamento quanto na igreja. Em todos estes casos, a argumentação de Paulo é doutrinário-teológica.
Em 1Timóteo 2, quando Paulo diz que não permite que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem, ele justifica afirmando que Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Estando sob a orientação do marido no Éden, a mulher não lhe deu ouvidos, ultrapassando seu limite de comando. Ela foi direto à serpente para conversar com ela e, assim, acabou sendo iludida (Gn 3.4-5). É por essa razão que, quando Deus dá a sentença do castigo para o homem, para a mulher e para a serpente, ele diz à mulher que seu desejo seria para seu marido e que o marido haveria de dominar a mulher (Gn 3.16).
Do ponto de vista bíblico, o papel do homem e da mulher são diferentes. Estabelecidos na criação e agravados por causa da Queda. Embora Cristo nos redima, sendo o Redentor da condição humana, esses papéis não são abolidos no Novo Testamento. Somos redimidos, o homem e a mulher são salvos da mesma forma, pela graça, mediante a fé em Cristo Jesus, e recebem dons espirituais equivalentes. Contudo, o exercício do governo espiritual da igreja e do governo do lar foi destinado para o homem cristão.
Essas são as razões pelas quais as igrejas históricas, que levam a Bíblia muito a sério, entendem que, para seguir a Bíblia, não podemos deixar esse fardo sobre os ombros das nossas irmãs. Mas o governo das igrejas, a autoridade espiritual, tem que ser exercida pelo homem cristão qualificado.
Nota: Texto retirado do livro Cristianismo Simplificado: respostas diretas a dúvidas comuns, de Augustus Nicodemus, Editora Mundo Cristão. Reproduzido com permissão.
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Augustus Nicodemus Lopes é bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife, mestre em Novo Testamento pela Universidade Cristã de Potchefstroom, na África do Sul, e doutor em Hermenêutica e Estudos Bíblicos pelo Seminário Teológico de Westminster, na Filadélfia (EUA), com estudos adicionais na Universidade Reformada de Kampen, na Holanda. Foi chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie por dez anos e professor do Centro Presbiteriano de Pós Graduação Andrew Jumper. Atualmente é pastor auxiliar da Primeira Igreja Presbiteriana de Recife, vice-presidente do Supremo Concílio da IPB e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB. É autor de mais de vinte livros.
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