Opinião
- 07 de março de 2023
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Mulheres e teologia
É perceptível o aumento da atuação de mulheres no campo da teologia. Sem dúvida, hoje o número de mulheres que ensina, estuda, faz teologia é maior do que no passado. E isso é motivo de celebração!
Ultimatoonline publica a partir de hoje o painel “Mulheres e Teologia” com a participação de várias convidadas, que, de alguma forma, estão envolvidas com a teologia. Preparamos perguntas específicas para cada uma delas, na tentativa de tratar deste tema de forma mais ampla.
Rute Salviano é a primeira a ser publicada. E é a única que teve liberdade de espaço para responder à pergunta a ela destinada já que, felizmente, não são tão poucas assim as mulheres que faziam teologia no passado.
De quebra, Rute também responde ao final do seu texto à pergunta: “A teologia feita por mulheres é diferente da feita pelos homens?”.
Vozes femininas na teologia ao longo da história
Por Rute Salviano Almeida
Desde a Igreja Primitiva, encontramos mulheres que conheciam o grego e o hebraico e apreciavam o estudo das Escrituras. Muitas foram estudiosas profundas da Bíblia. Citaremos duas que viveram no século 4: A primeira foi Marcela, uma nobre romana que ficou viúva aos 17 anos e pode ser considerada teóloga, pois, após a saída de Jerônimo de Roma, ela era a única, que respondia as dúvidas sobre as Sagradas Escrituras.
Marcela era bela, rica, de alta linhagem, muito culta e ninguém se atrevia a desconsiderá-la, pois quando as elites dão bom exemplo, levam outros para Deus. Ela tinha propriedades e muitos bens financeiros, e foi uma das primeiras pessoas a estabelecer uma comunidade monástica na cidade, transformando seu palácio em um local de estudos bíblicos (um seminário teológico de nossa época), que se tornou um centro de debate e estudo teológico.
Seus hóspedes eram influentes homens cristãos e professores, como Atanásio de Alexandria e Jerônimo, que foram considerados pais da Igreja. A Jerônimo, Marcela estimulava o estudo bíblico com perguntas polêmicas, sendo sua companheira neste aprendizado. Quando Jerônimo deixou Roma e foi para Belém – onde auxiliado por mulheres, entre elas algumas alunas de Marcela, traduziu a Bíblia para o latim, a chamada Vulgata Latina – Marcela continuou recebendo, aconselhando e respondendo as difíceis perguntas de monges e bispos. Pode-se afirmar que ela foi a sucessora de Jerônimo naquela cidade.
Imagem: Macrina, Catarina de Siena e Teresa d"Ávila
O historiador Justo Gonzalez declarou: “Devemos nos deter para fazer justiça a outro personagem não menos meritório se bem que frequentemente esquecido no meio de uma história que reconhece pouco a obra das mulheres. Trata-se de Macrina, a irmã de Basílio e de Gregório de Nissa”1.
Macrina nasceu na Capadócia, sul da Ásia, em uma família dedicada à santidade, e foi fundadora de um monastério feminino. Dois de seus irmãos: Basílio, bispo de Cesárea e Gregório, bispo de Nissa, juntamente com Gregório de Nazianzo, bispo de Capadócia, foram considerados os três grandes teólogos que definiram a doutrina da Trindade.
González defende que deveriam ser quatro os teólogos da Capadócia, incluindo Macrina, a irmã de Gregório e Basílio, que os ensinava, orientava e aconselhava: a Basílio admoestou por seu orgulho, devido à grande fama e respeito que alcançou; e a Gregório, advertiu sobre a ingratidão quando reclamou das perseguições, das crises da Igreja, e do exílio que sofria por causa da fé, pelas mãos do imperador Valente; porém também o consolou diante das perdas familiares, quando ela própria já estava à morte.
Eles conversaram sobre assuntos teológicos e filosóficos, sobre o destino da alma, sobre a redenção e outros temas da teologia, e, como que inspirada pelo Espírito Santo, as palavras de Macrina fluíam com facilidade.
No dia seguinte ao de sua morte, Gregório afirmou que não perdeu sua irmã, mas sua guia espiritual. Macrina nada deixou de material na terra, pois sua riqueza estava guardada no reino dos céus. E quem mais se entristeceu diante de sua morte foram as crianças andarilhas que acolhera em tempos de fome.
No período pré-reformador, (século 14), existiram mulheres muito sábias com dons de exortação que foram corajosas ao confrontarem papas e reis e lhes transmitirem o que o Senhor lhes dizia. Entre elas, citaremos Catarina de Siena, da Itália, que foi a 24ª filha do humilde tintureiro de roupas Giacomo di Benincasa e de Lapa Piacenti. Sua família era extremamente pobre, de forma que não teve chance de aprender a ler e escrever na infância.
Após uma séria doença (provavelmente peste negra), Catarina de Siena narrou que recebeu dons espirituais e viu os mistérios divinos. Ela vivia em profundo ascetismo, no qual mortificava o próprio corpo; mas após sua recuperação, assumiu uma vida pública de profetisa (Não se pode esconder a luz: Mt 5.13-17). Primeiro, cuidou das pessoas atingidas pela epidemia. Depois mudou-se para Roma, onde lutou com as armas das orações, exortações e cartas para acabar com o grande Cisma do Ocidente (período do papado em Avinhão, quando sete papas franceses detiveram o trono pontifício e governaram a igreja fora de Roma).
Os historiadores são unânimes em afirmar que a volta do papa Gregório XI para Roma foi fruto da intervenção de Catarina. Ela escreveu inúmeras cartas, das quais se conservam cerca de quatrocentas, algumas orações e visões, e o livro Diálogos em que relata as suas conversas íntimas com o Senhor. Graças aos ensinamentos apresentados nestes escritos, Catarina foi proclamada doutora da Igreja.
Sem particular instrução, aprendeu a escrever quando já era jovem, e em uma existência curta, Catarina teve uma vida cheia de frutos, como se quisesse chegar logo ao eterno tabernáculo de Deus.
Até hoje, a Igreja Católica reconheceu 36 doutores, entre os quais quatro mulheres: Teresa de Ávila, Catarina de Siena, Teresinha de Lisieux e, por último, a monja beneditina Hildegarda de Bingen. Esse reconhecimento lhes foi dado por seu notório saber teológico, portanto, podemos considerá-las teólogas.
Imagem: Hildegarda de Bingen, Mary Fletcher e Frances Willard
Deste grupo, Hildegarda de Bingen, alemã do século 12, foi a mais recente a ser considerada doutora pelo papa Bento XVI, em 2012; Teresa de Ávila, uma carmelita descalça espanhola, do século 16, foi declarada doutora pelo papa Paulo VI, em 1970; Catarina de Siena, dominicana italiana do século 14, foi proclamada doutora também pelo papa Paulo VI, em 1970. Teresa de Lisieux, carmelita francesa, a mais nova cronologicamente, pois viveu no século 19, foi declarada doutora pelo papa João Paulo II, em 1997, cem anos após sua morte. Sem dúvida, o reconhecimento do valor dessas mulheres teólogas demorou demais, e muitas ficaram de fora.
Na época da Reforma, (século 16), eram poucas as mulheres que sabiam ler, mas elas aceitaram com alegria a salvação pela fé. Uma delas foi Marie Dentière, uma francesa, seguidora de Calvino e ex-abadessa de um convento agostiniano. Ela declarou que Jesus a tirara de um inferno atroz e a levara para seu maravilhoso reino de luz.
A carta que escreveu à rainha Margarida de Navarra, também considerada teóloga, foi reconhecida como um tratado teológico de dezessete páginas, no qual faz severas críticas aos sacerdotes que forçaram a saída de Calvino e Farel da cidade de Genebra.
Ela afirmou o valor das mulheres rogando-lhes que jamais enterrassem o talento delas e defendendo seu acesso ao conhecimento bíblico, porque jamais havia lido na Bíblia sobre mulheres como falsas profetisas; e, com ousadia, ainda afirmava que não foi uma mulher que vendeu e traiu Jesus Cristo, mas sim um homem: Judas.
Também afirmava que não temos dois evangelhos, mas somente um para homens e mulheres, e que todos somos batizados em nome de Cristo, não de Paulo ou Apolo, do papa ou de Lutero.
Desde 2002, seu nome está inscrito no Muro dos Reformadores, em Genebra. O fato foi destacado em algumas páginas da Internet, como um reconhecimento de que que não somente homens cooperaram com a Reforma Protestante.
No século 18, época dos avivamentos, podemos destacar: Mary Fletcher que, quando jovem, fundou um orfanato com outras irmãs na fé, defendeu a pregação feminina e escreveu para John Wesley, argumentando biblicamente. Wesley lhe concedeu o privilégio da pregação, mediante “seu dom extraordinário”. Ela se casou aos 40 anos com John Fetcher “o anjo em corpo humano”, a quem Wesley queria como sucessor; e, após a morte dele, Mary o substituiu na paróquia de Medeley por 30 anos, pregando, aconselhando e visitando. Algo bastante inédito para a época, uma paróquia anglicana pastoreada por uma mulher por tanto tempo.
Quando foi com o esposo a Dublin, na época do avivamento, orou para que Deus a quebrasse em pedaços e a moldasse, pois sentia necessidade de ser preenchida com o fruto do Espírito Santo. E ela foi atendida. Em sua sucessão ao ministério do esposo, mesmo sentindo muito a sua falta, nunca se afastou do serviço ao Senhor. Sua casa era um alojamento para o povo de Deus que a visitava em busca de conselhos. Mary demonstrava muita sabedoria na exposição das Escrituras e era uma mulher de fé. Sempre oferecia uma visão clara e compreensiva da direção divina aos seus ouvintes. Algumas de suas mensagens foram notáveis pela originalidade. Se não fosse presenteada pelo dom de sabedoria do Altíssimo, não teria mantido sua influência e popularidade.
Outra que pode ser citada é Frances Willard, estadunidense do século 19, presidente da WCTU (União de Mulheres Cristãs pela Temperança), ela era eloquente, falava a grandes públicos, amava a Palavra de Deus e desejava a transformação da sociedade. Foi companheira do avivalista Dwight Moody, em Chicago, por algum tempo.
A teologia de homens e mulheres é diferente: homens escrevem grandes tratados teológicos, mulheres escrevem contos, cartas, poesias etc. Ambos, porém discursam e escrevem sobre as coisas profundas de Deus quando são por ele quebrantados e usados para sua honra e glória. E, dessa forma, inspiram outros a aprenderem também quem é Deus, e prosseguirem nesse conhecimento fundamental a todo cristão.
Nota:
1. Justo L. Gonzalez. A Era dos Gigantes, São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 126.
MULHERES | REVISTA ULTIMATO
Saiba mais:
» Mulheres, Edição 376 de Ultimato
» Vozes Femininas no Protestantismo Brasileiro, Rute Salviano
» A Missão da Mulher, Paul Tournier
» A contribuição única da mulher
Ultimatoonline publica a partir de hoje o painel “Mulheres e Teologia” com a participação de várias convidadas, que, de alguma forma, estão envolvidas com a teologia. Preparamos perguntas específicas para cada uma delas, na tentativa de tratar deste tema de forma mais ampla.
Rute Salviano é a primeira a ser publicada. E é a única que teve liberdade de espaço para responder à pergunta a ela destinada já que, felizmente, não são tão poucas assim as mulheres que faziam teologia no passado.
De quebra, Rute também responde ao final do seu texto à pergunta: “A teologia feita por mulheres é diferente da feita pelos homens?”.
Vozes femininas na teologia ao longo da história
Por Rute Salviano Almeida
Desde a Igreja Primitiva, encontramos mulheres que conheciam o grego e o hebraico e apreciavam o estudo das Escrituras. Muitas foram estudiosas profundas da Bíblia. Citaremos duas que viveram no século 4: A primeira foi Marcela, uma nobre romana que ficou viúva aos 17 anos e pode ser considerada teóloga, pois, após a saída de Jerônimo de Roma, ela era a única, que respondia as dúvidas sobre as Sagradas Escrituras.
Marcela era bela, rica, de alta linhagem, muito culta e ninguém se atrevia a desconsiderá-la, pois quando as elites dão bom exemplo, levam outros para Deus. Ela tinha propriedades e muitos bens financeiros, e foi uma das primeiras pessoas a estabelecer uma comunidade monástica na cidade, transformando seu palácio em um local de estudos bíblicos (um seminário teológico de nossa época), que se tornou um centro de debate e estudo teológico.
Seus hóspedes eram influentes homens cristãos e professores, como Atanásio de Alexandria e Jerônimo, que foram considerados pais da Igreja. A Jerônimo, Marcela estimulava o estudo bíblico com perguntas polêmicas, sendo sua companheira neste aprendizado. Quando Jerônimo deixou Roma e foi para Belém – onde auxiliado por mulheres, entre elas algumas alunas de Marcela, traduziu a Bíblia para o latim, a chamada Vulgata Latina – Marcela continuou recebendo, aconselhando e respondendo as difíceis perguntas de monges e bispos. Pode-se afirmar que ela foi a sucessora de Jerônimo naquela cidade.
Imagem: Macrina, Catarina de Siena e Teresa d"Ávila
O historiador Justo Gonzalez declarou: “Devemos nos deter para fazer justiça a outro personagem não menos meritório se bem que frequentemente esquecido no meio de uma história que reconhece pouco a obra das mulheres. Trata-se de Macrina, a irmã de Basílio e de Gregório de Nissa”1.
Macrina nasceu na Capadócia, sul da Ásia, em uma família dedicada à santidade, e foi fundadora de um monastério feminino. Dois de seus irmãos: Basílio, bispo de Cesárea e Gregório, bispo de Nissa, juntamente com Gregório de Nazianzo, bispo de Capadócia, foram considerados os três grandes teólogos que definiram a doutrina da Trindade.
González defende que deveriam ser quatro os teólogos da Capadócia, incluindo Macrina, a irmã de Gregório e Basílio, que os ensinava, orientava e aconselhava: a Basílio admoestou por seu orgulho, devido à grande fama e respeito que alcançou; e a Gregório, advertiu sobre a ingratidão quando reclamou das perseguições, das crises da Igreja, e do exílio que sofria por causa da fé, pelas mãos do imperador Valente; porém também o consolou diante das perdas familiares, quando ela própria já estava à morte.
Eles conversaram sobre assuntos teológicos e filosóficos, sobre o destino da alma, sobre a redenção e outros temas da teologia, e, como que inspirada pelo Espírito Santo, as palavras de Macrina fluíam com facilidade.
No dia seguinte ao de sua morte, Gregório afirmou que não perdeu sua irmã, mas sua guia espiritual. Macrina nada deixou de material na terra, pois sua riqueza estava guardada no reino dos céus. E quem mais se entristeceu diante de sua morte foram as crianças andarilhas que acolhera em tempos de fome.
No período pré-reformador, (século 14), existiram mulheres muito sábias com dons de exortação que foram corajosas ao confrontarem papas e reis e lhes transmitirem o que o Senhor lhes dizia. Entre elas, citaremos Catarina de Siena, da Itália, que foi a 24ª filha do humilde tintureiro de roupas Giacomo di Benincasa e de Lapa Piacenti. Sua família era extremamente pobre, de forma que não teve chance de aprender a ler e escrever na infância.
Após uma séria doença (provavelmente peste negra), Catarina de Siena narrou que recebeu dons espirituais e viu os mistérios divinos. Ela vivia em profundo ascetismo, no qual mortificava o próprio corpo; mas após sua recuperação, assumiu uma vida pública de profetisa (Não se pode esconder a luz: Mt 5.13-17). Primeiro, cuidou das pessoas atingidas pela epidemia. Depois mudou-se para Roma, onde lutou com as armas das orações, exortações e cartas para acabar com o grande Cisma do Ocidente (período do papado em Avinhão, quando sete papas franceses detiveram o trono pontifício e governaram a igreja fora de Roma).
Os historiadores são unânimes em afirmar que a volta do papa Gregório XI para Roma foi fruto da intervenção de Catarina. Ela escreveu inúmeras cartas, das quais se conservam cerca de quatrocentas, algumas orações e visões, e o livro Diálogos em que relata as suas conversas íntimas com o Senhor. Graças aos ensinamentos apresentados nestes escritos, Catarina foi proclamada doutora da Igreja.
Sem particular instrução, aprendeu a escrever quando já era jovem, e em uma existência curta, Catarina teve uma vida cheia de frutos, como se quisesse chegar logo ao eterno tabernáculo de Deus.
Até hoje, a Igreja Católica reconheceu 36 doutores, entre os quais quatro mulheres: Teresa de Ávila, Catarina de Siena, Teresinha de Lisieux e, por último, a monja beneditina Hildegarda de Bingen. Esse reconhecimento lhes foi dado por seu notório saber teológico, portanto, podemos considerá-las teólogas.
Imagem: Hildegarda de Bingen, Mary Fletcher e Frances Willard
Deste grupo, Hildegarda de Bingen, alemã do século 12, foi a mais recente a ser considerada doutora pelo papa Bento XVI, em 2012; Teresa de Ávila, uma carmelita descalça espanhola, do século 16, foi declarada doutora pelo papa Paulo VI, em 1970; Catarina de Siena, dominicana italiana do século 14, foi proclamada doutora também pelo papa Paulo VI, em 1970. Teresa de Lisieux, carmelita francesa, a mais nova cronologicamente, pois viveu no século 19, foi declarada doutora pelo papa João Paulo II, em 1997, cem anos após sua morte. Sem dúvida, o reconhecimento do valor dessas mulheres teólogas demorou demais, e muitas ficaram de fora.
Na época da Reforma, (século 16), eram poucas as mulheres que sabiam ler, mas elas aceitaram com alegria a salvação pela fé. Uma delas foi Marie Dentière, uma francesa, seguidora de Calvino e ex-abadessa de um convento agostiniano. Ela declarou que Jesus a tirara de um inferno atroz e a levara para seu maravilhoso reino de luz.
A carta que escreveu à rainha Margarida de Navarra, também considerada teóloga, foi reconhecida como um tratado teológico de dezessete páginas, no qual faz severas críticas aos sacerdotes que forçaram a saída de Calvino e Farel da cidade de Genebra.
Ela afirmou o valor das mulheres rogando-lhes que jamais enterrassem o talento delas e defendendo seu acesso ao conhecimento bíblico, porque jamais havia lido na Bíblia sobre mulheres como falsas profetisas; e, com ousadia, ainda afirmava que não foi uma mulher que vendeu e traiu Jesus Cristo, mas sim um homem: Judas.
Também afirmava que não temos dois evangelhos, mas somente um para homens e mulheres, e que todos somos batizados em nome de Cristo, não de Paulo ou Apolo, do papa ou de Lutero.
Desde 2002, seu nome está inscrito no Muro dos Reformadores, em Genebra. O fato foi destacado em algumas páginas da Internet, como um reconhecimento de que que não somente homens cooperaram com a Reforma Protestante.
No século 18, época dos avivamentos, podemos destacar: Mary Fletcher que, quando jovem, fundou um orfanato com outras irmãs na fé, defendeu a pregação feminina e escreveu para John Wesley, argumentando biblicamente. Wesley lhe concedeu o privilégio da pregação, mediante “seu dom extraordinário”. Ela se casou aos 40 anos com John Fetcher “o anjo em corpo humano”, a quem Wesley queria como sucessor; e, após a morte dele, Mary o substituiu na paróquia de Medeley por 30 anos, pregando, aconselhando e visitando. Algo bastante inédito para a época, uma paróquia anglicana pastoreada por uma mulher por tanto tempo.
Quando foi com o esposo a Dublin, na época do avivamento, orou para que Deus a quebrasse em pedaços e a moldasse, pois sentia necessidade de ser preenchida com o fruto do Espírito Santo. E ela foi atendida. Em sua sucessão ao ministério do esposo, mesmo sentindo muito a sua falta, nunca se afastou do serviço ao Senhor. Sua casa era um alojamento para o povo de Deus que a visitava em busca de conselhos. Mary demonstrava muita sabedoria na exposição das Escrituras e era uma mulher de fé. Sempre oferecia uma visão clara e compreensiva da direção divina aos seus ouvintes. Algumas de suas mensagens foram notáveis pela originalidade. Se não fosse presenteada pelo dom de sabedoria do Altíssimo, não teria mantido sua influência e popularidade.
Outra que pode ser citada é Frances Willard, estadunidense do século 19, presidente da WCTU (União de Mulheres Cristãs pela Temperança), ela era eloquente, falava a grandes públicos, amava a Palavra de Deus e desejava a transformação da sociedade. Foi companheira do avivalista Dwight Moody, em Chicago, por algum tempo.
A teologia de homens e mulheres é diferente: homens escrevem grandes tratados teológicos, mulheres escrevem contos, cartas, poesias etc. Ambos, porém discursam e escrevem sobre as coisas profundas de Deus quando são por ele quebrantados e usados para sua honra e glória. E, dessa forma, inspiram outros a aprenderem também quem é Deus, e prosseguirem nesse conhecimento fundamental a todo cristão.
Nota:
1. Justo L. Gonzalez. A Era dos Gigantes, São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 126.
- Rute Salviano Almeida é bacharel e mestre em teologia. Seu mestrado foi com concentração em história eclesiástica pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo. É pós-graduada em história do cristianismo pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Foi professora da Faculdade Teológica Batista de Campinas por 20 anos, onde lecionou várias matérias, entre elas algumas teológicas. A teologia sempre a interessou, pois aprecia estudar tudo sobre Deus e o que está relacionado a ele; principalmente, sobre o céu, a imortalidade, o estado de nossos corpos pós-morte, o destino de nossas almas etc. Atualmente, não leciona mais, mas segue fazendo palestra sobre a história das mulheres no cristianismo, tema sobre o qual já escreveu dez livros e gravou um curso com 21 aulas, pela Escola Convergência de Teologia e Vida Cristã. É autora pelas editoras Ultimato, Godbooks e Thomas Nelson Brasil. No Instagram, seu perfil é @rutesalvianoalmeida e ela também tem um site com mais informações: rutesalviano.com.br
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Nomear é arte criativa que Deus compartilhou com a humanidade. Na capa desta edição, nomes bíblicos e outros nomes mais e menos comuns, em diferentes tipografias, representam a afirmação de que cada mulher é única e o esforço para tirá-las do anonimato.
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