Opinião
- 02 de setembro de 2021
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Missões: um legado feminino
Por Lidice Meyer Pinto Ribeiro
Quando pensamos em missionários, frequentemente nos veem à mente figuras como Livingstone ou Simonton, mas é interessante lembrar que a primeira vocação missionária na Bíblia foi atendida por uma mulher anônima: a samaritana. No livro dos Atos dos Apóstolos vemos que estes sempre tiveram a ajuda de mulheres na evangelização e na manutenção das igrejas formadas. Esta é ainda a mesma realidade no campo missionário cristão de hoje. As mulheres, solteiras ou casadas, representam a grande maioria deste time em campo. Mas a aceitação das mulheres no campo missionário só ocorreu após o século 19, embora tenha sido também delas a maior parte das iniciativas na criação de instituições de apoio ao trabalho missionário desde o século 18.
Até então, as mulheres no campo missionário eram vistas como apenas esposas dos missionários sem nenhuma atuação no campo evangelístico. Muitas destas faleciam precocemente e por isso eram tidas como frágeis e mais suscetíveis às doenças causadas pela falta de saneamento. A grande responsável pela mudança desta visão foi Ann Hasseltine Judson (1789-1826). Numa época em que não era dado à mulher transpor os limites da esfera doméstica, Ann desenvolveu um ministério próprio paralelo ao de seu marido, o missionário Adoniram Judson. Ela mostrou que não era uma mera esposa de missionário e sim uma missionária e esposa. Em seu diário registrou: “Sou uma criatura de Deus, e Ele tem o direito indiscutível de fazer comigo como parece bem aos seus olhos. Alegro-me por estar em suas mãos – por Ele estar presente em todos os lugares e poder me proteger em um lugar ou em outro... quer eu passe meus dias na Índia ou na América, desejo passá-los a serviço de Deus e estar preparada para passar a eternidade em sua presença”.
Ann trabalhou com o marido na Índia e na Birmânia (atual Mianmar). Escreveu livros sobre o trabalho missionário e sobre os aspectos culturais da Birmânia. Foi autora de um catecismo em birmanês além de traduzir os livros de Daniel e Jonas para esta mesma língua e o Evangelho de Mateus para o tailandês. Seu esposo a encarregou especialmente da evangelização das mulheres, algo impensável na época em seu país de origem. Ann também criou e manteve uma escola e manifestou-se ativamente contra a prisão do marido na guerra Anglo-Birmanesa, protestando à porta da prisão por meses. Faleceu precocemente de varíola aos 37 anos, mas seus escritos despertaram em muitos o interesse por missões.
Pouco tempo depois as missionárias solteiras eram não só aceitas como também desejáveis às juntas de missões pela sua facilidade no trato com mulheres e crianças e sua atuação no ensino e na área de saúde. Em 1909 havia 4.710 mulheres solteiras no campo missionários e desde então este número só cresceu. Entre casadas e solteiras, as mulheres permanecem sendo a principal mão de obra de Deus para a evangelização, seja no mundo urbano ou rural. O crescimento do reino de Deus desde os primórdios do cristianismo deve muito à sua atuação e dedicação em meio às dificuldades físicas, sociais e econômicas. Se seus nomes são desconhecidos de muitos, como o da samaritana, eles estão com certeza escritos com tinta indelével no Livro da Vida.
>> Conheça o livros Vozes Femininas nos Avivamentos e Vozes Femininas no Início do Cristianismo, de Rute Salviano Almeida.
Leia mais:
» O legado desconhecido das Reformadoras do século 16
» O legado feminino na origem do presbiterianismo no Brasil
Quando pensamos em missionários, frequentemente nos veem à mente figuras como Livingstone ou Simonton, mas é interessante lembrar que a primeira vocação missionária na Bíblia foi atendida por uma mulher anônima: a samaritana. No livro dos Atos dos Apóstolos vemos que estes sempre tiveram a ajuda de mulheres na evangelização e na manutenção das igrejas formadas. Esta é ainda a mesma realidade no campo missionário cristão de hoje. As mulheres, solteiras ou casadas, representam a grande maioria deste time em campo. Mas a aceitação das mulheres no campo missionário só ocorreu após o século 19, embora tenha sido também delas a maior parte das iniciativas na criação de instituições de apoio ao trabalho missionário desde o século 18.
Até então, as mulheres no campo missionário eram vistas como apenas esposas dos missionários sem nenhuma atuação no campo evangelístico. Muitas destas faleciam precocemente e por isso eram tidas como frágeis e mais suscetíveis às doenças causadas pela falta de saneamento. A grande responsável pela mudança desta visão foi Ann Hasseltine Judson (1789-1826). Numa época em que não era dado à mulher transpor os limites da esfera doméstica, Ann desenvolveu um ministério próprio paralelo ao de seu marido, o missionário Adoniram Judson. Ela mostrou que não era uma mera esposa de missionário e sim uma missionária e esposa. Em seu diário registrou: “Sou uma criatura de Deus, e Ele tem o direito indiscutível de fazer comigo como parece bem aos seus olhos. Alegro-me por estar em suas mãos – por Ele estar presente em todos os lugares e poder me proteger em um lugar ou em outro... quer eu passe meus dias na Índia ou na América, desejo passá-los a serviço de Deus e estar preparada para passar a eternidade em sua presença”.
Ann trabalhou com o marido na Índia e na Birmânia (atual Mianmar). Escreveu livros sobre o trabalho missionário e sobre os aspectos culturais da Birmânia. Foi autora de um catecismo em birmanês além de traduzir os livros de Daniel e Jonas para esta mesma língua e o Evangelho de Mateus para o tailandês. Seu esposo a encarregou especialmente da evangelização das mulheres, algo impensável na época em seu país de origem. Ann também criou e manteve uma escola e manifestou-se ativamente contra a prisão do marido na guerra Anglo-Birmanesa, protestando à porta da prisão por meses. Faleceu precocemente de varíola aos 37 anos, mas seus escritos despertaram em muitos o interesse por missões.
Pouco tempo depois as missionárias solteiras eram não só aceitas como também desejáveis às juntas de missões pela sua facilidade no trato com mulheres e crianças e sua atuação no ensino e na área de saúde. Em 1909 havia 4.710 mulheres solteiras no campo missionários e desde então este número só cresceu. Entre casadas e solteiras, as mulheres permanecem sendo a principal mão de obra de Deus para a evangelização, seja no mundo urbano ou rural. O crescimento do reino de Deus desde os primórdios do cristianismo deve muito à sua atuação e dedicação em meio às dificuldades físicas, sociais e econômicas. Se seus nomes são desconhecidos de muitos, como o da samaritana, eles estão com certeza escritos com tinta indelével no Livro da Vida.
>> Conheça o livros Vozes Femininas nos Avivamentos e Vozes Femininas no Início do Cristianismo, de Rute Salviano Almeida.
Leia mais:
» O legado desconhecido das Reformadoras do século 16
» O legado feminino na origem do presbiterianismo no Brasil
Lidice Meyer P. Ribeiro é doutora em Antropologia e professora na Universidade Lusófona, Portugal.
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