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- 10 de julho de 2019
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Minha confissão pública de fé foi feita num retiro de jovens católicos
*Versão ampliada do artigo "Minha confissão pública de fé foi feita num retiro de jovens católicos", publicado na edição 378 da revista Ultimato.
Por Betão Ribeiro
Nasci numa família católica. Caçula de cinco irmãos, ainda menor de idade comecei a tomar bebidas alcoólicas. Um caminho quase “natural”, já que meu pai bebia, meus irmãos também. Isso levava a família a uma rotina de desentendimentos e brigas, acentuada pela bebida.
Nasci numa família católica. Caçula de cinco irmãos, ainda menor de idade comecei a tomar bebidas alcoólicas. Um caminho quase “natural”, já que meu pai bebia, meus irmãos também. Isso levava a família a uma rotina de desentendimentos e brigas, acentuada pela bebida.
Por causa dos intermináveis desentendimentos dentro de casa, eu sentia muita tristeza e revolta. Assim, fui me isolando da família e, apesar de ser bom aluno e com planos de conseguir uma formação superior, logo estava fora da escola, pedindo carona pelas estradas, viajando sem destino e sem dinheiro, para desespero de minha mãe. Para mim, qualquer lugar era bom, desde que fosse longe de casa.
A vida ia seguindo assim, até que, por causa de uma namorada, fui parar num grupo de jovens, na igreja católica: o JUDÁ – Jovens Unidos em Deus, com Amor. Esse grupo era parte da Paróquia Nossa Senhora d’Abadia, em Anápolis, GO.
Sentia-me surpreso pela boa acolhida daquele grupo, cujas pessoas queriam saber minha opinião sobre assuntos e mostravam-se felizes ao me ver. Ao longo da vida, desenvolvi muitos complexos e baixa autoestima, talvez, por isso, ao perceber um interesse genuíno por minha pessoa, tenha sentido vontade de permanecer ali.
Um dos jovens líderes do grupo era o Edival – de saudosa memória. Ele havia ganhado uma Bíblia e a estava estudando. Isso influenciou diversos de nós a comprarmos Bíblias – edição Ave Maria –, a começar a ler e a estuda-la. Lembro-me de virarmos noites inteiras, às sextas-feiras e aos sábados, em meu quarto, estudando a Bíblia, tomando café e fumando. Hoje, isso soa muito estranho, mas, naquela época, fumar era algo normal. Não se sabia ainda dos malefícios do tabagismo.
A devoção ao estudo da Palavra de Deus era grande. Carregávamos sempre conosco anotações de versículos, procurando fixá-los na mente e no coração, de modo que pudessem ser facilmente lembrados e citados.
O estudo da Bíblia logo nos levou a descobrir que muitos dos ensinamentos, práticas e ritos católicos não se coadunavam com a orientação bíblica, o que nos motivou a adotarmos a Bíblia como única regra de fé e prática.
Guardo no coração o grande dia em que, num retiro do grupo de jovens, por volta do ano de 1985, sob a sombra de um frondoso pé de manga, dezenas de nós – um a um – fomos à frente e confessamos publicamente que Jesus era o nosso único e suficiente salvador.
A felicidade de conhecer a verdade libertadora era tal que começamos a compartilhar as boas novas da salvação e declarar que não precisávamos da “intermediação” de estátuas inertes, com a representação de “santos” porque, em nome de Jesus, poderíamos nos relacionar diretamente com o Pai, um Deus vivo e presente em nossas vidas. Isso trouxe muita perseguição por parte da liderança da nossa paróquia, que era dirigida pela Ordem dos Marianos.
Nesse período, passamos a usar um antigo prédio de um seminário desativado da paróquia. Ali nos encontrávamos aos sábados à noite, para orar; aos domingos de manhã, para estudar a Palavra; e à noite, após a missa, nos reuníamos para cantar e expor as Escrituras Sagradas.
Foram anos de intenso crescimento. Usávamos as tardes de sábado e domingo para evangelização de casa em casa. Não raro, evangelizávamos bairros inteiros num fim de semana. Durante os dias úteis, à noite, abrimos dezenas de pontos de pregação em Anápolis. Também desenvolvemos outros grupos em paróquias de cidades vizinhas.
À medida que o grupo crescia, aumentava a pressão por parte dos padres, do bispo e do monsenhor – chefe da ordem que dirigia a paróquia – para que, no entender deles, abandonássemos nossos “maus hábitos”.
Essa pressão era muito grande, pois éramos um grupo independente. Muita gente achava, equivocadamente, que estávamos ligados à Renovação Carismática Católica, que naquela época começava a se tornar conhecida na nossa região, mas, de fato, não estávamos ligados a nenhuma vertente.
Nas reuniões com essas autoridades eclesiásticas, nos defendíamos muito bem, pois já éramos bastante versados na Palavra de Deus. Após uma primeira reunião onde refutamos todos os argumentos com citações bíblicas, eles passaram a nos confrontar com resoluções do Concílio Vaticano II, que são constituições, decretos e declarações que, após o concílio, passaram a ter força de regulamentação no seio da Igreja Católica. Assim, passamos também a estudar esse documento e, nos embates seguintes, estávamos ainda mais bem preparados. Enfim, virou um ciclo em que, a cada reunião, procuravam confrontar-nos com algum assunto diverso – tradição, sagrada tradição etc.
A essa altura, apenas no grupo principal, já contávamos com centenas de jovens e, se por um lado não aprovavam nossas práticas, por outro havia o testemunho de dezenas de famílias cujos filhos haviam mudado de comportamento passando de rebeldes a obedientes, libertos do pecado, do álcool ou outras drogas.
Na tentativa de que alguém conseguisse conter o movimento, o padre da paróquia foi trocado mais de uma vez. Enquanto isso, dedicávamos muitas manhãs de sábado “garimpando” LPs e fitas K7 de grupos como VPC, Elo, Logos, Semente, e tantos outros na livraria evangélica – não me lembro o nome da empresa, mas o proprietário era o sr. Augusto. Na época, envolvi-me muito com a música e cuidava dessa área não somente no grupo de jovens, mas também liderando a turma que cantava numa das missas. Quase todas as canções que tocávamos eram desses grupos. Também compramos muitos livros, cuja leitura era compartilhada por todo o grupo de jovens. Nessa época já não conseguíamos absorver mais nada que a livraria católica tivesse para oferecer.
Ao cabo de alguns anos, o inevitável aconteceu: o grupo todo foi expulso da igreja. Lembro-me que as palavras ditas foram: “Vocês não serão excomungados, posto que, caso venham a se arrepender e voltar ao "bom caminho", poderão ser readmitidos na comunhão da Igreja Católica”.
Alguns deste grupo organizaram uma grande igreja evangélica, que manteve o nome de JUDÁ. Outras pessoas de grupos menores ou de outras cidades foram acolhidas por outras denominações evangélicas.
Com a expulsão da igreja católica, e ansiando por dedicar-me mais à área da música, deixei o Judá e fui para a Primeira Igreja Batista em Anápolis, a fim de fazer parte da Banda MEL (Ministério de Evangelização e Louvor). Posteriormente servi também no grupo MILAD – Água Viva e, mais tarde, fundamos o Companhia de Jesus.
Há onze anos, estou à frente do Prosa & Canto Festival, evento onde promovemos a cultura como uma ferramenta de aproximação com o não cristão. Esse projeto cresceu e, atualmente, também produz álbuns (CDs, DVDs, plataformas digitais) de artistas cuja obra reflete a cosmovisão cristã.
Há muitos anos estou na Igreja Presbiteriana e, atualmente, sirvo como presbítero na igreja do Setor Bueno, em Goiânia. Assim sigo, desde os dias da minha conversão, “fazendo tendas” e procurando cumprir o “ide”, a nossa maior missão.
• Betão Ribeiro é presbítero, bacharel em sistemas de informação, empresário e produtor cultural. É casado com Marcia, com quem tem três filhas: Erika, Giulia e Luiza.
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Ricardo Barbosa