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- 21 de novembro de 2012
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Mar aberto
Você já pode ler as mais de 60 páginas da revista Ultimato 339 na rapidez e no conforto do seu computador. A edição atual “Somos todos inconstantes, mas Deus não desiste de nós” está disponível no portal Ultimatoonline somente aos assinantes.
Mas os não assinantes também ganham com isso. Abaixo você lê o artigo “Salomão e ‘Salomoa’” da seção “Mais do que notícias”, escrito pelo pastor Elben César. A revista Ultimato 338 (antes restrita) agora pode ser lida na íntegra por todos.
Bom proveito!
Salomão e “Salomoa”
“Salomoa” não é a mulher de Salomão. Porém, ela pensa como ele. Depois de muitos anos de vivência e de consumismo, ambos chegaram à desoladora conclusão de que a vida é um eterno correr atrás do vento. A confissão de Salomão está no penúltimo livro poético do Antigo Testamento, chamado Eclesiastes. A confissão de “Salomoa” está no artigo “Se eu pudesse”, publicado na “Folha de São Paulo” do dia 1° de agosto de 2012 e assinado pela jornalista e escritora Danuza Leão.
Esta é a confissão de Salomão: “A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e, afinal, que vantagem leva em tudo isso?”; “Quando pensei em todas as coisas que havia feito e no trabalho que tinha tido para conseguir fazê-las, compreendi que tudo aquilo era ilusão, não tinha nenhum proveito”; “Tudo o que eu tinha e que havia conseguido com o meu trabalho não valia nada para mim”; “Nós trabalhamos e nos preocupamos a vida toda, e o que é que ganhamos com isso?”; “É melhor ter pouco numa das mãos, com paz de espírito, do que estar sempre com as duas mãos cheias de trabalho, tentando pegar o vento”; “É muito melhor ficar satisfeito com o que se tem do que estar sempre querendo mais” (Ec 1.3; 2.11, 18, 22; 4.6; 6.9).
Esta é a confissão de “Salomoa”: “Se eu pudesse, me desfaria de muitas coisas, da minha casa e de quase todas as roupas. Afinal, quem precisa de mais do que dois pares de sapatos, dois “jeans”, quatro camisetas e dois suéteres, sobretudo quando anda pensando em mudar de vida? [...]. Se eu pudesse, rasgava os talões de cheques, cortava os cartões de crédito com uma tesoura, fazia uma linda fogueira com os casacos de pele e ia saber como é que vivem os que não têm, nunca tiveram e nunca vão ter nada disso. Eu aproveitaria o embalo para cortar os fios dos telefones, jogar o celular na tela da televisão e o computador pela janela [...]. E jogava na lata de lixo meus lençóis, meus travesseiros de pluma, meu cobertor e engolia minhas pestanas postiças, só para aprender que a vida não é só isso. Se eu pudesse, esquecia o meu nome, o meu passado e a minha história e ia ser ninguém. Ninguém”.
Entre Salomão e “Salomoa” -- quase três milênios --, muitos homens e muitas mulheres morreram correndo a vida inteira atrás do vento. Um bando de infelizes que errou o caminho da realidade e da realização. Foram iludidos pelo apreço demasiado pelo ter e pelo desapreço exagerado pelo ser. Caíram na cilada do consumismo, não sabendo ou esquecendo as palavras de Jesus: “A verdadeira vida de uma pessoa não depende das coisas que ela tem, mesmo que sejam muitas” (Lc 12.15).
Hoje a situação é mais difícil do que à época de Salomão, por causa do círculo vicioso do capitalismo (para haver lucro é preciso vender, para vender é preciso gastar e para gastar é preciso trabalhar e trabalhar...) e da máquina da propaganda, que nos incentiva a adquirir o que já temos em quantidade suficiente.1 Há um perfeito entrosamento entre o nosso desejo descontrolado de posse e a abundância de ofertas. Caímos todos juntos na ilusão do ter, sem o conhecimento ou a certeza de que isso nada mais é do que correr atrás do vento. Muitas vezes a religião, em vez de barrar, reforça a ilusão, pois ela também entra no mercado e ainda prega a atraente teologia da prosperidade.
Tudo isso acontece mesmo quando somos advertidos, não só pelo evangelho, mas também por estudiosos do assunto, como um dos pensadores mais influentes de nosso tempo, o polonês Zygmunt Bauman. No livro “A Arte da Vida” (Zahar, 2009), o professor emérito das universidades de Varsóvia e de Leeds afirma que, para a massa, “atingir a felicidade significa a aquisição de coisas que outras pessoas não têm chance nem perspectivas de adquirir, [pois] a felicidade exige que se pareça estar à frente dos competidores”.
O sonho de quem já é dono de uma boa casa ou apartamento é comprar o apartamento que tem “seis vagas por unidade, sendo uma delas no próprio andar do apartamento, acessada por elevador de veículos”.
Será que alguém dará importância às confissões de Salomão e “Salomoa” (Danuza Leão)?
Nota
1. 360 milhões de brasileiros passam anualmente pelos 430 templos de consumismo (“shoppings”) no país, movimentando 108 bilhões de reais.
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