Opinião
- 11 de agosto de 2023
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Luz do mundo, não holofotes
Por William Lane
Jesus diz aos seus seguidores no Sermão do Monte que eles são sal da terra e luz do mundo, e conclui, “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem o Pai que está nos céus” (Mt 5.16). Porém, no mesmo Sermão, Jesus adverte, “Tenham o cuidado de não praticar as suas obras de justiça diante dos outros para serem vistos por eles” (Mt 6.1). Na primeira instrução, as “boas obras” visam glorificar o Pai. Na segunda, as “obras de justiça” ou, simplesmente, “justiça” buscam o reconhecimento humano.
É evidente que a primeira instrução encoraja uma fé que se manifeste publicamente e que seja um sinal da própria glória de Deus, enquanto que a segunda instrução visa combater uma religiosidade de aparência e visibilidade com o propósito de receber elogios e recompensas das pessoas. É a diferença entre uma fé, espiritualidade e devoção que engrandecem o Pai de uma que engrandece a pessoa.
Sempre me lembro dessas passagens quando vejo postagens nas redes sociais de boas ações das pessoas. Percebo que há uma linha muito tênue entre as “boas obras” que glorificam o Pai e as “obras de justiça” que enaltecem mais as pessoas “para serem vistas (curtidas)” e obterem recompensa (seguidores).
As redes sociais são meios incríveis de comunicação e propagação de boas práticas. Mas são, também, ferramentas poderosas para os que gostam de ficar nas “ruas” e “esquinas” (Mt 6.2, 5) exibindo a sua espiritualidade e devoção. Tenho minhas dúvidas se quando alguém compartilha uma foto de uma visita a uma ovelha acamada no hospital ele está realmente demonstrando o cuidado pastoral e incentivando a empatia com os que sofrem, ao exemplo de Jesus, ou se está demonstrando suas obras a fim de ser aplaudido.
Não penso que por causa disso não possamos usar as redes sociais. Acredito que a luz também precisa brilhar nesse ambiente, mas não com os holofotes sobre nós, e, sim, sobre Cristo e o Pai. É importante que as pessoas enxerguem Jesus em nossas postagens e glorifiquem ao Pai. Mas é muito difícil cumprir isso se quem está no primeiro plano somos nós mesmos, e quando nossas obras ofuscam o Pai. Podemos expor menos a nossa imagem e dar mais testemunho do que Cristo faz nas pessoas; menos engrandecimento de pessoas e mais o engrandecimento de Cristo nas pessoas.
É interessante que entre a primeira instrução (Mt 5.16) e a segunda (6.1), Jesus também disse aos discípulos que a “justiça” deles deve ser “muito superior à dos fariseus e mestres da lei” (Mt 5.20). Embora aqui Jesus se refira ao modo de aplicar a Lei mosaica, a instrução se aplica também às “obras de justiça”. Jesus aprofunda a dimensão da justiça mostrando que transgredir um mandamento não ocorre no ato em si, mas no pensamento, no desejo que está dentro do coração. Com isso Jesus não estava instruindo os discípulos a serem mais rígidos e legalista que os fariseus, mas que a transgressão está nas intenções interiores e não unicamente nas ações exteriores. De modo semelhante, quando fala sobre dar esmolas, a oração e o jejum (Mt 6.1-18), Jesus ensina que a essência da devoção e espiritualidade é interior, “em secreto” (Mt 6.4, 6, 18).
Como equilibrar o exercício de uma prática espiritual às portas fechadas (6.6) com a instrução da candeia colocada em lugar visível (5.15)? Quando colocamos os holofotes em nossas ações, isso não passa de marketing e exibição de uma espiritualidade de vitrine. Quando focamos no que está no interior, a luz resplandece para que Cristo brilhe em nós.
Saiba mais:
» Lendo o Sermão do Monte com John Stott, John Stott
» Simplesmente Cristão - Por que o cristianismo faz sentido, N. T. Wright
» Ontem Esponja, Amanhã Peneira - O direito de ligar e desligar na sociedade da informação, Marcos Botelho e Victor Fontana
Jesus diz aos seus seguidores no Sermão do Monte que eles são sal da terra e luz do mundo, e conclui, “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem o Pai que está nos céus” (Mt 5.16). Porém, no mesmo Sermão, Jesus adverte, “Tenham o cuidado de não praticar as suas obras de justiça diante dos outros para serem vistos por eles” (Mt 6.1). Na primeira instrução, as “boas obras” visam glorificar o Pai. Na segunda, as “obras de justiça” ou, simplesmente, “justiça” buscam o reconhecimento humano.
É evidente que a primeira instrução encoraja uma fé que se manifeste publicamente e que seja um sinal da própria glória de Deus, enquanto que a segunda instrução visa combater uma religiosidade de aparência e visibilidade com o propósito de receber elogios e recompensas das pessoas. É a diferença entre uma fé, espiritualidade e devoção que engrandecem o Pai de uma que engrandece a pessoa.
Sempre me lembro dessas passagens quando vejo postagens nas redes sociais de boas ações das pessoas. Percebo que há uma linha muito tênue entre as “boas obras” que glorificam o Pai e as “obras de justiça” que enaltecem mais as pessoas “para serem vistas (curtidas)” e obterem recompensa (seguidores).
As redes sociais são meios incríveis de comunicação e propagação de boas práticas. Mas são, também, ferramentas poderosas para os que gostam de ficar nas “ruas” e “esquinas” (Mt 6.2, 5) exibindo a sua espiritualidade e devoção. Tenho minhas dúvidas se quando alguém compartilha uma foto de uma visita a uma ovelha acamada no hospital ele está realmente demonstrando o cuidado pastoral e incentivando a empatia com os que sofrem, ao exemplo de Jesus, ou se está demonstrando suas obras a fim de ser aplaudido.
Não penso que por causa disso não possamos usar as redes sociais. Acredito que a luz também precisa brilhar nesse ambiente, mas não com os holofotes sobre nós, e, sim, sobre Cristo e o Pai. É importante que as pessoas enxerguem Jesus em nossas postagens e glorifiquem ao Pai. Mas é muito difícil cumprir isso se quem está no primeiro plano somos nós mesmos, e quando nossas obras ofuscam o Pai. Podemos expor menos a nossa imagem e dar mais testemunho do que Cristo faz nas pessoas; menos engrandecimento de pessoas e mais o engrandecimento de Cristo nas pessoas.
É interessante que entre a primeira instrução (Mt 5.16) e a segunda (6.1), Jesus também disse aos discípulos que a “justiça” deles deve ser “muito superior à dos fariseus e mestres da lei” (Mt 5.20). Embora aqui Jesus se refira ao modo de aplicar a Lei mosaica, a instrução se aplica também às “obras de justiça”. Jesus aprofunda a dimensão da justiça mostrando que transgredir um mandamento não ocorre no ato em si, mas no pensamento, no desejo que está dentro do coração. Com isso Jesus não estava instruindo os discípulos a serem mais rígidos e legalista que os fariseus, mas que a transgressão está nas intenções interiores e não unicamente nas ações exteriores. De modo semelhante, quando fala sobre dar esmolas, a oração e o jejum (Mt 6.1-18), Jesus ensina que a essência da devoção e espiritualidade é interior, “em secreto” (Mt 6.4, 6, 18).
Como equilibrar o exercício de uma prática espiritual às portas fechadas (6.6) com a instrução da candeia colocada em lugar visível (5.15)? Quando colocamos os holofotes em nossas ações, isso não passa de marketing e exibição de uma espiritualidade de vitrine. Quando focamos no que está no interior, a luz resplandece para que Cristo brilhe em nós.
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Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
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