Opinião
- 06 de abril de 2010
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Lost? Só na ficção
Paula Mazzini Mendes
Há tempos uma série americana anda fazendo sucesso no Brasil. Embora o diretor tenha o poder de nos enrolar, o enredo de “Lost” é bem simples: um grupo de pessoas perdidas em um lugar que ninguém sabe onde é. Mesmo sabendo que a ilha de “Lost” é uma ficção, os povos perdidos, que vivem em lugares inacessíveis, existem, e podem estar bem perto de nós.
Como brasileiros, ostentamos com orgulho o título de país emergente. Infelizmente o desenvolvimento que está tornando nosso país conhecido não é homogêneo. Basta pensar em certos bolsões do país, ou nos ribeirinhos do maior estado do Brasil.
Nós, “o povo aqui de baixo”, sabemos muito pouco da cultura “lá de cima”. Geralmente não sabemos mais do que aquilo que passa no Jornal Nacional: as brigas entre a Funai e os índios, a festa de Parintins e os shows do Calipso.
Há algumas semanas, tive a oportunidade de passar quatro dias trabalhando em algumas comunidades ribeirinhas que são apoiadas pelo projeto da Igreja Presbiteriana de Manaus. Ao conhecer Neto, por exemplo, um garoto surdo que tem 5 anos e não vai à escola (porque não há escola para ele ir), e que provavelmente vai crescer sem conseguir se comunicar de forma apropriada, não pude deixar de pensar em “Lost”.
Quando ouvi a história de uma menina que, para cursar o ensino médio, precisa pegar o barco-escola que passa às 8 da manhã e que a traz de volta só às 21h, também pensei em “Lost”.
Pois bem. A série está na sexta temporada e mais enrolada do que nunca. E ninguém sabe como terminará.
No caso de povos esquecidos como os ribeirinhos, a história é diferente, bem mais real. E ainda bem que a promessa de Deus para eles não é ficção: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti” (Is 49.15).
Ainda bem que Deus nos usa, mas não depende de nós para se lembrar dos outros. Na verdade, ele já está atuando em todos os lugares, inclusive naqueles que esquecemos. O Emanuel se faz presente em lugares que nem imaginamos.
Durante os dias que passei no norte, uma imagem foi marcante: nós, a igreja em forma de barco, saímos da cidade e fomos para o interior. Desembarcamos em uma comunidade onde havia uma igreja em construção. Para fazermos o culto, retiramos os bancos do pequeno templo e os levamos para o quintal. Celebramos a Deus no meio da comunidade, onde as crianças, as galinhas e os cachorros ficavam mais à vontade. E então fiquei pensando em como isso ilustra bem nosso chamado. Jesus veio ao mundo buscar aqueles que estavam condenados a ficar em “Lost” para sempre. Ele veio até nós – não esperou que chegássemos até ele. Como somos seus discípulos, agora é nossa vez de ir onde as pessoas estão, ser igreja onde é necessário, nem que para isso tenhamos que pegar o barco e tirar os bancos da igreja. Precisamos sair e dizer às pessoas que mesmo que o governo, o ministério da educação e o da saúde se esqueçam delas, Deus não se esquece. Mesmo que os parentes, e até nós, deixemos de nos lembrar, Deus não deixará. E além de não se esquecer, ele lembra dos pobres, dos excluídos – e dos esquecidos – com um carinho especial. No mundo de Deus, “Lost” é mera ficção.
• Paula Mazzini Mendes tem 27 anos e é membro do Exército de Salvação. Atualmente estuda no Centro Evangélico de Missões e mora em Viçosa, MG.
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Há tempos uma série americana anda fazendo sucesso no Brasil. Embora o diretor tenha o poder de nos enrolar, o enredo de “Lost” é bem simples: um grupo de pessoas perdidas em um lugar que ninguém sabe onde é. Mesmo sabendo que a ilha de “Lost” é uma ficção, os povos perdidos, que vivem em lugares inacessíveis, existem, e podem estar bem perto de nós.
Como brasileiros, ostentamos com orgulho o título de país emergente. Infelizmente o desenvolvimento que está tornando nosso país conhecido não é homogêneo. Basta pensar em certos bolsões do país, ou nos ribeirinhos do maior estado do Brasil.
Nós, “o povo aqui de baixo”, sabemos muito pouco da cultura “lá de cima”. Geralmente não sabemos mais do que aquilo que passa no Jornal Nacional: as brigas entre a Funai e os índios, a festa de Parintins e os shows do Calipso.
Há algumas semanas, tive a oportunidade de passar quatro dias trabalhando em algumas comunidades ribeirinhas que são apoiadas pelo projeto da Igreja Presbiteriana de Manaus. Ao conhecer Neto, por exemplo, um garoto surdo que tem 5 anos e não vai à escola (porque não há escola para ele ir), e que provavelmente vai crescer sem conseguir se comunicar de forma apropriada, não pude deixar de pensar em “Lost”.
Quando ouvi a história de uma menina que, para cursar o ensino médio, precisa pegar o barco-escola que passa às 8 da manhã e que a traz de volta só às 21h, também pensei em “Lost”.
Pois bem. A série está na sexta temporada e mais enrolada do que nunca. E ninguém sabe como terminará.
No caso de povos esquecidos como os ribeirinhos, a história é diferente, bem mais real. E ainda bem que a promessa de Deus para eles não é ficção: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti” (Is 49.15).
Ainda bem que Deus nos usa, mas não depende de nós para se lembrar dos outros. Na verdade, ele já está atuando em todos os lugares, inclusive naqueles que esquecemos. O Emanuel se faz presente em lugares que nem imaginamos.
Durante os dias que passei no norte, uma imagem foi marcante: nós, a igreja em forma de barco, saímos da cidade e fomos para o interior. Desembarcamos em uma comunidade onde havia uma igreja em construção. Para fazermos o culto, retiramos os bancos do pequeno templo e os levamos para o quintal. Celebramos a Deus no meio da comunidade, onde as crianças, as galinhas e os cachorros ficavam mais à vontade. E então fiquei pensando em como isso ilustra bem nosso chamado. Jesus veio ao mundo buscar aqueles que estavam condenados a ficar em “Lost” para sempre. Ele veio até nós – não esperou que chegássemos até ele. Como somos seus discípulos, agora é nossa vez de ir onde as pessoas estão, ser igreja onde é necessário, nem que para isso tenhamos que pegar o barco e tirar os bancos da igreja. Precisamos sair e dizer às pessoas que mesmo que o governo, o ministério da educação e o da saúde se esqueçam delas, Deus não se esquece. Mesmo que os parentes, e até nós, deixemos de nos lembrar, Deus não deixará. E além de não se esquecer, ele lembra dos pobres, dos excluídos – e dos esquecidos – com um carinho especial. No mundo de Deus, “Lost” é mera ficção.
• Paula Mazzini Mendes tem 27 anos e é membro do Exército de Salvação. Atualmente estuda no Centro Evangélico de Missões e mora em Viçosa, MG.
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