Opinião
- 05 de setembro de 2018
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Lamento pelo incêndio no Museu Nacional da UFRJ
Por Alexandre Brasil
Muitas histórias, memórias e sentimentos foram consumidos pelo fogo. As imagens deixaram em choque boa parte da população brasileira e certamente em muitas partes do mundo. O momento é de lamento e tristeza, luto. O Brasil perde um enorme patrimônio cultural e científico de forma irreparável. A ciência perde arquivos, documentos e conhecimentos vastos que compartilhavam com o Museu Nacional o mesmo prédio, onde ficavam os programas de pós graduação de antropologia social, de arqueologia, de botânica, de linguística e línguas indígenas, de geociências e de zoologia. Centros de excelência reconhecidos mundialmente e com profícuo e constante trabalho.
Estudei no Museu, fui aluno naquelas salas e frequentei a sua biblioteca. Tenho excelentes lembranças, foi um privilégio poder ter frequentado aquele espaço. Das cinzas muito se pode criar, mas nestes tempos digitais é muito triste ver tantas memórias perdidas, materiais de tempos analógicos que não existirão mais, uma ampla gama de experiências, estórias e história consumidas pelo fogo. Considero que os museus representam um espaço fundamental na formação de um povo, seja por meio de seus acervos e ações educativas, como também por meio das ações de divulgação científica que promovem, e simplesmente por serem um espaço acessível e aberto para todos, especialmente alunos da Educação Básica.
No livro de Deuteronômio (32:7) há um trecho em que Moisés recomenda ao povo judeu que "Lembrem-se dos dias do passado; considerem as gerações há muito passadas. Perguntem aos seus pais, e estes contarão a vocês, aos seus líderes, e eles explicarão a vocês.". Em culturas da Ásia, Oriente Médio e África há um grande respeito para com o passado, valoriza-se a história e os ancestrais. É deste respeito que o texto bíblico faz menção, da importância de se aprender das experiências já vividas pelo povo. O texto bíblico recomenda que perguntemos aos mais velhos, pais e mães, mas também indica a responsabilidade que os líderes de um povo têm para a manutenção deste passado, para a preservação e a transmissão das memórias às gerações atuais. Diante deste incêndio é preciso reconhecer que, como país, erramos. Não cumprimos esta tarefa.
É momento de tristeza, será mais difícil lembrarmos do nosso passado. Que o sofrimento e o lamento que temos diante desta tragédia nos mobilize para que tenhamos mais respeito e responsabilidade para com o nosso passado, com a história de nosso povo e desse país que é repleta de tantas belezas e aprendizados, mas também cheia de violências, desigualdades e sofrimentos. Ontem presenciamos mais um lamentável episódio desta história. Neste momento de tristeza, resta manifestarmos nossa total solidariedade e apoio aos colegas que trabalhavam e estudavam no Museu Nacional; seus técnicos, pesquisadores e professores.
#LutoMuseuNacional.
• Alexandre Brasil Fonseca é sociólogo e professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Foto: Tânia Rêgo, Agência Brasil
Muitas histórias, memórias e sentimentos foram consumidos pelo fogo. As imagens deixaram em choque boa parte da população brasileira e certamente em muitas partes do mundo. O momento é de lamento e tristeza, luto. O Brasil perde um enorme patrimônio cultural e científico de forma irreparável. A ciência perde arquivos, documentos e conhecimentos vastos que compartilhavam com o Museu Nacional o mesmo prédio, onde ficavam os programas de pós graduação de antropologia social, de arqueologia, de botânica, de linguística e línguas indígenas, de geociências e de zoologia. Centros de excelência reconhecidos mundialmente e com profícuo e constante trabalho.
Estudei no Museu, fui aluno naquelas salas e frequentei a sua biblioteca. Tenho excelentes lembranças, foi um privilégio poder ter frequentado aquele espaço. Das cinzas muito se pode criar, mas nestes tempos digitais é muito triste ver tantas memórias perdidas, materiais de tempos analógicos que não existirão mais, uma ampla gama de experiências, estórias e história consumidas pelo fogo. Considero que os museus representam um espaço fundamental na formação de um povo, seja por meio de seus acervos e ações educativas, como também por meio das ações de divulgação científica que promovem, e simplesmente por serem um espaço acessível e aberto para todos, especialmente alunos da Educação Básica.
No livro de Deuteronômio (32:7) há um trecho em que Moisés recomenda ao povo judeu que "Lembrem-se dos dias do passado; considerem as gerações há muito passadas. Perguntem aos seus pais, e estes contarão a vocês, aos seus líderes, e eles explicarão a vocês.". Em culturas da Ásia, Oriente Médio e África há um grande respeito para com o passado, valoriza-se a história e os ancestrais. É deste respeito que o texto bíblico faz menção, da importância de se aprender das experiências já vividas pelo povo. O texto bíblico recomenda que perguntemos aos mais velhos, pais e mães, mas também indica a responsabilidade que os líderes de um povo têm para a manutenção deste passado, para a preservação e a transmissão das memórias às gerações atuais. Diante deste incêndio é preciso reconhecer que, como país, erramos. Não cumprimos esta tarefa.
É momento de tristeza, será mais difícil lembrarmos do nosso passado. Que o sofrimento e o lamento que temos diante desta tragédia nos mobilize para que tenhamos mais respeito e responsabilidade para com o nosso passado, com a história de nosso povo e desse país que é repleta de tantas belezas e aprendizados, mas também cheia de violências, desigualdades e sofrimentos. Ontem presenciamos mais um lamentável episódio desta história. Neste momento de tristeza, resta manifestarmos nossa total solidariedade e apoio aos colegas que trabalhavam e estudavam no Museu Nacional; seus técnicos, pesquisadores e professores.
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• Alexandre Brasil Fonseca é sociólogo e professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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