Opinião
- 17 de dezembro de 2014
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João Batista, a desigualdade social e o advento
No Advento nos deparamos com os símbolos da missão individual de cada cristão. Jesus e sua missão são a coisa maior de nossas vidas. Ser precursor do que Jesus representa, na libertação das muitas opressões, cegueiras, prisões religiosas, políticas, econômicas, sociais. Seria o que o profeta João Batista representa para todos nós, quando prepara o caminho do Senhor? Neste momento da vida nacional, quando vários sinais apontam urgências de políticas a serem corrigidas; quando antigas tendências autoritárias e totalitárias se unem, conspiram e apaixonam o povo.
O problema da superconcentração de renda é grave. Trata-se de um dinheiro que amontoa lucros, registrado apenas no espaço virtual, sem criar empregos, sem aplicação na sustentação social, símbolos e pilares de qualquer sociedade que pretenda o desenvolvimento. Bilhões são aplicados no mercado financeiro, e há quem diga que há mais dinheiro em investimentos na bolsa de valores e fundos bancários, na proporção de dez vezes mais que o aplicado no “mercado real”, sem funções sociais. Este paga salários, constrói habitações, rodovias, ferrovias, canais de irrigação; mantém escolas, hospitais, centros de saúde; produz alimentos, movimenta o comércio de produtos indispensáveis, e outros tantos, na circulação do “dinheiro social”.
Ultrarricos criam movimentos populares que vão às ruas defender suas causas. Suas mensagens políticas não reivindicam centavos a mais cobrados nas passagens de ônibus, sistema de saúde mais eficiente, habitações populares, salários justos, cidadania plena e igualitária para todos... Explicitam as causas conservadoras da economia privilegiada: redução de impostos, utilização livre do espaço público, com menos controle ecológico. Nos Estados Unidos, o “Tea Party”, aparentemente para defender causas públicas, com slogans tipo: “melhoria da qualidade de vida”, chega a ocupar 43.900 espaços publicitários na mídia, financiados por dois milionários, apenas. No Brasil, “black blocs” são pagos para ir às ruas, durante o ano de 2013, e desmoralizar reivindicações populares sobre melhorias de salários aos professores, sistema de saúde, escolas e hospitais melhores; no transporte e mobilidade urbana.
Nas últimas eleições brasileiras, multiplicaram-se os casos de milionários que financiaram partidos políticos. As doações ultrapassam a 1 bilhão de reais, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Uma candidata à presidência, 2014, financiada por um banco, tinha como proposta principal tirar das mãos do governo o controle do sistema bancário, privatizando-o. O TSE também revela que 70% dos candidatos a deputado federal, 360 do total de 513 dos que atuam no Congresso (levantamento: Estado de S. Paulo), foram financiados assim. E os eleitores que os elegeram ainda acreditam que eles estarão lá para defender os interesses da população...
A economia mundial vive uma das maiores crises, enquanto riquezas são concentradas em poucas mãos, no mundo todo. A desigualdade social, dependente da economia justa, multiplicou-se, e seus efeitos estendem-se para 7 bilhões de pessoas. Richard Wilkinson lembra: quanto mais alta a desigualdade, mais altas as taxas de homicídio, o uso de drogas, a mortalidade infantil e doenças psiquiátricas. O World Economic Fórum, reunindo 700 representantes de vários países, interessados na economia global, classificou o problema da desigualdade como o principal do mundo atual.
Todos proclamam ser cristãos e terem fé, no entanto, e Tiago, com João Batista, afunda a lâmina na alma religiosa do rico que explora o pobre e acentua as diferenças sociais, e do pobre conformado com a injustiça. Aos ricos, exorta: “Vós privastes o pobre de sua dignidade”. Aos pobres: “Não são os ricos que vos oprimem? Não são eles que vos arrastam aos tribunais? Não são eles que difamam o bom nome (cristão) que recebestes?”. “Crês em Deus? Ótimo, está certo. Os demônios também creem e tremem nas bases” (cf.2,14-19). Ao suposto contraditor faz uma intimação: “prove a sua fé religiosa com obras de justiça”. As Escrituras apontam: “misericórdia quero” (Os 6,6), e não demonstrações arrogantes de qualquer “fé”, sem prova alguma, sem frutos, como Paulo já sugerira (cf.Rm 2,1-6;5-16): “És indesculpável… pois praticas as coisas que condenas” (vs.2,1a e 1c), apesar da verbalização da fé sem ética ou profundidade; “tribulação e angústia virão sobre qualquer um que fizer o mal (v.9a)”.
O drama da miséria, da ausência de cidadania e direitos fundamentais, democracia econômica; da religiosidade atrofiada, está na messianidade de Jesus. Os que passam fome e sede gemem de angústia e sofrimento. Uma sociedade com fortes contrastes e injustiças, controlada por mecanismos que associam a religião com a política e a economia, convence-se de direitos consuetudinários e posterga as transformações necessárias. Recusa-se a ver, ou não demonstra interesse pela realidade ocupando-se com o falso moralismo (todo mundo é corrupto!), antes que da ética, "ethos" que dá ordem ao caos social. É exatamente o que se vê nos dias atuais, quando as formas e mecanismos transmudam aparentemente, mas não se movem interiormente para as mudanças necessárias. O conflito é inevitável. João Batista merece ser lembrado.
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O problema da superconcentração de renda é grave. Trata-se de um dinheiro que amontoa lucros, registrado apenas no espaço virtual, sem criar empregos, sem aplicação na sustentação social, símbolos e pilares de qualquer sociedade que pretenda o desenvolvimento. Bilhões são aplicados no mercado financeiro, e há quem diga que há mais dinheiro em investimentos na bolsa de valores e fundos bancários, na proporção de dez vezes mais que o aplicado no “mercado real”, sem funções sociais. Este paga salários, constrói habitações, rodovias, ferrovias, canais de irrigação; mantém escolas, hospitais, centros de saúde; produz alimentos, movimenta o comércio de produtos indispensáveis, e outros tantos, na circulação do “dinheiro social”.
Ultrarricos criam movimentos populares que vão às ruas defender suas causas. Suas mensagens políticas não reivindicam centavos a mais cobrados nas passagens de ônibus, sistema de saúde mais eficiente, habitações populares, salários justos, cidadania plena e igualitária para todos... Explicitam as causas conservadoras da economia privilegiada: redução de impostos, utilização livre do espaço público, com menos controle ecológico. Nos Estados Unidos, o “Tea Party”, aparentemente para defender causas públicas, com slogans tipo: “melhoria da qualidade de vida”, chega a ocupar 43.900 espaços publicitários na mídia, financiados por dois milionários, apenas. No Brasil, “black blocs” são pagos para ir às ruas, durante o ano de 2013, e desmoralizar reivindicações populares sobre melhorias de salários aos professores, sistema de saúde, escolas e hospitais melhores; no transporte e mobilidade urbana.
Nas últimas eleições brasileiras, multiplicaram-se os casos de milionários que financiaram partidos políticos. As doações ultrapassam a 1 bilhão de reais, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Uma candidata à presidência, 2014, financiada por um banco, tinha como proposta principal tirar das mãos do governo o controle do sistema bancário, privatizando-o. O TSE também revela que 70% dos candidatos a deputado federal, 360 do total de 513 dos que atuam no Congresso (levantamento: Estado de S. Paulo), foram financiados assim. E os eleitores que os elegeram ainda acreditam que eles estarão lá para defender os interesses da população...
A economia mundial vive uma das maiores crises, enquanto riquezas são concentradas em poucas mãos, no mundo todo. A desigualdade social, dependente da economia justa, multiplicou-se, e seus efeitos estendem-se para 7 bilhões de pessoas. Richard Wilkinson lembra: quanto mais alta a desigualdade, mais altas as taxas de homicídio, o uso de drogas, a mortalidade infantil e doenças psiquiátricas. O World Economic Fórum, reunindo 700 representantes de vários países, interessados na economia global, classificou o problema da desigualdade como o principal do mundo atual.
Todos proclamam ser cristãos e terem fé, no entanto, e Tiago, com João Batista, afunda a lâmina na alma religiosa do rico que explora o pobre e acentua as diferenças sociais, e do pobre conformado com a injustiça. Aos ricos, exorta: “Vós privastes o pobre de sua dignidade”. Aos pobres: “Não são os ricos que vos oprimem? Não são eles que vos arrastam aos tribunais? Não são eles que difamam o bom nome (cristão) que recebestes?”. “Crês em Deus? Ótimo, está certo. Os demônios também creem e tremem nas bases” (cf.2,14-19). Ao suposto contraditor faz uma intimação: “prove a sua fé religiosa com obras de justiça”. As Escrituras apontam: “misericórdia quero” (Os 6,6), e não demonstrações arrogantes de qualquer “fé”, sem prova alguma, sem frutos, como Paulo já sugerira (cf.Rm 2,1-6;5-16): “És indesculpável… pois praticas as coisas que condenas” (vs.2,1a e 1c), apesar da verbalização da fé sem ética ou profundidade; “tribulação e angústia virão sobre qualquer um que fizer o mal (v.9a)”.
O drama da miséria, da ausência de cidadania e direitos fundamentais, democracia econômica; da religiosidade atrofiada, está na messianidade de Jesus. Os que passam fome e sede gemem de angústia e sofrimento. Uma sociedade com fortes contrastes e injustiças, controlada por mecanismos que associam a religião com a política e a economia, convence-se de direitos consuetudinários e posterga as transformações necessárias. Recusa-se a ver, ou não demonstra interesse pela realidade ocupando-se com o falso moralismo (todo mundo é corrupto!), antes que da ética, "ethos" que dá ordem ao caos social. É exatamente o que se vê nos dias atuais, quando as formas e mecanismos transmudam aparentemente, mas não se movem interiormente para as mudanças necessárias. O conflito é inevitável. João Batista merece ser lembrado.
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É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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