Opinião
- 04 de abril de 2023
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Jerusalém, Ano 33: três dias de tensão
Por Elben César
Eu, Samuel Meier, deixei há instantes, e por três dias apenas, o tempo e a geração em que vivo para ingressar num mundo totalmente diverso. Acabo de firmar meus pés em Jerusalém, a cidade santa. De uma sociedade tecnológica, sofisticada e ameaçada pela automação, transportei-me bruscamente para uma sociedade bucólica, de vinte séculos atrás. Mas aqui também não há paz. A cidade está agitada. A quantidade de turista é enorme. Estamos em meio à primavera, à época das últimas chuvas, exatamente na metade do mês que eles chamam de Nisã, antigamente Abibe, que é, para os judeus, o primeiro mês do ano sagrado ou o sétimo do ano civil. Corresponde à parte dos meses de março a abril. A cidade está em festa – é a Páscoa. O governador Pôncio Pilatos também encontra-se em Jerusalém e trouxe consigo de Cesareia tropas adicionais para patrulhar a cidade nestes dias de festividades religiosas. O atual imperador romano é Tibério, enteado de César Augusto.
Confesso-me tonto. Sei de antemão os fatos que hão de se desenrolar no dia de hoje – o mais triste e sombrio da história. Vim até aqui para ver com meus próprios olhos o drama da paixão e acompanhar os eventos que culminaram com a ressurreição do Senhor. Achei que o método mais indicado é gravar minhas impressões e, ao final de cada dia, passá-las para o papel.
O lugar da Caveira (sexta-feira)
Ainda não são 9 horas da manhã e já me encontro próximo ao sítio onde Jesus será crucificado. Chama-se Calvário ou Gólgota, palavras que significam crânio ou caveira. Situa-se fora de Jerusalém, perto de um dos portões da cidade e de uma estrada. Sinto forte comoção ao ver Jesus pela primeira vez. Fico pasmado à vista dele, pois seu aspecto está mui desfigurado, mais do que outro qualquer. E é natural, porque Ele passou a noite anterior em claro e numa angústia mortal, já sofreu a negação de Pedro e suportou a mais cruel zombaria e toda sorte de agressões físicas. Simão Cirineu carrega-lhe a cruz.
Jesus é crucificado no meio de dois ladrões, como se fosse contado com os transgressores. Nunca vi tanta loucura na minha vida – até os transeuntes blasfemam dele, dizendo: “Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz”.
A impressão que tenho é que Jesus está sobrecarregado. O mundo inteiro desaba sobre Ele. Lembro-me de Isaías, que profetizou exatamente esse aspecto da paixão: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, as nossas dores, o castigo que nos traz a paz, a iniquidade de nós todos, o pecado de muitos. Percebo e entendo também que Jesus, por incrível que possa parecer, está sendo castigado. (Paulo não dirá mais tarde que Deus “não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou”?) Dói-me horrivelmente ouvir o grito de angústia que Ele solta por volta das 3 horas da tarde: “Eli, Eli lemá sabactâni”, que quer dizer: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.
Embora informado sobre as trevas, não deixo de me assustar com a escuridão que cai sobre nós das 12 às 15 horas. Eclipse do sol não é porque estamos na lua cheia. A coincidência do fenômeno natural ou sobrenatural com o dia e o momento da morte daquele que é a luz do mundo causa-me e a outras pessoas uma atitude de temor e tremor.
Jesus não aceita vinho misturado com mirra – uma espécie de entorpecente ou narcótico. Assim Ele pode manter suas faculdades mentais até o fim. Tenho para mim que a morte de Jesus é consciente e voluntária até o desenlace final. Ouço-o clamar: “Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito”. Agora é fácil entender a profecia de Isaías – “Ele derramou a sua alma na morte” – e a palavra do próprio Jesus: “Ninguém tira a minha vida de mim; pelo contrário eu espontaneamente a dou”.
É uma tarde horrível! Sinto o tremor de terra, vejo as rochas se fenderem e os sepulcros se abrirem. Ouço o comandante do destacamento, cujos soldados torturaram o Senhor, declarar que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus. Vejo as multidões abandonando o local, tomadas de pavor. Presencio a atitude corajosa de José de Arimateia e Nicodemos ao retirarem o corpo de Jesus da cruz.
Não vou ao lugar de sua sepultura. Estou emocionalmente tenso e cansado. Hospedo-me em casa de uma família próxima ao templo. Dão-me uma bacia com água para eu lavar as mãos e servem-me pão, caldo de carne e queijos. Torno a lavar as mãos depois da refeição e vou dormir. Já é sábado. Desde as 18 horas.
O lugar santíssimo (sábado)
O templo é enorme, mas ainda está em construção. Foi iniciado 19 anos antes do nascimento de Cristo. É obra de Herodes, para agradar aos judeus. A visita ao templo prende-se ao meu particular e incontrolável interesse na ruptura da cortina que separava o santo lugar do santuário mais interno, chamado o santo dos santos ou o lugar santíssimo. Mateus, Marcos e Lucas contarão que essa cortina se rasgou de alto a baixo no momento em que Jesus rendeu o espírito fora dos muros de Jerusalém. Agora eu quero ver isso com meus próprios olhos, pois o acontecimento não é de somenos importância. Significa o fim da separação entre Deus e o homem. E de fato vejo. É impressionante! Não é possível deixar de lado esse evento. Ele terá de influir na mentalidade hebraica e alterar profundamente a posição de seus sacerdotes.
(Lembro-me da informação que Lucas dará alguns anos mais tarde, a respeito da conversão de “muitíssimos sacerdotes”.) É a primeira vez em vários séculos de culto, primeiro no tabernáculo (templo móvel usado por Moisés na travessia do deserto) e depois sucessivamente no primeiro templo (construído por Salomão), no segundo templo (erguido pelos exilados de volta à terra com permissão de Ciro e transformado em fortaleza pelos macabeus) e no terceiro templo (o de Herodes), que a cortina ou o véu deixa de ocultar o lugar santíssimo. Ora, todos sabem que apenas o sumo sacerdote, uma única vez por ano, no dia nacional da expiação, pode penetrar além do véu. Não escondo a intrepidez de que sou tomado para entrar na presença de Deus, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou pelo véu, isto é, por sua carne! Em qualquer circunstância, em qualquer tempo, em qualquer lugar. Aleluia!
O lugar do sepulcro (domingo)
Faço uma grande madrugada no primeiro dia da semana. Preciso documentar os fatos sensacionais que se darão neste dia. Não permitirei que as mulheres da Galileia cheguem antes de mim ao túmulo novo de José de Arimateia, onde o corpo de Jesus foi colocado, depois de embalsamado com um composto de mirra e aloés. Posto-me silenciosamente em um lugar de onde possa ver tudo sem ser visto. Ao redor do túmulo há um jardim. A luz da lua cheia deixa tudo às claras. Vejo a escolta que monta guarda ao sepulcro, desde ontem, sábado, por ordem de Pilatos e a pedido dos principais sacerdotes e fariseus. Os soldados não estão dormindo.
Eis o que subitamente se dá: 1) um anjo do Senhor desce do céu, chega, remove a pedra que José rolou para a entrada do túmulo e assenta-se sobre ela; 2) os guardas levam tamanho susto, que caem e tornam-se como mortos; 3) Maria Madalena, Maria (mãe de Tiago), Salomé e outras piedosas mulheres que acompanhavam Jesus desde a Galileia e o serviam com seus bens, ao despontar do sol, vêm ao sepulcro, veem a pedra removida e entram no túmulo. O anjo, um jovem vestido de branco, explica que Jesus ressuscitou, não está mais ali, e pede que elas anunciem essas coisas aos discípulos. As mulheres se retiram; 4) algum tempo depois dois homens entram apressadamente no jardim. Um deles chega primeiro ao sepulcro e para. É João, o discípulo a quem o Senhor amava. O outro chega e vai logo entrando. É Pedro. Então João também entra. Ambos ficam maravilhados com a ausência do corpo de Jesus e com os lençóis de linho ainda estendidos na laje e voltam para a cidade; 5) Maria Madalena torna ao sepulcro. Ela é a primeira pessoa a ver o Senhor ressuscitado. A princípio, confunde-o com o jardineiro. Mas quando Ele fala: “Maria!”, ela o reconhece e lhe diz simplesmente: “Raboni!” (Raboni é uma forma intensificada de rabi, que quer dizer “meu professor”.)
Posso perceber que os discípulos não esperam a ressurreição de Jesus e aceitam-na apenas porque contra os fatos não há argumento. (A expressão que Lucas empregará mais tarde é muito oportuna: Jesus “se apresentou vivo com muitas provas infalíveis”.) Não há disposição para aceitar a ressurreição. É mais provável que haja uma autossugestão negativa, isto é, predisposição contra a ressurreição de Jesus. Todos ficam tomados de perplexidade, de profunda admiração e de novo alento.
Ao cair da tarde, quando me preparo para retornar ao século 20, passo pela casa onde os onze apóstolos e os discípulos improvisam uma reunião para relatar e harmonizar os últimos acontecimentos. Pedro acaba de contar que o Senhor lhe apareceu. Entram na sala dois discípulos vindos de Emaús, narrando como o Senhor andou e conversou com eles um bom pedaço de chão e como se assentou à mesa com eles. Falam ainda essas coisas quando o próprio Jesus aparece no meio deles, saudando-os à hebraica: “Paz seja convosco”. Sinceramente, a emoção é forte demais e eu resolvo dar por encerrada a minha visita a Jerusalém. Concordo plenamente com A.J. Macleod, capelão da igreja da Escócia na Iraq Petroleum Co.: “A vinda de Jesus ao mundo constitui uma crise na história mundial, obrigando os homens, pelos fatos apresentados, ou a virem para a luz, ou a permanecerem nas trevas”.
Artigo originalmente publicado na edição 263 de Ultimato.
Saiba mais:
>> A Pessoa Mais Importante do Mundo, Elben César
>> Por Que Sou Cristão, John Stott
>> Os Últimos Dias de Jesus, N. T. Wright e Craig A. Evans
Eu, Samuel Meier, deixei há instantes, e por três dias apenas, o tempo e a geração em que vivo para ingressar num mundo totalmente diverso. Acabo de firmar meus pés em Jerusalém, a cidade santa. De uma sociedade tecnológica, sofisticada e ameaçada pela automação, transportei-me bruscamente para uma sociedade bucólica, de vinte séculos atrás. Mas aqui também não há paz. A cidade está agitada. A quantidade de turista é enorme. Estamos em meio à primavera, à época das últimas chuvas, exatamente na metade do mês que eles chamam de Nisã, antigamente Abibe, que é, para os judeus, o primeiro mês do ano sagrado ou o sétimo do ano civil. Corresponde à parte dos meses de março a abril. A cidade está em festa – é a Páscoa. O governador Pôncio Pilatos também encontra-se em Jerusalém e trouxe consigo de Cesareia tropas adicionais para patrulhar a cidade nestes dias de festividades religiosas. O atual imperador romano é Tibério, enteado de César Augusto.
Confesso-me tonto. Sei de antemão os fatos que hão de se desenrolar no dia de hoje – o mais triste e sombrio da história. Vim até aqui para ver com meus próprios olhos o drama da paixão e acompanhar os eventos que culminaram com a ressurreição do Senhor. Achei que o método mais indicado é gravar minhas impressões e, ao final de cada dia, passá-las para o papel.
O lugar da Caveira (sexta-feira)
Ainda não são 9 horas da manhã e já me encontro próximo ao sítio onde Jesus será crucificado. Chama-se Calvário ou Gólgota, palavras que significam crânio ou caveira. Situa-se fora de Jerusalém, perto de um dos portões da cidade e de uma estrada. Sinto forte comoção ao ver Jesus pela primeira vez. Fico pasmado à vista dele, pois seu aspecto está mui desfigurado, mais do que outro qualquer. E é natural, porque Ele passou a noite anterior em claro e numa angústia mortal, já sofreu a negação de Pedro e suportou a mais cruel zombaria e toda sorte de agressões físicas. Simão Cirineu carrega-lhe a cruz.
Jesus é crucificado no meio de dois ladrões, como se fosse contado com os transgressores. Nunca vi tanta loucura na minha vida – até os transeuntes blasfemam dele, dizendo: “Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz”.
A impressão que tenho é que Jesus está sobrecarregado. O mundo inteiro desaba sobre Ele. Lembro-me de Isaías, que profetizou exatamente esse aspecto da paixão: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, as nossas dores, o castigo que nos traz a paz, a iniquidade de nós todos, o pecado de muitos. Percebo e entendo também que Jesus, por incrível que possa parecer, está sendo castigado. (Paulo não dirá mais tarde que Deus “não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou”?) Dói-me horrivelmente ouvir o grito de angústia que Ele solta por volta das 3 horas da tarde: “Eli, Eli lemá sabactâni”, que quer dizer: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.
Embora informado sobre as trevas, não deixo de me assustar com a escuridão que cai sobre nós das 12 às 15 horas. Eclipse do sol não é porque estamos na lua cheia. A coincidência do fenômeno natural ou sobrenatural com o dia e o momento da morte daquele que é a luz do mundo causa-me e a outras pessoas uma atitude de temor e tremor.
Jesus não aceita vinho misturado com mirra – uma espécie de entorpecente ou narcótico. Assim Ele pode manter suas faculdades mentais até o fim. Tenho para mim que a morte de Jesus é consciente e voluntária até o desenlace final. Ouço-o clamar: “Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito”. Agora é fácil entender a profecia de Isaías – “Ele derramou a sua alma na morte” – e a palavra do próprio Jesus: “Ninguém tira a minha vida de mim; pelo contrário eu espontaneamente a dou”.
É uma tarde horrível! Sinto o tremor de terra, vejo as rochas se fenderem e os sepulcros se abrirem. Ouço o comandante do destacamento, cujos soldados torturaram o Senhor, declarar que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus. Vejo as multidões abandonando o local, tomadas de pavor. Presencio a atitude corajosa de José de Arimateia e Nicodemos ao retirarem o corpo de Jesus da cruz.
Não vou ao lugar de sua sepultura. Estou emocionalmente tenso e cansado. Hospedo-me em casa de uma família próxima ao templo. Dão-me uma bacia com água para eu lavar as mãos e servem-me pão, caldo de carne e queijos. Torno a lavar as mãos depois da refeição e vou dormir. Já é sábado. Desde as 18 horas.
O lugar santíssimo (sábado)
O templo é enorme, mas ainda está em construção. Foi iniciado 19 anos antes do nascimento de Cristo. É obra de Herodes, para agradar aos judeus. A visita ao templo prende-se ao meu particular e incontrolável interesse na ruptura da cortina que separava o santo lugar do santuário mais interno, chamado o santo dos santos ou o lugar santíssimo. Mateus, Marcos e Lucas contarão que essa cortina se rasgou de alto a baixo no momento em que Jesus rendeu o espírito fora dos muros de Jerusalém. Agora eu quero ver isso com meus próprios olhos, pois o acontecimento não é de somenos importância. Significa o fim da separação entre Deus e o homem. E de fato vejo. É impressionante! Não é possível deixar de lado esse evento. Ele terá de influir na mentalidade hebraica e alterar profundamente a posição de seus sacerdotes.
(Lembro-me da informação que Lucas dará alguns anos mais tarde, a respeito da conversão de “muitíssimos sacerdotes”.) É a primeira vez em vários séculos de culto, primeiro no tabernáculo (templo móvel usado por Moisés na travessia do deserto) e depois sucessivamente no primeiro templo (construído por Salomão), no segundo templo (erguido pelos exilados de volta à terra com permissão de Ciro e transformado em fortaleza pelos macabeus) e no terceiro templo (o de Herodes), que a cortina ou o véu deixa de ocultar o lugar santíssimo. Ora, todos sabem que apenas o sumo sacerdote, uma única vez por ano, no dia nacional da expiação, pode penetrar além do véu. Não escondo a intrepidez de que sou tomado para entrar na presença de Deus, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou pelo véu, isto é, por sua carne! Em qualquer circunstância, em qualquer tempo, em qualquer lugar. Aleluia!
O lugar do sepulcro (domingo)
Faço uma grande madrugada no primeiro dia da semana. Preciso documentar os fatos sensacionais que se darão neste dia. Não permitirei que as mulheres da Galileia cheguem antes de mim ao túmulo novo de José de Arimateia, onde o corpo de Jesus foi colocado, depois de embalsamado com um composto de mirra e aloés. Posto-me silenciosamente em um lugar de onde possa ver tudo sem ser visto. Ao redor do túmulo há um jardim. A luz da lua cheia deixa tudo às claras. Vejo a escolta que monta guarda ao sepulcro, desde ontem, sábado, por ordem de Pilatos e a pedido dos principais sacerdotes e fariseus. Os soldados não estão dormindo.
Eis o que subitamente se dá: 1) um anjo do Senhor desce do céu, chega, remove a pedra que José rolou para a entrada do túmulo e assenta-se sobre ela; 2) os guardas levam tamanho susto, que caem e tornam-se como mortos; 3) Maria Madalena, Maria (mãe de Tiago), Salomé e outras piedosas mulheres que acompanhavam Jesus desde a Galileia e o serviam com seus bens, ao despontar do sol, vêm ao sepulcro, veem a pedra removida e entram no túmulo. O anjo, um jovem vestido de branco, explica que Jesus ressuscitou, não está mais ali, e pede que elas anunciem essas coisas aos discípulos. As mulheres se retiram; 4) algum tempo depois dois homens entram apressadamente no jardim. Um deles chega primeiro ao sepulcro e para. É João, o discípulo a quem o Senhor amava. O outro chega e vai logo entrando. É Pedro. Então João também entra. Ambos ficam maravilhados com a ausência do corpo de Jesus e com os lençóis de linho ainda estendidos na laje e voltam para a cidade; 5) Maria Madalena torna ao sepulcro. Ela é a primeira pessoa a ver o Senhor ressuscitado. A princípio, confunde-o com o jardineiro. Mas quando Ele fala: “Maria!”, ela o reconhece e lhe diz simplesmente: “Raboni!” (Raboni é uma forma intensificada de rabi, que quer dizer “meu professor”.)
Posso perceber que os discípulos não esperam a ressurreição de Jesus e aceitam-na apenas porque contra os fatos não há argumento. (A expressão que Lucas empregará mais tarde é muito oportuna: Jesus “se apresentou vivo com muitas provas infalíveis”.) Não há disposição para aceitar a ressurreição. É mais provável que haja uma autossugestão negativa, isto é, predisposição contra a ressurreição de Jesus. Todos ficam tomados de perplexidade, de profunda admiração e de novo alento.
Ao cair da tarde, quando me preparo para retornar ao século 20, passo pela casa onde os onze apóstolos e os discípulos improvisam uma reunião para relatar e harmonizar os últimos acontecimentos. Pedro acaba de contar que o Senhor lhe apareceu. Entram na sala dois discípulos vindos de Emaús, narrando como o Senhor andou e conversou com eles um bom pedaço de chão e como se assentou à mesa com eles. Falam ainda essas coisas quando o próprio Jesus aparece no meio deles, saudando-os à hebraica: “Paz seja convosco”. Sinceramente, a emoção é forte demais e eu resolvo dar por encerrada a minha visita a Jerusalém. Concordo plenamente com A.J. Macleod, capelão da igreja da Escócia na Iraq Petroleum Co.: “A vinda de Jesus ao mundo constitui uma crise na história mundial, obrigando os homens, pelos fatos apresentados, ou a virem para a luz, ou a permanecerem nas trevas”.
Artigo originalmente publicado na edição 263 de Ultimato.
Saiba mais:
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>> Os Últimos Dias de Jesus, N. T. Wright e Craig A. Evans
Elben Magalhães Lenz César foi o fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato até a sua morte, em outubro de 2016. Fundador do Centro Evangélico de Missões e pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Viçosa (IPV), é autor de, entre outros, Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?, Refeições Diárias com Jesus, Mochila nas Costas e Diário na Mão, Para (Melhor) Enfrentar o Sofrimento, Conversas com Lutero, Refeições Diárias com os Profetas Menores, A Pessoa Mais Importante do Mundo, História da Evangelização do Brasil e Práticas Devocionais. Foi casado por sessenta anos com Djanira Momesso César, com quem teve cinco filhas, dez netos e quatro bisnetos.
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