Opinião
- 24 de abril de 2014
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Investir na vida de outros
Um artista equatoriano e um apóstolo ciliciano nos ensinam como investir nossas vidas na formação de outros. Estive na casa e museu do primeiro, Guayasamin, em minha última visita ao Equador, por ocasião de um curso de formação de líderes da CIEE (movimento evangélico que trabalha com estudantes universitários). O segundo é o ex-perseguidor e grande missionário, Paulo. Com a ajuda deles veremos alguns princípios sobre o investimento na vida de outras pessoas.
1. Investir na vida de outros é arriscado, mas vale a pena (e é a coisa certa a fazer)
Ainda que pudéssemos pensar em vários possíveis benefícios sobre trabalhar com outras pessoas, sabemos que dá trabalho, a gente se desgasta e muitas vezes o resultado é frustrante.
Mas discípulos de Jesus não se dedicam às vidas de outros (ou não deveriam fazê-lo) devido ao que ganharão com isso. Eles o fazem por uma questão simples: a obediência. Não nos envolvemos nisso “para agradar pessoas, mas a Deus”1.
Ananias foi ao encontro de Paulo, mesmo sendo muito arriscado. Barnabé decidiu investir em João Marcos apesar da frustração prévia, com o risco de estar desperdiçando seu tempo. Na vida cristã não existe isso de fazer algo pelo suposto benefício que se vá receber, ou pela promessa de fruto que virá daquele esforço. Investimos nas vidas de outros porque sempre será a coisa correta a fazer. Por isso vamos em direção ao outro, com o risco de que não haja o fruto que esperamos, sem garantias, mas cumprindo com o que somos chamados a fazer com as nossas vidas.
2. Investir na vida de outros leva tempo
Parece que Paulo foi aprendendo isso ao longo de sua vida e ministério, quando passou a permanecer por mais tempo nas cidades que visitava. Ele levava em conta a necessidade de dedicar mais tempo na formação de pessoas. Quando era impelido pelo Senhor a mover-se ou era forçado a deixar um lugar, logo Paulo enviava algum companheiro de equipe, muitas vezes munido de uma carta, para que a obra pudesse ser continuada.
Quantas vezes desistimos antes da hora? Claro, Paulo também errou nesse ponto, ao desistir de João Marcos. Mas Barnabé, que não havia desistido antes do terrível Saulo, lhe deu uma lição importante nesse tema. Por que será que muitas vezes desistimos dizendo que já investimos o suficiente na vida de alguém? Quanto é suficiente? Sete chances? Sete vezes sete? A verdade é que para investir em outros, em uma perspectiva da fé cristã, não dá pra contar os anos, as chances, as oportunidades.
Não acredito nisso de “desisti de fulano”. Você pode até reconhecer suas limitações e buscar ajuda, abrir espaço para que sejam outros os instrumentos de Deus na vida de alguém. Mas nesse caso então não é desistência. Segue a intercessão, a busca de outros caminhos, pessoas e recursos, confiando que é o Senhor quem continuará a fazer a obra que é dele.
3. Investir na vida de outros demanda intimidade, relacionamento.
Paulo foi mais especialmente formado, ou de maneira mais intensiva formou a outros, quando passou tempo com essas pessoas, por exemplo, viajando juntos, ou quando passava um tempo maior em alguma cidade, em meio a suas muitas viagens.
Por isso as expressões como de um pai e mãe com relação aos seus “filhos”2, por isso o profundo afeto e a necessidade que expressava da presença do outro, “vem pronto ao meu encontro”3.
Intimidade e relacionamento não caem do céu, prontos. Requerem cultivo, um processo, estar disposto a abrir sua vida para abençoar e também abrir-se para receber as bênçãos que vem do outro. Com frequência, esses benefícios vêm por meio das perguntas difíceis, aquelas que nos incomodam e nos custam responder.
Uma das coisas mais entediantes da vida é ter amigos e irmãos na fé que só concordam com você em tudo. Peça a esses mais chegados que te façam perguntas incômodas sobre sua vida pessoal. É uma das melhores iniciativas que você poderá tomar para o bem de sua saúde espiritual.
4. Investir na vida de outros implica em levá-los até Jesus
Creio que muitas vezes a ideia de investir na vida de outros nos assusta porque imaginamos que a responsabilidade esteja em nossas mãos. Talvez a chave seja entender que não sou eu a pessoa mais importante na vida do outro. Mas Jesus sim é, ou deveria sê-lo. Então qualquer “intervenção” minha na vida do outro deve se dar no sentido de levá-la para mais perto de Jesus, não de mim mesmo.
Assim, nessa perspectiva correta, alguém pode até parecer mais ousado, como Paulo o foi, ao pedir que o imitassem. Claro, Paulo poderia dizê-lo porque à exortação “sejam meus imitadores”, adicionava “assim como eu sou de Cristo”4.
Se nossa vida faz com que outros fujam para longe de Cristo, então estamos errando feio o alvo. Mas atento a esse detalhe importante: claro que devemos rejeitar influências nocivas de falsos piedosos cristãos. Mas nunca podemos usar essa realidade da debilidade humana (de um líder que nos defrauda e nos decepciona) como uma desculpa para deixar de se aproximar de quem é mais importante, o próprio Jesus.
5. Investir na vida de outros é transformador, para todos
Para Paulo, essa era uma jornada de transformação, de ir crescendo, renunciando e abraçando nova fidelidade5, cada vez mais rumo a Cristo6, com a ajuda de outros, através do Espírito do Senhor operando na comunidade e através da comunidade.
Também Guayasamin nos inspira nessa jornada. Esse artista do choro, da ira, mas também da ternura, que de maneira tão eloquente retrata mãos que tocam, que suplicam ajuda, que amparam, que cuidam e que estão estendidas para receber auxílio e socorro. Essas mãos que nos revelam uma necessidade e o acolhimento que vem do toque, do abraço, do compromisso com o outro.
Elas, junto com as lições que nos vêm do apóstolo de coração missionário, tanto nos encorajam no caminho possível de alcançar uns aos outros, com compromisso mútuo e com ternura. Assim, quem não se anima a investir em outros? Quem não se dispõe a abraçar e a ser abraçado?
Notas:
1. 1 Tessalonicenses 2:4b.
2. 1 Tessalonicenses 2:7,11,19-20.
3. 2 Timóteo 4:9,21.
4. 1 Coríntios 11:1; 1 Tessalonicenses 1:6.
5. 1 Tessalonicenses 1:9; 4:1-2.
6. Filipenses 3:13-14.
Leia também
A turma de Jesus (revista Ultimato 324)
Pequenos grupos (livro)
A igreja autêntica (livro)
1. Investir na vida de outros é arriscado, mas vale a pena (e é a coisa certa a fazer)
Ainda que pudéssemos pensar em vários possíveis benefícios sobre trabalhar com outras pessoas, sabemos que dá trabalho, a gente se desgasta e muitas vezes o resultado é frustrante.
Mas discípulos de Jesus não se dedicam às vidas de outros (ou não deveriam fazê-lo) devido ao que ganharão com isso. Eles o fazem por uma questão simples: a obediência. Não nos envolvemos nisso “para agradar pessoas, mas a Deus”1.
Ananias foi ao encontro de Paulo, mesmo sendo muito arriscado. Barnabé decidiu investir em João Marcos apesar da frustração prévia, com o risco de estar desperdiçando seu tempo. Na vida cristã não existe isso de fazer algo pelo suposto benefício que se vá receber, ou pela promessa de fruto que virá daquele esforço. Investimos nas vidas de outros porque sempre será a coisa correta a fazer. Por isso vamos em direção ao outro, com o risco de que não haja o fruto que esperamos, sem garantias, mas cumprindo com o que somos chamados a fazer com as nossas vidas.
2. Investir na vida de outros leva tempo
Parece que Paulo foi aprendendo isso ao longo de sua vida e ministério, quando passou a permanecer por mais tempo nas cidades que visitava. Ele levava em conta a necessidade de dedicar mais tempo na formação de pessoas. Quando era impelido pelo Senhor a mover-se ou era forçado a deixar um lugar, logo Paulo enviava algum companheiro de equipe, muitas vezes munido de uma carta, para que a obra pudesse ser continuada.
Quantas vezes desistimos antes da hora? Claro, Paulo também errou nesse ponto, ao desistir de João Marcos. Mas Barnabé, que não havia desistido antes do terrível Saulo, lhe deu uma lição importante nesse tema. Por que será que muitas vezes desistimos dizendo que já investimos o suficiente na vida de alguém? Quanto é suficiente? Sete chances? Sete vezes sete? A verdade é que para investir em outros, em uma perspectiva da fé cristã, não dá pra contar os anos, as chances, as oportunidades.
Não acredito nisso de “desisti de fulano”. Você pode até reconhecer suas limitações e buscar ajuda, abrir espaço para que sejam outros os instrumentos de Deus na vida de alguém. Mas nesse caso então não é desistência. Segue a intercessão, a busca de outros caminhos, pessoas e recursos, confiando que é o Senhor quem continuará a fazer a obra que é dele.
3. Investir na vida de outros demanda intimidade, relacionamento.
Paulo foi mais especialmente formado, ou de maneira mais intensiva formou a outros, quando passou tempo com essas pessoas, por exemplo, viajando juntos, ou quando passava um tempo maior em alguma cidade, em meio a suas muitas viagens.
Por isso as expressões como de um pai e mãe com relação aos seus “filhos”2, por isso o profundo afeto e a necessidade que expressava da presença do outro, “vem pronto ao meu encontro”3.
Intimidade e relacionamento não caem do céu, prontos. Requerem cultivo, um processo, estar disposto a abrir sua vida para abençoar e também abrir-se para receber as bênçãos que vem do outro. Com frequência, esses benefícios vêm por meio das perguntas difíceis, aquelas que nos incomodam e nos custam responder.
Uma das coisas mais entediantes da vida é ter amigos e irmãos na fé que só concordam com você em tudo. Peça a esses mais chegados que te façam perguntas incômodas sobre sua vida pessoal. É uma das melhores iniciativas que você poderá tomar para o bem de sua saúde espiritual.
4. Investir na vida de outros implica em levá-los até Jesus
Creio que muitas vezes a ideia de investir na vida de outros nos assusta porque imaginamos que a responsabilidade esteja em nossas mãos. Talvez a chave seja entender que não sou eu a pessoa mais importante na vida do outro. Mas Jesus sim é, ou deveria sê-lo. Então qualquer “intervenção” minha na vida do outro deve se dar no sentido de levá-la para mais perto de Jesus, não de mim mesmo.
Assim, nessa perspectiva correta, alguém pode até parecer mais ousado, como Paulo o foi, ao pedir que o imitassem. Claro, Paulo poderia dizê-lo porque à exortação “sejam meus imitadores”, adicionava “assim como eu sou de Cristo”4.
Se nossa vida faz com que outros fujam para longe de Cristo, então estamos errando feio o alvo. Mas atento a esse detalhe importante: claro que devemos rejeitar influências nocivas de falsos piedosos cristãos. Mas nunca podemos usar essa realidade da debilidade humana (de um líder que nos defrauda e nos decepciona) como uma desculpa para deixar de se aproximar de quem é mais importante, o próprio Jesus.
5. Investir na vida de outros é transformador, para todos
Para Paulo, essa era uma jornada de transformação, de ir crescendo, renunciando e abraçando nova fidelidade5, cada vez mais rumo a Cristo6, com a ajuda de outros, através do Espírito do Senhor operando na comunidade e através da comunidade.
Também Guayasamin nos inspira nessa jornada. Esse artista do choro, da ira, mas também da ternura, que de maneira tão eloquente retrata mãos que tocam, que suplicam ajuda, que amparam, que cuidam e que estão estendidas para receber auxílio e socorro. Essas mãos que nos revelam uma necessidade e o acolhimento que vem do toque, do abraço, do compromisso com o outro.
Elas, junto com as lições que nos vêm do apóstolo de coração missionário, tanto nos encorajam no caminho possível de alcançar uns aos outros, com compromisso mútuo e com ternura. Assim, quem não se anima a investir em outros? Quem não se dispõe a abraçar e a ser abraçado?
Notas:
1. 1 Tessalonicenses 2:4b.
2. 1 Tessalonicenses 2:7,11,19-20.
3. 2 Timóteo 4:9,21.
4. 1 Coríntios 11:1; 1 Tessalonicenses 1:6.
5. 1 Tessalonicenses 1:9; 4:1-2.
6. Filipenses 3:13-14.
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A igreja autêntica (livro)
É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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