Opinião
- 22 de abril de 2014
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Indígenas do Brasil
O cenário indígena brasileiro tem mudado rápida e intensamente nos últimos anos. O acesso à educação, saúde, bolsa família e relação com o Estado tem sido as maiores forças de atração para a crescente urbanização. Algumas mudanças observadas parecem positivas. Outras são trágicas e irreversíveis.
A academia fala sobre a desmistificação do indígena, mas precisamos primeiramente desmistificar a nós mesmos. Devemos repensar nossas expectativas em relação a estas sociedades com as quais convivemos sem, de fato, compreendê-las – e passar a interpretá-las de forma igualitária na dignidade e respeitosa nas diferenças.
Nenhuma política pública resolverá as questões indígenas, pois não há em nosso país um povo indígena, mas centenas. São mais de 250 etnias falantes de 180 línguas com marcante diversidade cultural, diferentes visões de mundo e expectativas quanto à relação com a sociedade não indígena. Há os povos que buscam a integração e relacionamento, enquanto outros optam pela distância e isolamento. Há representantes indígenas inseridos e respeitados nas esferas acadêmicas, sociais, políticas e religiosas na sociedade envolvente, mas a outros é negada a voz, o direito e a autonomia. O cenário indígena não é homogêneo e precisa ser abordado de forma particularizada.
Vive-se ainda hoje o perigo da extinção. Não necessariamente extinção populacional, mas, igualmente severa, da língua, história, cultura e direito de ser diferente e pensar diferente convivendo em um território igual.
Muitas são as vozes que falam pelos indígenas. Não são raros os encontros, debates e conclusões sobre as questões dos povos indígenas onde a única voz não ouvida é do protagonista da história. Há também extremos no relacionamento. Alguns não querem ouvi-los por julgá-los menores e desprovidos de direito, enquanto outros os apoiam cegamente, sem avaliar sua realidade e demandas. Ambos os lados não se relacionam de forma igualitária, pois parecem movidos por uma preconcepção romântica ou ideológica que pinta o indígena como selvagem ou herói – nunca como o próximo.
Liberdade é apenas um conceito retórico se não for validado pela autonomia. Falar sobre a liberdade dos povos indígenas do Brasil sem lhes reconhecer a autonomia de decisão é incoerente. Não se deve trancar em reservas fechadas aqueles que desejam se relacionar com outras sociedades – da mesma forma que não se deve atrair para as cidades os que optam pelo isolamento.
Dentre a complexidade das relações com os povos indígenas do Brasil, não raramente os missionários tem sido apontados como destruidores de cultura. Um olhar menos corrompido pela ideologia, porém, perceberia que as ações missionárias evangélicas na análise linguística e preservação das línguas indígenas, programas de educação na língua materna e desenvolvimento de ações de saúde nas aldeias têm sido fatores de forte preservação cultural. Mais do que isto, tem sido uma força na contramão da urbanização irresponsável, que atrai o indígena aldeado para a cidade sem prover a este um caminho digno para sua integração. Há um número crescente de indígenas que abraçam o Evangelho de Jesus e não são poucas as barreiras que enfrentam. Eles, porém, deveriam ser tratados dentro do mesmo critério de liberdade e autonomia que pavimenta os relacionamentos de respeito e dignidade.
O Evangelho verdadeiramente bíblico jamais será motivo de alienação social ou imposição de credo. Ao contrário, leva-nos a enxergar o que está ao lado como próximo, ouvir a sua voz e caminhar em sua direção.
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Nenhuma política pública resolverá as questões indígenas, pois não há em nosso país um povo indígena, mas centenas. São mais de 250 etnias falantes de 180 línguas com marcante diversidade cultural, diferentes visões de mundo e expectativas quanto à relação com a sociedade não indígena. Há os povos que buscam a integração e relacionamento, enquanto outros optam pela distância e isolamento. Há representantes indígenas inseridos e respeitados nas esferas acadêmicas, sociais, políticas e religiosas na sociedade envolvente, mas a outros é negada a voz, o direito e a autonomia. O cenário indígena não é homogêneo e precisa ser abordado de forma particularizada.
Vive-se ainda hoje o perigo da extinção. Não necessariamente extinção populacional, mas, igualmente severa, da língua, história, cultura e direito de ser diferente e pensar diferente convivendo em um território igual.
Muitas são as vozes que falam pelos indígenas. Não são raros os encontros, debates e conclusões sobre as questões dos povos indígenas onde a única voz não ouvida é do protagonista da história. Há também extremos no relacionamento. Alguns não querem ouvi-los por julgá-los menores e desprovidos de direito, enquanto outros os apoiam cegamente, sem avaliar sua realidade e demandas. Ambos os lados não se relacionam de forma igualitária, pois parecem movidos por uma preconcepção romântica ou ideológica que pinta o indígena como selvagem ou herói – nunca como o próximo.
Liberdade é apenas um conceito retórico se não for validado pela autonomia. Falar sobre a liberdade dos povos indígenas do Brasil sem lhes reconhecer a autonomia de decisão é incoerente. Não se deve trancar em reservas fechadas aqueles que desejam se relacionar com outras sociedades – da mesma forma que não se deve atrair para as cidades os que optam pelo isolamento.
Dentre a complexidade das relações com os povos indígenas do Brasil, não raramente os missionários tem sido apontados como destruidores de cultura. Um olhar menos corrompido pela ideologia, porém, perceberia que as ações missionárias evangélicas na análise linguística e preservação das línguas indígenas, programas de educação na língua materna e desenvolvimento de ações de saúde nas aldeias têm sido fatores de forte preservação cultural. Mais do que isto, tem sido uma força na contramão da urbanização irresponsável, que atrai o indígena aldeado para a cidade sem prover a este um caminho digno para sua integração. Há um número crescente de indígenas que abraçam o Evangelho de Jesus e não são poucas as barreiras que enfrentam. Eles, porém, deveriam ser tratados dentro do mesmo critério de liberdade e autonomia que pavimenta os relacionamentos de respeito e dignidade.
O Evangelho verdadeiramente bíblico jamais será motivo de alienação social ou imposição de credo. Ao contrário, leva-nos a enxergar o que está ao lado como próximo, ouvir a sua voz e caminhar em sua direção.
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Ronaldo Lidório é teólogo e antropólogo, missionário (APMT e WEC) entre grupos pouco ou não evangelizados. É organizador de Indígenas do Brasil -- avaliando a missão da igreja e A Questão Indígena -- Uma Luta Desigual.
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