Opinião
- 10 de julho de 2017
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Igreja: Uma palavra destruída
Por Gerson Borges
O homem é um destruidor. Até constrói, é claro. Temos bons arquitetos, mortos e vivos. Mas somos mais competentes em usar a marreta do que a colher de pedreiro. Destruímos coisas, ideias, pessoas, até palavras. Sim, palavras também podem ser destruídas. Veja o exemplo de “política”. Era tão bonita! Queria dizer “cuidar da cidade, o trato da Polis”. Virou essas ruínas que se lê nos jornais fazendo cara de asco. “Tínhamos que matar esses políticos”, ouvi um sujeito esbravejar na padaria uma manhã dessas. “Matar é pouco”, divergiu outro, enquanto tomava mais um gole do seu pingado. “Tinha que ser prisão perpétua. Mas a praga desse judiciário porqueira manda soltar…”.
“Igreja” é outra que agoniza no monturo semântico pós-tudo. Igreja não é oriunda do léxico religioso. Ekklesia era como se chamavam por volta do primeiro século no mundo greco-romano (e judaico, por tabela e imposição cultural) as assembleias dos homens livres, reunidos às portas das cidades para deliberar e exercer justiça e juízo. Coisa bonita e necessária: homens julgando homens, exorcizando a barbárie. Pondo o dedo na ferida moral. Era a essa Igreja que Jesus de Nazaré, no registro de Mateus (capítulo 18.15-17) recomendava alguém, um falso irmão, que lesava de modo cínico e sem arrependimento um irmão ou vizinho. Deveria ser desmascarado como “publicano e pecador”. Merecia ser julgado nesse fórum. O Mestre até doutrina quanto à lisura e o rito do processo, com base no Deuteronômio: duas ou três testemunhas fidedignas eram exigidas (Dt 19.15).
Mas o que quer dizer “igreja” hoje? Façam uma enquete nas ruas. Do velho equívoco do “prédio religioso” à “ empresa de exploração religiosa”. Daí para cima. Aliás, para baixo: reduto de mercenários, conchavo de charlatões, quadrilha de perversos, meio de enriquecimento, fábrica de malucos. Dá medo o que brota do (in) consciente coletivo e do (não) senso comum. Vide os adjetivos megalômanos que são usados após “igreja”, na razão social (sic) de algumas das igrejas midiáticas: por que não igreja “local”, “regional”, “municipal” do Reino, da Graça e do Poder de Deus? A sórdida ambição não economiza predicados. Para um bom leitor, pouca ironia basta, diria Machado de Assis.
Mas eu creio na Igreja de Cristo! Para cada imitação barata (ou cara, bem cara), centenas, milhares de congregações de discípulos e aprendizes do Cristo, gente que se reúne para amar a Deus, servir uns aos outros e à sociedade, reconhecer num carpinteiro humilde da Galileia o Deus vivo, Criador e Redentor do universo. Gente que não “abre” igreja – planta. Sim, pois a metáfora mais adequada não vem do mercado. Vem da biologia, da vida. Igreja, senhoras e senhores, não é organização, é organismo. Pelo menos a de Jesus. Dá flor e fruto, perfuma e alimenta de vida a vida da nossa vida. Embeleza e nutre de esperança e generosidade o cenário cinza-escuro da vida desumanizada pelo egoísmo.
Mas e as imitações? E a falsificação grosseira? A resposta é tão simples quanto lógica: ninguém falsifica cédula de dois reais. Só de cem reais, cem dólares. Apenas o que tem valor é copiado, desonesta e criminosamente. A enormidade de igrejas-falsas só demonstra o valor da Igreja autêntica e viva, como diria o pastor (legítimo) John Stott. Assim como uma cédula falsa não traz algumas coisas. Por exemplo, igreja-pirata também não tem a presença de Deus e espiritualidade para além do domingo; não tem verdadeiras conversões e mudança de vida/pensamento/caráter; não tem denúncia do pecado; não tem ministração reverente e bíblica das ordenanças e sacramentos; não tem compaixão e promoção de justiça social; não tem o poder do amor ao invés do amor ao poder; enfim, não tem coisas essenciais como essas.
Na igreja autêntica, sobretudo, adora-se ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó, um Deus que se revelou na História. Que se tornou carne e sangue e entrou na nossa escravidão para nos redimir em Cristo, sua morte na cruz. O Deus da igreja de verdade não é a falsa e profana trindade: dinheiro, poder e prazer. O Deus da igreja de verdade é o Deus Triúno da Graça: Pai, Filho e Espírito Santo.
Foto ilustrativa: Pixabay.com.
O homem é um destruidor. Até constrói, é claro. Temos bons arquitetos, mortos e vivos. Mas somos mais competentes em usar a marreta do que a colher de pedreiro. Destruímos coisas, ideias, pessoas, até palavras. Sim, palavras também podem ser destruídas. Veja o exemplo de “política”. Era tão bonita! Queria dizer “cuidar da cidade, o trato da Polis”. Virou essas ruínas que se lê nos jornais fazendo cara de asco. “Tínhamos que matar esses políticos”, ouvi um sujeito esbravejar na padaria uma manhã dessas. “Matar é pouco”, divergiu outro, enquanto tomava mais um gole do seu pingado. “Tinha que ser prisão perpétua. Mas a praga desse judiciário porqueira manda soltar…”.
“Igreja” é outra que agoniza no monturo semântico pós-tudo. Igreja não é oriunda do léxico religioso. Ekklesia era como se chamavam por volta do primeiro século no mundo greco-romano (e judaico, por tabela e imposição cultural) as assembleias dos homens livres, reunidos às portas das cidades para deliberar e exercer justiça e juízo. Coisa bonita e necessária: homens julgando homens, exorcizando a barbárie. Pondo o dedo na ferida moral. Era a essa Igreja que Jesus de Nazaré, no registro de Mateus (capítulo 18.15-17) recomendava alguém, um falso irmão, que lesava de modo cínico e sem arrependimento um irmão ou vizinho. Deveria ser desmascarado como “publicano e pecador”. Merecia ser julgado nesse fórum. O Mestre até doutrina quanto à lisura e o rito do processo, com base no Deuteronômio: duas ou três testemunhas fidedignas eram exigidas (Dt 19.15).
Mas o que quer dizer “igreja” hoje? Façam uma enquete nas ruas. Do velho equívoco do “prédio religioso” à “ empresa de exploração religiosa”. Daí para cima. Aliás, para baixo: reduto de mercenários, conchavo de charlatões, quadrilha de perversos, meio de enriquecimento, fábrica de malucos. Dá medo o que brota do (in) consciente coletivo e do (não) senso comum. Vide os adjetivos megalômanos que são usados após “igreja”, na razão social (sic) de algumas das igrejas midiáticas: por que não igreja “local”, “regional”, “municipal” do Reino, da Graça e do Poder de Deus? A sórdida ambição não economiza predicados. Para um bom leitor, pouca ironia basta, diria Machado de Assis.
Mas eu creio na Igreja de Cristo! Para cada imitação barata (ou cara, bem cara), centenas, milhares de congregações de discípulos e aprendizes do Cristo, gente que se reúne para amar a Deus, servir uns aos outros e à sociedade, reconhecer num carpinteiro humilde da Galileia o Deus vivo, Criador e Redentor do universo. Gente que não “abre” igreja – planta. Sim, pois a metáfora mais adequada não vem do mercado. Vem da biologia, da vida. Igreja, senhoras e senhores, não é organização, é organismo. Pelo menos a de Jesus. Dá flor e fruto, perfuma e alimenta de vida a vida da nossa vida. Embeleza e nutre de esperança e generosidade o cenário cinza-escuro da vida desumanizada pelo egoísmo.
Mas e as imitações? E a falsificação grosseira? A resposta é tão simples quanto lógica: ninguém falsifica cédula de dois reais. Só de cem reais, cem dólares. Apenas o que tem valor é copiado, desonesta e criminosamente. A enormidade de igrejas-falsas só demonstra o valor da Igreja autêntica e viva, como diria o pastor (legítimo) John Stott. Assim como uma cédula falsa não traz algumas coisas. Por exemplo, igreja-pirata também não tem a presença de Deus e espiritualidade para além do domingo; não tem verdadeiras conversões e mudança de vida/pensamento/caráter; não tem denúncia do pecado; não tem ministração reverente e bíblica das ordenanças e sacramentos; não tem compaixão e promoção de justiça social; não tem o poder do amor ao invés do amor ao poder; enfim, não tem coisas essenciais como essas.
Na igreja autêntica, sobretudo, adora-se ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó, um Deus que se revelou na História. Que se tornou carne e sangue e entrou na nossa escravidão para nos redimir em Cristo, sua morte na cruz. O Deus da igreja de verdade não é a falsa e profana trindade: dinheiro, poder e prazer. O Deus da igreja de verdade é o Deus Triúno da Graça: Pai, Filho e Espírito Santo.
Foto ilustrativa: Pixabay.com.
Gerson Borges, casado com Rosana Márcia e pai de Bernardo e Pablo, pastoreia a Comunidade de Jesus no ABCD Paulista. É autor de Ser Evangélico sem Deixar de Ser Brasileiro, cantor, compositor e escritor, licenciado em letras e graduando em psicologia.
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Ricardo Barbosa