Opinião
- 13 de novembro de 2023
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Idosos como atores [e campo] da missão
Sessenta+
Por Verônica Farias e Sergio Lyra
Por Verônica Farias e Sergio Lyra
Podemos considerar a pessoa idosa como um campo de missão? E, nesse caso, como os próprios idosos crentes podem responder a este desafio missionário?
Pense comigo, se o número de idosos cresce na sociedade em geral, então, temos que aprender a inserir e não descartar ou ignorar o potencial desta faixa etária dentro de nossas igrejas. Segundo, como igreja, podemos apoiá-los e incentivá-los a envolverem-se em ações que comuniquem o Evangelho àqueles da sua faixa de idade que não conhecem as boas novas de Cristo. De idoso para idoso, assim como de jovem para jovem, a mensagem é comunicada a partir da afinidade que a própria faixa etária carrega: as crises, as dúvidas, os receios, as perdas ou os ganhos, os interesses, as habilidades manuais e até a própria religiosidade, que nessa fase está mais aguçada, tudo pode tornar-se um fio condutor de conversa, de convite e até de amizade, para o testemunho cristão acontecer naturalmente.
Uma pessoa mais velha pode também se tornar um mentor ou mentora de outros mais jovens na igreja. Considero de grande valor e importância a presença de um mentor ou mentora durante a vida cristã e de serviço, comunicando sua sabedoria para outras gerações. Tenho experimentado o prazer e o privilégio da presença ativa de um mentor em toda a minha vida cristã e carreira missionária, até o momento. Sei da diferença positiva que isso faz, assim como imagino que Timóteo diria o mesmo a respeito da influência do apóstolo Paulo em seu desenvolvimento pessoal. Por isso, pensei em convidar essa pessoa para partilhar a escrita desse texto comigo. Nas minhas relações mais próximas não conheço ninguém que poderia falar sobre esse tema do anúncio do Evangelho com tanta propriedade e naturalidade de quem faz o que diz, como o pastor Sérgio Lyra. Pela graça de Deus tem sido ao longo das últimas três décadas de convivência ministerial e pessoal, um modelo cristão a me inspirar. Ele nos conduzirá adiante nessa reflexão, de maneira bíblica, concisa e prática, como costuma ser o seu estilo.
Identificando barreiras e pontes
Muitas coisas poderiam ser ditas sobre como evangelizar uma pessoa idosa, entretanto, vou começar levando em consideração a pessoa que irá ser o instrumento de verbalização da fé. Se o pregador já for uma pessoa da terceira idade, uma porta larga provavelmente estará aberta para o início de uma conversação. Todavia, considerando que a evangelização por amizade é a estratégia que mais facilita o anúncio do evangelho, acredito que parentes e amigos de idosos, mesmo que estejam em idades diferentes, conseguirão uma oportunidade (Cl 4.5) para apresentar a verdade do evangelho.
Para ser prático, vou identificar três atitudes que podem produzir barreiras, fazendo com que a semente do evangelho seja como aquelas que o semeador lançou, caíram na beira do caminho e Satanás não deixou nascer (Mt 13.19). Ao mesmo tempo, vou sugerir como construir pontes de contato.
1. Não faça da sua fala o centro da conversa – A pessoa idosa geralmente gosta de conversar, entretanto quando alguém tenta se comunicar, sendo o “centro da atenção”, isso tende a ser uma barreira, por mais interessante que seja o assunto. A ponte para compartilhar a fé é construída através de conversas que tem o seu início em assuntos que a pessoa gosta de conversar. Intencionalmente, deixe o idoso falar.
2. Rejeite a figura de professor – Mesmo que os conceitos abraçados pelo idoso estejam errados, assumir o papel de um professor pode produzir rejeição, principalmente se você é mais novo. Recomendo que se utilize o método de fazer perguntas, despertando o interesse e, de maneira sutil, conduzindo a conversa para a vida espiritual.
3. Cuidado com as abordagens relâmpago – Se você não dispõe de tempo para uma conversa um pouco mais demorada, é recomendável que outra oportunidade seja encontrada. Uma das atitudes que normalmente irrita uma pessoa idosa é não lhe dar uma atenção mais pessoal.
Como iniciar uma conversa sobre o evangelho
Normalmente uma pessoa idosa tem disponibilidade e prazer para uma conversa descontraída. Além disso, ela traz consigo muitas lembranças de histórias que fizeram parte da sua caminhada e muito comumente gosta de dialogar com uma pessoa interessada em suas lembranças. Uma boa estratégia é fazer perguntas acerca das experiências de vida para estabelecer uma comunicação amigável. Vou lançar mão de um diálogo hipotético para facilitar melhor como essa abordagem pode ser feita.
“Qual a experiência que o senhor considera uma das mais interessantes?”.
Ao ouvir atentamente a história que vai ser contada, procure encontrar algum aspecto ou ponto de contato que, a partir dele, você possa entrar na vida espiritual. A mudança de assunto pode seguir a mesma estratégia de fazer perguntas.
“Percebi que o senhor disse que agradecia a Deus pelo privilégio de ter filhos. Mas me diga uma coisa, o que Deus realmente significa para o senhor?”.
Perceba que o assunto agora foi direcionado para o relacionamento dele para com Deus. Enfatizo a importância de não assumir a postura de “professor”, isso geralmente cria barreiras. Recomendo que o processo trilhe o caminho da conversa. Depois de ouvir o que ele pensa sobre Deus, evite de imediato corrigir um conceito errado apresentado. Opte por conduzir a conversa com cuidado e apresentar a verdade da Bíblia, sendo você quem constrói a agenda. Isso pode ser feito com outra pergunta:
“Não sei se o senhor já leu a Bíblia, mas eu aprendi que ela fala muito sobre Deus e do que Ele quer que a gente faça. O senhor me permitiria mostrar alguns textos da Bíblia Sagrada?”.
Se o idoso for católico, peça para trazer a Bíblia dele, o Novo testamento é o mesmo que abraçamos nas igrejas evangélicas, e inicie uma apresentação do plano se salvação. Recomendo a sequência do livro de Romanos: (1) Somos todos pecadores (Rm 3.10-12); (2) Por causa do pecado fomos separados de Deus (Rm 3.23); (3) O pecado entrou no mundo e trouxe a morte para todos (Rm 5.12); (4) O pecado gerou a morte, mas Jesus trouxe a vida (Rm 6.23); (5) Jesus morreu por nós pecadores (Rm 5.8); (6) O que devemos fazer para ser salvo (Rm 10.9).
Aprendendo a depender do Espírito Santo
Sempre devemos lembrar que quem convence a pessoa do seu pecado é o Espírito Santo, e é através da Sua ação que o crente é habilitado com poder para ser testemunha de Cristo (At 1.8). É o Espírito Santo que traz a vida para uma pessoa que está morta em seus pecados (Ef 2.1) e permite que ela passe a desejar a Deus. É o Espírito de Deus que habilita nossa mente para entendermos as verdades reveladas nas Escrituras e nos ajuda a colocá-las em prática. Devemos aprender a depender do Espírito Santo tanto para apresentarmos a verdade do evangelho, quanto para vermos o poder de Deus atuando e transformando a vida de uma pessoa idosa.
Na prática, isso significa que quem deseja evangelizar pessoas idosas ou não, deve dedicar tempo à oração intercedendo diante de Deus por seu público alvo e por si mesmo. Um bom evangelista também precisa dedicar tempo para estabelecer seu ponto de contato e a estratégia a ser utilizada para verbalizar a verdade salvadora da fé em Jesus, pedir e depender do Espírito Santo que oriente toda a conversa.
- Verônica Farias, missionária e psicóloga clínica, serve na área do Cuidado Integral do Missionário (CIM) desde 2006. É membro do conselho deliberativo do CIM BRASIL-AMTB e integrante da Agência PMI. Doutoranda em ministérios, atua como professora convidada em diversos cursos de treinamento missionário.
- Sergio Lyra, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil desde 1980, doutor em ministério, professor no Seminário Presbiteriano do Norte, coordenador do Centro de Pós-graduação do Betel Brasileiro e autor de livros na área de missiologia urbana.
Saiba mais:
» Aprender a Envelhecer, Paul Tournier
» Fui Moço, Agora Sou Velho... E Daí?, Kléos M. Lenz César
» Uma conversa sobre a morte, edição 391 de Ultimato
» Envelhecimento saudável, por Jorge Cruz
» A vida passa muito rápido, por Jiro Nishimura
» Envelhecimento da população requer novas políticas públicas e atenção da igreja, por Xênia Casséte
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