Opinião
- 25 de fevereiro de 2009
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Ideias de Darwin
Karl Heinz Kienitz
A mídia deu grande destaque ao ducentésimo aniversário de nascimento de Charles Robert Darwin, comemorado em 12 de fevereiro. Junto com muitos fatos importantes sobre este conhecido naturalista publicaram-se também toda sorte de estultícias a seu respeito.
Em sua edição de 09/02/2009, a revista “Época”, por exemplo, festeja Darwin como o maior cientista do século 19, homenagem reservada geralmente ao menos badalado James Clerk Maxwell (formulador da teoria do campo eletromagnético que possibilitou desenvolvimentos como rádio, TV, radar, radiografia, GPS, a comunicação sem fio e outros aos quais ninguém deseja renunciar).
Em contraste com a ciência de impacto prático de Maxwell, as ideias de Darwin desembocaram em debates conduzidos com vigoroso dogmatismo e fomentaram estranhas doutrinas específicas tais como o darwinismo social e a eugênica. A principal variante da teoria da evolução e um ceticismo anticristão, por sinal muito em voga na mídia, apelam a uma versão recondicionada das ideias de Darwin (o neodarwinismo) para explicar a diversidade da vida. É o que realmente resultou de “A origem das espécies”, a obra maior de Darwin, cuja contribuição central, a seleção natural, foi derivada de três premissas incorretas, como detalham artigos técnicos dedicados ao assunto pelo professor Kenneth Hsu1. O professor Wolfgang Smith é ainda mais categórico2: "O darwinismo, independentemente do formato, de fato não é uma teoria científica, mas uma hipótese pseudometafísica pomposamente vestida em roupagem de ciência. Na realidade, a teoria deriva sua sustentação não dos dados empíricos ou das deduções lógicas de natureza científica, mas da circunstância de ser a única doutrina sobre as origens biológicas concebível na limitada visão de mundo a que a maioria dos cientistas indubitavelmente subscreve". Com tônica semelhante, o professor Alfred Locker constata que “a teoria da evolução não é o ápice do conhecimento científico, mas o ponto final de um movimento intelectual, que (...) se manteve erguido em otimismo embriagante por muito tempo, hoje só conseguindo disfarçar seu descaminho (e conversão em destruição da natureza) com ruidosa propaganda em causa própria”.3 A revista “Veja”, edição de 11/02/2009, inocentemente confirma a constatação de Locker, ao louvar as ideias de Darwin como “os pilares da biologia e da genética”; justamente daquela genética com a qual o darwinismo precisou ser compatibilizado por meio da sua transformação em neodarwinismo. Obviamente não se pode deixar de notar o artigo definido “os” usado pelo articulista antes de “pilares”, indicando sua fé na ausência de outros pilares para a biologia e a genética, além das ideias reveladas por Darwin.
Numa formulação bem mais lúcida, a já citada edição de “Época” relata que as teses de Darwin "foram amplamente confirmadas", mas agora (sic!) são questionáveis. Na mesma matéria a revista elenca Darwin, juntamente com Freud e Marx, como um dos três pensadores mais influentes do século 19. A menção conjunta com Marx é muito apropriada, pois o doutrinamento de jovens com as ideias de Darwin em muitos lugares é garantido por força de lei ou de decisão em tribunal, exatamente como acontecia com as ideias de Marx nos países chamados comunistas. Porém, ao que tudo indica, doutrinar jovens e dissuadi-los da discussão crítica do darwinismo não foi ideia de Darwin.
Notas
1 K. Hsu - Evolution, ideology, darwinism and science, Klinische Wochenschrift (título atual: Journal of Molecular Medicine), v. 67, pp. 923-928, 1989.
2 Citado no livro H. Margenau & R.A. Varghese - Cosmos, bios, theos, Open Court, 1992.
3 A. Locker – Evolution und 'Evolutions'-Theorie in system- und metatheoretischer Betrachtung, Acta Biotheoretica, v. 32, pp. 227-264, 1983. Uma tradução deste artigo para o português está disponível em www.freewebs.com/kienitz/Locker_pt.pdf .
A mídia deu grande destaque ao ducentésimo aniversário de nascimento de Charles Robert Darwin, comemorado em 12 de fevereiro. Junto com muitos fatos importantes sobre este conhecido naturalista publicaram-se também toda sorte de estultícias a seu respeito.
Em sua edição de 09/02/2009, a revista “Época”, por exemplo, festeja Darwin como o maior cientista do século 19, homenagem reservada geralmente ao menos badalado James Clerk Maxwell (formulador da teoria do campo eletromagnético que possibilitou desenvolvimentos como rádio, TV, radar, radiografia, GPS, a comunicação sem fio e outros aos quais ninguém deseja renunciar).
Em contraste com a ciência de impacto prático de Maxwell, as ideias de Darwin desembocaram em debates conduzidos com vigoroso dogmatismo e fomentaram estranhas doutrinas específicas tais como o darwinismo social e a eugênica. A principal variante da teoria da evolução e um ceticismo anticristão, por sinal muito em voga na mídia, apelam a uma versão recondicionada das ideias de Darwin (o neodarwinismo) para explicar a diversidade da vida. É o que realmente resultou de “A origem das espécies”, a obra maior de Darwin, cuja contribuição central, a seleção natural, foi derivada de três premissas incorretas, como detalham artigos técnicos dedicados ao assunto pelo professor Kenneth Hsu1. O professor Wolfgang Smith é ainda mais categórico2: "O darwinismo, independentemente do formato, de fato não é uma teoria científica, mas uma hipótese pseudometafísica pomposamente vestida em roupagem de ciência. Na realidade, a teoria deriva sua sustentação não dos dados empíricos ou das deduções lógicas de natureza científica, mas da circunstância de ser a única doutrina sobre as origens biológicas concebível na limitada visão de mundo a que a maioria dos cientistas indubitavelmente subscreve". Com tônica semelhante, o professor Alfred Locker constata que “a teoria da evolução não é o ápice do conhecimento científico, mas o ponto final de um movimento intelectual, que (...) se manteve erguido em otimismo embriagante por muito tempo, hoje só conseguindo disfarçar seu descaminho (e conversão em destruição da natureza) com ruidosa propaganda em causa própria”.3 A revista “Veja”, edição de 11/02/2009, inocentemente confirma a constatação de Locker, ao louvar as ideias de Darwin como “os pilares da biologia e da genética”; justamente daquela genética com a qual o darwinismo precisou ser compatibilizado por meio da sua transformação em neodarwinismo. Obviamente não se pode deixar de notar o artigo definido “os” usado pelo articulista antes de “pilares”, indicando sua fé na ausência de outros pilares para a biologia e a genética, além das ideias reveladas por Darwin.
Numa formulação bem mais lúcida, a já citada edição de “Época” relata que as teses de Darwin "foram amplamente confirmadas", mas agora (sic!) são questionáveis. Na mesma matéria a revista elenca Darwin, juntamente com Freud e Marx, como um dos três pensadores mais influentes do século 19. A menção conjunta com Marx é muito apropriada, pois o doutrinamento de jovens com as ideias de Darwin em muitos lugares é garantido por força de lei ou de decisão em tribunal, exatamente como acontecia com as ideias de Marx nos países chamados comunistas. Porém, ao que tudo indica, doutrinar jovens e dissuadi-los da discussão crítica do darwinismo não foi ideia de Darwin.
Notas
1 K. Hsu - Evolution, ideology, darwinism and science, Klinische Wochenschrift (título atual: Journal of Molecular Medicine), v. 67, pp. 923-928, 1989.
2 Citado no livro H. Margenau & R.A. Varghese - Cosmos, bios, theos, Open Court, 1992.
3 A. Locker – Evolution und 'Evolutions'-Theorie in system- und metatheoretischer Betrachtung, Acta Biotheoretica, v. 32, pp. 227-264, 1983. Uma tradução deste artigo para o português está disponível em www.freewebs.com/kienitz/Locker_pt.pdf .
Tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor de engenharia em São José dos Campos (SP). É editor do blog Fé e Ciência.
- Textos publicados: 32 [ver]
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Site: http://www.freewebs.com/kienitz/
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