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- 13 de abril de 2021
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Histórias da linha da frente da pandemia
Como responder a uma demanda pública em tempos de pandemia e de periculosidade desconhecida e ainda não compreendida plenamente? Como ajudar o próximo – famílias e crianças – quando o serviço precisa ser altamente técnico?
Igreja em Ação
Por Patrick Reason
Em abril de 2020 a pandemia chegou no Sul do Brasil. Eu trabalho a partir de Curitiba, PR. Naquela época, a prefeitura Municipal de Curitiba pediu ao Fundo Municipal para a Criança e Adolescente recursos para pagar o atendimento de casas de passagem. Como iriam funcionar? A ideia era centralizar o atendimento a partir das casas já preparadas para receber crianças e adolescentes que vêm de situações de violência doméstica, da rua, ou de situações diversas de violência ou risco enquanto dura a pandemia.
Em diversos abrigos de Curitiba são acolhidas aproximadamente 600 a 700 crianças e há uma certa rotatividade com crianças voltando para seus lares ou eventualmente sendo adotadas enquanto outras estão no início da caminhada, sendo retiradas de situações insustentáveis. As casas de acolhimento têm a capacidade de atender em média até vinte crianças ou adolescentes por unidade. Em tempos de pandemia, o risco de contágio é alto. Então a ideia era oferecer um lugar de “triagem” com cuidados sanitários rigorosos para que, na entrada, as crianças pudessem observar um tempo curto de quarentena para depois serem integradas ao convívio com outras crianças nas diversas casas, diminuindo assim em muito o risco de contágio. Uma boa ideia, e bem prática diante das dúvidas e novos riscos impostos por esse vírus desconhecido.
Uma instituição aceitou atender crianças pequenas, outras pré-adolescentes e adolescentes. A Associação Beneficente Encontro com Deus, instituição que coordeno, aceitou o desafio de abrir uma nova casa para atender crianças com suas mães ou mulheres vítimas de violência. Tratamos de alugar uma casa ao lado da instituição, mas enquanto isso ia se organizando adequamos o espaço já disponível do nosso centro comunitário cujas atividades com crianças tinham sido suspensas.
A vida de cada um da equipe virou de ponta cabeça quando as educadoras do centro comunitário precisaram começar a trabalhar dia e noite. Contratamos educadoras às pressas e fomos dando o melhor atendimento possível num ambiente temporário de mudança brusca e muito desafiador.
Paralelo a isso, nos dedicamos a demandas urgentes de mitigar o risco do contágio pelo coronavírus. Chegamos a produzir um documento de fluxos de cuidado incluindo todos os níveis de cuidados, espaços limpos, sujos e de transição, de atendimento ao público e à comunidade. E, acima de tudo, nos esforçamos por manter um espaço seguro para as famílias e crianças morarem com barreiras sanitárias. Nunca imaginei que iria ver funcionários utilizando EPI completo e, menos ainda, ver famílias somente do outro lado de portas de vidro e separadas em alas recebendo refeições deixadas em frente a cada porta. Foi um tempo surreal, de algum medo, mas de muita aprendizagem.
A instituição que aceitou atender adolescentes e pré-adolescentes foi a Fundação Iniciativa, fazendo uso de uma casa cedida pela prefeitura. Foram os primeiros a atender formalmente, em agosto de 2020. Nossa instituição passou a receber pessoas em outubro e a casa de atendimento de crianças pequenas abriu em dezembro. O maior desafio foi vencer a burocracia, como em qualquer parceria pública, mas persistimos porque a demanda batia à porta todos os dias. Quando chegaram os termos para assinar, achamos que era tarde demais. Como fomos enganados, a pandemia infelizmente permanece entre nós!
Como responder a uma demanda pública em tempos de pandemia e de periculosidade desconhecida e ainda não compreendida plenamente? Como ajudar o próximo quando o serviço precisa ser altamente técnico? Não dá para simplesmente arriscar-se! Quem se dispôs a aceitar este desafio tem trabalho consolidado por no mínimo vinte anos com o acolhimento de crianças. Há um compromisso público, coletivo, de excelência técnica, mas acima de tudo um desejo a servir. Cada uma das três instituições mencionadas acima é dirigida por uma diretoria de maioria cristã. Tenho profundo orgulho da minha equipe e das equipes das outras instituições que se dispõem a servir aos pequenos nas situações mais desafiadoras que se podem imaginar. Mas é isso que a igreja foi chamada a ser: sal e luz onde considerarmos o bem-estar dos outros acima de nós mesmos.
Todo trabalho técnico e de preparação resultou num documento de protocolos de proteção no acolhimento durante a pandemia de mais do que 80 páginas. Este documento passou por uma avaliação da secretaria de saúde da nossa cidade e logo se tornou referência para o documento que embasou o atendimento de toda a rede de atendimento tanto de outras instituições como dos próprios abrigos da prefeitura. Este documento ajudou em muito na construção de orientações técnicas do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e ainda ajudou na construção da Portaria 59 da Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS) com orientações ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS) sobre cuidados a crianças e adolescentes em serviços de acolhimento no contexto de emergência em saúde pública decorrente do novo coronavírus. Esta nota resultou na seguinte nota de agradecimento da própria SNAS: "A equipe da SNAS agradece todas as valiosas contribuições que recebemos, e experiências de várias localidades que tomamos conhecimento, que muito contribuíram para a elaboração deste material. Registramos aqui, um agradecimento especial ao Movimento Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, na pessoa do secretário Patrick Reason, que a todo tempo tem compartilhado reflexões importantes que muito contribuíram nas discussões que embasaram essa Nota Técnica, assim como o Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente (NECA) pelo envio de material que também enriqueceu as discussões e o aprimoramento do documento. Muito obrigada, a cada um que dos seus mais diferentes lugares têm contribuído para a proteção das crianças e adolescentes nesse contexto tão desafiador".
• Patrick Reason, diretor da Associação Beneficente Encontro com Deus.
Igreja em Ação
Por Patrick Reason
Em abril de 2020 a pandemia chegou no Sul do Brasil. Eu trabalho a partir de Curitiba, PR. Naquela época, a prefeitura Municipal de Curitiba pediu ao Fundo Municipal para a Criança e Adolescente recursos para pagar o atendimento de casas de passagem. Como iriam funcionar? A ideia era centralizar o atendimento a partir das casas já preparadas para receber crianças e adolescentes que vêm de situações de violência doméstica, da rua, ou de situações diversas de violência ou risco enquanto dura a pandemia.
Em diversos abrigos de Curitiba são acolhidas aproximadamente 600 a 700 crianças e há uma certa rotatividade com crianças voltando para seus lares ou eventualmente sendo adotadas enquanto outras estão no início da caminhada, sendo retiradas de situações insustentáveis. As casas de acolhimento têm a capacidade de atender em média até vinte crianças ou adolescentes por unidade. Em tempos de pandemia, o risco de contágio é alto. Então a ideia era oferecer um lugar de “triagem” com cuidados sanitários rigorosos para que, na entrada, as crianças pudessem observar um tempo curto de quarentena para depois serem integradas ao convívio com outras crianças nas diversas casas, diminuindo assim em muito o risco de contágio. Uma boa ideia, e bem prática diante das dúvidas e novos riscos impostos por esse vírus desconhecido.
Uma instituição aceitou atender crianças pequenas, outras pré-adolescentes e adolescentes. A Associação Beneficente Encontro com Deus, instituição que coordeno, aceitou o desafio de abrir uma nova casa para atender crianças com suas mães ou mulheres vítimas de violência. Tratamos de alugar uma casa ao lado da instituição, mas enquanto isso ia se organizando adequamos o espaço já disponível do nosso centro comunitário cujas atividades com crianças tinham sido suspensas.
A vida de cada um da equipe virou de ponta cabeça quando as educadoras do centro comunitário precisaram começar a trabalhar dia e noite. Contratamos educadoras às pressas e fomos dando o melhor atendimento possível num ambiente temporário de mudança brusca e muito desafiador.
Paralelo a isso, nos dedicamos a demandas urgentes de mitigar o risco do contágio pelo coronavírus. Chegamos a produzir um documento de fluxos de cuidado incluindo todos os níveis de cuidados, espaços limpos, sujos e de transição, de atendimento ao público e à comunidade. E, acima de tudo, nos esforçamos por manter um espaço seguro para as famílias e crianças morarem com barreiras sanitárias. Nunca imaginei que iria ver funcionários utilizando EPI completo e, menos ainda, ver famílias somente do outro lado de portas de vidro e separadas em alas recebendo refeições deixadas em frente a cada porta. Foi um tempo surreal, de algum medo, mas de muita aprendizagem.
A instituição que aceitou atender adolescentes e pré-adolescentes foi a Fundação Iniciativa, fazendo uso de uma casa cedida pela prefeitura. Foram os primeiros a atender formalmente, em agosto de 2020. Nossa instituição passou a receber pessoas em outubro e a casa de atendimento de crianças pequenas abriu em dezembro. O maior desafio foi vencer a burocracia, como em qualquer parceria pública, mas persistimos porque a demanda batia à porta todos os dias. Quando chegaram os termos para assinar, achamos que era tarde demais. Como fomos enganados, a pandemia infelizmente permanece entre nós!
Como responder a uma demanda pública em tempos de pandemia e de periculosidade desconhecida e ainda não compreendida plenamente? Como ajudar o próximo quando o serviço precisa ser altamente técnico? Não dá para simplesmente arriscar-se! Quem se dispôs a aceitar este desafio tem trabalho consolidado por no mínimo vinte anos com o acolhimento de crianças. Há um compromisso público, coletivo, de excelência técnica, mas acima de tudo um desejo a servir. Cada uma das três instituições mencionadas acima é dirigida por uma diretoria de maioria cristã. Tenho profundo orgulho da minha equipe e das equipes das outras instituições que se dispõem a servir aos pequenos nas situações mais desafiadoras que se podem imaginar. Mas é isso que a igreja foi chamada a ser: sal e luz onde considerarmos o bem-estar dos outros acima de nós mesmos.
Todo trabalho técnico e de preparação resultou num documento de protocolos de proteção no acolhimento durante a pandemia de mais do que 80 páginas. Este documento passou por uma avaliação da secretaria de saúde da nossa cidade e logo se tornou referência para o documento que embasou o atendimento de toda a rede de atendimento tanto de outras instituições como dos próprios abrigos da prefeitura. Este documento ajudou em muito na construção de orientações técnicas do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e ainda ajudou na construção da Portaria 59 da Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS) com orientações ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS) sobre cuidados a crianças e adolescentes em serviços de acolhimento no contexto de emergência em saúde pública decorrente do novo coronavírus. Esta nota resultou na seguinte nota de agradecimento da própria SNAS: "A equipe da SNAS agradece todas as valiosas contribuições que recebemos, e experiências de várias localidades que tomamos conhecimento, que muito contribuíram para a elaboração deste material. Registramos aqui, um agradecimento especial ao Movimento Nacional Pró-Convivência Familiar e Comunitária, na pessoa do secretário Patrick Reason, que a todo tempo tem compartilhado reflexões importantes que muito contribuíram nas discussões que embasaram essa Nota Técnica, assim como o Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente (NECA) pelo envio de material que também enriqueceu as discussões e o aprimoramento do documento. Muito obrigada, a cada um que dos seus mais diferentes lugares têm contribuído para a proteção das crianças e adolescentes nesse contexto tão desafiador".
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