Opinião
- 03 de março de 2010
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Heróis
Jorge Camargo
Quando criança uma de minhas primeiras lembranças é a de minha avó Olga, pacientemente sentada ao lado de sua máquina de costura mágica, tentando transformar os vários pedaços de retalho numa capa colorida, com a qual eu seria revestido logo depois, para sair "voando" espaço afora (igualzinho aos heróis que acabara de ver na televisão; ainda que, ao contrário deles, minhas aterrissagens fossem, na maioria das vezes, de boca no chão de terra da frondosa mangueira no fundo do quintal amplo de casa).
Na adolescência, meus super-heróis, por conta da rebeldia natural desse tempo, passaram a ser os anti-heróis, os autênticos representantes da revolta ao sistema e aos padrões estabelecidos.
Eles agora não demonstram mais super poderes, não voam, têm mais perguntas que respostas, o que ironicamente os torna mais poderosos que os valentes de meu passado ainda recente de criança. Mais heróis e mitológicos que nunca...
No contato com o evangelho, surgem novos referenciais de conduta, desta vez os denominados heróis da fé. Homens e mulheres como você e eu, mas cujos encontros e caminhadas de vida com Deus os tornam especiais. Aqui, tenho que fazer um parêntese, para expressar minha angústia quando tento comparar minha vida com a deles. Acho que é a angústia básica de todos os que por eles nutrem respeito e admiração.
Poderíamos eu e você sermos colocados na mesma categoria que a desses grandes personagens? Duvido. Até mesmo porque creio que a grande causadora dessa inquietação é nossa tentativa de categorizá-los, superestimando seus poderes e subestimando sua humanidade!
Afinal, o que significa ser um herói?
Uma definição acurada seria: ser alguém que se distingue por coragem extraordinária na guerra ou diante de outro qualquer perigo; que suporta exemplarmente um destino incomum, como, por exemplo, um extremo infortúnio ou sofrimento, ou que arrisca sua vida abnegadamente pelo seu dever ou pelo próximo; personagem preeminente ou central que, por sua parte admirável em uma ação ou evento notável, é considerada um modelo de nobreza.
Invariavelmente, diante destas definições técnico-literárias de quem seria um verdadeiro herói, é impossível deixar de pensar em pessoas comuns com as quais convivemos ou temos convivido em nossas comunidades, cuja paixão por Deus e por gente nos constrange (às vezes até incomoda). Pessoas que se candidatam a um campo missionário que não significa necessariamente uma terra distante, podendo ser, por exemplo, o campo dos descamisados urbanos, dos párias, ou até mesmo dos marginalizados no seio da própria igreja!
Esses homens e mulheres que por tantas vezes sentam-se ao nosso lado nas celebrações dominicais são nossos heróis contemporâneos, muito embora ignoremos essa possível menção honrosa e pública ou até mesmo suas presenças.
Contudo lá estão eles, pra nos dizer - na maioria das vezes sem palavras - que a vocação para atos heróicos não é privilégio de alguns. É chamado de todos. Afinal, viver o amor até as últimas consequências, praticar a compaixão e a misericórdia, não deixa de ser uma postura heróica. Talvez anônima, talvez quase imperceptível por nossa sociedade globalizada e tão insensível. Mas com certeza cativante, sedutora, encantadora.
Que o nosso grande Super-Herói possa inspirar-nos a atitudes que expressem a coragem e a ousadia de seus autênticos discípulos heróicos.
Tenho saudades da minha capa colorida...
Siga-nos no Twitter!
Quando criança uma de minhas primeiras lembranças é a de minha avó Olga, pacientemente sentada ao lado de sua máquina de costura mágica, tentando transformar os vários pedaços de retalho numa capa colorida, com a qual eu seria revestido logo depois, para sair "voando" espaço afora (igualzinho aos heróis que acabara de ver na televisão; ainda que, ao contrário deles, minhas aterrissagens fossem, na maioria das vezes, de boca no chão de terra da frondosa mangueira no fundo do quintal amplo de casa).
Na adolescência, meus super-heróis, por conta da rebeldia natural desse tempo, passaram a ser os anti-heróis, os autênticos representantes da revolta ao sistema e aos padrões estabelecidos.
Eles agora não demonstram mais super poderes, não voam, têm mais perguntas que respostas, o que ironicamente os torna mais poderosos que os valentes de meu passado ainda recente de criança. Mais heróis e mitológicos que nunca...
No contato com o evangelho, surgem novos referenciais de conduta, desta vez os denominados heróis da fé. Homens e mulheres como você e eu, mas cujos encontros e caminhadas de vida com Deus os tornam especiais. Aqui, tenho que fazer um parêntese, para expressar minha angústia quando tento comparar minha vida com a deles. Acho que é a angústia básica de todos os que por eles nutrem respeito e admiração.
Poderíamos eu e você sermos colocados na mesma categoria que a desses grandes personagens? Duvido. Até mesmo porque creio que a grande causadora dessa inquietação é nossa tentativa de categorizá-los, superestimando seus poderes e subestimando sua humanidade!
Afinal, o que significa ser um herói?
Uma definição acurada seria: ser alguém que se distingue por coragem extraordinária na guerra ou diante de outro qualquer perigo; que suporta exemplarmente um destino incomum, como, por exemplo, um extremo infortúnio ou sofrimento, ou que arrisca sua vida abnegadamente pelo seu dever ou pelo próximo; personagem preeminente ou central que, por sua parte admirável em uma ação ou evento notável, é considerada um modelo de nobreza.
Invariavelmente, diante destas definições técnico-literárias de quem seria um verdadeiro herói, é impossível deixar de pensar em pessoas comuns com as quais convivemos ou temos convivido em nossas comunidades, cuja paixão por Deus e por gente nos constrange (às vezes até incomoda). Pessoas que se candidatam a um campo missionário que não significa necessariamente uma terra distante, podendo ser, por exemplo, o campo dos descamisados urbanos, dos párias, ou até mesmo dos marginalizados no seio da própria igreja!
Esses homens e mulheres que por tantas vezes sentam-se ao nosso lado nas celebrações dominicais são nossos heróis contemporâneos, muito embora ignoremos essa possível menção honrosa e pública ou até mesmo suas presenças.
Contudo lá estão eles, pra nos dizer - na maioria das vezes sem palavras - que a vocação para atos heróicos não é privilégio de alguns. É chamado de todos. Afinal, viver o amor até as últimas consequências, praticar a compaixão e a misericórdia, não deixa de ser uma postura heróica. Talvez anônima, talvez quase imperceptível por nossa sociedade globalizada e tão insensível. Mas com certeza cativante, sedutora, encantadora.
Que o nosso grande Super-Herói possa inspirar-nos a atitudes que expressem a coragem e a ousadia de seus autênticos discípulos heróicos.
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Mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor.
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