Opinião
- 07 de maio de 2009
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Henri Nouwen
Jorge Camargo
Meu primeiro contato com a obra de Henri Nouwen foi por meio de seu livro “A Volta do Filho Pródigo”. Diante da proposta da obra, que foi a de tecer uma teia entre o famoso texto do evangelho de Lucas e a pintura magistral de Rembrandt inspirada no tema, não foi difícil concluir que se tratava de alguém especial. Não tanto por suas conquistas acadêmicas (holandês de origem, trabalhou nos Estados Unidos como professor em Yale e Harvard), mas por sua profundidade espiritual e por sua visão sensível e honesta da trajetória humana.
Com Nouwen, entre muitas lições, tenho aprendido a conviver com minhas fraquezas e fragilidades, com meus medos e incapacidades, com minha sede imensa de Deus, semelhante àquela descrita por Agostinho na oração inicial que abre a sua autobiografia (aliás, a primeira autobiografia de que se tem notícia na história da literatura mundial) “Confissões”: “O nosso coração não encontra descanso até que descanse em ti”.
O descanso divino para Nouwen não veio por meio de suas conquistas profissionais. Ele terminou seus dias trabalhando em um lar para pessoas com deficiências físicas e mentais extremas.
Vivendo nessa uma comunidade pequena e frágil, aprendeu a encontrar sentido e propósito para a sua existência.
Seus muitos livros atestam que ele encontrou o caminho, rumo ao que procurava. E revelam sensibilidade, honestidade, profundidade e espiritualidade, valores que nos são tão caros e ao mesmo tempo se mostram cada dia mais raros.
Contudo parece ser esse mesmo o caminho: para baixo. “[...] Embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! [...] Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus” (Carta de São Paulo aos Filipenses).
Na sociedade da conquista e da escalada social, na rota para cima, o discurso de Nouwen parece se perder no vazio. A força de sua autenticidade, no entanto, faz com que sua mensagem se torne cada dia mais necessária e relevante.
Impossível não lembrar o termo cunhado por Eugene Peterson, que define o caminho da sanidade nos círculos religiosos cristãos ultimamente tão adoentados: “espiritualidade subversiva”.
Só algo que seja concebido nas catacumbas romanas de nossa sociedade extremamente consumista e desesperada, e que sorrateiramente brota com indescritível força interior, paradoxalmente descrita e demonstrada por meio da fraqueza, será capaz de, conforme clama Caetano Veloso em sua canção “Podres poderes”, “nos salvar destas trevas e nada mais”.
Meu primeiro contato com a obra de Henri Nouwen foi por meio de seu livro “A Volta do Filho Pródigo”. Diante da proposta da obra, que foi a de tecer uma teia entre o famoso texto do evangelho de Lucas e a pintura magistral de Rembrandt inspirada no tema, não foi difícil concluir que se tratava de alguém especial. Não tanto por suas conquistas acadêmicas (holandês de origem, trabalhou nos Estados Unidos como professor em Yale e Harvard), mas por sua profundidade espiritual e por sua visão sensível e honesta da trajetória humana.
Com Nouwen, entre muitas lições, tenho aprendido a conviver com minhas fraquezas e fragilidades, com meus medos e incapacidades, com minha sede imensa de Deus, semelhante àquela descrita por Agostinho na oração inicial que abre a sua autobiografia (aliás, a primeira autobiografia de que se tem notícia na história da literatura mundial) “Confissões”: “O nosso coração não encontra descanso até que descanse em ti”.
O descanso divino para Nouwen não veio por meio de suas conquistas profissionais. Ele terminou seus dias trabalhando em um lar para pessoas com deficiências físicas e mentais extremas.
Vivendo nessa uma comunidade pequena e frágil, aprendeu a encontrar sentido e propósito para a sua existência.
Seus muitos livros atestam que ele encontrou o caminho, rumo ao que procurava. E revelam sensibilidade, honestidade, profundidade e espiritualidade, valores que nos são tão caros e ao mesmo tempo se mostram cada dia mais raros.
Contudo parece ser esse mesmo o caminho: para baixo. “[...] Embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! [...] Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus” (Carta de São Paulo aos Filipenses).
Na sociedade da conquista e da escalada social, na rota para cima, o discurso de Nouwen parece se perder no vazio. A força de sua autenticidade, no entanto, faz com que sua mensagem se torne cada dia mais necessária e relevante.
Impossível não lembrar o termo cunhado por Eugene Peterson, que define o caminho da sanidade nos círculos religiosos cristãos ultimamente tão adoentados: “espiritualidade subversiva”.
Só algo que seja concebido nas catacumbas romanas de nossa sociedade extremamente consumista e desesperada, e que sorrateiramente brota com indescritível força interior, paradoxalmente descrita e demonstrada por meio da fraqueza, será capaz de, conforme clama Caetano Veloso em sua canção “Podres poderes”, “nos salvar destas trevas e nada mais”.
Mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor.
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