Opinião
- 30 de março de 2009
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Fotografias do reino
Paula Mazzini
Certos costumes trazem consigo lembranças. Desde criança, ao passar as férias no Rio Grande do Sul, fui acostumada a ver minha vó e meus tios na roda do chimarrão. Desde então, não consigo olhar para ninguém tomando chimarrão sem lembrar da minha herança gaúcha. Queijos me lembram Minas Gerais. Pizzas me lembram São Paulo. Chás me lembram a Inglaterra. No entanto, a lembrança que essas coisas trazem são mais profundas do que a culinária jamais poderá expressar.
Ao tomar um chimarrão, eu trago o Rio Grande do Sul para perto de mim -- já que não posso estar lá. Quando um inglês sai de sua terra e vem para o Brasil, ele preserva certas tradições, não pela tradição em si, mas porque, ao beber chá com leite, comer um “muffin”, ou um pão com “Marmite” ele traz a Inglaterra para cá. Quando volto de viagem e trago para meu pai um queijo, na verdade estou dando a ele um pedacinho de Minas Gerais.
Uma de minhas professoras costumava dizer que as fotografias expressam a necessidade da presença quando não podemos ter alguém por perto. Por isso, olhar para a foto de um amigo é personificá-lo; é como se, naquele momento, ele estivesse ali, sorrindo para mim. Assim, quando morre uma pessoa querida, ter a foto dela em nossa casa é a certeza de que parte dela ainda permanece conosco.
Diferente das cidades que fazem parte de nossa história, o céu é um lugar que nunca vimos e onde nunca estivemos. Temos uma vaga idéia do que ele é apenas por causa de certas passagens bíblicas. Mesmo assim, parece que todos os nossos esforços em descrever o que será o reino de Deus não passam de um esboço infantil.
No entanto, e graças a Deus, o que nos aguarda não é totalmente desconhecido. Basta pararmos de buscar descrições físicas e nos atermos às características do reino. Se fizermos isso, veremos que sabemos mais coisas sobre ele do que supomos. O reino está entre nós, e podemos vê-lo por meio das pequenas fotografias e pratos típicos que vem do céu, diretamente para nós. Da mesma forma que o Rio Grande do Sul vem até mim por meio de uma cuia, um ato de graça em um lugar improvável traz o reino de Deus para a terra.
A colação de grau de uma dona-de-casa que conheci analfabeta.
A recuperação e a esperança de uma criança que foi abusada.
Uma campanha de conscientização no meu bairro.
Duas irmãs que não se falavam fazendo as pazes.
Um estranho que me ajuda a carregar as compras, ou cede sua vaga no estacionamento.
Um adolescente que tem a iniciativa de recolher mantimentos em sua escola para enviar para uma cidade que foi inundada pela chuva.
Fotografias assinadas por Deus, para os que ainda estão um pouco longe de casa. Que possamos abrir nossos olhos e vislumbrar os múltiplos aspectos do reino de Deus que estão entre nós. Que, ao perceber pequenos atos de esperança, reconciliação, justiça, possamos parar, observar e admirar cada nuance dessas fotografias e lembrar com carinho do lugar de onde elas vieram.
Quando estiver com saudades de casa, olhe as fotografias. Nosso mundo está cheio delas...
• Paula Mazzini tem 26 anos e é membro do Exército de Salvação. Atualmente estuda no Centro Evangélico de Missões e mora em Viçosa, MG.
Certos costumes trazem consigo lembranças. Desde criança, ao passar as férias no Rio Grande do Sul, fui acostumada a ver minha vó e meus tios na roda do chimarrão. Desde então, não consigo olhar para ninguém tomando chimarrão sem lembrar da minha herança gaúcha. Queijos me lembram Minas Gerais. Pizzas me lembram São Paulo. Chás me lembram a Inglaterra. No entanto, a lembrança que essas coisas trazem são mais profundas do que a culinária jamais poderá expressar.
Ao tomar um chimarrão, eu trago o Rio Grande do Sul para perto de mim -- já que não posso estar lá. Quando um inglês sai de sua terra e vem para o Brasil, ele preserva certas tradições, não pela tradição em si, mas porque, ao beber chá com leite, comer um “muffin”, ou um pão com “Marmite” ele traz a Inglaterra para cá. Quando volto de viagem e trago para meu pai um queijo, na verdade estou dando a ele um pedacinho de Minas Gerais.
Uma de minhas professoras costumava dizer que as fotografias expressam a necessidade da presença quando não podemos ter alguém por perto. Por isso, olhar para a foto de um amigo é personificá-lo; é como se, naquele momento, ele estivesse ali, sorrindo para mim. Assim, quando morre uma pessoa querida, ter a foto dela em nossa casa é a certeza de que parte dela ainda permanece conosco.
Diferente das cidades que fazem parte de nossa história, o céu é um lugar que nunca vimos e onde nunca estivemos. Temos uma vaga idéia do que ele é apenas por causa de certas passagens bíblicas. Mesmo assim, parece que todos os nossos esforços em descrever o que será o reino de Deus não passam de um esboço infantil.
No entanto, e graças a Deus, o que nos aguarda não é totalmente desconhecido. Basta pararmos de buscar descrições físicas e nos atermos às características do reino. Se fizermos isso, veremos que sabemos mais coisas sobre ele do que supomos. O reino está entre nós, e podemos vê-lo por meio das pequenas fotografias e pratos típicos que vem do céu, diretamente para nós. Da mesma forma que o Rio Grande do Sul vem até mim por meio de uma cuia, um ato de graça em um lugar improvável traz o reino de Deus para a terra.
A colação de grau de uma dona-de-casa que conheci analfabeta.
A recuperação e a esperança de uma criança que foi abusada.
Uma campanha de conscientização no meu bairro.
Duas irmãs que não se falavam fazendo as pazes.
Um estranho que me ajuda a carregar as compras, ou cede sua vaga no estacionamento.
Um adolescente que tem a iniciativa de recolher mantimentos em sua escola para enviar para uma cidade que foi inundada pela chuva.
Fotografias assinadas por Deus, para os que ainda estão um pouco longe de casa. Que possamos abrir nossos olhos e vislumbrar os múltiplos aspectos do reino de Deus que estão entre nós. Que, ao perceber pequenos atos de esperança, reconciliação, justiça, possamos parar, observar e admirar cada nuance dessas fotografias e lembrar com carinho do lugar de onde elas vieram.
Quando estiver com saudades de casa, olhe as fotografias. Nosso mundo está cheio delas...
• Paula Mazzini tem 26 anos e é membro do Exército de Salvação. Atualmente estuda no Centro Evangélico de Missões e mora em Viçosa, MG.
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