Opinião
- 04 de julho de 2023
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Fé em meio às perdas
Por Eleny Vassão
A Casa do Aconchego completa 15 anos de existência no mês de agosto! Criada como entidade filantrópica para ser suporte no acolhimento social, emocional e espiritual às mães de crianças enfermas em tratamento nos hospitais de São Paulo, principalmente ITACI e Instituto da Criança do HCFMUSP, hoje tornou-se uma hospedaria onde se promove a esperança e o conforto na Palavra de Deus. Ali, todos são acolhidos com muito amor e uma comidinha muito saborosa!
Dr. Paulo Tsai, médico oncologista e radioterapeuta e uma preciosa equipe de capelães hospitalares, doam-se continuamente para as famílias ali atendidas como se realmente fossem sua família de sangue. Na carta aos parceiros da Casa do Aconchego, o doutor Paulo, atual presidente da Diretoria da Casa do Aconchego, escreve:
“Os meses de maio e de junho têm sido com bastante emoção... Desafios que vão bem além da capacidade da resolução humana estão chegando a nós. Nosso pequeno Isaac entrou na Casa há mais de um ano. Ele e sua mãe, Eroni, saíram do interior do Paraná para tratamento de uma doença autoimune que promovia danos aos rins e intestino (Síndrome Nefrótica e Doença de Crohn), mas, no curso da estadia em São Paulo, foi diagnosticado também com um câncer em fase avançada, conhecido como neuroblastoma. A doença já havia tomado todo seu corpo. A situação foi definida como incurável e a introdução da quimioterapia poderia descompensar toda doença autoimune. Era morrer de câncer ou de causas imunológicas.
Para deixar toda situação mais emocionante, Isaac era um autista grave que não tinha nenhuma forma de comunicação e não esboçava qualquer emoção. Como perceber os efeitos colaterais do tratamento ou da própria doença de uma criança que não verbaliza e, às vezes, nem chora? No meu primeiro contato com Isaac, sem saber do seu diagnóstico, tentei interagir com ele. Nada! Nem sequer piscou o olho! Estava imóvel há minutos, como uma estátua...
O tempo foi passando. O acolhimento e “pentelhação” incondicional, a despeito do seu diagnóstico de limitação social, resultaram na transformação do Isaac, que resolveu “se vingar”, nos beliscando, correndo atrás de nós, dando uma risada pra lá de gostosa e principalmente, “roubando” nossos celulares sem percebermos... Quando percebíamos que nosso celular estava na mão dele e não tinha como fugir de nós, pedia para desbloquear para assistir Masha e o Urso. Caso contrário, nos tornaríamos alvos do seu olhar zangado (risos). Aprendi que o ambiente de acolhimento, sem julgamentos ou medo, ajudou Isaac a “desabrochar” a linda pessoa que era, sorridente e brincalhona...
Após quase um ano de quimioterapia, no mês de fevereiro, os exames de Isaac mostraram o impossível: o tumor havia praticamente desaparecido. Comemoramos e berramos até perdermos a voz! Agora, precisava fazer uma cirurgia para retirada de parte do rim e pronto!
Mas Isaac evoluiu com uma febre de causa desconhecida, que fez com que a cirurgia fosse postergada várias vezes. Quando foi possível operá-lo, após mais de dois meses sem quimioterapia, o tumor havia retornado e de forma muito agressiva. Precisaria retomar a quimioterapia, sem prazo de encerramento.
Numa quinta-feira à tarde eu estava na Casa do Aconchego, brincando com Isaac. Naquela noite, ele teve uma convulsão. Chamado um carro de transporte, Isaac foi levado ao PS do Instituto da Criança. Da convulsão à porta do PS foram 20 minutos. Se demorasse mais, Isaac teria chegado morto, de acordo com a equipe que o atendeu. Teve um sangramento cerebral, em decorrência da extensão do tumor na cabeça. Estava em coma. Tínhamos que nos preparar para todos os cenários, mas principalmente, o pior. Nossa oração foi que Deus confortasse e preparasse o coração do seu pai, Diógenes, para a partida de seu filho. Eroni já estava preparada e contando com isso. A situação dele, naquele momento, não oferecia nenhuma esperança de que pudesse acordar.
Nos dias seguintes, ao orar, meu coração foi redirecionado para que o Diógenes, (que tinha ficado trabalhando em sua cidade), pudesse ter a oportunidade de ainda ter momentos com o Isaac: "Deus, por favor, não permita que este pai seja consumido pela culpa de não poder estar presente com seu filho e esposa tanto quanto gostaria!".
Fomos acompanhando o processo de desmame da sedação. Graças a Deus, a parte cognitiva do Isaac não tinha sido afetada. Continuava louco por um celular para assistir Masha e o urso. Orando com o Diógenes, ele falava várias vezes: “O nosso filho...". E de fato, todas as crianças e famílias da Casa passam a ser minha/nossa família. Meus filhos e, para alguns da equipe, meus netos.
Ontem, às 7h10, meu filho Isaac partiu. Foi um dia de estar abraçado, confortando Eroni e Diógenes, juntamente com nossa família Aconchego.
Querido amigo, você pode perguntar qual a razão e condição de conseguirmos passar por tudo isso. Não estamos sozinhos. Deus está nos inspirando e sustentando e, muitas vezes, usa você para nos apoiar. Muito obrigado!
Conheça mais sobre nosso ministério em www.casadoaconchego.org.br e torne-se nosso parceiro!”
REVISTA ULTIMATO | MAMOM VERSUS DEUS
Ao todo, Jesus contou 38 parábolas. Mais de um terço delas trata de assuntos ligados a posses e riquezas. Há cerca de quinhentos versículos sobre oração na Bíblia. Sobre dinheiro e posses são mais de 2.300.
As Escrituras se ocupam desse assunto porque ele é crucial para a fé. Trata-se de onde colocamos nossos afetos e a quem seguimos. Jesus adverte: “Onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6.21).
Saiba mais:
Eleny Vassão de Paula Aitken é casada com o Pr. Gavin L. Aitken, tem 6 filhos, é capelã-missionária pelo Supremo Concílio da IPB, Capelã Hospitalar há 40 anos e autora de 43 livros. Conheça mais sobre o ministério da ACS – Associação de Capelania na Saúde (www.capelanianasaude.org.br).
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